Actualidade
Educação

“As crianças precisam de mais tempo para brincar”, alertou educadora Ingrid Fortez

“As crianças precisam de mais tempo para brincar”, alertou educadora Ingrid Fortez
Foto por:
vídeo por:
Andrade Lino

A educadora angolana Ingrid Fortez afirmou que as crianças precisam ter mais tempo para brincadeiras, “porque muitas vezes o tempo delas fora da escola não é ocupado com diversão, e é visível, na nossa sociedade, crianças irem para a escola com uma exaustão psicológica muito grande”.

A também artista multidisciplinar realçou que muitas dessas crianças são parte da fonte de rendimento da própria família, mas depois não rendem a nível escolar, e alertou então a sociedade a estar atenta a essa exploração infantil, apesar de serem bem conhecidas as necessidades de base da grande parte das famílias em Angola.

Uma das causas desse factor, segundo Ingrid Fortez, que falou ao ONgoma News, é o facto de existir uma dificuldade de muitos pais em aceitarem determinados caminhos ou profissões que os filhos queiram seguir, “porque há uma expectativa, há toda uma necessidade de os filhos poderem se concretizar mais do que os próprios pais, porque eles querem sempre o melhor para os filhos, mas temos poucas escolas dentro das indústrias criativas”.

“Então, temos que recorrer muitas vezes à mão-de-obra externa”, lamentou, tendo que referido que um pai, conhecendo o seu filho e vendo as suas potencialidades, é importante que se informe mais acerca do meio, quais são as saídas profissionais para a criança, “e normalmente as áreas artísticas são as que mais causam problemas dentro de casa”.

“Eu mesma tive muitos confrontos a nível familiar, sempre tiveram uma expectativa de uma outra área de negócio para mim, outra profissão, porém tive de provar que conseguiria ser independente dentro da área criativa, e enquanto professora, quando noto que há um aluno interessado em enveredar para as artes, o que passo sempre é aquela consciência real de que é difícil e muitas vezes os contratos são meio precários”, revelou, contudo, continuou, isso é uma questão isolada da economia criativa e o seu desenvolvimento em cada país.

A ainda agitadora cultural, que foi também oradora, neste último sábado, da 5ª edição do TEDx Luanda, subordinado ao tema “Vanguardistas, somos”, propôs que as escolas começassem a receber mais influências de fora, como das ONG´s, fundações e associações, para fazerem um complemento extracurricular que de alguma maneira ocupe as crianças, “por via das brincadeiras, das oficinas, mas deixando-as dentro da sua área protegida”.

Na sua óptica, a escola acaba por ser uma estrutura muito formal e rígida. Todavia, essas grades escolares devem servir para a protecção e desenvolvimento da criança, sendo que as escolas têm de aprender a receber outros professores, mentores que talvez não se encontrem dentro do seu universo.

A monodocência, exemplificou, normalmente acontece no primeiro ciclo, “e aí também a criança possui necessidades mais paternais ou maternais, ou seja, não está assim tão independente, e no entanto, a partir dum acompanhamento, se a criança tiver outra mãe ou pai, que são os professores, isso confere-lhe alguma segurança. Mas, por outro lado, está em questão a sobrecarga do professor, porque são várias disciplinas e várias iniciativas que o mesmo tem que ter para modelar as suas aulas fora do contexto escolar.

“Aí seria bom que o professor fosse apoiado nas outras áreas de ensino. Quer dizer, tem que se primar por uma educação mais criativa, que permita fazer uma abordagem transversal com os conteúdos escolares definidos por lei, pois o professor também precisa de uma ajuda, de uma reciclagem, porque a sua condição não é das melhores”, observou, e felicitou o país porque “actualmente vão ser contratados mais de 20 mil novos professores, foram detectados os fraudulentos e, para além disso, os profissionais da educação estão a reivindicar cada vez mais as suas necessidades e direitos.

