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Educação

O preço do canudo

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Mais um ano lectivo começa e ao mesmo tempo as mesmas dores de cabeça surgem a acompanhar a grande luta que ainda é estudar em Angola. Para quem pode desembolsar altas quantias, não tem muita preocupação, porque o filho pode ser matriculado em qualquer dos muitos colégios privados nacionais e estrangeiros que existem por cá, sendo cada um com o seu valor de propinas, matrícula, material escolar, entre outras despesas obrigatórias, que em alguns chega a roçar os 300 mil Kwanzas por mês.

Para quem não tem possibilidades financeiras e nem é bafejado pelo apoio escolar do Estado, luta por encontrar uma vaga numa escola pública já a abarrotar pelas costuras com mais de 50 estudantes por turma, que assistem aulas em salas sem carteiras - segundo voz autorizada do Ministério da Educação as carteiras foram “levadas” por encarregados de educação e as transformaram em mobiliário dos lares -, onde as pedras, latas de leite, blocos de cimento, banquinhos servem para abancar o corpo delgado das crianças que buscam conhecimento. Convém citar ainda algumas outras situações menos boas que enfermam o nosso ensino público, como: a falta de quartos de banho em condições aceitáveis para serem usados pelos petizes sem constrangimentos, com água corrente, por exemplo, ajudando na campanha contra a cólera e outras doenças causadas por falta de higiene; a limpeza e higienização das escolas, que muitas nem sequer janelas e portas têm, por terem sido vítimas de actos de vandalismo, permitindo que qualquer pessoa entre para a escola e faça o que bem entender.

As escolas, para além do já citado, não estão apetrechadas, há falta de laboratórios em condições, ginásios, bibliotecas, salas de informática…

Aliados a esse facto há uma reforma que veio criar mais confusão à já calamitosa situação vivida pelo ensino público, e que não se tem vislumbrado vontade por parte dos responsáveis (outro factor da má qualidade) do sector em corrigir os aspectos negativos

Temos ainda a questão dos professores que têm sido das maiores preocupações, visto que muitos dos que dão aulas com as batas brancas não têm formação adequada para tal, nem se esmeram para cumprirem com a nobre missão de passarem o conhecimento e cultivarem nos estudantes o hábito de buscarem mais e melhor conhecimento, bem como reproduzir esse saber. Apesar de tudo, nem todos são maus professores, há também aqueles que são exemplares, e que mesmo com baixos e atrasados salários, falta de subsídios, de cobertura de saúde, condições de trabalho, de reconversão de carreira, tentam fazer a sua parte, para que o ensino consiga ainda estar a dar suspiros da sua graça.

Aliados a esse facto há uma reforma que veio criar mais confusão à já calamitosa situação vivida pelo ensino público, e que não se tem vislumbrado vontade por parte dos responsáveis (outro factor da má qualidade) do sector em corrigir os aspectos negativos, tal como os famosos livros escolares que mais facilmente aparecem à venda nas ruas e mercados paralelos do que em posse dos pobres estudantes para o devido uso.

Como se não fossem poucas as despesas ligadas directamente ao ensino, associamos ainda algumas outras que também aumentam a dificuldade para os encarregados de educação, como: transporte para a escola, alimentação, vestuário, calçado, isso se a criança não ficar adoentada, porque aí surgem as despesas concernentes ao tratamento, compra dos livros, lápis, esferográficas, réguas, esquadros, compassos, transferidores, cadernos e outros materiais. Há ainda a bata que deve ser comprada e o banquinho que o estudante deve levar todos os dias à escola para sentar-se, fazendo de contas que é carteira (que devia lá estar para ele se sentar). Como se não bastasse, há ainda um valor que tem sido habitual, tanto que já tem sido adoptado como hábito alguns “professores” sedentos que “pedem” uma ajuda aos estudantes para transitarem de classe, sabendo ou não. Este hábito foi baptizado como fenómeno da gasosa ou do saldo, por causa da terminologia que os indivíduos envolvidos nessas situações usavam quando pedissem dinheiro.

Sendo assim, está na hora de fazer contas e ver quanto custa um ano lectivo, tendo em conta os gastos normais e os anormais, como são os casos da compra dos livros na zunga, da compra dos banquinhos que substituem as carteiras e da gasosa que mesmo proibida ainda mata a sede de muita gente de bata branca e não só, empobrecendo ainda mais a qualidade de um ensino cada vez mais deficitário. Até quando? Esta é a pergunta que fazemos todos os anos, com a fé que alguém nos responda com certeza quando será o fim da caminhada aos solavancos em busca de uma formação mais condigna e que transforme os nossos estudantes em produtores de conhecimento e não em papagaios imitadores. Quando é que teremos em Angola um ensino público com a qualidade que se pretende? Katé+

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Carlos Renato

Cronista

Mais um ano lectivo começa e ao mesmo tempo as mesmas dores de cabeça surgem a acompanhar a grande luta que ainda é estudar em Angola. Para quem pode desembolsar altas quantias, não tem muita preocupação, porque o filho pode ser matriculado em qualquer dos muitos colégios privados nacionais e estrangeiros que existem por cá, sendo cada um com o seu valor de propinas, matrícula, material escolar, entre outras despesas obrigatórias, que em alguns chega a roçar os 300 mil Kwanzas por mês.

