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Totó ST: “No meu entendimento, nós não temos propriamente um mercado musical”

Totó ST: “No meu entendimento, nós não temos propriamente um mercado musical”
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Andrade Lino

O músico Totó ST afirmou que em Angola não existe propriamente um mercado musical, que este está a ser construído nesse momento, porque “faltam actores que dariam suporte aos fazedores das artes”.

O também produtor musical, que fez estas declarações neste sábado último, por ocasião do workshop sobre empreendedorismo cultural, subordinado ao tema “Geração da economia através da criatividade”, que teve lugar no Palácio de Ferro, realizado pela Academia Produza, salientou que primeiro o artista precisa perceber que ele próprio é um produto e que todo produto não pode ficar apenas pela questão emocional, ou seja, o artista não pode só amar a arte, é preciso gerar receitas.

“Com a arte que faz, você precisa arranjar formas de fazer com que esse produto chegue até às pessoas que estejam em sintonia para consumir o seu produto”, disse o convidado, que partilhou ter tido  esse pensamento depois do lançamento do seu segundo álbum, porque também já ficou apenas no conforto da venda de CDs na Praça de Independência e aparição na TV.

“Na verdade”, continuou Totó, “essa área é muito mais vasta do que possamos imaginar”. “Eu comecei a ter ideia e a observar como é o movimento, porque, no meu entendimento, nós não temos propriamente um mercado musical”, reforçou, citando como exemplo o facto de “não  existir em Angola pessoas que têm a visão e, de algum modo, algum poder financeiro que usem para que determinados produtos sejam expostos”, e lamentou pelos artistas ainda serem muito dependentes da mídia angolana, que “também é embrião nesse sentido, porque há países que estão muito mais desenvolvidos nesse quesito”.

O orador despertou a ideia de que não basta lançar obras e ficar na zona de conforto, esperar que as coisas aconteçam. “Eu acho que muitos de nós já passámos por isso, mas até  o universo mostrar que as coisas não funcionam assim, você precisa trabalhar”, exortou.

Ambiente de negócios não facilita gestão artística

O cantor falou também sobre como “o ambiente que nos rodeia não propicia e não facilita a gestão artística”, mas entende que, apesar de ser um problema, isso é também uma oportunidade para se “começar a fazer as coisas”, realçando a necessidade de o artista procurar pelas pessoas que podem dar suporte naquilo que não dominam.

“Eu estava muito focado naquilo que é a minha arte, criar músicas, produzir, então fui buscar aqueles cérebros que foram aos poucos agregando valores e fazer com que o meu conceito sobre cultura começasse a mudar e, nessa senda, foi quando convidei o Rui Last-Man para trabalhar comigo como manager e começámos a desenvolver formas de levar o nosso produto ao público”, revelou Totó.

Por outro lado, durante a sua intervenção, o músico partilhou com  todos os presentes  alguns dos mecanismos utilizados para dar arranque a alguns dos seus planos. “Sabemos que o mercado angolano funciona muito de maneira informal. Angola é o único país ou dos poucos países em que o fã pede directamente ao artista para lhe enviar música via WhatsApp. A maior parte das pessoas não tem consciência de que há um trabalho, há um investimento por detrás dessa obra. Então, precisamos educar primeiro os nossos consumidores e começar a ver e analisar onde é que normalmente as pessoas ficam: onde há informação, onde há ajuntamento. Se eu, por exemplo, partilhar as músicas de um artista sem autorização, eu baixo, partilho, posso vender e o artista fica apenas a olhar. Por isso, que tal nós próprios artistas, a partir do WhatsApp, gerarmos receitas?”, questionou o ainda guitarrista, que revelou ter criado um mecanismo de renda, em que coloca de forma faseada as publicações das músicas com o IBAN, número do contacto de WhatsApp, países e diferentes contas bancárias.