“Angola está de parabéns por ter tido já uma greve, acho que isso é um feito, não no sentido de não haver aulas, mas de reivindicação dos direitos para que as coisas melhorem”, disse.

Continuando, a educadora sublinhou que o professor acompanha grande parte da vida das crianças. “Como disse, nós passamos muitos anos dentro da escola e o professor tem de aprender a educar pelos afectos. Não pode ser pela base ditatorial de o aluno ter que reproduzir aquilo que ele está a ensinar. O aluno já traz a sua própria criatividade, cultura e conceitos. O professor tem de se reciclar, sendo uma pessoa fundamental para o crescimento de um indivíduo. E então, quanto mais completo ele for, mais a criança terá isso em consequência na sua vida”, clareou Ingrid Fortez.

Consequentemente, lembrou que para tudo há uma formação específica, e o importante é desenvolver aptidões técnicas dentro das áreas, passá-las depois para a prática e esta por sua vez abrirá caminhos para outras pessoas.

“Por exemplo, na área da música, há alguns anos, era quase impossível gravar uma música em condições qualitativas. Era difícil e muito caro. Hoje em dia, essas mesmas pessoas que tiveram dificuldades em gravar em estúdios desenvolveram uma série de tecnologias que já nos permitem fazer essas gravações em casa e com qualidade”, citou, deixando claro que “dentro de uma área de especialização, se pudermos realmente formar e estimular, não passando apenas pelo lado formal, mas relevando o autodidactismo, de irmos à busca e experimentarmos novas coisas, trazemos novas ideias que com o passar do tempo serão manifestas”.

Ingrid é formada em Estudos Artísticos (Artes de Espectáculo) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde actualmente faz pós-graduação em Comunicação de Tendências.

A sua formação profissional inclui curso geral de Jazz (instrumento e voz), curso de Produção e Marketing Musical, pelo Instituto de Artes, e ainda Criatividade e Novas Tecnologias.

Actualmente, é consultora musical no Mo´Kubiko – Lisboa e no LockDownStudios – Porto.

Destaque

No items found.

6galeria

Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

A educadora angolana Ingrid Fortez afirmou que as crianças precisam ter mais tempo para brincadeiras, “porque muitas vezes o tempo delas fora da escola não é ocupado com diversão, e é visível, na nossa sociedade, crianças irem para a escola com uma exaustão psicológica muito grande”.

A também artista multidisciplinar realçou que muitas dessas crianças são parte da fonte de rendimento da própria família, mas depois não rendem a nível escolar, e alertou então a sociedade a estar atenta a essa exploração infantil, apesar de serem bem conhecidas as necessidades de base da grande parte das famílias em Angola.

Uma das causas desse factor, segundo Ingrid Fortez, que falou ao ONgoma News, é o facto de existir uma dificuldade de muitos pais em aceitarem determinados caminhos ou profissões que os filhos queiram seguir, “porque há uma expectativa, há toda uma necessidade de os filhos poderem se concretizar mais do que os próprios pais, porque eles querem sempre o melhor para os filhos, mas temos poucas escolas dentro das indústrias criativas”.

“Então, temos que recorrer muitas vezes à mão-de-obra externa”, lamentou, tendo que referido que um pai, conhecendo o seu filho e vendo as suas potencialidades, é importante que se informe mais acerca do meio, quais são as saídas profissionais para a criança, “e normalmente as áreas artísticas são as que mais causam problemas dentro de casa”.

“Eu mesma tive muitos confrontos a nível familiar, sempre tiveram uma expectativa de uma outra área de negócio para mim, outra profissão, porém tive de provar que conseguiria ser independente dentro da área criativa, e enquanto professora, quando noto que há um aluno interessado em enveredar para as artes, o que passo sempre é aquela consciência real de que é difícil e muitas vezes os contratos são meio precários”, revelou, contudo, continuou, isso é uma questão isolada da economia criativa e o seu desenvolvimento em cada país.

