Arte e Cultura
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“Behind The Doors” traz assuntos sobre os quais se evita falar

“Behind The Doors” traz assuntos sobre os quais se evita falar
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Andrade Lino

O artista plástico angolano Hamilton Francisco vai inaugurar, amanhã, sexta-feira, no Espaço Luanda Arte (ELA), a sua mais recente exposição individual, denominada “Behind The Doors”, pelas 18h00, amostra que resulta do projecto “Memória e Identidade”, que iniciou em 2014 e já teve uma passagem na Galeria Tamar Golan, da Fundação Arte e Cultura.

“Atrás das portas”, dito em português, traz uma mensagem às pessoas sobre a mercantilização, ou seja, “nós continuamos a ser produto até hoje, continuamos a ser colonizados, mas só que o colono não tem rosto”, afirma o artista, mais conhecido por Babu, que explicou, em entrevista ao ONgoma News, que é por termos vivido durante 500 anos com o colono, “o que não é uma coisa fácil de esquecer e só se passaram ainda 44 anos”, que nos é difícil seguir em frente e libertar as pessoas do espírito da colonização, “principalmente a nós, os angolanos, porque estamos muitos preocupados em ser homens civilizados e nos complicamos demais.”

“Não será fácil nos esquecermos da ideia que temos sobre a colonização, e quanto às línguas, não vamos deixar de falar o Português, uma vez que nos foi dada como língua oficial, e porque senão isso traria um retrocesso de várias coisas, dentre elas na nossa própria administração do Executivo”, analisou.

Nesse sentido, para ele, “a exposição traz coisas sobre as quais muitas vezes não se quer falar, mesmo sabendo que elas existem”, como a condição do africano.

Babu acredita ter uma forma de ler e depois transmitir as coisas às pessoas muito peculiar, por isso espera que o público foque o seu olhar nos sacos, porque eles trazem mensagens muito importantes e podemos ali aprender muita coisa sobre a comercialização, sobre a globalização, esta que “não começou só por causa da internet, mas há muito tempo, quando se começou a usar esses sacos, para o café”.

As instalações são a peça fundamental dessa exposição, daí ser importante prestar atenção às datas impressas nos sacos e pesquisar sobre elas, refere o criador, que esclarece estar-se a falar sensivelmente de 8 ou 9 quadros, para além das obras de instalação, para os quais desenvolveu técnicas rupestres.

“Normalmente, muito de nós, artistas, temos influência de qualquer outro artista ou coisa, mas parte da minha influência não é está no desenvolvimento do trabalho, mas sim na matéria, produto final, estudar sobre os nossos desenhos rupestres e conseguir desenvolver essas figuras que eu tenho feito”, frisou.

Consta ainda do projecto um ecrã de serigrafia, que retrata os diversos tratados comerciais, à volta dos quais “alguns seres humanos acharam-se estar no direito de explorar o próximo”. “Se não forem eles os outros vêm antes, é a pressa de ir atrás das coisas, e de ir atrás do desenvolvimento, digo, estar à frente do comércio”, afirmou.

Consequentemente, Hamilton Francisco fez menção à exposição “Eu e o outro”, decorrida em 2016, que abordou a memória e identidade africana, tendo precisado que não basta ser africano, tem que se estudar muito, porque cada coisa que surge tem um estudo de fundamento.

É nesta ordem de ideias que considera que o ser artista é um percurso, “é uma vida, porque o artista é um sociólogo, tem que ler mais, estudar e investigar mais”, sendo que está constantemente a falar sobre a sociedade em que se encontra, aonde vai, aquilo em que crê, conquanto “o que se tem de conhecimento nunca chega”.

 “Precisamos aprofundar mais as coisas, ir para mais longe. É preciso estudar mais, por isso costumo dizer que “eu vou ser artista quando for grande”, porque de cada coisa que se vai fazendo, eu continuo a estudar. Por exemplo, tenho idealizado uma exposição para 2019 e já tenho estudado sobre o assunto, para quando chegar aquele dia eu fazer as coisas como devem ser, e olha que é uma exposição que vai ser muito estranha, apenas um quadro e uma peça que vai estar no chão”, avançou.

