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Yola Balanga: “A nossa educação familiar e cultural deveria velar mais pela auto-defesa das mulheres”

Yola Balanga: “A nossa educação familiar e cultural deveria velar mais pela auto-defesa das mulheres”
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Andrade Lino

A artista visual Yola Balanga afirmou recentemente que “a nossa educação familiar e cultural deveria velar mais pela auto-defesa das mulheres”, pela sua auto-dependência, “porque muitos casos de violência doméstica são provocados pelo nível de escolaridade da mulher, pelo nível económico e até pela própria pressão social ou familiar”.

Em entrevista ao ONgoma News, a também performer prestou essa declaração por ocasião da inauguração da exposição colectiva “Para Ela”, no último sábado, que reúne artistas angolanos e norte-americanos, de que faz parte, na Galeria ResiliArt Angola, sita no 3º piso do Shopping Fortaleza, no âmbito do encerramento da jornada internacional sobre os 16 Dias de Activismo contra a Violência no Género, fruto da segunda residência artística promovida pela American Schools of Angola, quando observou que outra questão que pode ser influenciada pela educação familiar, por aquilo que é recebido de casa, é a da gravidez não intencional.

“Ainda recebemos uma educação que nos diz que, para uma mulher ser completa, precisa ter um homem e formar uma família. E actualmente não levamos em consideração o tipo de homem, basta ter um homem. Esquecem-se de que esse homem pode não ser um bom pai, um bom namorado, um bom marido, uma boa pessoa no geral, e a mulher fica grávida, acabando por arcar com os cuidados sozinha, situação que só piora quando encontra mais um irresponsável”, deplorou.

Segundo Yola Balanga, “querendo ou não”, isso ainda está ligado com a nossa educação cultural e familiar, o que não deixa de ser também uma espécie de violência. “Lembro-me de quando a minha mãe dizia que mulher é quem cozinha e lava os pratos. Isso é uma violência, quando nos delimitam desse jeito, enquanto o outro sexo tem liberdade para fazer o que quiser. E essa violência acaba construindo pessoas com esse tipo de mentalidade”, asseverou.

No entanto, a artista plástica, que participa pela segunda vez consecutiva do projecto, revelou que recebeu o convite com a mesma satisfação do ano passado, por se tratar de uma causa muito debatida no seu trabalho, nas suas performances, sobretudo, “então é sempre um prazer participar de uma luta tão nobre como essa”.

Mas o que apresenta na exposição é apenas uma metade da obra, denominada “Não sou culpada”, que possui 6 metros de tela crua. É o registo da performance realizada na abertura da campanha, com o tema “O som das mortas”, que decorreu no Palácio de Ferro, com a participação especial de Isvanya, Neusa Neto e Oksanna Dias, tendo decidido levá-la para o encerramento dos 16 Dias de Activismo contra a Violência no Género.

A performance, lembrou a entrevistada, faz referência a uma pesquisa que desenvolveu entre 2019 e 2020, “anos em que o nível de violência contra as mulheres foi super brutal, e nunca antes tinham se debatido tanto as questões do feminicídio e da violência no género”, disse. E o trabalho, continuou a fonte, surge como forma de “uma súplica de todas que já se calaram, de todas que continuam a se calar”. Além disso, detalhou a criadora transdisciplinar, o que vemos na obra é azeite de palma e areia vermelha, elementos muito usados nos rituais de iniciação.

Adiante, Balanga esclareceu então que aborda esse tema a partir de uma visão da nossa educação cultural, “que dificilmente ensina a mulher a se defender - é sempre a mulher a ser submissa, o que pode contribuir para tanto espaço de violência contra a mulher”.

Ainda dentro desse assunto, defende que enquanto artista não se sente na obrigação de procurar resolver uma questão, quando há pessoas que ganham para o fazer.

O que quer dizer é que “temos o MASFAMU (Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher) e outros órgãos competentes, que precisam ser mais visíveis, mais acessíveis e precisam romper os tabus que envolvem todo esse processo de denúncias e casos de violência”.

