Caneta e Papel
Igualdade racial

A cor do contrato do estrangeiro

A cor do contrato do estrangeiro
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Novo dia, nova semana, novo mês, novos desafios no salo, desta feita com um novo membro na equipa. Temos um novo colega, chegou há já algum tempo, não vem rotulado de nada, sabemos quase nada dele, a não ser que é estrangeiro, que veio de um outro país, contratado para vir trabalhar cá connosco. Pelo que tudo indica, deve ser mais-valia, porque para o irem buscar além-mar, só pode, provavelmente deve trazer algo que até agora nenhum de nós tem conseguido emprestar à qualidade do nosso trabalho para melhorá-lo.

Recebemo-lo muito bem, de braços abertos. Mostrámos os cantos da casa, como é que as coisas funcionam, qual é a cultura organizacional da nossa instituição, como é que gostamos de nos tratar e tudo mais de interesse. Sabemos que passou por várias dificuldades, teve que aprender tudo na luta, com garra e uma fé persistente, superando vários empecilhos que têm surgido no seu caminho.

Está cá há pouco tempo, mas já se adaptou, bem mais rápido do que esperávamos, e afinal ele é mesmo um craque no que faz, veio ajudar-nos e muito. O nosso desempenho aumentou de qualidade e quantidade desde que ele chegou, consegue atrair a atenção de todos com a sua simpatia e respeito, até dos mais cépticos que o tinham recebido com alguma frieza, hoje deixaram-se derreter pelo entusiasmo e forma de ser desse “estrangeiro” que mais parece um de nós!

Saímos do fim do ranking das empresas do nosso ramo e demos um salto gigantesco, estando neste momento entre as 3 melhores da banda. Graças ao trabalho que esse craque trouxe, que nos contagia e nos faz trabalhar melhor em grupo, sendo que cada um de nós hoje dá o litro, dá o melhor de si não por causa de um salário ou de um lugar de chefia, mas sim por amor e gosto ao que fazemos, com todo o profissionalismo esperado, resultando num clima laboral fantástico e numa paz de espírito muito fixe.

Aos Gelsons, Mantorras, Figos, Kitos, Zés, Joanas, Anas, Marias, Kiezes, Yetus dessa vida que estão a bumbar cá e lá, e vieram de lá e foram para lá, mas continuam a ser bons profissionais, devem ser dadas as oportunidades que merecem de acordo aos requisitos estipulados e as suas competências.

O nosso colega veio para trabalhar como efectivo na principal equipa, mas por desconfiança dos responsáveis nas reais capacidades dele, foi remetido para uma das equipas juniores, para que ele se ambientasse e conhecesse a nossa forma de trabalhar. Mal chegou lá, mostrou de que matéria era feito, deu um show atrás de outro, sempre a encantar com o seu bom e exemplar desempenho laboral, destacando-se rapidamente, fazendo com que em pouco tempo fosse a principal referência dessa equipa júnior. Esse sucesso fez com que o responsável da principal equipa sénior da nossa empresa o chamasse para que, em regime de estágio, começasse a trabalhar. No entanto, apesar de todo o esforço e vontade de aprender e fazer o que ele tinha que fazer, e do potencial que lhe era reconhecido, o responsável não dava muito espaço ao rapaz, fazendo com que ele ficasse cada dia mais desmoralizado, cabisbaixo e a pensar em aceitar uma das várias propostas de emprego, bastante aliciantes, que chegavam regularmente às suas mãos, e que só não aceitava por gostar de estar inserido num grupo coeso e bom e gostar do que fazia cá no salo.

Essa situação nos fez levantar algumas questões:

- Porque razão ele mesmo preenchendo todos os requisitos continuava a ser preterido?

- Quais os reais motivos para esse tratamento?

- Será por ser estrangeiro?

- Será por ser mbumbu?

- Será por ter saído de um país considerado sub-desenvolvido?

- O que faltará ainda mostrar para que seja reconhecido o seu real valor?

- Como seria se fosse ao contrário?

- O que fazer nesses casos? Julgar as pessoas pela aparência, sexo, credo ou origem étnica?

- Até quando?

Apesar de tudo, o nosso colega continua a dar o litro, com o sorriso que o caracteriza e contagiando a todos com essa alegria que faz bem. Aos Gelsons, Mantorras, Figos, Kitos, Zés, Joanas, Anas, Marias, Kiezes, Yetus dessa vida que estão a bumbar cá e lá, e vieram de lá e foram para lá, mas continuam a ser bons profissionais, devem ser dadas as oportunidades que merecem de acordo aos requisitos estipulados e as suas competências. Da mesma forma que temos cá na banda estrangeiros a “cooperarem”, temos também angolanos a darem o litro na terra dos outros e que gostariam de ser bem tratados por serem bons no que fazem, desde que lhes sejam proporcionadas condições laborais e sociais iguais para todos, principalmente cá, sem olhar para qualquer outra cena que não seja o contrato laboral (que a cor é igual para todos – preto e branco) e o facto de todos serem colegas e que estando todos numa boa, o clima laboral melhora e os resultados são cada vez mais elevados.

Vamos tratar-nos como se estivéssemos do outro lado da mesa, não custa nada! Dê o seu melhor e deixe o outro fazer o mesmo, sem makas nem kigilas! Katé+! 

