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Cremilda de Lima lança “História da Literatura Infantil Angolana”

Cremilda de Lima lança “História da Literatura Infantil Angolana”
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Andrade Lino

A escritora angolana Cremilda de Lima lançou na passada quinta-feira, dia 6 de Abril, o seu mais recente livro, no Chá de Caxinde, em Luanda, um trabalho com que pretende dar a conhecer o percurso da literatura infantil desde a época colonial até a época pós-independência, nomeadamente nas décadas 70 e 80.

“História da Literatura Infantil Angolana”, teve como fontes as comunicações apresentadas ao Colóquio sobre Literatura Infantil, realizado pela Secretaria de Estado da Cultura, através do Instituto Nacional do Livro e do Disco, em Agosto de 1986, e cujos temas foram, dentre outros, “O papel e a função social da literatura infantil”, por Manuel Rui Monteiro e “História da Literatura Infantil Angolana” com abordagens como “O que e como escrever”, “A criança e o livro” e “Uma literatura Nova”, por Gabriela Antunes.

“Nós atingimos a reforma educativa em 1977, dois anos a seguir a independência. Essa dotou-se em modificar e substituir todos os conteúdos programáticos do ensino, que eram portugueses, para a nossa realidade, e entretanto nós tínhamos que estudar os rios, as comunas e municípios, ou seja, tínhamos que estar no nosso pais, na nossa cultura e nas nossas vivências. Então, nessa reforma educativa foi necessário criar histórias, que muitas delas foram temas de debate no colóquio que teve lugar em 1986. Depois daí, fui editando outros livros, fazendo outras coisas, porém pensava sempre em não deixar ultrapassar o colóquio. Sendo assim, seleccionei os temas, não pus tudo tal e qual, fiz um encadeamento dos conteúdos e apresentei ao INIC e à União dos Escritores Angolanos, mas ia sendo um processo muito demorado até obter respostas, então eu mesma editei. Posteriormente, recorri ao Chá de Caxinde e fizeram a revisão do livro. Por fim, felizmente, com o esforço e vontade que tive, nós podemos ler e saber algo sobre como era a literatura antes e depois da independência”, relatou a autora.

Cremilda de Lima, que tem alguns dos seus livros traduzidos para outras línguas como servo-croata e castelhano, disse ainda que o livro não é propriamente para crianças, mas é um manual de estudo para se conhecer e compreender as acções que promoveram a cultura literária que remonta dos nossos ancestrais, quando a literatura oral fazia parte dos encontros à volta da fogueira, nos jangos.

Para José de Almeida e Silva, Secretário Geral da Associação Chá de Caxinde, é muito importante termos conhecimento sobre a história da literatura infantil angolana e quais foram as figuras principais envolvidas. Importante ainda é sabermos como tudo começou, continuou, e o esforço que tem sido feito no sentido de podermos dar às nossas crianças algo para lerem, que não é uma história infantil, mas é indispensável que todos saibam os passos que já demos para projectarmos os passos que vamos dar daqui para o futuro.

Octaviano Correia, citado no livro como um dos grandes impulsionares da obra, explicou que se trata de um trabalho de pesquisa que tem como grande mérito dar a conhecer os escritores de um período logo a seguir a independência, escritores estes que tiveram a consciência de que havia literatura com pouco de literatura para as crianças angolanas.

“Haviam escritos de autores estrangeiros com histórias que realmente se passavam num cenário que não era o nosso. Entretanto, esse grupo de escritores, dentre eles  Maria Eugénia, Rosalina Pomba, Cremilda de Lima e Gabriela Antunes, tomou consciência que era necessário pegar na nossa realidade e transportá-la para os livros, para as histórias, para que as nossas crianças começassem realmente a entrar numa realidade que até ali lhes era completamente desconhecida, e foi exactamente essa ideia que presidiu o aparecimento desse grupo de escritores”, referiu.

Este livro oferece pistas importantes, concluiu, para os actuais investigadores da cultura, por forma a saberem não só o que se fez, mas por que se fez e o que levou os escritores angolanos naquela altura a começarem a pegar numa temática que poderá servir de estudo da mentalidade das pessoas na época.

Cremilda de Lima foi duas vezes nomeada para o Prémio Internacional Astrid Lindgren (2008-2009), instituído pelo Governo Sueco para honrar a memória de Astrid Lindgren e fomentar a Literatura Infantil e Juvenil no mundo. A obra “A Kianda e o Barquinho de Fuxi” foi traduzida para Kimbundu e outras obras foram adptadas para teatro.