 Entretanto, é de opinião que o conteúdo que os artistas trazem nas suas obras e exposições depende muito do ponto de vista conceitual de cada um e da concepção, daquilo que a mensagem quer passar.

“Nós temos um leque de artistas, da minha geração, principalmente, com grandes e importantes mensagens, mas infelizmente as pessoas não ouvem, simplesmente olham para o lado, como é de hábito, porque nos Países de Língua Oficial Portuguesa, incluindo Portugal, o investimento da cultura é sempre menos, na cultura na educação, e isto é uma coisa triste, triste porque é com a cultura que se desenvolvem as economias e nós em África ainda estamos muito a Leste”, argumentou, acrescentando que a cultura é que ajuda o comércio, ou seja, a cultura faz muita falta no desenvolvimento de um país, “pena que Angola pensa doutra forma”.

Questionado sobre o nível de recepção do seu produto entre Angola e Portugal, este último onde reside, disse que “é a mesma coisa”. “Normalmente, quando venho para cá, raramente sobram obras minhas, o mesmo em Portugal. Quase nunca fico com nenhuma e de vez em quando tenho aquelas obras que eu espero guardar para fazer colecção, mas às vezes não consigo. Portanto, o mesmo que sinto lá fora, sinto-o aqui também, as pessoas gostam muito dos meus trabalhos e gostam da forma como eu falo e isso é gratificante”, manifestou o artista plástico.

Por fim, e tendo já manifestado o seu agrado em trabalhador com o director do ELA, Dominick Tanner, quem ele considera um grande amigo, bem como espera que o público aprecie a exposição, o entrevistado lamenta o facto de termos “um país que não nos dá arte contemporânea e isso é uma coisa triste”.

“Nós temos bons artistas e as obras estão por aí espalhadas. Um dia, alguém pergunta: “Essa obra foi feita por um angolano? Mas, nunca vi esse artista”, e há obras que nunca se vão ver em Angola, porque nós não temos um acerto no país, a falta de infra-estruturas é o problema. Nós pensamos muito com os joelhos, por isso é que as coisas não andam bem”, concluiu.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O artista plástico angolano Hamilton Francisco vai inaugurar, amanhã, sexta-feira, no Espaço Luanda Arte (ELA), a sua mais recente exposição individual, denominada “Behind The Doors”, pelas 18h00, amostra que resulta do projecto “Memória e Identidade”, que iniciou em 2014 e já teve uma passagem na Galeria Tamar Golan, da Fundação Arte e Cultura.

“Atrás das portas”, dito em português, traz uma mensagem às pessoas sobre a mercantilização, ou seja, “nós continuamos a ser produto até hoje, continuamos a ser colonizados, mas só que o colono não tem rosto”, afirma o artista, mais conhecido por Babu, que explicou, em entrevista ao ONgoma News, que é por termos vivido durante 500 anos com o colono, “o que não é uma coisa fácil de esquecer e só se passaram ainda 44 anos”, que nos é difícil seguir em frente e libertar as pessoas do espírito da colonização, “principalmente a nós, os angolanos, porque estamos muitos preocupados em ser homens civilizados e nos complicamos demais.”

“Não será fácil nos esquecermos da ideia que temos sobre a colonização, e quanto às línguas, não vamos deixar de falar o Português, uma vez que nos foi dada como língua oficial, e porque senão isso traria um retrocesso de várias coisas, dentre elas na nossa própria administração do Executivo”, analisou.

Nesse sentido, para ele, “a exposição traz coisas sobre as quais muitas vezes não se quer falar, mesmo sabendo que elas existem”, como a condição do africano.

Babu acredita ter uma forma de ler e depois transmitir as coisas às pessoas muito peculiar, por isso espera que o público foque o seu olhar nos sacos, porque eles trazem mensagens muito importantes e podemos ali aprender muita coisa sobre a comercialização, sobre a globalização, esta que “não começou só por causa da internet, mas há muito tempo, quando se começou a usar esses sacos, para o café”.

