Caneta e Papel
Reflexão

Naquele momento

Naquele momento
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Widralino

A vida é uma corrida que às vezes termina quando menos esperamos.

Mesmo sem cansaço ou desistência da nossa parte, somos tirados da pista de repente, sem advertência alguma, sem o nosso consentimento.

Não é uma disputa, mas é sobre cada um tentar sobreviver ou viver ao máximo enquanto participante da maratona, esse exercício diário que nos é impingido em cada amanhecer.

A dor da ida é para quem fica, a grandeza da saudade e o peso das lembranças.

Como que automático, não nos resta outra escolha senão continuar a correr, mas conscientes de que a qualquer instante podemos também cair, perder o fôlego, mesmo na falta de exaustão.

A tristeza é enorme e se nega a acolher a razão, os factos tornam a crença duvidosa e chorar é a primeira escolha dentre várias. As lágrimas caem inevitavelmente, mas ainda que não, o coração bate de forma explosiva por causa da pressão da perda.

Com o passar dos anos, construímos uma relação muito próxima com a morte, quiçá mesmo amigável, porque é com os olhos fechados e falta de respiração que todos acabamos.

É necessário nos lembrarmos todos os dias de que a nossa relação com o próximo é completamente terrena. Precisamos resolver todos os problemas aqui e praticar o perdão enquanto podemos partilhar a existência. Precisamos demonstrar amor agora e dar espaço à expressão por palavras e actos, enquanto ainda podemos ser ouvidos e sentir o toque, porque o amanhã pode sempre ser um ladrão de queridos.

Famílias acabam incompletas, grupos veem-se com membros a menos com o passar dos anos, porque, como num batalhão, a meio da guerra, que segue decisivamente contra o grupo inimigo, ou folhas duma árvore que vai secando aos poucos, caímos um a um.

Um "adeus" é tudo que nos resta, diante da colónia de incertezas que nos prende ao tocar do sino.

De quem se vai, faz-nos companhia a saudade e a presença espiritual, as lembranças que os revivem sempre que pensamos neles, os seus ensinamentos e a expressão de felicidade em cada foto guardada, principalmente, quando nunca faltaram motivos para a pessoa ser amada.

Já não podemos vê-los a sorrir do mesmo jeito, só através do passado. Já não temos os corpos por perto para uma dança, um abraço, as mãos para um aperto ou a voz para nos repreender.

Naquele momento, um "adeus", ou vários, é só o que nos resta.

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Widralino

Articulista

Poeta, prosador, fotógrafo, enfim, artista.

A vida é uma corrida que às vezes termina quando menos esperamos.

Mesmo sem cansaço ou desistência da nossa parte, somos tirados da pista de repente, sem advertência alguma, sem o nosso consentimento.

Não é uma disputa, mas é sobre cada um tentar sobreviver ou viver ao máximo enquanto participante da maratona, esse exercício diário que nos é impingido em cada amanhecer.

A dor da ida é para quem fica, a grandeza da saudade e o peso das lembranças.

Como que automático, não nos resta outra escolha senão continuar a correr, mas conscientes de que a qualquer instante podemos também cair, perder o fôlego, mesmo na falta de exaustão.

A tristeza é enorme e se nega a acolher a razão, os factos tornam a crença duvidosa e chorar é a primeira escolha dentre várias. As lágrimas caem inevitavelmente, mas ainda que não, o coração bate de forma explosiva por causa da pressão da perda.

Com o passar dos anos, construímos uma relação muito próxima com a morte, quiçá mesmo amigável, porque é com os olhos fechados e falta de respiração que todos acabamos.

É necessário nos lembrarmos todos os dias de que a nossa relação com o próximo é completamente terrena. Precisamos resolver todos os problemas aqui e praticar o perdão enquanto podemos partilhar a existência. Precisamos demonstrar amor agora e dar espaço à expressão por palavras e actos, enquanto ainda podemos ser ouvidos e sentir o toque, porque o amanhã pode sempre ser um ladrão de queridos.

Famílias acabam incompletas, grupos veem-se com membros a menos com o passar dos anos, porque, como num batalhão, a meio da guerra, que segue decisivamente contra o grupo inimigo, ou folhas duma árvore que vai secando aos poucos, caímos um a um.

Um "adeus" é tudo que nos resta, diante da colónia de incertezas que nos prende ao tocar do sino.

De quem se vai, faz-nos companhia a saudade e a presença espiritual, as lembranças que os revivem sempre que pensamos neles, os seus ensinamentos e a expressão de felicidade em cada foto guardada, principalmente, quando nunca faltaram motivos para a pessoa ser amada.

Já não podemos vê-los a sorrir do mesmo jeito, só através do passado. Já não temos os corpos por perto para uma dança, um abraço, as mãos para um aperto ou a voz para nos repreender.

Naquele momento, um "adeus", ou vários, é só o que nos resta.

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