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Análise

Os Media como extensão dos Gabinetes de Comunicação Institucional e Imprensa

Os Media como extensão dos Gabinetes de Comunicação Institucional e Imprensa
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Os meios de comunicação social, dentre as suas variadas funções, têm o dever de ser vigilantes ou sentinelas do poder em todas as suas actividades, interpretando-as, quando necessário, e reportando-as ao único e soberano, o povo. Neste processo o recurso às fontes de notícia é a condição sine qua non, porquanto não existe jornalismo sem fontes, ou seja, a actividade jornalística em todas as suas categorias serve-se das fontes para alcançar a idolatrada credibilidade projectada pelo ideal da objectividade.

Nesta breve abordagem pretendemos trazer à razão a postura que as fontes oficial, empresarial, notável, institucional, especializada, etc. adoptaram como estratégia para se posicionarem na sociedade segundo os seus objectivos, utilizando os media para o efeito. Concomitantemente, desejamos mostrar, também, que os media podem estar mais atentos e cautelosos para não serem instrumentalizados. Porque, no mais das vezes, por conivência, comodismo ou ignorância consciente, os meios de comunicação social têm descartado o cruzamento de fontes e ficam, assaz, dependentes dos releases.

Vale enfatizar que, actualmente, “as fontes deixaram de apenas contribuir na apuração da notícia. Passaram também a produzir e oferecer conteúdos genuinamente jornalísticos, levando os media a divulgar os seus factos e eventos, mantendo os seus interesses” (SCHMITZ, 2011). Dizer ainda que o termo media, nesta abordagem, refere-se ao conjunto dos meios de comunicação social que têm compromisso com o jornalismo informativo.

O decreto 230/15 de 29 de Dezembro que cria os Gabinetes de Comunicação Institucional e Imprensa nos Departamentos Ministeriais, Governos Provinciais e demais Serviços da Administração Pública é, simplesmente a manifestação de que o Executivo está atento às transformações vertiginosas da sociedade da informação.

Com este instrumento o executivo está capacitado para divulgar informações especializadas à sociedade, isto é, no âmbito da comunicação pública, entendida como “ a comunicação direccionada àquilo que é de todos, que pertence ao Estado e a todos os cidadãos, por dever e direito” (GRACIOLI, 2009).

Consequentemente, parece que os media angolanos não perceberam a conjuntura que os ventos da sociedade do conhecimento trouxeram. Se não, desafiamos a acompanhar os principais espaços de noticiários do jornalismo televisivo e radiofónico. As notícias são, obviamente, 90% produzidas a partir de comunicados de imprensa, os assuntos candentes da sociedade, a vivência social, a condição social do cidadão reportadas na primeira pessoa são, garantidamente, insuficientes para um país onde se alega que cerca de “20 milhões de angolanos são pobres”.

Se o Executivo está a modernizar-se do ponto de vista comunicacional para proporcionar informações sobre as suas actividades aos cidadãos por meio dos media, pese embora com insuficiência, é urgente que os meios de comunicação social focalizem os seus holofotes àqueles para os quais o Executivo trabalha a ver se as suas acções têm um efeito directo ou imediato ao cidadão comum em todas as vertentes.

...os assuntos candentes da sociedade, a vivência social, a condição social do cidadão reportadas na primeira pessoa são, garantidamente, insuficientes para um país onde se alega que cerca de “20 milhões de angolanos são pobres”.

De outra sorte, estariam a posicionar-se como extensão modernizadas dos Gabinetes de Comunicação Institucional e Imprensa do Executivo e de outras organização que têm, igualmente, se aproveitado do comodismo, da auto-censura, da conivência ou da ignorância consciente dos media angolanos, projectando as suas marcas e produtos por conta do jornalismo ao invés do recurso à comunicação comercial.

O jornalismo angolano precisa alinhar-se às exigências que a complexidade social hodierna lhe obriga, que consistem em estar em consonância com “o seu potencial e sua vocação nobre de instrumento leitor da realidade” com o foco no ser humano, objectivando a “busca da ampliação” de sua consciência crítica, de sorte a “construir com outras forças existentes uma realidade psico-sócio-ecológica mais condizente com o propósito de evolução da vida inteligente, nesta porção do universo” (VICCHIATTI, 2005, p. 29).

