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A “Operação Resgate” foi uma surpresa, declaram zungueiras

A “Operação Resgate” foi uma surpresa, declaram zungueiras
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Andrade Lino

A “Operação Resgate”, levada a cabo no passado dia 6 deste mês, com vista a repor a autoridade do Estado, foi uma surpresa, porque não houve preparação psicológica para recebê-las, apesar das boas intenções que apresenta.

A declaração é de zungueiras, que foram tiradas das ruas, pelos constrangimentos que a venda ambulante tem causado em muitos pontos de circulação de pessoas na cidade e não só.

“Não estávamos preparadas psicologicamente para receber a “Operação Resgate”. Num país com cidadãos, e sabendo que o voto começa de baixo para cima, o Governo mesmo é nosso pai, mas esperávamos que nos preparasse”, afirma Teresa Tandela, que acrescentou que ser alvo de uma operação de um dia para o outro é muito complicado.

“Eles já estavam preparados. Mas nós?”, questionou-se a vendedora, que falava ao ONgoma News, por ocasião do evento Kuzunga, uma plataforma que visa catalisar o empreendedorismo inclusivo, apoiando o mercado informal.

A fonte, que comercializava os seus produtos em direcção à estrada principal do Golf 2, contou que muitos dos mercados para os quais as zungueiras estão a ser transferidas colocam-nas em condições difíceis. “Eu moro no Talatona, sair daí para ir vender no Zango, quanto vou gastar no táxi?”, voltou a questionar-se, tendo reforçado que “tudo muito bem que é o Governo e que quando diz algo tem que se cumprir, mas não dá para surpreender as pessoas desta maneira”.

Revelou estar atrás do alvará comercial e de um cartão de quitandeira para se poder legalizar e ir ao mercado, uma vez que tentou pôr o seu negócio (roupas, calçados e outros produtos) à porta de casa e foi impedida pelas autoridades policiais.

“Posso ir ao mercado, mas sem documento não sou ninguém”, disse, lamentando a enchente na Administração local.

Sónia Francisco, por sua vez, vendedora do mercado do São Paulo, mas não legal, entende que “a operação veio ajudar a resgatar alguns dos nossos valores perdidos”, atentando à questão dos estrangeiros ilegais, mas deveria dar-se um tempo de prevenção às vendedoras ambulantes. “Assim estaríamos conscientes e conformadas com o que poderia acontecer, e não de um dia para o outro começarem com a operação, sem nenhuma sensibilização”, ripostou.

“Com as vendas dá para fazer algo, mas a operação veio atrapalhar certas coisas, porque há mães que nem formação têm, não têm quem ajudar e a única solução é a venda ambulante”, acrescentou.

Quanto ao Kuzunga, promovido pela comunidade Global Shapers Luanda, líderes jovens que pretendem transformar a cidade com projectos colaborativos, Sónia acredita ser uma ideia inovadora, uma mais-valia para as zungueiras, e apela à aposta na iniciativa, para que tudo dê certo.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

A “Operação Resgate”, levada a cabo no passado dia 6 deste mês, com vista a repor a autoridade do Estado, foi uma surpresa, porque não houve preparação psicológica para recebê-las, apesar das boas intenções que apresenta.

A declaração é de zungueiras, que foram tiradas das ruas, pelos constrangimentos que a venda ambulante tem causado em muitos pontos de circulação de pessoas na cidade e não só.

“Não estávamos preparadas psicologicamente para receber a “Operação Resgate”. Num país com cidadãos, e sabendo que o voto começa de baixo para cima, o Governo mesmo é nosso pai, mas esperávamos que nos preparasse”, afirma Teresa Tandela, que acrescentou que ser alvo de uma operação de um dia para o outro é muito complicado.

“Eles já estavam preparados. Mas nós?”, questionou-se a vendedora, que falava ao ONgoma News, por ocasião do evento Kuzunga, uma plataforma que visa catalisar o empreendedorismo inclusivo, apoiando o mercado informal.

A fonte, que comercializava os seus produtos em direcção à estrada principal do Golf 2, contou que muitos dos mercados para os quais as zungueiras estão a ser transferidas colocam-nas em condições difíceis. “Eu moro no Talatona, sair daí para ir vender no Zango, quanto vou gastar no táxi?”, voltou a questionar-se, tendo reforçado que “tudo muito bem que é o Governo e que quando diz algo tem que se cumprir, mas não dá para surpreender as pessoas desta maneira”.

Revelou estar atrás do alvará comercial e de um cartão de quitandeira para se poder legalizar e ir ao mercado, uma vez que tentou pôr o seu negócio (roupas, calçados e outros produtos) à porta de casa e foi impedida pelas autoridades policiais.

“Posso ir ao mercado, mas sem documento não sou ninguém”, disse, lamentando a enchente na Administração local.

Sónia Francisco, por sua vez, vendedora do mercado do São Paulo, mas não legal, entende que “a operação veio ajudar a resgatar alguns dos nossos valores perdidos”, atentando à questão dos estrangeiros ilegais, mas deveria dar-se um tempo de prevenção às vendedoras ambulantes. “Assim estaríamos conscientes e conformadas com o que poderia acontecer, e não de um dia para o outro começarem com a operação, sem nenhuma sensibilização”, ripostou.

“Com as vendas dá para fazer algo, mas a operação veio atrapalhar certas coisas, porque há mães que nem formação têm, não têm quem ajudar e a única solução é a venda ambulante”, acrescentou.

Quanto ao Kuzunga, promovido pela comunidade Global Shapers Luanda, líderes jovens que pretendem transformar a cidade com projectos colaborativos, Sónia acredita ser uma ideia inovadora, uma mais-valia para as zungueiras, e apela à aposta na iniciativa, para que tudo dê certo.

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