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Ambiente

Vegetação urbana: uma prática sustentável

Vegetação urbana: uma prática sustentável
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Todos fazemos parte de uma comunidade humana ecologicamente interdependente. A nossa vida realiza-se fundamentalmente em dois ambientes: físico e social. O primeiro é representado em termos gerais pelo Planeta Terra e especificamente pelos diferentes espaços (cidade, casa, escritório, igreja, rua, etc) que nos acolhem para a concretização da satisfação de uma das necessidades primárias do ser humano. O segundo, o social, é o espaço das relações humanas nas suas múltiplas dimensões que confere ao indivíduo a possibilidade de agir como pessoa. Entenda-se pessoa, numa perspectiva sociológica, o indivíduo humano que tem consciência de si e assume diferentes “máscaras” – funções, papéis social e teatral - nos vários contextos de acção.

O século XXI começa com a emergência de uma crise de alcance mundial aparentemente irreversível, que envolve o futuro da humanidade e a questão ambiental é apenas um exemplo, hoje, presente no centro das principais agendas internacionais, cuja abordagem ainda não é pacífica porque encerra diferentes posicionamentos antagónicos motivados por causas e interesses pouco claros entre grupos, países e regiões.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no mundo inteiro morrem, diariamente, cinco mil crianças de doenças evitáveis relacionadas com o ambiente. As cidades no mundo ocupam 2% de espaço do globo e provocam 75% da emissão de carbono. A rápida urbanização exerce pressão sobre o ambiente e saúde pública. Bem, não são alterações climáticas a centralidade do presente texto. O enfoque recai para o valor da vegetação urbana enquanto factor importante para mitigação de problemas ambientais.

O modo de vida na cidade, fruto da modernidade, abre espaço para múltiplos problemas como o aumento da sedentariedade das populações, a intensificação dos níveis de estresse, ansiedade, epidemias e o agravamento dos riscos ambientais. Nesse quesito, espaços verdes urbanos desempenham fundamental importância biológica, social e psicológica pois estes podem ter um efeito restaurativo, contribuindo para a redução do estresse mental e promovendo sentimentos e melhoria do humor e de salubridade ambiental.

Nos finais da década de 90 do século passado, deslocar-se do centro de Luanda para as vilas de Viana, Cacuaco, Gamek, Caxito e Barra do Kwanza eram percursos marcados por panorama vegetal agradável, ornamentado de árvores e espaços verdes diversos. Durante o percurso era possível o viajante deparar-se com animais como macacos, coelhos, veados, cobras e uma diversidade de aves orquestrando melodias acústicas agradáveis e memoráveis, o que tornava o trajecto mais atractivo e interessante.

São lembranças de um passado recente que se foi perdendo pela: i) ausência ou insuficiência de políticas públicas de preservação daqueles ecossistemas; ii) depois agravado pelo brutal êxodo rural e massiva imigração que resultou numa elevada concentração populacional e que; iii) culminou numa expansão urbana muitas vezes desordenada e vertiginosa registada nos arredores de Luanda que teve seu apogeu um pouco de depois de 1992.

Luanda já conheceu espaços verdes, alguns públicos e outros privados, como eram os casos dos largos defronte à escola Mutu ya Kevela, parte frontal do Aeroporto 4 de Fevereiro, Floresta da Ilha de Luanda, Floresta do Nzamba 4, Largo das Heroínas, Praça da Independência, e Largo do Mártires de Kifangondo, só para citar esses e que têm perdido a função de espaços de lazer porque foram implantados em áreas de intenso tráfego automóvel, o que constitui para o público elevados riscos de atropelamento ou até de despiste de viaturas e de inalação de quantidades incalculáveis de dióxido de carbono. A vegetação urbana tem, precisamente, entre as múltiplas funções, a de mitigar o impacto de alguns desses males pelo seu poder purificador do ar.

