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“É fundamental estudarmos o nosso trabalho”, afirmou artista Adriano Cangombe

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Andrade Lino

O artista visual angolano Adriano Cangombe afirmou ser fundamental estudar-se o próprio trabalho, “dar tempo, amadurecer ideias, errar e refazer sempre”, entendendo que, o processo criativo, embora seja algo aberto e em construção, “deve buscar uma ordem, uma metodologia de trabalho que permita ao artista articular e ordenar melhor as suas ideias, discurso e narrativas visuais”.

O também docente pela actual Faculdade de Artes da Universidade de Luanda, extinto Instituto Superior de Artes (ISART), fez essa declaração por ocasião do lançamento da sua mais recente e primeira exposição individual, “Alusapo”, patente desde 25 de Outubro último na galeria Ndongo119 Criativa, aludindo à necessidade de os artistas mergulharem mais em pesquisas para a efectivação dos seus projectos, quando referiu que ser artista-pesquisador é algo que deseja, “mas não quer dizer que seja o único ou mais importante modo de ser artista e trabalhar”.

Também curador, Adriano percebe que a parte mais interessante no seu trabalho é o deleite com o processo. “Na maior parte das vezes, aquilo que está resolvido materialmente (obras) não reflecte sinceramente o que está idealizado. Estudar e procurar controlar o máximo possível aquilo que deve ou não entrar nas minhas obras em termos de processos, conceitos, linguagem, temas, etc, é uma das maiores tarefas”, argumentou.

Mas, continuou, isso exige muito trabalho, tempo, dedicação e vontade. Tem mais erros do que acertos, porém “isso é muito enriquecedor”. “Tenho de ser consciente e sério. Estes resultados na arte, na maior parte das vezes, surgem após longos anos de experimentação e pesquisa. E há que ser paciente, por mais difícil que seja”, defendeu, em entrevista ao ONgoma News.

O seu trabalho artístico é uma busca por respostas cujas reflexões passam por temas relacionados à nossa história, guerra civil, memória colectiva, etc, e para este projecto decidiu ter como base o trabalho com arquivo. “95% das imagens das quais me aproprio e recrio nas pinturas e desenhos são fotografias de família, do meu arquivo pessoal. A pesquisa deste projecto está sendo um processo de reencontro comigo mesmo. Está cheio de referências pessoais, de época, de família, de referências religiosas e culturais dos lugares que me construíram como ser”, revelou.

Viajou duas vezes a Benguela, sua terra natal, à procura de materiais para a sua pesquisa, como cartas, fotos, fita-cassetes, objectos pessoais, entre outras coisas, contou, mas foi duro constatar que muita coisa (arquivos do seu pai) se perdeu e se destruiu com o tempo e por má conservação. “Isto fez mudar muita coisa no projecto”, partilhou.

O artista usa muito a expressão “Alupolo Lwiye”, em Umbundu, que têm o sentido, em português, de “Era uma vez”, nesse contexto de contação de estórias. Já a exposição que trouxe para o público, “Alusapo” (contos, fábulas, provérbios) é um projecto extenso, aberto e em processo.

“As ideias do projecto têm cerca de um ano. A ideia foi aproveitar esta estrutura do conto e tentar fazer da exposição uma sucessão de estórias visuais. A mostra conta com 13 obras, entre desenho, pintura, instalação e site-specific. Trabalho as pinturas em acrílico, café e stencil. Nos desenhos experimentei muitos pigmentos não convencionais, como temperos (açafrão e caril), essência de caroço de abacate, verde de folha de espinafre, etc. Muito dos tons nos desenhos surgem de forma inusitada, e aprendi muito no processo”, reconheceu Adriano Cangombe.

Os altos e baixos foram muitos e o maior deles foi constatar que a maior parte dos arquivos que pensava encontrar foram destruídos, assim como os problemas técnicos na execução das pinturas usando café e acrílico, ou seja, admitiu que precisa melhorar muito nesse quesito. “Altos e baixos emocionais. Não sou muito optimista e desconfio muito do que penso e faço”, acrescentou a fonte.

Em termos de programação da exposição, haverá, na quarta-feira, 15, uma conversa com o artista para falar um pouco sobre o processo de trabalho e interagir com o público para partilhar experiências. Em seguida, no dia 22, decorrerá um worshop de confecção de acessórios ministrado pela sua sobrinha Adelaide Joaquim, que foi co-criadora de uma das obras na exposição.

