Sociedade
Dia Nacional do Educador

Os desafios da formação contínua dos professores

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Os educadores angolanos celebram hoje o seu dia, sob o lema “Pela qualificação do professor, rumo ao desenvolvimento de Angola”, numa altura em que estão engajados em avaliações finais dos alunos.

Esta data foi institucionalizada em 1978, por ocasião de uma visita do primeiro Presidente angolano às instalações da antiga fábrica de têxteis de Angola, conhecida como Textang II, em Luanda, em Novembro de 1976, nas quais declarou aberta a campanha de alfabetização.

Por ser uma data importante para todos, uma vez que o “educador ilumina vidas” a fim de estas serem partícipes no desenvolvimento de uma sociedade, o ONgoma falou, a propósito, com educadores de algumas escolas da capital do país, entre outros assuntos, sobre a missão do educador e seus desafios.

‍Manuel de Victória Pereira

Para Manuel de Victória Pereira, professor de Literatura, no INE Marista, “o educador tem uma missão complexa e muito rica, uma vez que estimula a auto-aprendizagem”. O referido professor aludiu ainda que “o educador tem um papel social mais amplo na medida em que ele é um educador social, é o responsável pela formação integral dos indivíduos e um agente cultural, já que a cultura nacional, com os seus valores, alguns deles ancestrais, mas também apostados na modernidade, depende muito de um educador do tipo novo e moldado para uma escola aberta”.

Sendo a educação o desabrochar de potencialidades e como sem o educador não pode existir uma sociedade humana, Manuel Coxe, professor de Moral e Cívica, no Complexo Escolar Dom Bosco, alinha neste diapasão afirmando que “o educador tem a missão de forjar as mentalidades, ou seja, mudar a sociedade por meio da transformação do homem, despertando as suas competências intelectuais, profissionais e morais para uma sociedade cada vez mais coesa e desenvolvida”.

Esta ideia é corroborada por João Cambolo, professor de Matemática, no INE Marista, para quem a missão do educador é a de “contribuir para uma sociedade melhor, uma vez que qualquer sociedade se desenvolve com a formação do homem”.

‍António da Silva

Por sua vez, António da Silva, director do INE Marista, considerou, por seu turno, que “o agente mais importante numa instituição é o corpo docente porque marca, faz a diferença em termos de valores, princípios e qualidades”. Outrossim, o responsável avançou que “se pode ter um projecto educativo muito bonito, bem escrito, mas se não houver um agente educativo que faz com que as ideias do projecto cheguem ao educando, nada acontece”.

Desafios do educador nos dias de hoje

‍Nsimindele kudimana

Relativamente a este ponto, Nsimindele kudimana, professor de Informática, no 2.º Ciclo do Ensino Secundário Geral, apontou os problemas de base dos alunos, bem como a falta de acompanhamento dos pais e encarregados de educação aos seus filhos como os grandes desafios dos educadores actualmente.

‍Manuel Coxe, professor de EMC

Manuel Coxe, por seu turno, mencionou diversos aspectos enquanto desafios dos educadores, tais como “a auto-formação”, “o acompanhamento do contexto social, marcado pela globalização”, “a dissociação entre a escola e a família, o que deixa a escola amputada no que se refere à realização da sua tarefa”, bem como “a conjuntura sociopolítica que nos enferma”.

O director do INE Marista apontou um dos princípios da UNESCO para o século XXI, que é a “educação permanente, por vivermos numa era de muita mudança e transformação do ponto de vista técnico, de princípios e valores”. O responsável afirmou, por outro lado, que “há boa vontade por parte dos educadores interessados nas novas formas do agir educacional”, o que considera de “a capacidade de fugir da mesmice”. Outrossim, disse que a “verdadeira educação é dialogável”.

‍João Cambolo

Na opinião de João Cambolo, “o professor é chamado cada vez mais a acompanhar a dinâmica do mundo, muitas vezes sem condições. No entanto, “atendendo também às condições actuais de vida, muitos professores ficam no comodismo”, admitiu.

