Arte e Cultura
Exposição

“A fotografia tem um valor não só artístico, mas também documental”, considera fotógrafo Sebastião Vemba

“A fotografia tem um valor não só artístico, mas também documental”, considera fotógrafo Sebastião Vemba
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Andrade Lino

O fotógrafo angolano Sebastião Vemba considerou que “a fotografia tem um valor não só artístico, mas também documental, sendo que no momento em que ela é feita pode não valer a mesma coisa, mas depois de uns anos ter um outro significado e permitir ao artista fazer um retrato de um tempo passado, o que é um percurso”.

“Claro que outros mercados já passaram por esta fase, e eu acho que se trata essencialmente da ousadia dos fotógrafos”, continuou o também jornalista, que falou por ocasião da 7ª edição da plataforma Vidrul Fotografia, decorrida nesta última sexta-feira, no Memorial Dr. António Agostinho Neto.

“Durante um ano, vivi quase que exclusivamente da fotografia, porque tinha outros trabalhos, mas fiz fotografia para eventos como casamentos, eventos institucionais e, se nós conseguimos ter trabalhos com regularidade, conseguimos viver mais ou menos. Depois há a questão da exposição e da venda da fotografia, um mercado completamente embrionário, que se vai desenvolvendo, dependendo da ousadia dos fotógrafos, da ousadia dos expositores e também das próprias instituições que devem criar condições para que nós tenhamos um espaço como este, o Memorial Dr. Agostinho Neto, onde decorre esta exposição interessantíssima, e conseguir albergar muita gente ao mesmo tempo”, explicou, em entrevista ao ONgoma News, questionado sobre o valor comercial da fotografia.

Sebastião Vemba, que foi um dos quatro expositores desta edição do projecto, trazendo um trabalho intitulado “Contra-Relógio”, onde procurou criar uma linha temporal que “mostra o momento em que começamos a caminhada, e é uma reflexão à volta da vida, do nascer e do morrer, e, ao mesmo tempo, uma reflexão à volta da nossa capacidade de superar as dificuldades”, considerou entretanto que a Vidrul Fotografia está a acabar por ser uma confirmação de que consegue fazer mais trabalhos para apresentar ao público, pois tem vindo a trabalhar muitas vezes na área e tem outros projectos.

“Eu trabalhei com uma pessoa que tem deficiência física e que adquiriu a mesma à determinada altura da sua vida, então teve que se adaptar e eu procuro retratar neste trabalho como é que essa pessoa se relaciona com o mundo, como é que o mundo está preparado para acolher pessoas com a sua condição física. Infelizmente, ainda não temos condições para integrar e incluir pessoas com deficiências físicas, temos as pedonais, que representam uma grande dificuldade para as pessoas que tenham que andar de cadeiras de rodas, porque, imaginemos, ele anda de muletas, mas ainda consegue subi-las, tem que dispensar as muletas e agarrar o corrimão para tal, mas se alguém não tivesse muletas e tivesse que andar de cadeiras de rodas, o que faria?”, questionou-se, explicando o trabalho que fez para a referida exposição colectiva, tendo como modelo o seu pai, Manuel Lino.

Manuel Lino, pai de Sebastião Vemba

Entretanto, o também fundador do portal de entretenimento e notícias ONgoma News, reforçou que é um trabalho que tem um sentido duplo, designadamente “a reflexão da existência ou não de condições infra-estruturais e sociais para acolher as pessoas com deficiência física, e a outra reflexão, que gira no nosso timelime, o nascer e correr, e qual é que é o percurso que se faz”.

Contou também que ultimamente tem tido mais prazer em fotografar, porque sempre escreveu mais do que fotografou, e afirma ser um desafio muito grande porque tem estado a desafiar-se a não usar palavras e passar uma mensagem, quer seja objectiva ou subjectiva.

“Tenho estado a observar a subjectividade, claro, mas é um desafio interessante querer passar uma mensagem que se calhar poderia fazê-lo com duas páginas, com mil caracteres, e consigo passar numa fotografia o que pode até ter o significado de um livro. Por exemplo, há uma fotografia do meu pai a apoiar a muleta, um amigo olhou para ela e disse que apesar das rugas ainda tem muito charme, com o relógio a indicar o tempo que passa, as mãos enrugadas, os pêlos brancos a dizer que o tempo não perdoa, e uma outra a segurar a muleta, que é um apoio, deixando a ideia de que em algum momento da nossa vida temos que nos apoiar em outras pessoas ou algo, para conseguirmos manter a caminhada, para nos sentirmos em frente. Contudo, da fotografia, nascem várias histórias”, relatou.

