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“O excesso de gravidez não intencional é uma crise invisível que se desenrola diante dos nossos olhos”, apontou Mady Biaye

“O excesso de gravidez não intencional é uma crise invisível que se desenrola diante dos nossos olhos”, apontou Mady Biaye
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O representante do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), Mady Biaye, afirmou que o excesso de gravidez não intencional “é uma crise invisível que se desenrola mesmo diante dos nossos olhos”, lamentando o facto de muitas pessoas não olharem para o assunto como a emergência que é, e que apesar de ter sido sempre uma crise, tem sido escondida, “banalizada como uma preocupação das mulheres ou um assunto privado”.

Falando por ocasião da apresentação do relatório Estado da População Mundial 2022, publicado anualmente desde 1978 e trazido a público nesta quinta-feira em Luanda, na maternidade Augusto Ngangula, o responsável apelou ao mundo para que reconheça que a gravidez não intencional é uma questão pessoal, uma questão que rouba às mulheres a sua escolha reprodutiva mais alteradora da vida, “é uma questão de saúde que impulsiona os abortos inseguros e é uma das principais causas de mortes maternas a nível mundial”, além de ser uma questão de direitos humanos, tanto cuidadoras como resultantes de discriminação e desigualdades de género, uma questão humanitária.

Mady Biaye, na ocasião, reconheceu que o elevado índice de gravidez não intencional nas zonas de conflitos, em campos de refugiados e outros ambientes precários, assim como o índice de violência sexual, aponta para uma questão de desenvolvimento, “embora todos os países tenham taxas financeiras inaceitavelmente elevadas de gravidez involuntárias”.  

“É uma preocupação das mulheres, é uma crise global com custos globais, e sabemos que mais de 60% das gravidezes não intencionais terminam em aborto, que não são seguros, cruzando com os 5% a 3% de todas as mortes maternas. Isto tem um grande impacto na capacidade de o mundo alcançar o desenvolvimento sustentável e, de facto, para atingir esses objectivos temos que reduzir a gravidez indesejada”, recomendou.

A fonte, durante a sua intervenção no evento, disse ainda que milhões de mulheres ou raparigas atrasam ou interrompem a escolaridade ou abandonam a força de trabalho com impacto nos seus rendimentos de saúde e bem-estar. Estas consequências, referiu, conciliam ao longo das gerações. A gravidez não intencional custa milhões de dólares para o sistema de saúde, porque nascimentos não planeados acarretam consequências sociais, mentais e físicas negativas para saúde, além da maior vulnerabilidade de pobreza, embora nem todas as gravidezes não intencionais sejam indesejadas, havendo algumas celebradas e muitos casos deste tipo serem histórias felizes, “sem dúvidas”.

“Podemos celebrar finais felizes, ao mesmo que as julgamos, para que as mulheres possam escolher quando e com quem engravidar, porque quando a sociedade aceita a gravidez não intencional como normal, implica que as mulheres e raparigas são valorizadas apenas pelas reprodução e não pelos seus talentos e criatividades ou intelectuais”, defendeu o interlocutor, asseverando que ser “tempo de abrir a cortina, de ver o invisível”, apelando aos decisores políticos e comunitários para que dêem prioridade aos direitos das mulheres e das raparigas, para que expandam as suas escolhas, incluindo acesso universal a contraceptivos seguros eficazes e assegurem que todos os jovens, “sim, rapazes também, estejam plenamente conscientes dos riscos e meios de evitar gravidezes indesejadas”.

Ademais, Mady Biaye disse que precisamos ouvir as vozes das mulheres, compreender melhor as suas necessidades e fazer ecos dos seus apelos a igualdade. “Os líderes não devem apenas promover a igualdade de género, devem mover nas suas as acções quotidianas”, disse, lembrando que os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 apelam para o fim das necessidades não satisfeitas de contracepção, com execução da igualdade de géneros e do avanço da economia corporal”.

Sobre o relatório, o responsável da UNFPA observa que o documento destaca questões emergentes no campo da saúde e dos direitos sexuais, trazendo para os centros das instituições e explorando os desafios e oportunidades que os temas abordados apresentam para o desenvolvimento internacional.

Este ano, sob o tema “Vendo o Invisível: Em defesa da acção na negligenciada crise da gravidez não intencional”, o relatório mostra que actualmente, nos países onde existem dados disponíveis, quase um quarto de todas as mulheres é incapaz de dizer não ao sexo e tomar decisões sobre os seus próprios cuidados de saúde, quase 10% são incapazes de tomar decisões sobre contracepção, e de todas a gravidezes do mundo, quase a metade não é intencional.

Em Angola, disse o responsável, a taxa de uso dos métodos contraceptivos modernos é uma das mais baixas da região, representada com 3%, e a necessidade não satisfeita do planeamento familiar é uma das mais altas, com 8%, sendo ainda que entre as raparigas adolescentes a situação é mais preocupante, uma vez que apenas 7,6% usam contracepção moderna, enquanto 3% têm uma necessidade não satisfeita de planeamento familiar.