“Nós só vamos combater a violência doméstica, que é a mais conhecida, se tivermos casos de condenação - muitos casos onde as pessoas que praticam essas acções são denunciadas e condenadas. Se isso não acontecer, nós não vamos conseguir. Podemos até denunciar. Mas se o poder político não se manifestar, não estaremos a fazer nada”, apelou.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

A artista visual Yola Balanga afirmou recentemente que “a nossa educação familiar e cultural deveria velar mais pela auto-defesa das mulheres”, pela sua auto-dependência, “porque muitos casos de violência doméstica são provocados pelo nível de escolaridade da mulher, pelo nível económico e até pela própria pressão social ou familiar”.

Em entrevista ao ONgoma News, a também performer prestou essa declaração por ocasião da inauguração da exposição colectiva “Para Ela”, no último sábado, que reúne artistas angolanos e norte-americanos, de que faz parte, na Galeria ResiliArt Angola, sita no 3º piso do Shopping Fortaleza, no âmbito do encerramento da jornada internacional sobre os 16 Dias de Activismo contra a Violência no Género, fruto da segunda residência artística promovida pela American Schools of Angola, quando observou que outra questão que pode ser influenciada pela educação familiar, por aquilo que é recebido de casa, é a da gravidez não intencional.

“Ainda recebemos uma educação que nos diz que, para uma mulher ser completa, precisa ter um homem e formar uma família. E actualmente não levamos em consideração o tipo de homem, basta ter um homem. Esquecem-se de que esse homem pode não ser um bom pai, um bom namorado, um bom marido, uma boa pessoa no geral, e a mulher fica grávida, acabando por arcar com os cuidados sozinha, situação que só piora quando encontra mais um irresponsável”, deplorou.

Segundo Yola Balanga, “querendo ou não”, isso ainda está ligado com a nossa educação cultural e familiar, o que não deixa de ser também uma espécie de violência. “Lembro-me de quando a minha mãe dizia que mulher é quem cozinha e lava os pratos. Isso é uma violência, quando nos delimitam desse jeito, enquanto o outro sexo tem liberdade para fazer o que quiser. E essa violência acaba construindo pessoas com esse tipo de mentalidade”, asseverou.

No entanto, a artista plástica, que participa pela segunda vez consecutiva do projecto, revelou que recebeu o convite com a mesma satisfação do ano passado, por se tratar de uma causa muito debatida no seu trabalho, nas suas performances, sobretudo, “então é sempre um prazer participar de uma luta tão nobre como essa”.

Mas o que apresenta na exposição é apenas uma metade da obra, denominada “Não sou culpada”, que possui 6 metros de tela crua. É o registo da performance realizada na abertura da campanha, com o tema “O som das mortas”, que decorreu no Palácio de Ferro, com a participação especial de Isvanya, Neusa Neto e Oksanna Dias, tendo decidido levá-la para o encerramento dos 16 Dias de Activismo contra a Violência no Género.

A performance, lembrou a entrevistada, faz referência a uma pesquisa que desenvolveu entre 2019 e 2020, “anos em que o nível de violência contra as mulheres foi super brutal, e nunca antes tinham se debatido tanto as questões do feminicídio e da violência no género”, disse. E o trabalho, continuou a fonte, surge como forma de “uma súplica de todas que já se calaram, de todas que continuam a se calar”. Além disso, detalhou a criadora transdisciplinar, o que vemos na obra é azeite de palma e areia vermelha, elementos muito usados nos rituais de iniciação.

Adiante, Balanga esclareceu então que aborda esse tema a partir de uma visão da nossa educação cultural, “que dificilmente ensina a mulher a se defender - é sempre a mulher a ser submissa, o que pode contribuir para tanto espaço de violência contra a mulher”.

Ainda dentro desse assunto, defende que enquanto artista não se sente na obrigação de procurar resolver uma questão, quando há pessoas que ganham para o fazer.

O que quer dizer é que “temos o MASFAMU (Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher) e outros órgãos competentes, que precisam ser mais visíveis, mais acessíveis e precisam romper os tabus que envolvem todo esse processo de denúncias e casos de violência”.

“Nós só vamos combater a violência doméstica, que é a mais conhecida, se tivermos casos de condenação - muitos casos onde as pessoas que praticam essas acções são denunciadas e condenadas. Se isso não acontecer, nós não vamos conseguir. Podemos até denunciar. Mas se o poder político não se manifestar, não estaremos a fazer nada”, apelou.

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