O poeta e declamador angolano Ismael Farinha observou nesta semana que o spoken word, inglês para recitação ou poesia falada, é uma das matérias da poesia que precisa ser feita com inteligência, dedicação e proeza, e neste âmbito existem muitos fazedores e estão todos de parabéns, mas há ainda a necessidade de melhoria, “e isso é um processo”.
Apresentador das Noites de Poesia, da Fundação Arte e Cultura, o artista falava por ocasião da mais recente edição desse evento, que na última quarta-feira homenageou o escritor Kibuku Kiajinje, quando precisou que todo processo é para ser construído e desenvolvido.
O spoken word aqui começou muito bem, considerou Ismael Farinha, aproveitando para felicitar o impulsionador dessa forma de arte localmente, Lukeny Bamba, tendo reparado que é um derivado do Rap, “e na América há vários artistas, desde Mos Def até Common Sense, que incentivam as pessoas a usarem a palavras com conhecimento, sapiência, moldura, informação, formação e afinco, e em Angola temos artistas que o fazem muito bem, como o António Paciência, um expoente máximo” e que muito admira, bem como Zola Ramos, “que também tem feito o seu trabalho”.
“Só que os mais velhos acham que nós, enquanto fazedores de spoken word, estamos a nos desviar da poesia tradicional. Mas não, tudo que é movimento e iniciativas de princípio ficam estranhas, mas ainda assim já temos sido abraçados por muitos mais velhos que participam de eventos que realizamos, com destaque para o nosso grande escritor José Luís Mendonça, que tem apoiado esta causa”, gratificou.
A fonte relevou ainda, em entrevista ao ONgoma News, a necessidade de se ler cada vez mais, aprender, lapidar-se, porque não se faz spoken word sem ler. Para ele, é errado, de todo, alguém dizer que faz spoken, quando não lê poesia tradicional. “Temos que ler de tudo um pouco, desde mais velhos, novos, até mesmo de medicina, porque o spoken é rico na mensagem que traz e na sua abordagem. Se não lês sobre medicina, ciência, política, até mesmo fenómenos religiosos, pouco ou nada vais agregar enquanto fazedor de poesia, de uma forma geral”, explicou.
O entrevistado enalteceu adiante nomes como Ready Neutro e Doutor Romeu, “dos jovens”, e “dos mais velhos o Kool Klever, que possui uma dimensão brutal, seja poeticamente falando como nas suas canções”.
“Daqui a alguns anos, os que vierem também o farão de uma forma diferente, e nós que seremos os senhores também poderemos olhar para isso de uma forma meio que estranha. Temos agora o Trap, mas o Rap começou com o Boom Bap, e sem desprimor à nova escola, pois muitos deles trazem conteúdos que até os mais velhos que conhecem e viveram o Boom Bap nos anos 90 admiram”, referiu Ismael Farinha.
Questionado sobre que dificuldades esse domínio enfrenta e se a falta de espaços é uma delas, o interlocutor, um dos nomes mais sonantes da geração jovem de declamadores, disse que é imperioso encontrar sempre alternativas, “para fazer as coisas acontecerem”. Basta haver pessoas, outros componentes vão aparecendo, frisou.
“A ideia do Lukeny começou no Espaço Baía, e foi muito cutucada por causa dos temas que os artistas levavam aos palcos, muito contundentes para o sistema. O Sábio Louco, que infelizmente já partiu, quando entrava em palco, deixava todo mundo perplexo. Os espaços, nós é que fazemos. Na casa do poeta Adão Zina podemos fazer uma roda de spoken word, o António Paciência tem o Kassemba, e em Viana, o Dago, com a biblioteca 10Pradozinada, espaços onde os artistas ou amantes dão abertura a quem tem o poder da fala. A Joice Zau fez furor que posso considerar já mundial, não só a nível do Brasil, onde tivemos também a Bel Neto, que fez o seu trabalho e deixou a sua marca. Hoje, na era digital, com um telemóvel, fazemos um vídeo, partilhamos nas redes sociais e acaba por dar uma visualização muito ampla ao nosso trabalho, e dá indícios de que apesar de não termos um espaço físico, as plataformas digitais ajudam”, argumentou, tendo feito ainda referência ao que “aconteceu nos anos 60 e 70 no Brasil, quando os artistas pouco ou nada tinham de espaços. Foi necessário muita ousadia, consistência e determinação para chegarem a um ponto de não terem como controlá-los”.
Adiante, o também arquitecto revelou que um dos artistas brasileiros que muito admira é o Emicida, rapper “de extrema inteligência e isso acontece porque ele lida com livros”. Lembrou que este também faz spoken word e construção de textos muito significativos e, em Angola, enquanto artistas, a intenção é deixar legados para que as gerações vindouras percebam que, nesse ou naquele tempo, “os que faziam já pensavam dessa ou daquela maneira, já falaram sobre política, economia, prostituição, bem-estar, amor, paz, integridade, todos os temas fundamentais para desenvolver uma sociedade”.
“Aliás, há um texto que escrevi em 2014, em que digo que “a diferença faz o mundo, só não percebe quem é vagabundo, as consciências constroem uma sociedade e nos dão a liberdade”. É necessário termos liberdade de expressão no verdadeiro sentido da palavra, não só o que está plasmado na Constituição, mas em termos de ousadia, percebermos que indagar não é mal de todo, porque quando o filho, irmão ou primo indaga alguma coisa, não é para o mal, mas para termos uma sociedade melhor, um país no pódio a nível de pessoas com conhecimento, tal como acontece com o basquetebol, andebol e outras modalidades. Hoje as guerras fazem-se também com conhecimento, não armas. Em Angola há muitos fazedores de arte e o spoken word está de parabéns”, felicitou.