A ainda agitadora cultural, que foi também oradora, neste último sábado, da 5ª edição do TEDx Luanda, subordinado ao tema “Vanguardistas, somos”, propôs que as escolas começassem a receber mais influências de fora, como das ONG´s, fundações e associações, para fazerem um complemento extracurricular que de alguma maneira ocupe as crianças, “por via das brincadeiras, das oficinas, mas deixando-as dentro da sua área protegida”.

Na sua óptica, a escola acaba por ser uma estrutura muito formal e rígida. Todavia, essas grades escolares devem servir para a protecção e desenvolvimento da criança, sendo que as escolas têm de aprender a receber outros professores, mentores que talvez não se encontrem dentro do seu universo.

A monodocência, exemplificou, normalmente acontece no primeiro ciclo, “e aí também a criança possui necessidades mais paternais ou maternais, ou seja, não está assim tão independente, e no entanto, a partir dum acompanhamento, se a criança tiver outra mãe ou pai, que são os professores, isso confere-lhe alguma segurança. Mas, por outro lado, está em questão a sobrecarga do professor, porque são várias disciplinas e várias iniciativas que o mesmo tem que ter para modelar as suas aulas fora do contexto escolar.

“Aí seria bom que o professor fosse apoiado nas outras áreas de ensino. Quer dizer, tem que se primar por uma educação mais criativa, que permita fazer uma abordagem transversal com os conteúdos escolares definidos por lei, pois o professor também precisa de uma ajuda, de uma reciclagem, porque a sua condição não é das melhores”, observou, e felicitou o país porque “actualmente vão ser contratados mais de 20 mil novos professores, foram detectados os fraudulentos e, para além disso, os profissionais da educação estão a reivindicar cada vez mais as suas necessidades e direitos.

“Angola está de parabéns por ter tido já uma greve, acho que isso é um feito, não no sentido de não haver aulas, mas de reivindicação dos direitos para que as coisas melhorem”, disse.

Continuando, a educadora sublinhou que o professor acompanha grande parte da vida das crianças. “Como disse, nós passamos muitos anos dentro da escola e o professor tem de aprender a educar pelos afectos. Não pode ser pela base ditatorial de o aluno ter que reproduzir aquilo que ele está a ensinar. O aluno já traz a sua própria criatividade, cultura e conceitos. O professor tem de se reciclar, sendo uma pessoa fundamental para o crescimento de um indivíduo. E então, quanto mais completo ele for, mais a criança terá isso em consequência na sua vida”, clareou Ingrid Fortez.

Consequentemente, lembrou que para tudo há uma formação específica, e o importante é desenvolver aptidões técnicas dentro das áreas, passá-las depois para a prática e esta por sua vez abrirá caminhos para outras pessoas.

“Por exemplo, na área da música, há alguns anos, era quase impossível gravar uma música em condições qualitativas. Era difícil e muito caro. Hoje em dia, essas mesmas pessoas que tiveram dificuldades em gravar em estúdios desenvolveram uma série de tecnologias que já nos permitem fazer essas gravações em casa e com qualidade”, citou, deixando claro que “dentro de uma área de especialização, se pudermos realmente formar e estimular, não passando apenas pelo lado formal, mas relevando o autodidactismo, de irmos à busca e experimentarmos novas coisas, trazemos novas ideias que com o passar do tempo serão manifestas”.

Ingrid é formada em Estudos Artísticos (Artes de Espectáculo) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde actualmente faz pós-graduação em Comunicação de Tendências.

A sua formação profissional inclui curso geral de Jazz (instrumento e voz), curso de Produção e Marketing Musical, pelo Instituto de Artes, e ainda Criatividade e Novas Tecnologias.

Actualmente, é consultora musical no Mo´Kubiko – Lisboa e no LockDownStudios – Porto.

6galeria

Artigos relacionados

Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form