Já para Manuel de Victória Pereira, o país precisa de “professores moldados para uma escola aberta e não para um ensino tradicional”. Outrossim, frisou que “o enriquecimento dos conhecimentos e a sua humanização são muito importantes”.

Papel do ministério de tutela

António da Silva pensa que o Ministério da Educação tem feito um bom trabalho para os educadores. O responsável fez referência às reformas já efectuadas ao nível do sector, porém relatou que “muito há ainda por se fazer para se atingir a qualidade”.

No mesmo diapasão, Manuel Coxe, afirmou que “muito há por se fazer”. Por outro lado, reconheceu que “há um pequeno evoluir, apesar de a parcela destinada para o sector, a partir do Orçamento Geral do Estado, já demonstrar tudo”. Para este professor, “o Ministério não tem feito o que devia fazer para motivar o sector e os profissionais de educação, consubstanciados na reconversão de carreira, nas condições de trabalho e na esperança do educador”, concluiu.

Para Manuel de Victória Pereira, no país, “a prioridade ao ensino não foi dada como merecia, o que se pode ver nas verbas orçamentais destinadas para o sector. Os professores precisam de ser mais acarinhados e, acima de tudo, devem ser valorizados como cidadãos. Deve-se dar mais importância à riqueza de conhecimento do educador”.

Educador vs alfabetização

Em relação a esse assunto, Manuel de Victória Pereira disse que se sente menos o processo de alfabetização no país. “Na altura, era alfabetizador, antes de se tornar professor e antes de se ter inaugurada a campanha, já havia como que inspirado nas experiências que tinha feito na mata, uma alfabetização voluntária nas cidades, utilizando-se o método de Paulo Freire. Havia programas na rádio, havia uma ideia de massificação”, explicou. Por fim, referiu que “hoje, muitas das pessoas que podiam na altura ser alfabetizadas ingressaram no Ensino de Adultos, superaram-se, mas aparecem ainda muitos angolanos adultos na situação de analfabeto e, às vezes, funcional”.

Manuel Coxe, por seu lado, afirmou que “as coisas são feitas, muitas vezes, por mera formalidade”. “A alfabetização tem de oferecer competências”. Com a alfabetização, “o indivíduo tem o básico para exercer determinadas profissões”. “O reflexo de que a gente está a alfabetizar devia consubstanciar- se nas cláusulas para admissão por meio de critérios que privilegiem também os que passaram pela alfabetização”. Deste modo, defende, “há que se gizar programas mais sérios” porque “ a alfabetização pressupõe condições de trabalho”.

Alguns dos nossos entrevistados reflectiram em torno do lema do dia nacional do educador para este ano. Para Manuel Coxe,“O lema é algo pra ser trabalhado. Seria o lema que podia encaminhar a nossa acção de gestão educacional ao longo de todo o ano de 2016”. Assim sendo, frisou que “a qualificação do educador é o primeiro passo de qualidade e essa educação de qualidade é que vai proporcionar o desenvolvimento sustentável, que significa Angola poder desenvolver sem depender de outrem”. A fonte acrescentou ainda que “esse desenvolvimento sustentável pressupõe não só habilidades intelectuais mas também técnicas, de modo que ele prepare do ponto de vista teórico e técnico-prático o aluno. Isso vai ser o garante do desenvolvimento sustentável”.

Menos optimista, Manuel de Victória Pereira considera ser “apenas um slogan”. “Tem de se fazer diferente”. Desta forma, prosseguiu, “ é necessário que os professores sejam mais qualificados e que se dê oportunidade a quem esteja a frequentar uma instituição de formação de professores”.

Segundo as fontes do ONgoma, um verdadeiro educador precisa de estar bem empregado, com direitos garantidos e deveres cumpridos, precisa de ser profissional competente, bem como um ser apaixonado pelo que faz, sempre em busca de novos horizontes.

