Caneta e Papel
Trânsito

Engarrafamento, engarrafamento, como te amo!

Engarrafamento, engarrafamento, como te amo!
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A minha esposa, em conversa comigo, apresentou uma série de soluções para a minha viagem dentro da cidade de Luanda, tanto no trajecto para o serviço como no regresso à casa. Ouvi-a atentamente, mas não me senti atraído pelas propostas, ao que agradecendo, adicionei a frase: eu não tenho problemas com o engarrafamento. Eu escolhi não sofrer! A cara de admiração dela foi o sustento para a justificação seguinte: só quero que tenhas melhor qualidade de vida.

De facto precisamos todos de qualidade de vida. Podemos ter? Alguns de nós sim, mas outros tantos terão mesmo de aguentar o barulho.

É real que escolhi não sofrer com o engarrafamento. Não foi fácil, porque envolve tudo: pára, arranca, muitas horas sentado, possíveis assaltos, condutores prioritários, condutores que acreditam ter prioridade, a falta de civismo e amabilidade, os casos inexplicáveis da via, os donos da via também conhecidos por taxistas, ou candongueiros, alguns buracos, os horários limitados que por vezes determinam como viver…e tantos outros quê’s que no momento perguntamos “porquê?” ou “pra que só?”, à boa maneira angolana.

Tenho dito a mim mesmo que amo o engarrafamento. Nos momentos do “pára”, os meus livros recebem a honra que merecem, ou seja, minha leitura interessada e atrasada. Tantos livros pelos quais a paixão da minha curiosidade levou-me a abraça-los… dói tanto vê-los abandonados à impossibilidade de leitura atenta e tranquila por falta de tempo. Agrada-me ainda mais ter sempre por perto uma Bíblia Sagrada.

Sou mais feliz e sofro menos com estas decisões que tomei. É um processo longo. Sei que mais pessoas serão felizes como eu com decisões iguais ou semelhantes. Porque no fundo, o que se recomenda é o amor ao próximo e o amor próprio.

Outra bênção da forçada obstrução da via é a possibilidade de ouvir e cantar fantásticas criações musicais que tenho em cd’s ou que passam pelas nossas rádios. Sou apaixonado por música. Sou exigente na qualidade dela. Mas não tenho muito tempo para apreciá-la. Bendito engarrafamento que me permites absorver música diariamente…que bom!

Escolhi sim não sofrer com o congestionamento. Escolhi não me estressar com as mbaias de que sou vítima, nem com ofensas verbais que receba por alguma lentidão de minha parte, ou seja, se estiver a 50 ou 60km/h e o parceiro quiser que eu ande a 120km/h, ou algum erro que cometa na via, escolhi abençoar os mal comportados da via, os ofensores e outros tantos cujo comportamento humanamente mereça um “seu macaco” (nem sempre consigo, admito).

Percebi que estas escolhas se concretizam totalmente se obedecerem um processo lento de decisão.

Vou confessar. Sou mais feliz e sofro menos com estas decisões que tomei. É um processo longo. Sei que mais pessoas serão felizes como eu com decisões iguais ou semelhantes. Porque no fundo, o que se recomenda é o amor ao próximo e o amor próprio. Amar o próximo significa suportar os seus erros. Amar a si mesmo significa…muita coisa, entre as quais, tomar decisões, e consequentemente realizar acções, que façam bem ao físico, à mente e à alma.

Eu decidi amar-me, decidi amar o próximo (mais difícil), e escolhi…amar o engarrafamento!

 

EBuchartts

20/05/2015

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Edilson Buchartts

Cronista

A minha esposa, em conversa comigo, apresentou uma série de soluções para a minha viagem dentro da cidade de Luanda, tanto no trajecto para o serviço como no regresso à casa. Ouvi-a atentamente, mas não me senti atraído pelas propostas, ao que agradecendo, adicionei a frase: eu não tenho problemas com o engarrafamento. Eu escolhi não sofrer! A cara de admiração dela foi o sustento para a justificação seguinte: só quero que tenhas melhor qualidade de vida.

De facto precisamos todos de qualidade de vida. Podemos ter? Alguns de nós sim, mas outros tantos terão mesmo de aguentar o barulho.

É real que escolhi não sofrer com o engarrafamento. Não foi fácil, porque envolve tudo: pára, arranca, muitas horas sentado, possíveis assaltos, condutores prioritários, condutores que acreditam ter prioridade, a falta de civismo e amabilidade, os casos inexplicáveis da via, os donos da via também conhecidos por taxistas, ou candongueiros, alguns buracos, os horários limitados que por vezes determinam como viver…e tantos outros quê’s que no momento perguntamos “porquê?” ou “pra que só?”, à boa maneira angolana.

Tenho dito a mim mesmo que amo o engarrafamento. Nos momentos do “pára”, os meus livros recebem a honra que merecem, ou seja, minha leitura interessada e atrasada. Tantos livros pelos quais a paixão da minha curiosidade levou-me a abraça-los… dói tanto vê-los abandonados à impossibilidade de leitura atenta e tranquila por falta de tempo. Agrada-me ainda mais ter sempre por perto uma Bíblia Sagrada.

Sou mais feliz e sofro menos com estas decisões que tomei. É um processo longo. Sei que mais pessoas serão felizes como eu com decisões iguais ou semelhantes. Porque no fundo, o que se recomenda é o amor ao próximo e o amor próprio.

Outra bênção da forçada obstrução da via é a possibilidade de ouvir e cantar fantásticas criações musicais que tenho em cd’s ou que passam pelas nossas rádios. Sou apaixonado por música. Sou exigente na qualidade dela. Mas não tenho muito tempo para apreciá-la. Bendito engarrafamento que me permites absorver música diariamente…que bom!

Escolhi sim não sofrer com o congestionamento. Escolhi não me estressar com as mbaias de que sou vítima, nem com ofensas verbais que receba por alguma lentidão de minha parte, ou seja, se estiver a 50 ou 60km/h e o parceiro quiser que eu ande a 120km/h, ou algum erro que cometa na via, escolhi abençoar os mal comportados da via, os ofensores e outros tantos cujo comportamento humanamente mereça um “seu macaco” (nem sempre consigo, admito).

Percebi que estas escolhas se concretizam totalmente se obedecerem um processo lento de decisão.

Vou confessar. Sou mais feliz e sofro menos com estas decisões que tomei. É um processo longo. Sei que mais pessoas serão felizes como eu com decisões iguais ou semelhantes. Porque no fundo, o que se recomenda é o amor ao próximo e o amor próprio. Amar o próximo significa suportar os seus erros. Amar a si mesmo significa…muita coisa, entre as quais, tomar decisões, e consequentemente realizar acções, que façam bem ao físico, à mente e à alma.

Eu decidi amar-me, decidi amar o próximo (mais difícil), e escolhi…amar o engarrafamento!

 

EBuchartts

20/05/2015

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