Como resultado, 5% das raparigas já começaram a maternidade, destacou.

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Ylson Menezes

Repórter

Ylson Menezes é poeta. Amante de leitura e de escrita, é também aspirante a jornalista.

O representante do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), Mady Biaye, afirmou que o excesso de gravidez não intencional “é uma crise invisível que se desenrola mesmo diante dos nossos olhos”, lamentando o facto de muitas pessoas não olharem para o assunto como a emergência que é, e que apesar de ter sido sempre uma crise, tem sido escondida, “banalizada como uma preocupação das mulheres ou um assunto privado”.

Falando por ocasião da apresentação do relatório Estado da População Mundial 2022, publicado anualmente desde 1978 e trazido a público nesta quinta-feira em Luanda, na maternidade Augusto Ngangula, o responsável apelou ao mundo para que reconheça que a gravidez não intencional é uma questão pessoal, uma questão que rouba às mulheres a sua escolha reprodutiva mais alteradora da vida, “é uma questão de saúde que impulsiona os abortos inseguros e é uma das principais causas de mortes maternas a nível mundial”, além de ser uma questão de direitos humanos, tanto cuidadoras como resultantes de discriminação e desigualdades de género, uma questão humanitária.

Mady Biaye, na ocasião, reconheceu que o elevado índice de gravidez não intencional nas zonas de conflitos, em campos de refugiados e outros ambientes precários, assim como o índice de violência sexual, aponta para uma questão de desenvolvimento, “embora todos os países tenham taxas financeiras inaceitavelmente elevadas de gravidez involuntárias”.  

“É uma preocupação das mulheres, é uma crise global com custos globais, e sabemos que mais de 60% das gravidezes não intencionais terminam em aborto, que não são seguros, cruzando com os 5% a 3% de todas as mortes maternas. Isto tem um grande impacto na capacidade de o mundo alcançar o desenvolvimento sustentável e, de facto, para atingir esses objectivos temos que reduzir a gravidez indesejada”, recomendou.

A fonte, durante a sua intervenção no evento, disse ainda que milhões de mulheres ou raparigas atrasam ou interrompem a escolaridade ou abandonam a força de trabalho com impacto nos seus rendimentos de saúde e bem-estar. Estas consequências, referiu, conciliam ao longo das gerações. A gravidez não intencional custa milhões de dólares para o sistema de saúde, porque nascimentos não planeados acarretam consequências sociais, mentais e físicas negativas para saúde, além da maior vulnerabilidade de pobreza, embora nem todas as gravidezes não intencionais sejam indesejadas, havendo algumas celebradas e muitos casos deste tipo serem histórias felizes, “sem dúvidas”.

“Podemos celebrar finais felizes, ao mesmo que as julgamos, para que as mulheres possam escolher quando e com quem engravidar, porque quando a sociedade aceita a gravidez não intencional como normal, implica que as mulheres e raparigas são valorizadas apenas pelas reprodução e não pelos seus talentos e criatividades ou intelectuais”, defendeu o interlocutor, asseverando que ser “tempo de abrir a cortina, de ver o invisível”, apelando aos decisores políticos e comunitários para que dêem prioridade aos direitos das mulheres e das raparigas, para que expandam as suas escolhas, incluindo acesso universal a contraceptivos seguros eficazes e assegurem que todos os jovens, “sim, rapazes também, estejam plenamente conscientes dos riscos e meios de evitar gravidezes indesejadas”.

Ademais, Mady Biaye disse que precisamos ouvir as vozes das mulheres, compreender melhor as suas necessidades e fazer ecos dos seus apelos a igualdade. “Os líderes não devem apenas promover a igualdade de género, devem mover nas suas as acções quotidianas”, disse, lembrando que os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 apelam para o fim das necessidades não satisfeitas de contracepção, com execução da igualdade de géneros e do avanço da economia corporal”.

Sobre o relatório, o responsável da UNFPA observa que o documento destaca questões emergentes no campo da saúde e dos direitos sexuais, trazendo para os centros das instituições e explorando os desafios e oportunidades que os temas abordados apresentam para o desenvolvimento internacional.

Este ano, sob o tema “Vendo o Invisível: Em defesa da acção na negligenciada crise da gravidez não intencional”, o relatório mostra que actualmente, nos países onde existem dados disponíveis, quase um quarto de todas as mulheres é incapaz de dizer não ao sexo e tomar decisões sobre os seus próprios cuidados de saúde, quase 10% são incapazes de tomar decisões sobre contracepção, e de todas a gravidezes do mundo, quase a metade não é intencional.

Em Angola, disse o responsável, a taxa de uso dos métodos contraceptivos modernos é uma das mais baixas da região, representada com 3%, e a necessidade não satisfeita do planeamento familiar é uma das mais altas, com 8%, sendo ainda que entre as raparigas adolescentes a situação é mais preocupante, uma vez que apenas 7,6% usam contracepção moderna, enquanto 3% têm uma necessidade não satisfeita de planeamento familiar.

Como resultado, 5% das raparigas já começaram a maternidade, destacou.

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