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“O acervo histórico é importante para qualquer nação”, defende Manuel Silva

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Andrade Lino

O escritor português Manuel Américo Gonçalves da Silva defendeu o acervo histórico como sendo importante para qualquer nação, “de uma importância muito grande”, relevou, “porque nós não podemos progredir se não tivermos um alicerce cultural e conhecimento de modo a que cheguemos a um dado estágio”.

Falando ao ONgoma News, na semana passada, por ocasião da apresentação das obras “Conflito e Convivência” e “Roberto Silva: Rei ou mendigo?”, no Camões - Centro Cultural Português, continuou que dar o reconhecimento a Roberto Silva, um dos maiores pintores angolanos do século XX, ou outros pintores e escritores, e não deixar que eles tenham ficado para lá, é importante.

“Compreendo que, no caso particular de Angola, com a guerra civil e as convulsões associadas, talvez não tenha havido aquela serenidade ou oportunidade normal de ir apoiando esse histórico, porque não houve condições durante algum tempo, mas isso é imprenscindível”, asseverou o autor, que embora tenha muito cuidado “em dizer qualquer coisa que pareça crítica, por ser do país colonizador”, quanto ao que observou aqui, disse, lamenta a pouca investigação que se faz.

“No caso do escultor e pintor Roberto Silva, por exemplo, há dezenas de quadros que estão no Arquivo Histórico Nacional de Angola, mas a própria instituição tem muitas dificuldades de informatização ou sistematização da informação. As esculturas que fez, não consegui localizá-las, mas tenho no livro referências a elas. É um acervo que está totalmente perdido, e nesse âmbito acho que é importante recuperar, ou pelo menos dar relevo àquilo que está documentado. A perda de informações vai até ao nível de os próprios descendentes não saberem nada sobre determinada pessoa”, deplorou.

O engenheiro civil de profissão, embora já na reforma, acrescentou que essa perda de informação, na área científica, “depende do que estejamos a fazer”. “Há cuidados de reportar novos dados e novas descobertas das revistas científicas, e mesmo aqui em Angola, na Universidade Agostinho Neto, por exemplo, os que tenham feito trabalho que se precisasse divulgar, quem vem atrás tem que poder encontrar essa informação com mais facilidade”, defendeu.  

Entretanto, explicou, o livro “Conflito e sobrevivência (Cadernos de Angola)”, além de um capítulo da sua convivência com Roberto Silva, tenta trazer ao público aquilo que foi a sua vivência em Luanda, especialmente, mas não só, as pessoas que encontrou cá “e merecem destaque”, e as actividade em que esteve envolvido com elas. Isso inclui três elementos dos N´gola Ritmos, com um capítulo bastante alargado, e outras personalidades que compendiou numa série de cadernos. “Escrevi para que os meus filhos e netos soubessem um dia o que andei a fazer em Angola”, expressou.

A obra “Roberto Silva – Rei ou mendigo” nasce entretanto de quando Manuel Silva conheceu o artista, foi encontrá-lo porque queria levar de Angola alguma coisa feita localmente, que tivesse qualidade. “Perguntei-lhe se poderia fazer alguma coisa por nós e ele disse que sim, caso gostasse da nossa família, porque dizia não trabalhar com quem não gostasse. Aprovou e começámos um relacionamento interessante. Fez-nos vários retratos ao longo do tempo e, muito para além disso, conhecia uma maneira de se exprimir, um passado, coisas que descobri, que me pareceram muito interessantes. Ele, quer como escultor, quer como pintor, é uma pessoa que Angola não deveria esquecer, aqui em jeito de reconhecimento de qualidade. Foi isso que conduziu a que eu procurasse mais dados. É reconhecido nalguns meios, mas encontrei coisas sobre ele que estão erradas, as datas de nascimento, de falecimento e outras”, partilhou.

Finalmente, questionado sobre como quer que as obras sejam recebidas aqui pelos leitores, Manuel Silva afirmou ser um verdadeiro modesto: “Não tenho nenhuma ideia que esse trabalho tenha uma repercussão muito grande. Espero que as pessoas, principalmente as que me conhecem, tenham um despertar para se poder dar mais visibilidade a artistas como Roberto Silva”, concluiu.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O escritor português Manuel Américo Gonçalves da Silva defendeu o acervo histórico como sendo importante para qualquer nação, “de uma importância muito grande”, relevou, “porque nós não podemos progredir se não tivermos um alicerce cultural e conhecimento de modo a que cheguemos a um dado estágio”.

