Caneta e Papel
Crónica

Tecnologia para o meu amigo D. Tirso bassular a desmatação do “Moxico dele”

Tecnologia para o meu amigo D. Tirso bassular a desmatação do “Moxico dele”
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O meu amigo D. Tirso Blanco, o argentino mais luvale do planeta, aportou às terras de Nhacatolo há exactos 25 anos. Chegou jovem padre a Luena, logo no aeroporto um cuemba quis kassumbular a bina dele. Alguém não deixou e ele ri até hoje. Sempre a rir aguentou a guerra com o povo, andou o Moxico todo, carregou paus para fazer pontes, cumprimentou os buracos todos daquelas estradas, enterrou o jipe no lamaçal, aprendeu a falar luvale e ficou Bispo. Amigo de todos, o filho alheio ri com toda a gente. Se lhe abusam, ele nem liga. Fituca às vezes quando os bandidos assaltam as igrejas e roubam até as hóstias, mas com aquele coração que tem, logo passa. O meu amigo Bispo D. Tirso, que anda descalço e anda na kibula do candongueiro quando o seu carro dá o berro na estrada, é amigo de todos, filho alheio…

Mas há uma coisa que, tirando os pecados da malta, tira mesmo do sério o bom do Bispo: a exploração ilegal da madeira. Mês sim, mês também, no Facebook dele põe fotografias de camiões carregados de madeira bem à luz do dia. Também tira fotos de campos devastados quase uns desertos, com as árvores todas cortadas, quilómetros e quilómetros dessa desgraça. As abelhas que ficam sem flores para extrair o pólen nem troncos para fazer as colmeias deixam de produzir aquele mel docinho do Moxico que toda a gente aprecia e acabam por morrer; a sombra para as pessoas e os animais baza; as nuvens, sem o beijo das folhas para a fotossíntese, deixam de chorar a chuva; as culturas secam e o povo – esse povo que D. Tirso tanto ama – passa fome.

Contou-me ele que uma vez que foi falar com o Governador Muandumba a cobrar “pukaduquê o nguvulu não dá um stop nesse abuso?” e esse disse que não tem guardas em número suficiente para controlar todo aquele mundão de florestas que o Moxico tem. E o Bispo, não muito convencido, ficou a matutar na cachimónia dele como ajudar o amigo dele nguvulu Muandumba a resolver esse problema que lhe tira o sono de verdade.

Eu nem tanto. Mas amigo do meu amigo Excelência que tem Reverendíssima, “tomei boa nota e fiquei com a preocupação” no fundinho da minha cachola. É por isso que me chamou atenção aqui há dias uma notícia que dizia que lá na China, a Rainforest Connection e a Huawei projectaram tecnologia que alerta os guardas florestais da presença de madeireiros ilegais tipo uns chinocas – e não só! – que andamos a ver por aí..

E como é que isso funciona?

Pegam em telefones velhos (Huawei, claro!) ligam-nos a baterias solares e colam-nos em algumas árvores estrategicamente posicionadas. Os “Camás” gatunos da madeira chegam com aquelas serras e começam a cortar. Os telefones captam o som, mandam para uma central com as coordenadas de GPS e quando os bandidos se assustarem… já está! Os Bongós estão em cima deles e levam todos pró kuzú! É que, esses “zótrus” foram mais espertos que nós: como também não têm gente suficiente para guardar as suas florestas que são tão grandes como as nossas (ou talvez mais, não sei) desenvolveram uma plataforma que inclui dispositivos de colecta de dados, serviços de armazenamento e análises inteligentes. Não há magala que lhes aldraba. Meze numa árvore…  o telefone escondido com a tecnologia dentro lhe queixa na hora, chegam os bongós e kuzú com eles. Pronto!

E tem mais. Falei com um meu amigo da Huawei e ele disse que o sistema também pode, como um bónus, recolher e analisar sons de animais para ajudar os biólogos a estudar espécies ameaçadas. Até agora, o sistema foi implantado em 10 países, cobrindo 6.000 quilómetros quadrados de floresta tropical e funciona. Já estou a ver os meus amigos da Universidade Católica, aqueles que criaram santuários em Cangandala para a Palanca Negra Gigante, sentados no gabinete do meu avilo Padre Magnífico Reitor Vicente Cacutchi a ouvirem os mééé-mééé das palancas deles a comerem o capim delas em Malanje…

Makas com as novas tecnologias de informação e comunicação? Nada, o meu amigo D. Tirso nisso até é bem craque. Vejam que anda a ensinar os catequistas a consultar a Bíblia em Luvale no Ipad, baixada da internet. Portanto, o nosso D. Tirso do Lwena está aviado nessa parte. Tenho só é que levá-lo aos meus amigos da Huawei para lhe “emprestadar” uns telefones velhinhos, enfiarem neles a bateria solar mais a tal “tecnologia que queixa” e já estou a ver o meu amigo Bispo todo contente a caminho do gabinete do nguvulu Muandumba com a solução que encontrei para ele…

E a conectividade ao longo das florestas?... Disso já falei, mas posso mbôra outra vez repetir… para a próxima!

