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“Algumas vezes já fui rejeitada para certos trabalhos por ser mulher”, lamentou artista Oksanna Dias

“Algumas vezes já fui rejeitada para certos trabalhos por ser mulher”, lamentou artista Oksanna Dias
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Andrade Lino

A artista visual Oksanna Dias, um dos nomes femininos emergentes na arte de ilustrar na nossa praça, lamentou o facto de já ter sido rejeitada para certos trabalhos “pelo simples facto de ser mulher”, como se por isso não tivesse “capacidade de trabalhar”, pois “ainda existem pessoas que acham as mulheres incapazes de praticarem a arte feita na maioria pelos homens”.

A muralista, que falou recentemente ao programa “Manhã de Prosas”, da Rádio Cultura Angola, numa conversa que girou em torno do movimento da cultura do grafite no país, defende ser totalmente normal uma mulher exercer esse ofício, apesar do contexto difícil.

“Quando eu cheguei no primeiro spot, que é o lugar onde é praticado o grafite, as pessoas ficaram a olhar para mim com estranheza e se perguntando se conseguiria dar conta do trabalho, se iria aguentar, sendo muitas vezes a única rapariga no meio”, contou Oksanna Dias, ressaltando que essa “preocupação” surgia tendo em conta que uma pintura pode acontecer em qualquer dia, qualquer hora, faça sol, chuva ou poeira, atribuindo-lhe alguma fragilidade.

Mas a artista abomina esse preconceito, que casa com o pensamento de que as mulheres em Angola e não só, “desde o princípio”, são tidas como “aquelas que devem ficar na cozinha, não podem ficar o dia fora a trabalhar, os estereótipos de que as mulheres não podem, a mulher não tem, as mulheres não são”.

Revelou, por exemplo, que no ano passado, por ocasião das comemorações do Outubro Rosa, participou de um mural, no Zango, onde ilustrou uma mulher a fazer um auto-exame de cancro da mama, uma figura de alguém a mostrar os seios. “Quando estava a pintar, sendo a única menina, passou uma moça a reclamar, dizendo que “em vez de pintarem coisas educativas estão a pintar uma mulher com as mãos nos seios”. Eu não consegui me justificar, mas havia uma outra pessoa que ouviu a moça a reclamar e lhe explicou o motivo da pintura. Essa jovem passou a fazer a leitura daquilo que eu estava a transmitir, que eu não estava só ali para passar o nude, mas estava aí para consciencializar as pessoas, mulheres e também homens, sobre o cancro da mama”, narrou a pintora, que nutre paixão pelas artes desde os 6 anos, tendo desabafado, no entanto, que tem sido difícil, como mulher, trabalhar na área, mas tem se esforçado bastante e expressado aquilo que sente.

“Às vezes eu não consigo pintar sozinha nas ruas, porque há sempre motas a passarem, há sempre pessoas aí na rua a quererem saber o porquê de eu estar aí, então prefiro trabalhar com grupos, mas ao longo do tempo vou me capacitando, me superando e ser respeitada”, declarou a também artista plástica, entendendo que “hoje em dia as pessoas têm a compreensão daquilo que é o trabalho que os artistas fazem”.

Oksanna Dias não deixou de agradecer o apoio que recebeu e continua a receber de outros artistas ao longo da jornada, como o grande Thó Simões, Camoxi, Henriques Caxala, Horácio Buenos e outros, que lhe ajudaram a tirar muitos dos desenhos dos papéis para as paredes, sabendo ela na altura muito pouco sobre o grafite.

“E então indo para as ruas eu consegui encontrar-me com mais artistas que já têm a prática e me envolvi com o meio, fui aprendendo até hoje e um dos meus primeiros trabalhos foi lá na FILDA, com um grupo de artistas que queriam também mostrar os seus trabalhos do papel para a parede. Depois, no ex-CCBA, que tem um mural muito grande, e de lá para cá não parei, vou trabalhando sempre em arte de rua, sozinha ou com grupos”, relatou.

