Caneta e Papel
Opinião

A Banalização do Sector da Cultura em Angola

A Banalização do Sector da Cultura em Angola
Foto por:
vídeo por:
DR

Estou ainda a tentar perceber o fundamento teórico e conceptual que norteou a fusão dos sectores da Cultura, Ambiente e Turismo. Tudo parece encaminhar-se para uma visão muito economicista de funcionamento do aparelho do Estado. Porém, o facto de muitos Estados financiarem sectores não produtivos, incluindo a Cultura, mesmo em tempo de crise, legitima a velha máxima de que “não só de pão vive o Homem”. Reconheço a minha pequenez intelectual para formular e defender teses em ciências sociais, mas reservo-me o direito a uma pequena reflexão. Tenho assistido, ao longo de vários anos e com alguma tristeza, ao que chamaria de banalização do sector da Cultura em Angola. A falta de compromisso político para com este sector infere de uma frágil percepção e interpretação da História e sua importância na construção da nação. Não conseguimos dar contexto cultural ao célebre slogan “Um só povo e uma só nação”. Terá já passado o tempo da utopia!

Aplaudo os esforços do sector na promoção de monumentos e sítios, elevando alguns a património da Humanidade, o que impõe maior responsabilidade e compromisso de educação cultural a nível nacional e internacional. Mas não é tudo em termos de cultura. Existe uma dimensão mais subjectiva da cultura que transcende os espaços físicos, a arte, as manifestações de dança, música e manutenção de museus e arquivos históricos. Temos desafios enormes pela frente. A título de exemplo, assiste-se nos últimos 20 anos a uma transformação religiosa no país com implicações sérias para a Cultura nacional. Por mais que adoptemos o princípio segundo o qual os factores culturais, religiosos e sociais interagem até estabelecerem um ponto de equilíbrio, será sempre necessária alguma regulamentação para não se desvirtuar a agenda nacional, se ela existir. Precisamos, porém, de uma liderança forte com maturidade e capital político para desenvolver uma visão com referência histórica e perspectiva de futuro para o sector.

À semelhança do Ambiente, a Cultura é também transversal a todos os outros. É preciso assumir a transversalidade do sector com vista a identificar outras dimensões culturais que se expressam na Organização Arquitectónica dos nossos espaços, na Agricultura, Pescas, Pastorícia e até na Saúde e Nutrição.

Perante enormes desafios, e havendo necessidade de se emagrecer o Estado, estaria eu mais inclinado a criar uma simbiose entre Educação e Cultura, o que faria mais sentido no estágio de desenvolvimento social em que nos encontramos. O compromisso para com o sector da Cultura é de muito longo prazo, atravessa gerações e, nesse sentido, nada melhor do que uma abordagem de desenvolvimento da Cultura integrada na Educação. Adoptaríamos um currículo de ensino integrado com Arte e Cultura e não apenas línguas nacionais como meras disciplinas académicas sem contextualização prática.

Não podemos continuar a olhar para a Cultura como um sector intrémulo. À semelhança do Ambiente, a Cultura é também transversal a todos os outros. É preciso assumir a transversalidade do sector com vista a identificar outras dimensões culturais que se expressam na Organização Arquitectónica dos nossos espaços, na Agricultura, Pescas, Pastorícia e até na Saúde e Nutrição. Não acredito no resgate de valores como base de pensamento, mas na construção de uma identidade própria como povo assente na Educação e na Cultura. Será a partir desta identidade que se vai construir no futuro uma indústria de Turismo com características únicas angolanas; um Turismo assente na nossa vantagem comparativa como povo. Só chegaremos a esse nível com um sector de Cultura forte e com identidade própria.

Destaque

No items found.

6galeria

Paulo Filipe

Investigador

Estou ainda a tentar perceber o fundamento teórico e conceptual que norteou a fusão dos sectores da Cultura, Ambiente e Turismo. Tudo parece encaminhar-se para uma visão muito economicista de funcionamento do aparelho do Estado. Porém, o facto de muitos Estados financiarem sectores não produtivos, incluindo a Cultura, mesmo em tempo de crise, legitima a velha máxima de que “não só de pão vive o Homem”. Reconheço a minha pequenez intelectual para formular e defender teses em ciências sociais, mas reservo-me o direito a uma pequena reflexão. Tenho assistido, ao longo de vários anos e com alguma tristeza, ao que chamaria de banalização do sector da Cultura em Angola. A falta de compromisso político para com este sector infere de uma frágil percepção e interpretação da História e sua importância na construção da nação. Não conseguimos dar contexto cultural ao célebre slogan “Um só povo e uma só nação”. Terá já passado o tempo da utopia!

Aplaudo os esforços do sector na promoção de monumentos e sítios, elevando alguns a património da Humanidade, o que impõe maior responsabilidade e compromisso de educação cultural a nível nacional e internacional. Mas não é tudo em termos de cultura. Existe uma dimensão mais subjectiva da cultura que transcende os espaços físicos, a arte, as manifestações de dança, música e manutenção de museus e arquivos históricos. Temos desafios enormes pela frente. A título de exemplo, assiste-se nos últimos 20 anos a uma transformação religiosa no país com implicações sérias para a Cultura nacional. Por mais que adoptemos o princípio segundo o qual os factores culturais, religiosos e sociais interagem até estabelecerem um ponto de equilíbrio, será sempre necessária alguma regulamentação para não se desvirtuar a agenda nacional, se ela existir. Precisamos, porém, de uma liderança forte com maturidade e capital político para desenvolver uma visão com referência histórica e perspectiva de futuro para o sector.

À semelhança do Ambiente, a Cultura é também transversal a todos os outros. É preciso assumir a transversalidade do sector com vista a identificar outras dimensões culturais que se expressam na Organização Arquitectónica dos nossos espaços, na Agricultura, Pescas, Pastorícia e até na Saúde e Nutrição.

Perante enormes desafios, e havendo necessidade de se emagrecer o Estado, estaria eu mais inclinado a criar uma simbiose entre Educação e Cultura, o que faria mais sentido no estágio de desenvolvimento social em que nos encontramos. O compromisso para com o sector da Cultura é de muito longo prazo, atravessa gerações e, nesse sentido, nada melhor do que uma abordagem de desenvolvimento da Cultura integrada na Educação. Adoptaríamos um currículo de ensino integrado com Arte e Cultura e não apenas línguas nacionais como meras disciplinas académicas sem contextualização prática.

Não podemos continuar a olhar para a Cultura como um sector intrémulo. À semelhança do Ambiente, a Cultura é também transversal a todos os outros. É preciso assumir a transversalidade do sector com vista a identificar outras dimensões culturais que se expressam na Organização Arquitectónica dos nossos espaços, na Agricultura, Pescas, Pastorícia e até na Saúde e Nutrição. Não acredito no resgate de valores como base de pensamento, mas na construção de uma identidade própria como povo assente na Educação e na Cultura. Será a partir desta identidade que se vai construir no futuro uma indústria de Turismo com características únicas angolanas; um Turismo assente na nossa vantagem comparativa como povo. Só chegaremos a esse nível com um sector de Cultura forte e com identidade própria.

6galeria

Artigos relacionados

Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form