Destaque

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Carlos Renato

Cronista

Novo dia, nova semana, novo mês, novos desafios no salo, desta feita com um novo membro na equipa. Temos um novo colega, chegou há já algum tempo, não vem rotulado de nada, sabemos quase nada dele, a não ser que é estrangeiro, que veio de um outro país, contratado para vir trabalhar cá connosco. Pelo que tudo indica, deve ser mais-valia, porque para o irem buscar além-mar, só pode, provavelmente deve trazer algo que até agora nenhum de nós tem conseguido emprestar à qualidade do nosso trabalho para melhorá-lo.

Recebemo-lo muito bem, de braços abertos. Mostrámos os cantos da casa, como é que as coisas funcionam, qual é a cultura organizacional da nossa instituição, como é que gostamos de nos tratar e tudo mais de interesse. Sabemos que passou por várias dificuldades, teve que aprender tudo na luta, com garra e uma fé persistente, superando vários empecilhos que têm surgido no seu caminho.

Está cá há pouco tempo, mas já se adaptou, bem mais rápido do que esperávamos, e afinal ele é mesmo um craque no que faz, veio ajudar-nos e muito. O nosso desempenho aumentou de qualidade e quantidade desde que ele chegou, consegue atrair a atenção de todos com a sua simpatia e respeito, até dos mais cépticos que o tinham recebido com alguma frieza, hoje deixaram-se derreter pelo entusiasmo e forma de ser desse “estrangeiro” que mais parece um de nós!

Saímos do fim do ranking das empresas do nosso ramo e demos um salto gigantesco, estando neste momento entre as 3 melhores da banda. Graças ao trabalho que esse craque trouxe, que nos contagia e nos faz trabalhar melhor em grupo, sendo que cada um de nós hoje dá o litro, dá o melhor de si não por causa de um salário ou de um lugar de chefia, mas sim por amor e gosto ao que fazemos, com todo o profissionalismo esperado, resultando num clima laboral fantástico e numa paz de espírito muito fixe.

Aos Gelsons, Mantorras, Figos, Kitos, Zés, Joanas, Anas, Marias, Kiezes, Yetus dessa vida que estão a bumbar cá e lá, e vieram de lá e foram para lá, mas continuam a ser bons profissionais, devem ser dadas as oportunidades que merecem de acordo aos requisitos estipulados e as suas competências.

O nosso colega veio para trabalhar como efectivo na principal equipa, mas por desconfiança dos responsáveis nas reais capacidades dele, foi remetido para uma das equipas juniores, para que ele se ambientasse e conhecesse a nossa forma de trabalhar. Mal chegou lá, mostrou de que matéria era feito, deu um show atrás de outro, sempre a encantar com o seu bom e exemplar desempenho laboral, destacando-se rapidamente, fazendo com que em pouco tempo fosse a principal referência dessa equipa júnior. Esse sucesso fez com que o responsável da principal equipa sénior da nossa empresa o chamasse para que, em regime de estágio, começasse a trabalhar. No entanto, apesar de todo o esforço e vontade de aprender e fazer o que ele tinha que fazer, e do potencial que lhe era reconhecido, o responsável não dava muito espaço ao rapaz, fazendo com que ele ficasse cada dia mais desmoralizado, cabisbaixo e a pensar em aceitar uma das várias propostas de emprego, bastante aliciantes, que chegavam regularmente às suas mãos, e que só não aceitava por gostar de estar inserido num grupo coeso e bom e gostar do que fazia cá no salo.

Essa situação nos fez levantar algumas questões:

- Porque razão ele mesmo preenchendo todos os requisitos continuava a ser preterido?

- Quais os reais motivos para esse tratamento?

- Será por ser estrangeiro?

- Será por ser mbumbu?

- Será por ter saído de um país considerado sub-desenvolvido?

- O que faltará ainda mostrar para que seja reconhecido o seu real valor?

- Como seria se fosse ao contrário?

- O que fazer nesses casos? Julgar as pessoas pela aparência, sexo, credo ou origem étnica?

- Até quando?

Apesar de tudo, o nosso colega continua a dar o litro, com o sorriso que o caracteriza e contagiando a todos com essa alegria que faz bem. Aos Gelsons, Mantorras, Figos, Kitos, Zés, Joanas, Anas, Marias, Kiezes, Yetus dessa vida que estão a bumbar cá e lá, e vieram de lá e foram para lá, mas continuam a ser bons profissionais, devem ser dadas as oportunidades que merecem de acordo aos requisitos estipulados e as suas competências. Da mesma forma que temos cá na banda estrangeiros a “cooperarem”, temos também angolanos a darem o litro na terra dos outros e que gostariam de ser bem tratados por serem bons no que fazem, desde que lhes sejam proporcionadas condições laborais e sociais iguais para todos, principalmente cá, sem olhar para qualquer outra cena que não seja o contrato laboral (que a cor é igual para todos – preto e branco) e o facto de todos serem colegas e que estando todos numa boa, o clima laboral melhora e os resultados são cada vez mais elevados.

Vamos tratar-nos como se estivéssemos do outro lado da mesa, não custa nada! Dê o seu melhor e deixe o outro fazer o mesmo, sem makas nem kigilas! Katé+! 

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