É, precisamente, neste contexto que o escudo da tarimba – que os velhos profissionais invocam para desqualificar, entre aspas, as aptidões práticas da nova geração de comunicólogos que na sua maioria vêm das universidades – quebra por mostrar-se débil para resistir a contundência dos novos tempos que confrontam os conhecimentos básicos da actividade jornalística e se curvam perante a habilidade para manejar novas tecnologias e de armazenar conhecimentos humanísticos que capacitem os profissionais da comunicação a “compreender de forma integral os factos que geram notícias” (2005, p. 61).          

O jornalismo angolano precisa alinhar-se às exigências que a complexidade social hodierna lhe obriga, que consistem em estar em consonância com “o seu potencial e sua vocação nobre de instrumento leitor da realidade” com o foco no ser humano...

Vale, ainda, dizer que as organizações hoje precisam de mais notoriedade e credibilidade e estas virtudes empresariais, dificilmente se conseguem apenas com estratégias de comunicação comercial. “ Dai a necessidade, cada vez maior, de uma cobertura jornalística de acontecimentos que possam projectar as marcas e as empresas” (PÓVOAS, 2013, p. 11). As assessorias de imprensa ou as agências de publicidade e assessoria compreendem melhor esta visão e o perigo que a tomada de consciência dos media sobre o assunto representa para elas, isto é, por um lado.

Por conseguinte, concluímos que há uma toda necessidade de se profissionalizar cada vez mais as redacções dos órgãos de comunicação social através da união entre a teoria e a prática. Ou seja, a união entre a velha e a nova geração de comunicadores para fazer face a estes desafios, onde os académicos pensam e os mais velhos praticam numa troca de experiência mútua.

Exigimos, igualmente, que a classe jornalística angolana, incluindo, sobre tudo, os magnatas considerem que a sociedade logrou a sua confiança ao jornalismo para este interpretar e informar para ela com objectividade os assuntos de interesse público. Com efeito, nesta perspectiva a ética é um factor indispensável. Pelo que, hoje por hoje, a classe precisa de conceber o verdadeiro conteúdo semântico da palavra sacerdócio na sua verdadeira essência.

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Amadeu Cassinda

Licenciado em Comunicação Social e Colaborador do programa Mais Comunicação da Rádio Kairós.

Os meios de comunicação social, dentre as suas variadas funções, têm o dever de ser vigilantes ou sentinelas do poder em todas as suas actividades, interpretando-as, quando necessário, e reportando-as ao único e soberano, o povo. Neste processo o recurso às fontes de notícia é a condição sine qua non, porquanto não existe jornalismo sem fontes, ou seja, a actividade jornalística em todas as suas categorias serve-se das fontes para alcançar a idolatrada credibilidade projectada pelo ideal da objectividade.

Nesta breve abordagem pretendemos trazer à razão a postura que as fontes oficial, empresarial, notável, institucional, especializada, etc. adoptaram como estratégia para se posicionarem na sociedade segundo os seus objectivos, utilizando os media para o efeito. Concomitantemente, desejamos mostrar, também, que os media podem estar mais atentos e cautelosos para não serem instrumentalizados. Porque, no mais das vezes, por conivência, comodismo ou ignorância consciente, os meios de comunicação social têm descartado o cruzamento de fontes e ficam, assaz, dependentes dos releases.

Vale enfatizar que, actualmente, “as fontes deixaram de apenas contribuir na apuração da notícia. Passaram também a produzir e oferecer conteúdos genuinamente jornalísticos, levando os media a divulgar os seus factos e eventos, mantendo os seus interesses” (SCHMITZ, 2011). Dizer ainda que o termo media, nesta abordagem, refere-se ao conjunto dos meios de comunicação social que têm compromisso com o jornalismo informativo.

O decreto 230/15 de 29 de Dezembro que cria os Gabinetes de Comunicação Institucional e Imprensa nos Departamentos Ministeriais, Governos Provinciais e demais Serviços da Administração Pública é, simplesmente a manifestação de que o Executivo está atento às transformações vertiginosas da sociedade da informação.

Com este instrumento o executivo está capacitado para divulgar informações especializadas à sociedade, isto é, no âmbito da comunicação pública, entendida como “ a comunicação direccionada àquilo que é de todos, que pertence ao Estado e a todos os cidadãos, por dever e direito” (GRACIOLI, 2009).

