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“O jornalismo em Angola não vai bem”, considera Reginaldo Silva

“O jornalismo em Angola não vai bem”, considera Reginaldo Silva
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Andrade Lino

O jornalista angolano Reginaldo Silva afirmou que o jornalismo em Angola não vai bem e que não é de se recomendar.

Embora reconheça casos, projectos, jornalistas, órgãos, momentos e o facto de que poderia ter feito mais quando esteve mais por dentro da área, “é difícil andarmos na velocidade pretendida, porque quando chegam as eleições, as coisas ficam completamente complicadas em termos de partidarização ou não, temos a linha pública, os serviços independentes, os seniores, os juniores, as mascotes, então fica um pouco difícil falar do jornalismo como uma peça única”.

Nesse sentido, Reginaldo Silva olha para o caso do jornalista Rafael Marques como sendo exactamente um desses isolados. “Já disse e volto a dizer com muito gosto, a liberdade de imprensa que nós hoje temos, e porque não seria justo da minha parte dizer que em Angola não há liberdade de imprensa, foi exactamente o resultado de intervenções de actividades, de projectos como o que Rafael tem feito”, referiu, por ocasião da primeira edição de Junho do espectáculo de humor “Goz´Aqui”, decorrida na Casa da Cultura – Njinga A M´bande, sita no Rangel.

Parafraseando o jornalista, escritor e ensaísta britânico George Orwell, o convidado lembra que o “jornalismo é tudo aquilo que alguém não quer cobrir, para ele todo o resto é publicidade”, tendo afirmado que, “afinal de contas, nós andamos a fazer publicidade, raramente fazemos jornalismo, e o Rafael Marques, mal ou bem, com todas as críticas que lhe possam fazer, sabe que tem se esforçado a publicar coisas que as pessoas não querem que se publique”, sobretudo agora que se juntou ao projecto “Maka Angola”.

Entretanto, para o também analista político, o jornalismo implica investigação, “sobretudo quando a gente responde àqueles requisitos da teoria: “O quê? Quando? Como? Por quê?”.

O jornalista, continua, tem que ter sempre essa necessidade de ir ao fundo das questões, e nota que, “no fundo, nós não fazemos investigação, apenas queremos descobrir escândalos ou ver onde é que está o dinheiro, onde é que está o Fundo”.

“Nós temos feito uma investigação jornalística com coisas mais pacíficas, ou menos impactantes. Normalmente, no nosso jornalismo, no resto do dia-a-dia, as histórias são superficiais, e frequentemente, para  sabermos muito mais sobre aquilo que está lá, precisamos de facto do grande auxiliar para o próprio jornalismo que temos hoje, que são as redes sociais, sendo que lendo um post, com todos os seus comentários, com alguma atenção, muitas vezes até é melhor do que ler uma notícia no Jornal de Angola, ver TV ou ouvir a Rádio Nacional de Angola”, comparou, tendo referido que,  por exemplo, no Facebook, “surge a notícia, o post é a cabeça dela, e depois cada um vai acrescentado o seu elemento e isto é que dá densidade à história”.

Nesta ordem de ideias, o ainda co-fundador do Sindicato dos Jornalistas considera que “nós temos pouca densidade nas nossas histórias, mesmo nas nossas reportagens”.

“Hoje leio menos, até gosto mais de ler posts nas redes sociais do que ler histórias”, revelou, explicando que o objectivo do jornalismo é procurar a verdade, é noticiar de facto a verdade e a verdade nem sempre está ao alcance de todos.

“Nós não temos essa preocupação, o que temos é o tal jornalismo que é mais publicidade, a tal história de passar o relato, vamos a uma reunião, o ministro falou, o fulano está lá, projectou, mas dizer qualquer coisa que se tenha passado naquela reunião não preocupa o jornalista no dia-a-dia”, lamentou.

Por fim, afirmou que para ser-se um bom jornalista, na procura de informação, nunca se deve estar satisfeito com o que se é dado, pois há sempre qualquer coisa por detrás dos acontecimentos, das cerimónias. “O que é que aconteceu aqui? É aí aonde começa o jornalismo”, reforçou.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O jornalista angolano Reginaldo Silva afirmou que o jornalismo em Angola não vai bem e que não é de se recomendar.