Destaque

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Venâncio Chambumba

Os educadores angolanos celebram hoje o seu dia, sob o lema “Pela qualificação do professor, rumo ao desenvolvimento de Angola”, numa altura em que estão engajados em avaliações finais dos alunos.

Esta data foi institucionalizada em 1978, por ocasião de uma visita do primeiro Presidente angolano às instalações da antiga fábrica de têxteis de Angola, conhecida como Textang II, em Luanda, em Novembro de 1976, nas quais declarou aberta a campanha de alfabetização.

Por ser uma data importante para todos, uma vez que o “educador ilumina vidas” a fim de estas serem partícipes no desenvolvimento de uma sociedade, o ONgoma falou, a propósito, com educadores de algumas escolas da capital do país, entre outros assuntos, sobre a missão do educador e seus desafios.

‍Manuel de Victória Pereira

Para Manuel de Victória Pereira, professor de Literatura, no INE Marista, “o educador tem uma missão complexa e muito rica, uma vez que estimula a auto-aprendizagem”. O referido professor aludiu ainda que “o educador tem um papel social mais amplo na medida em que ele é um educador social, é o responsável pela formação integral dos indivíduos e um agente cultural, já que a cultura nacional, com os seus valores, alguns deles ancestrais, mas também apostados na modernidade, depende muito de um educador do tipo novo e moldado para uma escola aberta”.

Sendo a educação o desabrochar de potencialidades e como sem o educador não pode existir uma sociedade humana, Manuel Coxe, professor de Moral e Cívica, no Complexo Escolar Dom Bosco, alinha neste diapasão afirmando que “o educador tem a missão de forjar as mentalidades, ou seja, mudar a sociedade por meio da transformação do homem, despertando as suas competências intelectuais, profissionais e morais para uma sociedade cada vez mais coesa e desenvolvida”.

Esta ideia é corroborada por João Cambolo, professor de Matemática, no INE Marista, para quem a missão do educador é a de “contribuir para uma sociedade melhor, uma vez que qualquer sociedade se desenvolve com a formação do homem”.

‍António da Silva

Por sua vez, António da Silva, director do INE Marista, considerou, por seu turno, que “o agente mais importante numa instituição é o corpo docente porque marca, faz a diferença em termos de valores, princípios e qualidades”. Outrossim, o responsável avançou que “se pode ter um projecto educativo muito bonito, bem escrito, mas se não houver um agente educativo que faz com que as ideias do projecto cheguem ao educando, nada acontece”.

Desafios do educador nos dias de hoje

‍Nsimindele kudimana

Relativamente a este ponto, Nsimindele kudimana, professor de Informática, no 2.º Ciclo do Ensino Secundário Geral, apontou os problemas de base dos alunos, bem como a falta de acompanhamento dos pais e encarregados de educação aos seus filhos como os grandes desafios dos educadores actualmente.

‍Manuel Coxe, professor de EMC

Manuel Coxe, por seu turno, mencionou diversos aspectos enquanto desafios dos educadores, tais como “a auto-formação”, “o acompanhamento do contexto social, marcado pela globalização”, “a dissociação entre a escola e a família, o que deixa a escola amputada no que se refere à realização da sua tarefa”, bem como “a conjuntura sociopolítica que nos enferma”.

O director do INE Marista apontou um dos princípios da UNESCO para o século XXI, que é a “educação permanente, por vivermos numa era de muita mudança e transformação do ponto de vista técnico, de princípios e valores”. O responsável afirmou, por outro lado, que “há boa vontade por parte dos educadores interessados nas novas formas do agir educacional”, o que considera de “a capacidade de fugir da mesmice”. Outrossim, disse que a “verdadeira educação é dialogável”.

‍João Cambolo

Na opinião de João Cambolo, “o professor é chamado cada vez mais a acompanhar a dinâmica do mundo, muitas vezes sem condições. No entanto, “atendendo também às condições actuais de vida, muitos professores ficam no comodismo”, admitiu.

