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“Se desenvolvermos o turismo de forma sustentável e ética, podemos alavancar os países”, acredita Amélia Cazalma

“Se desenvolvermos o turismo de forma sustentável e ética, podemos alavancar os países”, acredita Amélia Cazalma
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Andrade Lino

A docente universitária Amélia Carlos Cazalma declarou em Luanda que, “se desenvolvermos o turismo de uma forma sustentável e ética, nós podemos alavancar os países, desenvolver os povos, criando sinergias para isso, porque à medida que as áreas se desenvolvem, cria-se uma avalanche de empregos, e há um desenvolvimento a nível dos  profissionais, promovendo então a redução da pobreza”.

Falando por ocasião da apresentação do seu mais recente livro, “O Contributo Do Desenvolvimento Sustentável Do Turismo Nas Áreas Transfronteiriças De Conservação, para Inclusão Das Comunidades e Promoção da Paz”, na Universidade Metodista de Angola, em Novembro último, a autora considera o turismo como sendo igual ao petróleo verde.

“O petróleo sai do país para entrar divisas. Com o turismo, petróleo verde, entram os visitantes, mas não saem recursos, enquanto com o petróleo saem recursos e entram divisas. O mar não sai, os animais não saem, nós não saímos”, reparou, afirmando que o livro traz esta problemática da organização do turismo de forma sustentável nas áreas transfronteiriças de conservação, enquanto componente de transformações sociais.

Em entrevista à imprensa, Amélia Cazalma disse que “o planeta terra tem 229 áreas transfronteiriças, África tem 48 áreas transfronteiriças, a SADC tem 18 áreas transfronteiriças”, avaliando que, “se cada área é constituída por dois países, três países, quatro países, cinco países, como é o caso do Okavango no Zambeze, se os países trabalharem juntos, criando paz, criando desenvolvimento comunitário, que é a base, protecção das comunidades, é claro que a gente não vai ter guerra”.

Para ela, estas guerras que hoje aparecem em Israel e outros lugares é fruto da falta do conceito de trabalhos transfronteiriços, “e nós temos de entender que o turismo é de facto esta ferramenta e a gestão das áreas transfronteiriças é a única ferramenta que temos”, no seu entender, “para que os povos se desenvolvam e criemos a paz”.

No entender da docente, se Israel e Palestina estivessem a trabalhar juntos já como área transfronteiriça, não teriam capacidade para fazer guerra, “porque haveria comissões, por exemplo, da Defesa e Segurança, porque o único objectivo seria a protecção dos dois lados”.

“Agora, tendo 229 áreas, todas elas a lutarem para protecção dos países com que estão unidos, é claro que a gente tem de promover a paz, é este o objetivo. É a promoção da paz e a inclusão das comunidades, desenvolvendo países, desenvolvendo lugares, redução de pobreza, redução de delinquência, porque a pobreza promove a delinquência”, defendeu.

Por outro lado, a académica, PhD em Ciências da Educação pela Universidade de Granada, precisou que nós temos de saber distinguir um recurso turístico de um produto turístico. “Angola é um país de bastantes recursos turísticos, mas que precisam ser transformados em produtos turísticos. A título de exemplo, Kalandula é um recurso turístico, mas para você levar um conjunto de turistas para lá, você tem de ter certeza que tem hospital, se houver problema, você possa socorrer, ou tem helicópteros ou qualquer forma de protecção da vida humana. Quem for a Kalandula sente afecto. Quem for a Vitória falls sente afecto. Quem for à Tailândia sente afecto. E essa forma que nós temos, a deslocação de pessoas de um lado para outro e sentindo afecto, claro que vai trabalhar muito mais no sentido da protecção, e aí a gente vai para os princípios da ética para o turismo, a protecção do património mundial por todo cidadão sentido como pertence, então eu não vou querer que Kalandula seja destruído, nem que o Victória Falls seja destruído, porque eu tive contacto com aquele  bem, tive contacto com as comunidades à volta e eu  quero que aquilo se desenvolva e se mantenha para eu continuar e regressar noutras oportunidades”, expressou.