Os troços que ligavam a refinaria da Petrangol à Comarca Central de Luanda e Viana a Luanda eram carregados de árvores que foram arrancadas sob pretexto de alargamento de estradas. O mesmo se observou no troço Luanda-Cacuaco e Luanda-Ramiros. Os leitores devem lembra-se de outras áreas não destacadas no texto e que do ponto-de-vista ecológico desempenharam múltiplas funções nas áreas onde estavam implantadas. Por que será que a administração colonial criava e preservava espaços verdes?

É imperioso que todos actores sociais, sobretudo políticos, professores e trabalhadores sociais despertem as consciências das pessoas de modo a estabelecerem, por via da participação e o envolvimento de todos, medidas sustentáveis que resultem em melhor qualidade de vida.

Actualmente existirão, certamente, políticas de recuperação ou de implantação de vegetação urbana mas que do ponto-de-vista prático pouco ou nada representam em termos de impacto sobre as pessoas.

Há quem defenda que a área do Bairro Nelito Soares - nas Bs e Cs, onde foram construídos os prédios cubanos e parte da Precol - na Avenida Hoji ya Henda, era abundante em árvores que desempenhavam a função de retenção do lençol freático presente naquele espaço. Foram substituídas as árvores por betão e asfalto e as águas freáticas retiram, hoje, a qualidade de vida dos moradores daquela área. Em épocas chuvosas agudiza-se a situação.

Hoje, com a tendente e irreversível concentração de maior parte da população global nos espaços urbanos, as projecções das Nações Unidas apontam que Luanda vai atingir a cifra populacional de 12,9 milhões até 2030. Este quadro impõe a necessidade de elaboração de políticas públicas sustentáveis que respeitem e preservem o ambiente. É imperioso que todos actores sociais, sobretudo políticos, professores e trabalhadores sociais despertem as consciências das pessoas de modo a estabelecerem, por via da participação e o envolvimento de todos, medidas sustentáveis que resultem em melhor qualidade de vida.

Continua na próxima semana. Leia também a crónica anterior de Moniz Sebastião

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Moniz Sebastião

Ecologista Social

Todos fazemos parte de uma comunidade humana ecologicamente interdependente. A nossa vida realiza-se fundamentalmente em dois ambientes: físico e social. O primeiro é representado em termos gerais pelo Planeta Terra e especificamente pelos diferentes espaços (cidade, casa, escritório, igreja, rua, etc) que nos acolhem para a concretização da satisfação de uma das necessidades primárias do ser humano. O segundo, o social, é o espaço das relações humanas nas suas múltiplas dimensões que confere ao indivíduo a possibilidade de agir como pessoa. Entenda-se pessoa, numa perspectiva sociológica, o indivíduo humano que tem consciência de si e assume diferentes “máscaras” – funções, papéis social e teatral - nos vários contextos de acção.

O século XXI começa com a emergência de uma crise de alcance mundial aparentemente irreversível, que envolve o futuro da humanidade e a questão ambiental é apenas um exemplo, hoje, presente no centro das principais agendas internacionais, cuja abordagem ainda não é pacífica porque encerra diferentes posicionamentos antagónicos motivados por causas e interesses pouco claros entre grupos, países e regiões.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no mundo inteiro morrem, diariamente, cinco mil crianças de doenças evitáveis relacionadas com o ambiente. As cidades no mundo ocupam 2% de espaço do globo e provocam 75% da emissão de carbono. A rápida urbanização exerce pressão sobre o ambiente e saúde pública. Bem, não são alterações climáticas a centralidade do presente texto. O enfoque recai para o valor da vegetação urbana enquanto factor importante para mitigação de problemas ambientais.

O modo de vida na cidade, fruto da modernidade, abre espaço para múltiplos problemas como o aumento da sedentariedade das populações, a intensificação dos níveis de estresse, ansiedade, epidemias e o agravamento dos riscos ambientais. Nesse quesito, espaços verdes urbanos desempenham fundamental importância biológica, social e psicológica pois estes podem ter um efeito restaurativo, contribuindo para a redução do estresse mental e promovendo sentimentos e melhoria do humor e de salubridade ambiental.