Fora a exposição, que assegura ter um valor pessoal muito forte, sendo que trabalhou com o seu pai, “foi um momento de interacção entre pai e filho, oportunidade de conhecer um pouquinho mais dele, algo novo, uma jornada de descobrimento, Sebastião Vemba avançou que tem um projecto já começado há dois anos, mas como tem um carácter documental, cultural e comparativo, sente a necessidade de sair de Luanda para fazer um retrato no interior.

Além disso, confessou que acredita não ter tido nenhuma dificuldade no acto da preparação da amostra, porque fez esse trabalho sem nenhum outro tipo de interesse, além de interagir com o seu pai.

“A exposição foi apenas consequência do trabalho que eu fiz, sem nenhum tipo de comprometimento, mas queria é registar o momento. Ao nível técnico, eu trabalhei com uma câmara antiga, que já tinha avariado, mas consegui superá-la e foi uma oportunidade para eu lembrar de que às vezes não importa o avanço tecnológico, mas é o uso que nós damos às ferramentas que temos ao nosso alcance”, precisou o jornalista, e manifestou, finalmente, que se sente bem, por causa da presença das pessoas, por estar a ser compreendido e também por causa da interacção tida com os presentes.

Albano Cardoso, Céus Alexandre e Toty Sa´med são os outros fotógrafos a expor.

Sebastião Vemba, nascido em Luanda, em 1984, fez o curso médio de Língua Portuguesa no Instituto Médio Normal de Educação “Maristas” (2005) e exerceu a função de professor da mesma carreira no II Ciclo, na Escola Comparticipada Ndando (2005-2010).

Dentre outros feitos, em 2005, iniciou a actividade jornalística no jornal Folha 8, onde ficou até finais de 2007, para depois ir ao semanário Novo Jornal, foi director da revista Economia & Mercado até 2017, e da revista Rotas & Sabores até 2015, ano também em que passou a investir em projectos fotográficos de iniciativa própria, sendo este “Contra-Relógio” o primeiro a ser apresentado ao público em exposição.

Os restantes são divulgados na sua página do Instagram @vembaphotoshoot.

 

 

 

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Andrade Lino e Conceição Daniel

Jornalistas

O fotógrafo angolano Sebastião Vemba considerou que “a fotografia tem um valor não só artístico, mas também documental, sendo que no momento em que ela é feita pode não valer a mesma coisa, mas depois de uns anos ter um outro significado e permitir ao artista fazer um retrato de um tempo passado, o que é um percurso”.

“Claro que outros mercados já passaram por esta fase, e eu acho que se trata essencialmente da ousadia dos fotógrafos”, continuou o também jornalista, que falou por ocasião da 7ª edição da plataforma Vidrul Fotografia, decorrida nesta última sexta-feira, no Memorial Dr. António Agostinho Neto.

“Durante um ano, vivi quase que exclusivamente da fotografia, porque tinha outros trabalhos, mas fiz fotografia para eventos como casamentos, eventos institucionais e, se nós conseguimos ter trabalhos com regularidade, conseguimos viver mais ou menos. Depois há a questão da exposição e da venda da fotografia, um mercado completamente embrionário, que se vai desenvolvendo, dependendo da ousadia dos fotógrafos, da ousadia dos expositores e também das próprias instituições que devem criar condições para que nós tenhamos um espaço como este, o Memorial Dr. Agostinho Neto, onde decorre esta exposição interessantíssima, e conseguir albergar muita gente ao mesmo tempo”, explicou, em entrevista ao ONgoma News, questionado sobre o valor comercial da fotografia.

Sebastião Vemba, que foi um dos quatro expositores desta edição do projecto, trazendo um trabalho intitulado “Contra-Relógio”, onde procurou criar uma linha temporal que “mostra o momento em que começamos a caminhada, e é uma reflexão à volta da vida, do nascer e do morrer, e, ao mesmo tempo, uma reflexão à volta da nossa capacidade de superar as dificuldades”, considerou entretanto que a Vidrul Fotografia está a acabar por ser uma confirmação de que consegue fazer mais trabalhos para apresentar ao público, pois tem vindo a trabalhar muitas vezes na área e tem outros projectos.