A também conferencista internacional afirmou que Angola não tem nada ainda, defendendo ser necessário que vivamos a todos os níveis. “Olhar para o turismo como uma ferramenta de desenvolvimento e não olhar para o turismo achando que aqueles vão entrar e isso vai causar prejuízos, porque os outros estão a ganhar dinheiro, os outros estão a desenvolver comunidades, e nas áreas distantes, então nós não temos outra alternativa que não seja primeiro preservar recursos para as futuras gerações. Nós não podemos abrir solos para tirar petróleo e diamante quando a gente pode desenvolver turismo”, criticou.

O que Amélia Cazalma quer dizer é que Angola tem que dar um salto quântico porque os outros países, como a Namíbia, Zâmbia e Botswana, têm hotéis, uma série de infra-estruturas belíssimas, ganham dinheiro. “A visita de um turista alemão, por exemplo, este alemão que vai para um carro organizado para turismo, visita os animais, ele, em uma hora de visita, paga 150 ou 200 dólares, mesmo que não veja nada, entende? Porque faz parte do pacote, só a visita. Só isto permite a entrada de divisa, mas ele não vai levar nenhum elefante, não vai levar nada. Por isso é que a gente chama atenção, vamos criar infra-estruturas de apoio para informarmos produtos turísticos, criar condições para os seres humanos, quer nativos quer não, porque à medida que o turismo se desenvolve, as condições sejam criadas, quem é o primeiro beneficiário? É a própria comunidade nativa”, explicou.

Rematou então que o turismo é efectivamente uma ferramenta de transformação para o desenvolvimento de qualquer país. “Como eu dizia, quando um país decide desenvolver turismo, tem de criar infra-estruturas de base como hospitais, comunicação, infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, aereoportuárias, como o caso do novo aeroporto, etc”, disse, sublinhando que o livro é resultado de muito trabalho, de pelo menos 10 anos, sendo que foi coordenadora-executiva do projecto Okavango-Zambeze.

A obra, com o primeiro lançamento em Portugal, marca o segundo doutoramento da autora, uma visita de campo de que resultaram cerca de 700 páginas.

*Com Natália Delessi

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

A docente universitária Amélia Carlos Cazalma declarou em Luanda que, “se desenvolvermos o turismo de uma forma sustentável e ética, nós podemos alavancar os países, desenvolver os povos, criando sinergias para isso, porque à medida que as áreas se desenvolvem, cria-se uma avalanche de empregos, e há um desenvolvimento a nível dos  profissionais, promovendo então a redução da pobreza”.

Falando por ocasião da apresentação do seu mais recente livro, “O Contributo Do Desenvolvimento Sustentável Do Turismo Nas Áreas Transfronteiriças De Conservação, para Inclusão Das Comunidades e Promoção da Paz”, na Universidade Metodista de Angola, em Novembro último, a autora considera o turismo como sendo igual ao petróleo verde.

“O petróleo sai do país para entrar divisas. Com o turismo, petróleo verde, entram os visitantes, mas não saem recursos, enquanto com o petróleo saem recursos e entram divisas. O mar não sai, os animais não saem, nós não saímos”, reparou, afirmando que o livro traz esta problemática da organização do turismo de forma sustentável nas áreas transfronteiriças de conservação, enquanto componente de transformações sociais.

Em entrevista à imprensa, Amélia Cazalma disse que “o planeta terra tem 229 áreas transfronteiriças, África tem 48 áreas transfronteiriças, a SADC tem 18 áreas transfronteiriças”, avaliando que, “se cada área é constituída por dois países, três países, quatro países, cinco países, como é o caso do Okavango no Zambeze, se os países trabalharem juntos, criando paz, criando desenvolvimento comunitário, que é a base, protecção das comunidades, é claro que a gente não vai ter guerra”.

Para ela, estas guerras que hoje aparecem em Israel e outros lugares é fruto da falta do conceito de trabalhos transfronteiriços, “e nós temos de entender que o turismo é de facto esta ferramenta e a gestão das áreas transfronteiriças é a única ferramenta que temos”, no seu entender, “para que os povos se desenvolvam e criemos a paz”.