“Criamos um grupo de suporte, alguém que esteja o tempo todo a receber todas a informações, e fomos solicitando essas coisas e nos surpreendeu que a aderência foi muito grande por via do WhatsApp. Enviámos uma espécie de cartão-de-visita em que nós dizíamos “os direitos de autor devem ser salvaguardados, não partilhar, respeitar o dinheiro que você gastou, respeite o trabalho do artista”, um vídeo do artista a falar “muito obrigado por ter participado dessa campanha e nós estamos muito gratos”, e as pessoas começaram a aderir”, contou.

De algum modo, explicou, começou a resultar e houve muitos ganhos. E no seu entender existem muitas formas de o fazer, adoptando o contexto angolano, “muitas formas de fazer com que o produto chegue até às pessoas sem estar preso às formas tradicionais, como depender das cadeias televisivas”.

Também há ainda muita coisa a ser feita no que respeita os direitos de autor, disse a fonte. “Temos muito para caminhar, mas também vamos dizer que tem havido um esforço sobre essa lei. Eu entendo que há uma falta de regulamentação, porque eu, particularmente, já fui a empresas pedir apoios para projectos. Importa dizer aqui que o artista precisa também estar associado a causas sociais, pois isso torna também o trabalho do artista bem mais abrangente e faz com que ele atinja bem mais rápido as comunidades”, alertou, tendo frisado então que o artista pode gerar receitas e elevar a sua arte a partir da sua comunidade, defendendo a criação de empresários independentes das cores partidárias ou de sistemas que tenham alguma base e substância voltados para a área da cultura. 

Na lista de oradores no evento, Totó ST esteve acompanhado pela cantora Gersy Pegado, a actriz Sophia Buco e pelos gestores culturais Rui Last-Man e João Vigário.

Nascido em Luanda a 20 de Março, Totó ST é o nome artístico de Serpião Tomás, uma referência musical em Angola, tendo, dentre vários feitos, se sagrado vencedor do festival musical “Vis a Vis”, em 2017, na Espanha, melhor cantor do Top Rádio Luanda em 2016, e em 2015 foi melhor cantor na categoria World Music do Angola Music Awards.

Da sua discografia, constam álbuns como  “Vida das coisas” (2006), “Batata Quente” (2009) e “Nga Sakidila” (2019), dentre outros.

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Ylson Menezes

Repórter

Ylson Menezes é poeta. Amante de leitura e de escrita, é também aspirante a jornalista.

O músico Totó ST afirmou que em Angola não existe propriamente um mercado musical, que este está a ser construído nesse momento, porque “faltam actores que dariam suporte aos fazedores das artes”.

O também produtor musical, que fez estas declarações neste sábado último, por ocasião do workshop sobre empreendedorismo cultural, subordinado ao tema “Geração da economia através da criatividade”, que teve lugar no Palácio de Ferro, realizado pela Academia Produza, salientou que primeiro o artista precisa perceber que ele próprio é um produto e que todo produto não pode ficar apenas pela questão emocional, ou seja, o artista não pode só amar a arte, é preciso gerar receitas.

“Com a arte que faz, você precisa arranjar formas de fazer com que esse produto chegue até às pessoas que estejam em sintonia para consumir o seu produto”, disse o convidado, que partilhou ter tido  esse pensamento depois do lançamento do seu segundo álbum, porque também já ficou apenas no conforto da venda de CDs na Praça de Independência e aparição na TV.

“Na verdade”, continuou Totó, “essa área é muito mais vasta do que possamos imaginar”. “Eu comecei a ter ideia e a observar como é o movimento, porque, no meu entendimento, nós não temos propriamente um mercado musical”, reforçou, citando como exemplo o facto de “não  existir em Angola pessoas que têm a visão e, de algum modo, algum poder financeiro que usem para que determinados produtos sejam expostos”, e lamentou pelos artistas ainda serem muito dependentes da mídia angolana, que “também é embrião nesse sentido, porque há países que estão muito mais desenvolvidos nesse quesito”.

O orador despertou a ideia de que não basta lançar obras e ficar na zona de conforto, esperar que as coisas aconteçam. “Eu acho que muitos de nós já passámos por isso, mas até  o universo mostrar que as coisas não funcionam assim, você precisa trabalhar”, exortou.