Nos finais da década de 90 do século passado, deslocar-se do centro de Luanda para as vilas de Viana, Cacuaco, Gamek, Caxito e Barra do Kwanza eram percursos marcados por panorama vegetal agradável, ornamentado de árvores e espaços verdes diversos. Durante o percurso era possível o viajante deparar-se com animais como macacos, coelhos, veados, cobras e uma diversidade de aves orquestrando melodias acústicas agradáveis e memoráveis, o que tornava o trajecto mais atractivo e interessante.

São lembranças de um passado recente que se foi perdendo pela: i) ausência ou insuficiência de políticas públicas de preservação daqueles ecossistemas; ii) depois agravado pelo brutal êxodo rural e massiva imigração que resultou numa elevada concentração populacional e que; iii) culminou numa expansão urbana muitas vezes desordenada e vertiginosa registada nos arredores de Luanda que teve seu apogeu um pouco de depois de 1992.

Luanda já conheceu espaços verdes, alguns públicos e outros privados, como eram os casos dos largos defronte à escola Mutu ya Kevela, parte frontal do Aeroporto 4 de Fevereiro, Floresta da Ilha de Luanda, Floresta do Nzamba 4, Largo das Heroínas, Praça da Independência, e Largo do Mártires de Kifangondo, só para citar esses e que têm perdido a função de espaços de lazer porque foram implantados em áreas de intenso tráfego automóvel, o que constitui para o público elevados riscos de atropelamento ou até de despiste de viaturas e de inalação de quantidades incalculáveis de dióxido de carbono. A vegetação urbana tem, precisamente, entre as múltiplas funções, a de mitigar o impacto de alguns desses males pelo seu poder purificador do ar.

Os troços que ligavam a refinaria da Petrangol à Comarca Central de Luanda e Viana a Luanda eram carregados de árvores que foram arrancadas sob pretexto de alargamento de estradas. O mesmo se observou no troço Luanda-Cacuaco e Luanda-Ramiros. Os leitores devem lembra-se de outras áreas não destacadas no texto e que do ponto-de-vista ecológico desempenharam múltiplas funções nas áreas onde estavam implantadas. Por que será que a administração colonial criava e preservava espaços verdes?

É imperioso que todos actores sociais, sobretudo políticos, professores e trabalhadores sociais despertem as consciências das pessoas de modo a estabelecerem, por via da participação e o envolvimento de todos, medidas sustentáveis que resultem em melhor qualidade de vida.

Actualmente existirão, certamente, políticas de recuperação ou de implantação de vegetação urbana mas que do ponto-de-vista prático pouco ou nada representam em termos de impacto sobre as pessoas.

Há quem defenda que a área do Bairro Nelito Soares - nas Bs e Cs, onde foram construídos os prédios cubanos e parte da Precol - na Avenida Hoji ya Henda, era abundante em árvores que desempenhavam a função de retenção do lençol freático presente naquele espaço. Foram substituídas as árvores por betão e asfalto e as águas freáticas retiram, hoje, a qualidade de vida dos moradores daquela área. Em épocas chuvosas agudiza-se a situação.

Hoje, com a tendente e irreversível concentração de maior parte da população global nos espaços urbanos, as projecções das Nações Unidas apontam que Luanda vai atingir a cifra populacional de 12,9 milhões até 2030. Este quadro impõe a necessidade de elaboração de políticas públicas sustentáveis que respeitem e preservem o ambiente. É imperioso que todos actores sociais, sobretudo políticos, professores e trabalhadores sociais despertem as consciências das pessoas de modo a estabelecerem, por via da participação e o envolvimento de todos, medidas sustentáveis que resultem em melhor qualidade de vida.

Continua na próxima semana. Leia também a crónica anterior de Moniz Sebastião

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