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Ylson Menezes

Repórter

Ylson Menezes é poeta. Amante de leitura e de escrita, é também aspirante a jornalista.

A artista visual Oksanna Dias, um dos nomes femininos emergentes na arte de ilustrar na nossa praça, lamentou o facto de já ter sido rejeitada para certos trabalhos “pelo simples facto de ser mulher”, como se por isso não tivesse “capacidade de trabalhar”, pois “ainda existem pessoas que acham as mulheres incapazes de praticarem a arte feita na maioria pelos homens”.

A muralista, que falou recentemente ao programa “Manhã de Prosas”, da Rádio Cultura Angola, numa conversa que girou em torno do movimento da cultura do grafite no país, defende ser totalmente normal uma mulher exercer esse ofício, apesar do contexto difícil.

“Quando eu cheguei no primeiro spot, que é o lugar onde é praticado o grafite, as pessoas ficaram a olhar para mim com estranheza e se perguntando se conseguiria dar conta do trabalho, se iria aguentar, sendo muitas vezes a única rapariga no meio”, contou Oksanna Dias, ressaltando que essa “preocupação” surgia tendo em conta que uma pintura pode acontecer em qualquer dia, qualquer hora, faça sol, chuva ou poeira, atribuindo-lhe alguma fragilidade.

Mas a artista abomina esse preconceito, que casa com o pensamento de que as mulheres em Angola e não só, “desde o princípio”, são tidas como “aquelas que devem ficar na cozinha, não podem ficar o dia fora a trabalhar, os estereótipos de que as mulheres não podem, a mulher não tem, as mulheres não são”.

Revelou, por exemplo, que no ano passado, por ocasião das comemorações do Outubro Rosa, participou de um mural, no Zango, onde ilustrou uma mulher a fazer um auto-exame de cancro da mama, uma figura de alguém a mostrar os seios. “Quando estava a pintar, sendo a única menina, passou uma moça a reclamar, dizendo que “em vez de pintarem coisas educativas estão a pintar uma mulher com as mãos nos seios”. Eu não consegui me justificar, mas havia uma outra pessoa que ouviu a moça a reclamar e lhe explicou o motivo da pintura. Essa jovem passou a fazer a leitura daquilo que eu estava a transmitir, que eu não estava só ali para passar o nude, mas estava aí para consciencializar as pessoas, mulheres e também homens, sobre o cancro da mama”, narrou a pintora, que nutre paixão pelas artes desde os 6 anos, tendo desabafado, no entanto, que tem sido difícil, como mulher, trabalhar na área, mas tem se esforçado bastante e expressado aquilo que sente.

“Às vezes eu não consigo pintar sozinha nas ruas, porque há sempre motas a passarem, há sempre pessoas aí na rua a quererem saber o porquê de eu estar aí, então prefiro trabalhar com grupos, mas ao longo do tempo vou me capacitando, me superando e ser respeitada”, declarou a também artista plástica, entendendo que “hoje em dia as pessoas têm a compreensão daquilo que é o trabalho que os artistas fazem”.

Oksanna Dias não deixou de agradecer o apoio que recebeu e continua a receber de outros artistas ao longo da jornada, como o grande Thó Simões, Camoxi, Henriques Caxala, Horácio Buenos e outros, que lhe ajudaram a tirar muitos dos desenhos dos papéis para as paredes, sabendo ela na altura muito pouco sobre o grafite.

“E então indo para as ruas eu consegui encontrar-me com mais artistas que já têm a prática e me envolvi com o meio, fui aprendendo até hoje e um dos meus primeiros trabalhos foi lá na FILDA, com um grupo de artistas que queriam também mostrar os seus trabalhos do papel para a parede. Depois, no ex-CCBA, que tem um mural muito grande, e de lá para cá não parei, vou trabalhando sempre em arte de rua, sozinha ou com grupos”, relatou.

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