Ambiente de negócios não facilita gestão artística

O cantor falou também sobre como “o ambiente que nos rodeia não propicia e não facilita a gestão artística”, mas entende que, apesar de ser um problema, isso é também uma oportunidade para se “começar a fazer as coisas”, realçando a necessidade de o artista procurar pelas pessoas que podem dar suporte naquilo que não dominam.

“Eu estava muito focado naquilo que é a minha arte, criar músicas, produzir, então fui buscar aqueles cérebros que foram aos poucos agregando valores e fazer com que o meu conceito sobre cultura começasse a mudar e, nessa senda, foi quando convidei o Rui Last-Man para trabalhar comigo como manager e começámos a desenvolver formas de levar o nosso produto ao público”, revelou Totó.

Por outro lado, durante a sua intervenção, o músico partilhou com  todos os presentes  alguns dos mecanismos utilizados para dar arranque a alguns dos seus planos. “Sabemos que o mercado angolano funciona muito de maneira informal. Angola é o único país ou dos poucos países em que o fã pede directamente ao artista para lhe enviar música via WhatsApp. A maior parte das pessoas não tem consciência de que há um trabalho, há um investimento por detrás dessa obra. Então, precisamos educar primeiro os nossos consumidores e começar a ver e analisar onde é que normalmente as pessoas ficam: onde há informação, onde há ajuntamento. Se eu, por exemplo, partilhar as músicas de um artista sem autorização, eu baixo, partilho, posso vender e o artista fica apenas a olhar. Por isso, que tal nós próprios artistas, a partir do WhatsApp, gerarmos receitas?”, questionou o ainda guitarrista, que revelou ter criado um mecanismo de renda, em que coloca de forma faseada as publicações das músicas com o IBAN, número do contacto de WhatsApp, países e diferentes contas bancárias.

“Criamos um grupo de suporte, alguém que esteja o tempo todo a receber todas a informações, e fomos solicitando essas coisas e nos surpreendeu que a aderência foi muito grande por via do WhatsApp. Enviámos uma espécie de cartão-de-visita em que nós dizíamos “os direitos de autor devem ser salvaguardados, não partilhar, respeitar o dinheiro que você gastou, respeite o trabalho do artista”, um vídeo do artista a falar “muito obrigado por ter participado dessa campanha e nós estamos muito gratos”, e as pessoas começaram a aderir”, contou.

De algum modo, explicou, começou a resultar e houve muitos ganhos. E no seu entender existem muitas formas de o fazer, adoptando o contexto angolano, “muitas formas de fazer com que o produto chegue até às pessoas sem estar preso às formas tradicionais, como depender das cadeias televisivas”.

Também há ainda muita coisa a ser feita no que respeita os direitos de autor, disse a fonte. “Temos muito para caminhar, mas também vamos dizer que tem havido um esforço sobre essa lei. Eu entendo que há uma falta de regulamentação, porque eu, particularmente, já fui a empresas pedir apoios para projectos. Importa dizer aqui que o artista precisa também estar associado a causas sociais, pois isso torna também o trabalho do artista bem mais abrangente e faz com que ele atinja bem mais rápido as comunidades”, alertou, tendo frisado então que o artista pode gerar receitas e elevar a sua arte a partir da sua comunidade, defendendo a criação de empresários independentes das cores partidárias ou de sistemas que tenham alguma base e substância voltados para a área da cultura. 

Na lista de oradores no evento, Totó ST esteve acompanhado pela cantora Gersy Pegado, a actriz Sophia Buco e pelos gestores culturais Rui Last-Man e João Vigário.

Nascido em Luanda a 20 de Março, Totó ST é o nome artístico de Serpião Tomás, uma referência musical em Angola, tendo, dentre vários feitos, se sagrado vencedor do festival musical “Vis a Vis”, em 2017, na Espanha, melhor cantor do Top Rádio Luanda em 2016, e em 2015 foi melhor cantor na categoria World Music do Angola Music Awards.

Da sua discografia, constam álbuns como  “Vida das coisas” (2006), “Batata Quente” (2009) e “Nga Sakidila” (2019), dentre outros.

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