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“As artes visuais contribuem para a saúde mental”, considera Oksanna Dias

“As artes visuais contribuem para a saúde mental”, considera Oksanna Dias
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Andrade Lino

A artista visual Oksanna Dias, um nome jovem e em ascensão na arte feita no feminino, considerou recentemente que as artes visuais contribuem para a saúde mental, pois representam a expressão e percepção do mundo.

“Por exemplo, anteriormente já deitei algumas vezes lixo pela janela do táxi, mas desde que me tornei artista visual aprendi a importância de cuidar o meio ambiente, a reciclar para tornar o mundo sustentável, e é um caminho sem volta”, afirmou a também muralista, que falou ao ONgoma News por ocasião do evento de saudação ao Dia da Mulher Africana, na Casa da Cultura do Rangel “Njinga Mbande”, onde tem expostas, até o dia 29 deste mês, cinco obras suas.

Para ela, as actividades artísticas podem ajudar na concentração, na memória, no controle da ansiedade, na capacidade motora, no desenvolvimento cognitivo, no bem-estar e até mesmo na redução da pressão arterial, acreditando que “a arte muda a forma como as pessoas interagem com o mundo, solucionam seus dilemas e enxergam outras culturas”.

Sobre a efeméride, Oksanna Dias disse que a mulher africana para representa, para ela, o futuro no desenvolvimento social sustentável, símbolo de força e determinação, “pois desde os tempos antigos a mulher africana enfrenta grandes desafios, como a violência, estereótipos de género, o casamento e a gravidez precoce, principalmente em zonas rurais, bem como o acesso aos recursos e oportunidades”.

E questionada sobre que desafios enfrenta enquanto mulher artista, revelou que, por ser mulher, como muralista, algumas vezes enfrenta dificuldades como a aceitação de contratos, alguns clientes sentem receio por ela ser mulher e duvidam da sua capacidade para gerir um trabalho de graffiti, por exemplo. “Quando estou a trabalhar nas ruas, há o lado bom de absorver experiência e conectar-me com as pessoas da rua. O lado mau é que dificilmente me sinto à vontade trabalhando sozinha, sem a companhia de alguém, por medo de roubo de material ou insultos por saber que é uma mulher a pintar paredes”, contou, apontando como outra dificuldade o acesso à educação, sendo que há apenas um instituto de artes em Angola.

Recebeu o convite para a exposição de bom grado, declarou, considerando ser essencial reflectir sobre o 31 de Julho, Dia da Mulher Africana, data estabelecida para reconhecer o valor da promoção da mulher em todas as esferas da sociedade. “É importante ouvir as vozes das mulheres africanas e apoiar as suas lutas por justiça, igualdade e oportunidades”, defendeu.

Entretanto, as obras presentes na exposição foram produzidas em chapas de zinco, com tinta de óleo, apoiando a reciclagem e sustentabilidade, pois as chapas já não tinham muito valor e decidiu reaproveitá-las para fazer arte. Trata-se de uma colecção que se chama “Black Women” e que representa o mundo feminino, negro, valorizando a sua feminilidade, orgulho preto, justiça social, identidade e ancestralidade.

“Eu falo sobre como as tranças foram importantes na era colonial, sendo que elas eram feitas para traçar mapas de fugas dos nossos antepassados. Numa das obras “Olhar”, eu falo sobre uma situação que tem assolado muitas famílias, que é a violência contra as mulheres: muitas vivem e lutam esta realidade, mas não conseguem falar, ou quando se queixam, não são levadas a sério, e muitas vezes são acusadas de culpadas. Numa outra obra eu falo sobre a importância de ouvir e valorizar os mais velhos porque pode nos ajudar a entender melhor a nossa própria história e cultura. Eles são os guardiães da memória colectiva, que nos contam histórias sobre o passado e nos ajudam a entender de onde viemos. E há também uma obra que retrata a Rainha Nzinga Mbande, símbolo de resistência do Ndongo e permitiu atenuar os projectos portugueses na região, por meio de tácticas de guerrilha e espionagem, dirigindo operações militares”, argumentou a pintora.