“Eu trabalhei com uma pessoa que tem deficiência física e que adquiriu a mesma à determinada altura da sua vida, então teve que se adaptar e eu procuro retratar neste trabalho como é que essa pessoa se relaciona com o mundo, como é que o mundo está preparado para acolher pessoas com a sua condição física. Infelizmente, ainda não temos condições para integrar e incluir pessoas com deficiências físicas, temos as pedonais, que representam uma grande dificuldade para as pessoas que tenham que andar de cadeiras de rodas, porque, imaginemos, ele anda de muletas, mas ainda consegue subi-las, tem que dispensar as muletas e agarrar o corrimão para tal, mas se alguém não tivesse muletas e tivesse que andar de cadeiras de rodas, o que faria?”, questionou-se, explicando o trabalho que fez para a referida exposição colectiva, tendo como modelo o seu pai, Manuel Lino.

Manuel Lino, pai de Sebastião Vemba

Entretanto, o também fundador do portal de entretenimento e notícias ONgoma News, reforçou que é um trabalho que tem um sentido duplo, designadamente “a reflexão da existência ou não de condições infra-estruturais e sociais para acolher as pessoas com deficiência física, e a outra reflexão, que gira no nosso timelime, o nascer e correr, e qual é que é o percurso que se faz”.

Contou também que ultimamente tem tido mais prazer em fotografar, porque sempre escreveu mais do que fotografou, e afirma ser um desafio muito grande porque tem estado a desafiar-se a não usar palavras e passar uma mensagem, quer seja objectiva ou subjectiva.

“Tenho estado a observar a subjectividade, claro, mas é um desafio interessante querer passar uma mensagem que se calhar poderia fazê-lo com duas páginas, com mil caracteres, e consigo passar numa fotografia o que pode até ter o significado de um livro. Por exemplo, há uma fotografia do meu pai a apoiar a muleta, um amigo olhou para ela e disse que apesar das rugas ainda tem muito charme, com o relógio a indicar o tempo que passa, as mãos enrugadas, os pêlos brancos a dizer que o tempo não perdoa, e uma outra a segurar a muleta, que é um apoio, deixando a ideia de que em algum momento da nossa vida temos que nos apoiar em outras pessoas ou algo, para conseguirmos manter a caminhada, para nos sentirmos em frente. Contudo, da fotografia, nascem várias histórias”, relatou.

Fora a exposição, que assegura ter um valor pessoal muito forte, sendo que trabalhou com o seu pai, “foi um momento de interacção entre pai e filho, oportunidade de conhecer um pouquinho mais dele, algo novo, uma jornada de descobrimento, Sebastião Vemba avançou que tem um projecto já começado há dois anos, mas como tem um carácter documental, cultural e comparativo, sente a necessidade de sair de Luanda para fazer um retrato no interior.

Além disso, confessou que acredita não ter tido nenhuma dificuldade no acto da preparação da amostra, porque fez esse trabalho sem nenhum outro tipo de interesse, além de interagir com o seu pai.

“A exposição foi apenas consequência do trabalho que eu fiz, sem nenhum tipo de comprometimento, mas queria é registar o momento. Ao nível técnico, eu trabalhei com uma câmara antiga, que já tinha avariado, mas consegui superá-la e foi uma oportunidade para eu lembrar de que às vezes não importa o avanço tecnológico, mas é o uso que nós damos às ferramentas que temos ao nosso alcance”, precisou o jornalista, e manifestou, finalmente, que se sente bem, por causa da presença das pessoas, por estar a ser compreendido e também por causa da interacção tida com os presentes.

Albano Cardoso, Céus Alexandre e Toty Sa´med são os outros fotógrafos a expor.

Sebastião Vemba, nascido em Luanda, em 1984, fez o curso médio de Língua Portuguesa no Instituto Médio Normal de Educação “Maristas” (2005) e exerceu a função de professor da mesma carreira no II Ciclo, na Escola Comparticipada Ndando (2005-2010).

Dentre outros feitos, em 2005, iniciou a actividade jornalística no jornal Folha 8, onde ficou até finais de 2007, para depois ir ao semanário Novo Jornal, foi director da revista Economia & Mercado até 2017, e da revista Rotas & Sabores até 2015, ano também em que passou a investir em projectos fotográficos de iniciativa própria, sendo este “Contra-Relógio” o primeiro a ser apresentado ao público em exposição.

Os restantes são divulgados na sua página do Instagram @vembaphotoshoot.

 

 

 

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