No entender da docente, se Israel e Palestina estivessem a trabalhar juntos já como área transfronteiriça, não teriam capacidade para fazer guerra, “porque haveria comissões, por exemplo, da Defesa e Segurança, porque o único objectivo seria a protecção dos dois lados”.

“Agora, tendo 229 áreas, todas elas a lutarem para protecção dos países com que estão unidos, é claro que a gente tem de promover a paz, é este o objetivo. É a promoção da paz e a inclusão das comunidades, desenvolvendo países, desenvolvendo lugares, redução de pobreza, redução de delinquência, porque a pobreza promove a delinquência”, defendeu.

Por outro lado, a académica, PhD em Ciências da Educação pela Universidade de Granada, precisou que nós temos de saber distinguir um recurso turístico de um produto turístico. “Angola é um país de bastantes recursos turísticos, mas que precisam ser transformados em produtos turísticos. A título de exemplo, Kalandula é um recurso turístico, mas para você levar um conjunto de turistas para lá, você tem de ter certeza que tem hospital, se houver problema, você possa socorrer, ou tem helicópteros ou qualquer forma de protecção da vida humana. Quem for a Kalandula sente afecto. Quem for a Vitória falls sente afecto. Quem for à Tailândia sente afecto. E essa forma que nós temos, a deslocação de pessoas de um lado para outro e sentindo afecto, claro que vai trabalhar muito mais no sentido da protecção, e aí a gente vai para os princípios da ética para o turismo, a protecção do património mundial por todo cidadão sentido como pertence, então eu não vou querer que Kalandula seja destruído, nem que o Victória Falls seja destruído, porque eu tive contacto com aquele  bem, tive contacto com as comunidades à volta e eu  quero que aquilo se desenvolva e se mantenha para eu continuar e regressar noutras oportunidades”, expressou.

A também conferencista internacional afirmou que Angola não tem nada ainda, defendendo ser necessário que vivamos a todos os níveis. “Olhar para o turismo como uma ferramenta de desenvolvimento e não olhar para o turismo achando que aqueles vão entrar e isso vai causar prejuízos, porque os outros estão a ganhar dinheiro, os outros estão a desenvolver comunidades, e nas áreas distantes, então nós não temos outra alternativa que não seja primeiro preservar recursos para as futuras gerações. Nós não podemos abrir solos para tirar petróleo e diamante quando a gente pode desenvolver turismo”, criticou.

O que Amélia Cazalma quer dizer é que Angola tem que dar um salto quântico porque os outros países, como a Namíbia, Zâmbia e Botswana, têm hotéis, uma série de infra-estruturas belíssimas, ganham dinheiro. “A visita de um turista alemão, por exemplo, este alemão que vai para um carro organizado para turismo, visita os animais, ele, em uma hora de visita, paga 150 ou 200 dólares, mesmo que não veja nada, entende? Porque faz parte do pacote, só a visita. Só isto permite a entrada de divisa, mas ele não vai levar nenhum elefante, não vai levar nada. Por isso é que a gente chama atenção, vamos criar infra-estruturas de apoio para informarmos produtos turísticos, criar condições para os seres humanos, quer nativos quer não, porque à medida que o turismo se desenvolve, as condições sejam criadas, quem é o primeiro beneficiário? É a própria comunidade nativa”, explicou.

Rematou então que o turismo é efectivamente uma ferramenta de transformação para o desenvolvimento de qualquer país. “Como eu dizia, quando um país decide desenvolver turismo, tem de criar infra-estruturas de base como hospitais, comunicação, infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, aereoportuárias, como o caso do novo aeroporto, etc”, disse, sublinhando que o livro é resultado de muito trabalho, de pelo menos 10 anos, sendo que foi coordenadora-executiva do projecto Okavango-Zambeze.

A obra, com o primeiro lançamento em Portugal, marca o segundo doutoramento da autora, uma visita de campo de que resultaram cerca de 700 páginas.

*Com Natália Delessi

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