O poeta e declamador angolano Ismael Farinha observou nesta semana que o spoken word, inglês para recitação ou poesia falada, é uma das matérias da poesia que precisa ser feita com inteligência, dedicação e proeza, e neste âmbito existem muitos fazedores e estão todos de parabéns, mas há ainda a necessidade de melhoria, “e isso é um processo”.
Apresentador das Noites de Poesia, da Fundação Arte e Cultura, o artista falava por ocasião da mais recente edição desse evento, que na última quarta-feira homenageou o escritor Kibuku Kiajinje, quando precisou que todo processo é para ser construído e desenvolvido.
O spoken word aqui começou muito bem, considerou Ismael Farinha, aproveitando para felicitar o impulsionador dessa forma de arte localmente, Lukeny Bamba, tendo reparado que é um derivado do Rap, “e na América há vários artistas, desde Mos Def até Common Sense, que incentivam as pessoas a usarem a palavras com conhecimento, sapiência, moldura, informação, formação e afinco, e em Angola temos artistas que o fazem muito bem, como o António Paciência, um expoente máximo” e que muito admira, bem como Zola Ramos, “que também tem feito o seu trabalho”.
“Só que os mais velhos acham que nós, enquanto fazedores de spoken word, estamos a nos desviar da poesia tradicional. Mas não, tudo que é movimento e iniciativas de princípio ficam estranhas, mas ainda assim já temos sido abraçados por muitos mais velhos que participam de eventos que realizamos, com destaque para o nosso grande escritor José Luís Mendonça, que tem apoiado esta causa”, gratificou.
A fonte relevou ainda, em entrevista ao ONgoma News, a necessidade de se ler cada vez mais, aprender, lapidar-se, porque não se faz spoken word sem ler. Para ele, é errado, de todo, alguém dizer que faz spoken, quando não lê poesia tradicional. “Temos que ler de tudo um pouco, desde mais velhos, novos, até mesmo de medicina, porque o spoken é rico na mensagem que traz e na sua abordagem. Se não lês sobre medicina, ciência, política, até mesmo fenómenos religiosos, pouco ou nada vais agregar enquanto fazedor de poesia, de uma forma geral”, explicou.
O entrevistado enalteceu adiante nomes como Ready Neutro e Doutor Romeu, “dos jovens”, e “dos mais velhos o Kool Klever, que possui uma dimensão brutal, seja poeticamente falando como nas suas canções”.
“Daqui a alguns anos, os que vierem também o farão de uma forma diferente, e nós que seremos os senhores também poderemos olhar para isso de uma forma meio que estranha. Temos agora o Trap, mas o Rap começou com o Boom Bap, e sem desprimor à nova escola, pois muitos deles trazem conteúdos que até os mais velhos que conhecem e viveram o Boom Bap nos anos 90 admiram”, referiu Ismael Farinha.
Questionado sobre que dificuldades esse domínio enfrenta e se a falta de espaços é uma delas, o interlocutor, um dos nomes mais sonantes da geração jovem de declamadores, disse que é imperioso encontrar sempre alternativas, “para fazer as coisas acontecerem”. Basta haver pessoas, outros componentes vão aparecendo, frisou.
“A ideia do Lukeny começou no Espaço Baía, e foi muito cutucada por causa dos temas que os artistas levavam aos palcos, muito contundentes para o sistema. O Sábio Louco, que infelizmente já partiu, quando entrava em palco, deixava todo mundo perplexo. Os espaços, nós é que fazemos. Na casa do poeta Adão Zina podemos fazer uma roda de spoken word, o António Paciência tem o Kassemba, e em Viana, o Dago, com a biblioteca 10Pradozinada, espaços onde os artistas ou amantes dão abertura a quem tem o poder da fala. A Joice Zau fez furor que posso considerar já mundial, não só a nível do Brasil, onde tivemos também a Bel Neto, que fez o seu trabalho e deixou a sua marca. Hoje, na era digital, com um telemóvel, fazemos um vídeo, partilhamos nas redes sociais e acaba por dar uma visualização muito ampla ao nosso trabalho, e dá indícios de que apesar de não termos um espaço físico, as plataformas digitais ajudam”, argumentou, tendo feito ainda referência ao que “aconteceu nos anos 60 e 70 no Brasil, quando os artistas pouco ou nada tinham de espaços. Foi necessário muita ousadia, consistência e determinação para chegarem a um ponto de não terem como controlá-los”.
Adiante, o também arquitecto revelou que um dos artistas brasileiros que muito admira é o Emicida, rapper “de extrema inteligência e isso acontece porque ele lida com livros”. Lembrou que este também faz spoken word e construção de textos muito significativos e, em Angola, enquanto artistas, a intenção é deixar legados para que as gerações vindouras percebam que, nesse ou naquele tempo, “os que faziam já pensavam dessa ou daquela maneira, já falaram sobre política, economia, prostituição, bem-estar, amor, paz, integridade, todos os temas fundamentais para desenvolver uma sociedade”.
“Aliás, há um texto que escrevi em 2014, em que digo que “a diferença faz o mundo, só não percebe quem é vagabundo, as consciências constroem uma sociedade e nos dão a liberdade”. É necessário termos liberdade de expressão no verdadeiro sentido da palavra, não só o que está plasmado na Constituição, mas em termos de ousadia, percebermos que indagar não é mal de todo, porque quando o filho, irmão ou primo indaga alguma coisa, não é para o mal, mas para termos uma sociedade melhor, um país no pódio a nível de pessoas com conhecimento, tal como acontece com o basquetebol, andebol e outras modalidades. Hoje as guerras fazem-se também com conhecimento, não armas. Em Angola há muitos fazedores de arte e o spoken word está de parabéns”, felicitou.