Consequentemente, parece que os media angolanos não perceberam a conjuntura que os ventos da sociedade do conhecimento trouxeram. Se não, desafiamos a acompanhar os principais espaços de noticiários do jornalismo televisivo e radiofónico. As notícias são, obviamente, 90% produzidas a partir de comunicados de imprensa, os assuntos candentes da sociedade, a vivência social, a condição social do cidadão reportadas na primeira pessoa são, garantidamente, insuficientes para um país onde se alega que cerca de “20 milhões de angolanos são pobres”.

Se o Executivo está a modernizar-se do ponto de vista comunicacional para proporcionar informações sobre as suas actividades aos cidadãos por meio dos media, pese embora com insuficiência, é urgente que os meios de comunicação social focalizem os seus holofotes àqueles para os quais o Executivo trabalha a ver se as suas acções têm um efeito directo ou imediato ao cidadão comum em todas as vertentes.

...os assuntos candentes da sociedade, a vivência social, a condição social do cidadão reportadas na primeira pessoa são, garantidamente, insuficientes para um país onde se alega que cerca de “20 milhões de angolanos são pobres”.

De outra sorte, estariam a posicionar-se como extensão modernizadas dos Gabinetes de Comunicação Institucional e Imprensa do Executivo e de outras organização que têm, igualmente, se aproveitado do comodismo, da auto-censura, da conivência ou da ignorância consciente dos media angolanos, projectando as suas marcas e produtos por conta do jornalismo ao invés do recurso à comunicação comercial.

O jornalismo angolano precisa alinhar-se às exigências que a complexidade social hodierna lhe obriga, que consistem em estar em consonância com “o seu potencial e sua vocação nobre de instrumento leitor da realidade” com o foco no ser humano, objectivando a “busca da ampliação” de sua consciência crítica, de sorte a “construir com outras forças existentes uma realidade psico-sócio-ecológica mais condizente com o propósito de evolução da vida inteligente, nesta porção do universo” (VICCHIATTI, 2005, p. 29).

É, precisamente, neste contexto que o escudo da tarimba – que os velhos profissionais invocam para desqualificar, entre aspas, as aptidões práticas da nova geração de comunicólogos que na sua maioria vêm das universidades – quebra por mostrar-se débil para resistir a contundência dos novos tempos que confrontam os conhecimentos básicos da actividade jornalística e se curvam perante a habilidade para manejar novas tecnologias e de armazenar conhecimentos humanísticos que capacitem os profissionais da comunicação a “compreender de forma integral os factos que geram notícias” (2005, p. 61).          

O jornalismo angolano precisa alinhar-se às exigências que a complexidade social hodierna lhe obriga, que consistem em estar em consonância com “o seu potencial e sua vocação nobre de instrumento leitor da realidade” com o foco no ser humano...

Vale, ainda, dizer que as organizações hoje precisam de mais notoriedade e credibilidade e estas virtudes empresariais, dificilmente se conseguem apenas com estratégias de comunicação comercial. “ Dai a necessidade, cada vez maior, de uma cobertura jornalística de acontecimentos que possam projectar as marcas e as empresas” (PÓVOAS, 2013, p. 11). As assessorias de imprensa ou as agências de publicidade e assessoria compreendem melhor esta visão e o perigo que a tomada de consciência dos media sobre o assunto representa para elas, isto é, por um lado.

Por conseguinte, concluímos que há uma toda necessidade de se profissionalizar cada vez mais as redacções dos órgãos de comunicação social através da união entre a teoria e a prática. Ou seja, a união entre a velha e a nova geração de comunicadores para fazer face a estes desafios, onde os académicos pensam e os mais velhos praticam numa troca de experiência mútua.

Exigimos, igualmente, que a classe jornalística angolana, incluindo, sobre tudo, os magnatas considerem que a sociedade logrou a sua confiança ao jornalismo para este interpretar e informar para ela com objectividade os assuntos de interesse público. Com efeito, nesta perspectiva a ética é um factor indispensável. Pelo que, hoje por hoje, a classe precisa de conceber o verdadeiro conteúdo semântico da palavra sacerdócio na sua verdadeira essência.

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