 

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

A escritora angolana Cremilda de Lima lançou na passada quinta-feira, dia 6 de Abril, o seu mais recente livro, no Chá de Caxinde, em Luanda, um trabalho com que pretende dar a conhecer o percurso da literatura infantil desde a época colonial até a época pós-independência, nomeadamente nas décadas 70 e 80.

“História da Literatura Infantil Angolana”, teve como fontes as comunicações apresentadas ao Colóquio sobre Literatura Infantil, realizado pela Secretaria de Estado da Cultura, através do Instituto Nacional do Livro e do Disco, em Agosto de 1986, e cujos temas foram, dentre outros, “O papel e a função social da literatura infantil”, por Manuel Rui Monteiro e “História da Literatura Infantil Angolana” com abordagens como “O que e como escrever”, “A criança e o livro” e “Uma literatura Nova”, por Gabriela Antunes.

“Nós atingimos a reforma educativa em 1977, dois anos a seguir a independência. Essa dotou-se em modificar e substituir todos os conteúdos programáticos do ensino, que eram portugueses, para a nossa realidade, e entretanto nós tínhamos que estudar os rios, as comunas e municípios, ou seja, tínhamos que estar no nosso pais, na nossa cultura e nas nossas vivências. Então, nessa reforma educativa foi necessário criar histórias, que muitas delas foram temas de debate no colóquio que teve lugar em 1986. Depois daí, fui editando outros livros, fazendo outras coisas, porém pensava sempre em não deixar ultrapassar o colóquio. Sendo assim, seleccionei os temas, não pus tudo tal e qual, fiz um encadeamento dos conteúdos e apresentei ao INIC e à União dos Escritores Angolanos, mas ia sendo um processo muito demorado até obter respostas, então eu mesma editei. Posteriormente, recorri ao Chá de Caxinde e fizeram a revisão do livro. Por fim, felizmente, com o esforço e vontade que tive, nós podemos ler e saber algo sobre como era a literatura antes e depois da independência”, relatou a autora.

Cremilda de Lima, que tem alguns dos seus livros traduzidos para outras línguas como servo-croata e castelhano, disse ainda que o livro não é propriamente para crianças, mas é um manual de estudo para se conhecer e compreender as acções que promoveram a cultura literária que remonta dos nossos ancestrais, quando a literatura oral fazia parte dos encontros à volta da fogueira, nos jangos.

Para José de Almeida e Silva, Secretário Geral da Associação Chá de Caxinde, é muito importante termos conhecimento sobre a história da literatura infantil angolana e quais foram as figuras principais envolvidas. Importante ainda é sabermos como tudo começou, continuou, e o esforço que tem sido feito no sentido de podermos dar às nossas crianças algo para lerem, que não é uma história infantil, mas é indispensável que todos saibam os passos que já demos para projectarmos os passos que vamos dar daqui para o futuro.

Octaviano Correia, citado no livro como um dos grandes impulsionares da obra, explicou que se trata de um trabalho de pesquisa que tem como grande mérito dar a conhecer os escritores de um período logo a seguir a independência, escritores estes que tiveram a consciência de que havia literatura com pouco de literatura para as crianças angolanas.

“Haviam escritos de autores estrangeiros com histórias que realmente se passavam num cenário que não era o nosso. Entretanto, esse grupo de escritores, dentre eles  Maria Eugénia, Rosalina Pomba, Cremilda de Lima e Gabriela Antunes, tomou consciência que era necessário pegar na nossa realidade e transportá-la para os livros, para as histórias, para que as nossas crianças começassem realmente a entrar numa realidade que até ali lhes era completamente desconhecida, e foi exactamente essa ideia que presidiu o aparecimento desse grupo de escritores”, referiu.

Este livro oferece pistas importantes, concluiu, para os actuais investigadores da cultura, por forma a saberem não só o que se fez, mas por que se fez e o que levou os escritores angolanos naquela altura a começarem a pegar numa temática que poderá servir de estudo da mentalidade das pessoas na época.

Cremilda de Lima foi duas vezes nomeada para o Prémio Internacional Astrid Lindgren (2008-2009), instituído pelo Governo Sueco para honrar a memória de Astrid Lindgren e fomentar a Literatura Infantil e Juvenil no mundo. A obra “A Kianda e o Barquinho de Fuxi” foi traduzida para Kimbundu e outras obras foram adptadas para teatro.

 

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