Falando ao ONgoma News, na semana passada, por ocasião da apresentação das obras “Conflito e Convivência” e “Roberto Silva: Rei ou mendigo?”, no Camões - Centro Cultural Português, continuou que dar o reconhecimento a Roberto Silva, um dos maiores pintores angolanos do século XX, ou outros pintores e escritores, e não deixar que eles tenham ficado para lá, é importante.

“Compreendo que, no caso particular de Angola, com a guerra civil e as convulsões associadas, talvez não tenha havido aquela serenidade ou oportunidade normal de ir apoiando esse histórico, porque não houve condições durante algum tempo, mas isso é imprenscindível”, asseverou o autor, que embora tenha muito cuidado “em dizer qualquer coisa que pareça crítica, por ser do país colonizador”, quanto ao que observou aqui, disse, lamenta a pouca investigação que se faz.

“No caso do escultor e pintor Roberto Silva, por exemplo, há dezenas de quadros que estão no Arquivo Histórico Nacional de Angola, mas a própria instituição tem muitas dificuldades de informatização ou sistematização da informação. As esculturas que fez, não consegui localizá-las, mas tenho no livro referências a elas. É um acervo que está totalmente perdido, e nesse âmbito acho que é importante recuperar, ou pelo menos dar relevo àquilo que está documentado. A perda de informações vai até ao nível de os próprios descendentes não saberem nada sobre determinada pessoa”, deplorou.

O engenheiro civil de profissão, embora já na reforma, acrescentou que essa perda de informação, na área científica, “depende do que estejamos a fazer”. “Há cuidados de reportar novos dados e novas descobertas das revistas científicas, e mesmo aqui em Angola, na Universidade Agostinho Neto, por exemplo, os que tenham feito trabalho que se precisasse divulgar, quem vem atrás tem que poder encontrar essa informação com mais facilidade”, defendeu.  

Entretanto, explicou, o livro “Conflito e sobrevivência (Cadernos de Angola)”, além de um capítulo da sua convivência com Roberto Silva, tenta trazer ao público aquilo que foi a sua vivência em Luanda, especialmente, mas não só, as pessoas que encontrou cá “e merecem destaque”, e as actividade em que esteve envolvido com elas. Isso inclui três elementos dos N´gola Ritmos, com um capítulo bastante alargado, e outras personalidades que compendiou numa série de cadernos. “Escrevi para que os meus filhos e netos soubessem um dia o que andei a fazer em Angola”, expressou.

A obra “Roberto Silva – Rei ou mendigo” nasce entretanto de quando Manuel Silva conheceu o artista, foi encontrá-lo porque queria levar de Angola alguma coisa feita localmente, que tivesse qualidade. “Perguntei-lhe se poderia fazer alguma coisa por nós e ele disse que sim, caso gostasse da nossa família, porque dizia não trabalhar com quem não gostasse. Aprovou e começámos um relacionamento interessante. Fez-nos vários retratos ao longo do tempo e, muito para além disso, conhecia uma maneira de se exprimir, um passado, coisas que descobri, que me pareceram muito interessantes. Ele, quer como escultor, quer como pintor, é uma pessoa que Angola não deveria esquecer, aqui em jeito de reconhecimento de qualidade. Foi isso que conduziu a que eu procurasse mais dados. É reconhecido nalguns meios, mas encontrei coisas sobre ele que estão erradas, as datas de nascimento, de falecimento e outras”, partilhou.

Finalmente, questionado sobre como quer que as obras sejam recebidas aqui pelos leitores, Manuel Silva afirmou ser um verdadeiro modesto: “Não tenho nenhuma ideia que esse trabalho tenha uma repercussão muito grande. Espero que as pessoas, principalmente as que me conhecem, tenham um despertar para se poder dar mais visibilidade a artistas como Roberto Silva”, concluiu.

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