As instalações são a peça fundamental dessa exposição, daí ser importante prestar atenção às datas impressas nos sacos e pesquisar sobre elas, refere o criador, que esclarece estar-se a falar sensivelmente de 8 ou 9 quadros, para além das obras de instalação, para os quais desenvolveu técnicas rupestres.

“Normalmente, muito de nós, artistas, temos influência de qualquer outro artista ou coisa, mas parte da minha influência não é está no desenvolvimento do trabalho, mas sim na matéria, produto final, estudar sobre os nossos desenhos rupestres e conseguir desenvolver essas figuras que eu tenho feito”, frisou.

Consta ainda do projecto um ecrã de serigrafia, que retrata os diversos tratados comerciais, à volta dos quais “alguns seres humanos acharam-se estar no direito de explorar o próximo”. “Se não forem eles os outros vêm antes, é a pressa de ir atrás das coisas, e de ir atrás do desenvolvimento, digo, estar à frente do comércio”, afirmou.

Consequentemente, Hamilton Francisco fez menção à exposição “Eu e o outro”, decorrida em 2016, que abordou a memória e identidade africana, tendo precisado que não basta ser africano, tem que se estudar muito, porque cada coisa que surge tem um estudo de fundamento.

É nesta ordem de ideias que considera que o ser artista é um percurso, “é uma vida, porque o artista é um sociólogo, tem que ler mais, estudar e investigar mais”, sendo que está constantemente a falar sobre a sociedade em que se encontra, aonde vai, aquilo em que crê, conquanto “o que se tem de conhecimento nunca chega”.

 “Precisamos aprofundar mais as coisas, ir para mais longe. É preciso estudar mais, por isso costumo dizer que “eu vou ser artista quando for grande”, porque de cada coisa que se vai fazendo, eu continuo a estudar. Por exemplo, tenho idealizado uma exposição para 2019 e já tenho estudado sobre o assunto, para quando chegar aquele dia eu fazer as coisas como devem ser, e olha que é uma exposição que vai ser muito estranha, apenas um quadro e uma peça que vai estar no chão”, avançou.

 Entretanto, é de opinião que o conteúdo que os artistas trazem nas suas obras e exposições depende muito do ponto de vista conceitual de cada um e da concepção, daquilo que a mensagem quer passar.

“Nós temos um leque de artistas, da minha geração, principalmente, com grandes e importantes mensagens, mas infelizmente as pessoas não ouvem, simplesmente olham para o lado, como é de hábito, porque nos Países de Língua Oficial Portuguesa, incluindo Portugal, o investimento da cultura é sempre menos, na cultura na educação, e isto é uma coisa triste, triste porque é com a cultura que se desenvolvem as economias e nós em África ainda estamos muito a Leste”, argumentou, acrescentando que a cultura é que ajuda o comércio, ou seja, a cultura faz muita falta no desenvolvimento de um país, “pena que Angola pensa doutra forma”.

Questionado sobre o nível de recepção do seu produto entre Angola e Portugal, este último onde reside, disse que “é a mesma coisa”. “Normalmente, quando venho para cá, raramente sobram obras minhas, o mesmo em Portugal. Quase nunca fico com nenhuma e de vez em quando tenho aquelas obras que eu espero guardar para fazer colecção, mas às vezes não consigo. Portanto, o mesmo que sinto lá fora, sinto-o aqui também, as pessoas gostam muito dos meus trabalhos e gostam da forma como eu falo e isso é gratificante”, manifestou o artista plástico.

Por fim, e tendo já manifestado o seu agrado em trabalhador com o director do ELA, Dominick Tanner, quem ele considera um grande amigo, bem como espera que o público aprecie a exposição, o entrevistado lamenta o facto de termos “um país que não nos dá arte contemporânea e isso é uma coisa triste”.

“Nós temos bons artistas e as obras estão por aí espalhadas. Um dia, alguém pergunta: “Essa obra foi feita por um angolano? Mas, nunca vi esse artista”, e há obras que nunca se vão ver em Angola, porque nós não temos um acerto no país, a falta de infra-estruturas é o problema. Nós pensamos muito com os joelhos, por isso é que as coisas não andam bem”, concluiu.

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