Já para Manuel de Victória Pereira, o país precisa de “professores moldados para uma escola aberta e não para um ensino tradicional”. Outrossim, frisou que “o enriquecimento dos conhecimentos e a sua humanização são muito importantes”.

Papel do ministério de tutela

António da Silva pensa que o Ministério da Educação tem feito um bom trabalho para os educadores. O responsável fez referência às reformas já efectuadas ao nível do sector, porém relatou que “muito há ainda por se fazer para se atingir a qualidade”.

No mesmo diapasão, Manuel Coxe, afirmou que “muito há por se fazer”. Por outro lado, reconheceu que “há um pequeno evoluir, apesar de a parcela destinada para o sector, a partir do Orçamento Geral do Estado, já demonstrar tudo”. Para este professor, “o Ministério não tem feito o que devia fazer para motivar o sector e os profissionais de educação, consubstanciados na reconversão de carreira, nas condições de trabalho e na esperança do educador”, concluiu.

Para Manuel de Victória Pereira, no país, “a prioridade ao ensino não foi dada como merecia, o que se pode ver nas verbas orçamentais destinadas para o sector. Os professores precisam de ser mais acarinhados e, acima de tudo, devem ser valorizados como cidadãos. Deve-se dar mais importância à riqueza de conhecimento do educador”.

Educador vs alfabetização

Em relação a esse assunto, Manuel de Victória Pereira disse que se sente menos o processo de alfabetização no país. “Na altura, era alfabetizador, antes de se tornar professor e antes de se ter inaugurada a campanha, já havia como que inspirado nas experiências que tinha feito na mata, uma alfabetização voluntária nas cidades, utilizando-se o método de Paulo Freire. Havia programas na rádio, havia uma ideia de massificação”, explicou. Por fim, referiu que “hoje, muitas das pessoas que podiam na altura ser alfabetizadas ingressaram no Ensino de Adultos, superaram-se, mas aparecem ainda muitos angolanos adultos na situação de analfabeto e, às vezes, funcional”.

Manuel Coxe, por seu lado, afirmou que “as coisas são feitas, muitas vezes, por mera formalidade”. “A alfabetização tem de oferecer competências”. Com a alfabetização, “o indivíduo tem o básico para exercer determinadas profissões”. “O reflexo de que a gente está a alfabetizar devia consubstanciar- se nas cláusulas para admissão por meio de critérios que privilegiem também os que passaram pela alfabetização”. Deste modo, defende, “há que se gizar programas mais sérios” porque “ a alfabetização pressupõe condições de trabalho”.

Alguns dos nossos entrevistados reflectiram em torno do lema do dia nacional do educador para este ano. Para Manuel Coxe,“O lema é algo pra ser trabalhado. Seria o lema que podia encaminhar a nossa acção de gestão educacional ao longo de todo o ano de 2016”. Assim sendo, frisou que “a qualificação do educador é o primeiro passo de qualidade e essa educação de qualidade é que vai proporcionar o desenvolvimento sustentável, que significa Angola poder desenvolver sem depender de outrem”. A fonte acrescentou ainda que “esse desenvolvimento sustentável pressupõe não só habilidades intelectuais mas também técnicas, de modo que ele prepare do ponto de vista teórico e técnico-prático o aluno. Isso vai ser o garante do desenvolvimento sustentável”.

Menos optimista, Manuel de Victória Pereira considera ser “apenas um slogan”. “Tem de se fazer diferente”. Desta forma, prosseguiu, “ é necessário que os professores sejam mais qualificados e que se dê oportunidade a quem esteja a frequentar uma instituição de formação de professores”.

Segundo as fontes do ONgoma, um verdadeiro educador precisa de estar bem empregado, com direitos garantidos e deveres cumpridos, precisa de ser profissional competente, bem como um ser apaixonado pelo que faz, sempre em busca de novos horizontes.

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