Por fim, questionada sobre como gostaria que o seu trabalho fosse visto agora e no futuro, Oksanna Dias expressou que é seu desejo que as suas obras sejam vistas de forma a incentivar a mulher a não desistir, a ser resistente, “que as obras fossem usadas como apoio para as pessoas reflectirem sobre si mesmas, a terem amor-próprio”.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

A artista visual Oksanna Dias, um nome jovem e em ascensão na arte feita no feminino, considerou recentemente que as artes visuais contribuem para a saúde mental, pois representam a expressão e percepção do mundo.

“Por exemplo, anteriormente já deitei algumas vezes lixo pela janela do táxi, mas desde que me tornei artista visual aprendi a importância de cuidar o meio ambiente, a reciclar para tornar o mundo sustentável, e é um caminho sem volta”, afirmou a também muralista, que falou ao ONgoma News por ocasião do evento de saudação ao Dia da Mulher Africana, na Casa da Cultura do Rangel “Njinga Mbande”, onde tem expostas, até o dia 29 deste mês, cinco obras suas.

Para ela, as actividades artísticas podem ajudar na concentração, na memória, no controle da ansiedade, na capacidade motora, no desenvolvimento cognitivo, no bem-estar e até mesmo na redução da pressão arterial, acreditando que “a arte muda a forma como as pessoas interagem com o mundo, solucionam seus dilemas e enxergam outras culturas”.

Sobre a efeméride, Oksanna Dias disse que a mulher africana para representa, para ela, o futuro no desenvolvimento social sustentável, símbolo de força e determinação, “pois desde os tempos antigos a mulher africana enfrenta grandes desafios, como a violência, estereótipos de género, o casamento e a gravidez precoce, principalmente em zonas rurais, bem como o acesso aos recursos e oportunidades”.

E questionada sobre que desafios enfrenta enquanto mulher artista, revelou que, por ser mulher, como muralista, algumas vezes enfrenta dificuldades como a aceitação de contratos, alguns clientes sentem receio por ela ser mulher e duvidam da sua capacidade para gerir um trabalho de graffiti, por exemplo. “Quando estou a trabalhar nas ruas, há o lado bom de absorver experiência e conectar-me com as pessoas da rua. O lado mau é que dificilmente me sinto à vontade trabalhando sozinha, sem a companhia de alguém, por medo de roubo de material ou insultos por saber que é uma mulher a pintar paredes”, contou, apontando como outra dificuldade o acesso à educação, sendo que há apenas um instituto de artes em Angola.

Recebeu o convite para a exposição de bom grado, declarou, considerando ser essencial reflectir sobre o 31 de Julho, Dia da Mulher Africana, data estabelecida para reconhecer o valor da promoção da mulher em todas as esferas da sociedade. “É importante ouvir as vozes das mulheres africanas e apoiar as suas lutas por justiça, igualdade e oportunidades”, defendeu.

Entretanto, as obras presentes na exposição foram produzidas em chapas de zinco, com tinta de óleo, apoiando a reciclagem e sustentabilidade, pois as chapas já não tinham muito valor e decidiu reaproveitá-las para fazer arte. Trata-se de uma colecção que se chama “Black Women” e que representa o mundo feminino, negro, valorizando a sua feminilidade, orgulho preto, justiça social, identidade e ancestralidade.

“Eu falo sobre como as tranças foram importantes na era colonial, sendo que elas eram feitas para traçar mapas de fugas dos nossos antepassados. Numa das obras “Olhar”, eu falo sobre uma situação que tem assolado muitas famílias, que é a violência contra as mulheres: muitas vivem e lutam esta realidade, mas não conseguem falar, ou quando se queixam, não são levadas a sério, e muitas vezes são acusadas de culpadas. Numa outra obra eu falo sobre a importância de ouvir e valorizar os mais velhos porque pode nos ajudar a entender melhor a nossa própria história e cultura. Eles são os guardiães da memória colectiva, que nos contam histórias sobre o passado e nos ajudam a entender de onde viemos. E há também uma obra que retrata a Rainha Nzinga Mbande, símbolo de resistência do Ndongo e permitiu atenuar os projectos portugueses na região, por meio de tácticas de guerrilha e espionagem, dirigindo operações militares”, argumentou a pintora.

Por fim, questionada sobre como gostaria que o seu trabalho fosse visto agora e no futuro, Oksanna Dias expressou que é seu desejo que as suas obras sejam vistas de forma a incentivar a mulher a não desistir, a ser resistente, “que as obras fossem usadas como apoio para as pessoas reflectirem sobre si mesmas, a terem amor-próprio”.

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