Para quem não tem possibilidades financeiras e nem é bafejado pelo apoio escolar do Estado, luta por encontrar uma vaga numa escola pública já a abarrotar pelas costuras com mais de 50 estudantes por turma, que assistem aulas em salas sem carteiras - segundo voz autorizada do Ministério da Educação as carteiras foram “levadas” por encarregados de educação e as transformaram em mobiliário dos lares -, onde as pedras, latas de leite, blocos de cimento, banquinhos servem para abancar o corpo delgado das crianças que buscam conhecimento. Convém citar ainda algumas outras situações menos boas que enfermam o nosso ensino público, como: a falta de quartos de banho em condições aceitáveis para serem usados pelos petizes sem constrangimentos, com água corrente, por exemplo, ajudando na campanha contra a cólera e outras doenças causadas por falta de higiene; a limpeza e higienização das escolas, que muitas nem sequer janelas e portas têm, por terem sido vítimas de actos de vandalismo, permitindo que qualquer pessoa entre para a escola e faça o que bem entender.

As escolas, para além do já citado, não estão apetrechadas, há falta de laboratórios em condições, ginásios, bibliotecas, salas de informática…

Aliados a esse facto há uma reforma que veio criar mais confusão à já calamitosa situação vivida pelo ensino público, e que não se tem vislumbrado vontade por parte dos responsáveis (outro factor da má qualidade) do sector em corrigir os aspectos negativos

Temos ainda a questão dos professores que têm sido das maiores preocupações, visto que muitos dos que dão aulas com as batas brancas não têm formação adequada para tal, nem se esmeram para cumprirem com a nobre missão de passarem o conhecimento e cultivarem nos estudantes o hábito de buscarem mais e melhor conhecimento, bem como reproduzir esse saber. Apesar de tudo, nem todos são maus professores, há também aqueles que são exemplares, e que mesmo com baixos e atrasados salários, falta de subsídios, de cobertura de saúde, condições de trabalho, de reconversão de carreira, tentam fazer a sua parte, para que o ensino consiga ainda estar a dar suspiros da sua graça.

Aliados a esse facto há uma reforma que veio criar mais confusão à já calamitosa situação vivida pelo ensino público, e que não se tem vislumbrado vontade por parte dos responsáveis (outro factor da má qualidade) do sector em corrigir os aspectos negativos, tal como os famosos livros escolares que mais facilmente aparecem à venda nas ruas e mercados paralelos do que em posse dos pobres estudantes para o devido uso.

Como se não fossem poucas as despesas ligadas directamente ao ensino, associamos ainda algumas outras que também aumentam a dificuldade para os encarregados de educação, como: transporte para a escola, alimentação, vestuário, calçado, isso se a criança não ficar adoentada, porque aí surgem as despesas concernentes ao tratamento, compra dos livros, lápis, esferográficas, réguas, esquadros, compassos, transferidores, cadernos e outros materiais. Há ainda a bata que deve ser comprada e o banquinho que o estudante deve levar todos os dias à escola para sentar-se, fazendo de contas que é carteira (que devia lá estar para ele se sentar). Como se não bastasse, há ainda um valor que tem sido habitual, tanto que já tem sido adoptado como hábito alguns “professores” sedentos que “pedem” uma ajuda aos estudantes para transitarem de classe, sabendo ou não. Este hábito foi baptizado como fenómeno da gasosa ou do saldo, por causa da terminologia que os indivíduos envolvidos nessas situações usavam quando pedissem dinheiro.

Sendo assim, está na hora de fazer contas e ver quanto custa um ano lectivo, tendo em conta os gastos normais e os anormais, como são os casos da compra dos livros na zunga, da compra dos banquinhos que substituem as carteiras e da gasosa que mesmo proibida ainda mata a sede de muita gente de bata branca e não só, empobrecendo ainda mais a qualidade de um ensino cada vez mais deficitário. Até quando? Esta é a pergunta que fazemos todos os anos, com a fé que alguém nos responda com certeza quando será o fim da caminhada aos solavancos em busca de uma formação mais condigna e que transforme os nossos estudantes em produtores de conhecimento e não em papagaios imitadores. Quando é que teremos em Angola um ensino público com a qualidade que se pretende? Katé+

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