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Celso Malavoloneke

Sociólogo da Comunicação

Comunicólogo e docente universitário, Celso Malavoloneke acumula uma vasta experiência em jornalismo, serviço humanitário e gestão no sector privado e público.

O meu amigo D. Tirso Blanco, o argentino mais luvale do planeta, aportou às terras de Nhacatolo há exactos 25 anos. Chegou jovem padre a Luena, logo no aeroporto um cuemba quis kassumbular a bina dele. Alguém não deixou e ele ri até hoje. Sempre a rir aguentou a guerra com o povo, andou o Moxico todo, carregou paus para fazer pontes, cumprimentou os buracos todos daquelas estradas, enterrou o jipe no lamaçal, aprendeu a falar luvale e ficou Bispo. Amigo de todos, o filho alheio ri com toda a gente. Se lhe abusam, ele nem liga. Fituca às vezes quando os bandidos assaltam as igrejas e roubam até as hóstias, mas com aquele coração que tem, logo passa. O meu amigo Bispo D. Tirso, que anda descalço e anda na kibula do candongueiro quando o seu carro dá o berro na estrada, é amigo de todos, filho alheio…

Mas há uma coisa que, tirando os pecados da malta, tira mesmo do sério o bom do Bispo: a exploração ilegal da madeira. Mês sim, mês também, no Facebook dele põe fotografias de camiões carregados de madeira bem à luz do dia. Também tira fotos de campos devastados quase uns desertos, com as árvores todas cortadas, quilómetros e quilómetros dessa desgraça. As abelhas que ficam sem flores para extrair o pólen nem troncos para fazer as colmeias deixam de produzir aquele mel docinho do Moxico que toda a gente aprecia e acabam por morrer; a sombra para as pessoas e os animais baza; as nuvens, sem o beijo das folhas para a fotossíntese, deixam de chorar a chuva; as culturas secam e o povo – esse povo que D. Tirso tanto ama – passa fome.

Contou-me ele que uma vez que foi falar com o Governador Muandumba a cobrar “pukaduquê o nguvulu não dá um stop nesse abuso?” e esse disse que não tem guardas em número suficiente para controlar todo aquele mundão de florestas que o Moxico tem. E o Bispo, não muito convencido, ficou a matutar na cachimónia dele como ajudar o amigo dele nguvulu Muandumba a resolver esse problema que lhe tira o sono de verdade.

Eu nem tanto. Mas amigo do meu amigo Excelência que tem Reverendíssima, “tomei boa nota e fiquei com a preocupação” no fundinho da minha cachola. É por isso que me chamou atenção aqui há dias uma notícia que dizia que lá na China, a Rainforest Connection e a Huawei projectaram tecnologia que alerta os guardas florestais da presença de madeireiros ilegais tipo uns chinocas – e não só! – que andamos a ver por aí..

E como é que isso funciona?

Pegam em telefones velhos (Huawei, claro!) ligam-nos a baterias solares e colam-nos em algumas árvores estrategicamente posicionadas. Os “Camás” gatunos da madeira chegam com aquelas serras e começam a cortar. Os telefones captam o som, mandam para uma central com as coordenadas de GPS e quando os bandidos se assustarem… já está! Os Bongós estão em cima deles e levam todos pró kuzú! É que, esses “zótrus” foram mais espertos que nós: como também não têm gente suficiente para guardar as suas florestas que são tão grandes como as nossas (ou talvez mais, não sei) desenvolveram uma plataforma que inclui dispositivos de colecta de dados, serviços de armazenamento e análises inteligentes. Não há magala que lhes aldraba. Meze numa árvore…  o telefone escondido com a tecnologia dentro lhe queixa na hora, chegam os bongós e kuzú com eles. Pronto!

E tem mais. Falei com um meu amigo da Huawei e ele disse que o sistema também pode, como um bónus, recolher e analisar sons de animais para ajudar os biólogos a estudar espécies ameaçadas. Até agora, o sistema foi implantado em 10 países, cobrindo 6.000 quilómetros quadrados de floresta tropical e funciona. Já estou a ver os meus amigos da Universidade Católica, aqueles que criaram santuários em Cangandala para a Palanca Negra Gigante, sentados no gabinete do meu avilo Padre Magnífico Reitor Vicente Cacutchi a ouvirem os mééé-mééé das palancas deles a comerem o capim delas em Malanje…

Makas com as novas tecnologias de informação e comunicação? Nada, o meu amigo D. Tirso nisso até é bem craque. Vejam que anda a ensinar os catequistas a consultar a Bíblia em Luvale no Ipad, baixada da internet. Portanto, o nosso D. Tirso do Lwena está aviado nessa parte. Tenho só é que levá-lo aos meus amigos da Huawei para lhe “emprestadar” uns telefones velhinhos, enfiarem neles a bateria solar mais a tal “tecnologia que queixa” e já estou a ver o meu amigo Bispo todo contente a caminho do gabinete do nguvulu Muandumba com a solução que encontrei para ele…

E a conectividade ao longo das florestas?... Disso já falei, mas posso mbôra outra vez repetir… para a próxima!

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