Embora reconheça casos, projectos, jornalistas, órgãos, momentos e o facto de que poderia ter feito mais quando esteve mais por dentro da área, “é difícil andarmos na velocidade pretendida, porque quando chegam as eleições, as coisas ficam completamente complicadas em termos de partidarização ou não, temos a linha pública, os serviços independentes, os seniores, os juniores, as mascotes, então fica um pouco difícil falar do jornalismo como uma peça única”.

Nesse sentido, Reginaldo Silva olha para o caso do jornalista Rafael Marques como sendo exactamente um desses isolados. “Já disse e volto a dizer com muito gosto, a liberdade de imprensa que nós hoje temos, e porque não seria justo da minha parte dizer que em Angola não há liberdade de imprensa, foi exactamente o resultado de intervenções de actividades, de projectos como o que Rafael tem feito”, referiu, por ocasião da primeira edição de Junho do espectáculo de humor “Goz´Aqui”, decorrida na Casa da Cultura – Njinga A M´bande, sita no Rangel.

Parafraseando o jornalista, escritor e ensaísta britânico George Orwell, o convidado lembra que o “jornalismo é tudo aquilo que alguém não quer cobrir, para ele todo o resto é publicidade”, tendo afirmado que, “afinal de contas, nós andamos a fazer publicidade, raramente fazemos jornalismo, e o Rafael Marques, mal ou bem, com todas as críticas que lhe possam fazer, sabe que tem se esforçado a publicar coisas que as pessoas não querem que se publique”, sobretudo agora que se juntou ao projecto “Maka Angola”.

Entretanto, para o também analista político, o jornalismo implica investigação, “sobretudo quando a gente responde àqueles requisitos da teoria: “O quê? Quando? Como? Por quê?”.

O jornalista, continua, tem que ter sempre essa necessidade de ir ao fundo das questões, e nota que, “no fundo, nós não fazemos investigação, apenas queremos descobrir escândalos ou ver onde é que está o dinheiro, onde é que está o Fundo”.

“Nós temos feito uma investigação jornalística com coisas mais pacíficas, ou menos impactantes. Normalmente, no nosso jornalismo, no resto do dia-a-dia, as histórias são superficiais, e frequentemente, para  sabermos muito mais sobre aquilo que está lá, precisamos de facto do grande auxiliar para o próprio jornalismo que temos hoje, que são as redes sociais, sendo que lendo um post, com todos os seus comentários, com alguma atenção, muitas vezes até é melhor do que ler uma notícia no Jornal de Angola, ver TV ou ouvir a Rádio Nacional de Angola”, comparou, tendo referido que,  por exemplo, no Facebook, “surge a notícia, o post é a cabeça dela, e depois cada um vai acrescentado o seu elemento e isto é que dá densidade à história”.

Nesta ordem de ideias, o ainda co-fundador do Sindicato dos Jornalistas considera que “nós temos pouca densidade nas nossas histórias, mesmo nas nossas reportagens”.

“Hoje leio menos, até gosto mais de ler posts nas redes sociais do que ler histórias”, revelou, explicando que o objectivo do jornalismo é procurar a verdade, é noticiar de facto a verdade e a verdade nem sempre está ao alcance de todos.

“Nós não temos essa preocupação, o que temos é o tal jornalismo que é mais publicidade, a tal história de passar o relato, vamos a uma reunião, o ministro falou, o fulano está lá, projectou, mas dizer qualquer coisa que se tenha passado naquela reunião não preocupa o jornalista no dia-a-dia”, lamentou.

Por fim, afirmou que para ser-se um bom jornalista, na procura de informação, nunca se deve estar satisfeito com o que se é dado, pois há sempre qualquer coisa por detrás dos acontecimentos, das cerimónias. “O que é que aconteceu aqui? É aí aonde começa o jornalismo”, reforçou.

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