“Este worshop enquadra-se no conceito e contexto geral da exposição. É uma forma de sentir no fazer a herança dos meus avôs paternos, que foram artesãos e produziam coisas semelhantes ao que a minha sobrinha. E no dia 25, acontece um ondjango onde vou convidar um amigo poeta e juntos fazermos um dia dedicado à contação de estórias, brincadeiras da minha época e confecção de brinquedos nanufaturados”, adiantou.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O artista visual angolano Adriano Cangombe afirmou ser fundamental estudar-se o próprio trabalho, “dar tempo, amadurecer ideias, errar e refazer sempre”, entendendo que, o processo criativo, embora seja algo aberto e em construção, “deve buscar uma ordem, uma metodologia de trabalho que permita ao artista articular e ordenar melhor as suas ideias, discurso e narrativas visuais”.

O também docente pela actual Faculdade de Artes da Universidade de Luanda, extinto Instituto Superior de Artes (ISART), fez essa declaração por ocasião do lançamento da sua mais recente e primeira exposição individual, “Alusapo”, patente desde 25 de Outubro último na galeria Ndongo119 Criativa, aludindo à necessidade de os artistas mergulharem mais em pesquisas para a efectivação dos seus projectos, quando referiu que ser artista-pesquisador é algo que deseja, “mas não quer dizer que seja o único ou mais importante modo de ser artista e trabalhar”.

Também curador, Adriano percebe que a parte mais interessante no seu trabalho é o deleite com o processo. “Na maior parte das vezes, aquilo que está resolvido materialmente (obras) não reflecte sinceramente o que está idealizado. Estudar e procurar controlar o máximo possível aquilo que deve ou não entrar nas minhas obras em termos de processos, conceitos, linguagem, temas, etc, é uma das maiores tarefas”, argumentou.

Mas, continuou, isso exige muito trabalho, tempo, dedicação e vontade. Tem mais erros do que acertos, porém “isso é muito enriquecedor”. “Tenho de ser consciente e sério. Estes resultados na arte, na maior parte das vezes, surgem após longos anos de experimentação e pesquisa. E há que ser paciente, por mais difícil que seja”, defendeu, em entrevista ao ONgoma News.

O seu trabalho artístico é uma busca por respostas cujas reflexões passam por temas relacionados à nossa história, guerra civil, memória colectiva, etc, e para este projecto decidiu ter como base o trabalho com arquivo. “95% das imagens das quais me aproprio e recrio nas pinturas e desenhos são fotografias de família, do meu arquivo pessoal. A pesquisa deste projecto está sendo um processo de reencontro comigo mesmo. Está cheio de referências pessoais, de época, de família, de referências religiosas e culturais dos lugares que me construíram como ser”, revelou.

Viajou duas vezes a Benguela, sua terra natal, à procura de materiais para a sua pesquisa, como cartas, fotos, fita-cassetes, objectos pessoais, entre outras coisas, contou, mas foi duro constatar que muita coisa (arquivos do seu pai) se perdeu e se destruiu com o tempo e por má conservação. “Isto fez mudar muita coisa no projecto”, partilhou.

O artista usa muito a expressão “Alupolo Lwiye”, em Umbundu, que têm o sentido, em português, de “Era uma vez”, nesse contexto de contação de estórias. Já a exposição que trouxe para o público, “Alusapo” (contos, fábulas, provérbios) é um projecto extenso, aberto e em processo.

“As ideias do projecto têm cerca de um ano. A ideia foi aproveitar esta estrutura do conto e tentar fazer da exposição uma sucessão de estórias visuais. A mostra conta com 13 obras, entre desenho, pintura, instalação e site-specific. Trabalho as pinturas em acrílico, café e stencil. Nos desenhos experimentei muitos pigmentos não convencionais, como temperos (açafrão e caril), essência de caroço de abacate, verde de folha de espinafre, etc. Muito dos tons nos desenhos surgem de forma inusitada, e aprendi muito no processo”, reconheceu Adriano Cangombe.

Os altos e baixos foram muitos e o maior deles foi constatar que a maior parte dos arquivos que pensava encontrar foram destruídos, assim como os problemas técnicos na execução das pinturas usando café e acrílico, ou seja, admitiu que precisa melhorar muito nesse quesito. “Altos e baixos emocionais. Não sou muito optimista e desconfio muito do que penso e faço”, acrescentou a fonte.

Em termos de programação da exposição, haverá, na quarta-feira, 15, uma conversa com o artista para falar um pouco sobre o processo de trabalho e interagir com o público para partilhar experiências. Em seguida, no dia 22, decorrerá um worshop de confecção de acessórios ministrado pela sua sobrinha Adelaide Joaquim, que foi co-criadora de uma das obras na exposição.

“Este worshop enquadra-se no conceito e contexto geral da exposição. É uma forma de sentir no fazer a herança dos meus avôs paternos, que foram artesãos e produziam coisas semelhantes ao que a minha sobrinha. E no dia 25, acontece um ondjango onde vou convidar um amigo poeta e juntos fazermos um dia dedicado à contação de estórias, brincadeiras da minha época e confecção de brinquedos nanufaturados”, adiantou.

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