Caneta e Papel
Hip-Hop

Novo ciclo de uma “Golden Era”. Talvez

Novo ciclo de uma “Golden Era”. Talvez
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Na cultura Hip-Hop, música Rap em concreto, a expressão “Golden Era” refere-se à uma época em que este estilo musical afirmou-se principalmente por ser contracultura, mas sobretudo pela irreverência, criatividade e espírito libertador. As letras não apenas espelhavam a intricada criatividade, mas descreviam o tempo e o espaço, os sentimentos, os afetos, a realidade social. Esse foi o tipo de rap que se deu a conhecer ao mundo entre as décadas de 80 e 90, a chamada “Golden Era”.

Como acontece no mundo moderno, expressões culturais antes marginalizadas tornam-se mainstream, populares, quer nos media, quer comercialmente falando e a música Rap entre o final dos anos 90 e início de 2000 tornou-se extremamente popular. Para afinar esse sucesso comercial com tempo de antena em rádio, o estilo também tornou-se mais comercial, mais ajustado ao gosto de uma audiência maior.

Os puristas consideram que depois de 95 ou 96 iniciou o declínio do rap centrado nas letras, no conteúdo e no posicionamento crítico em relação à realidade política e social principalmente da comunidade negra nos Estados Unidos da América.

Por um lado, a ascensão do Gangsta Rap, e por outro a ascensão do rap sulista (Crunk) e mais recentemente do Trap, desviaram a música Rap dos seus primórdios intervencionistas, desviaram a atenção das letras para o beat (embora o beat sempre tenha ocupado um lugar de destaque), as letras sempre foram o carro chefe, sendo o Rap um estilo de música em que se fala de forma cadenciada e não exactamente cantada.

Esse deslocamento do foco da letra para o beat banalizou o género e destruiu a sua força transformadora das comunidades, deixando de ser uma influência positiva para ser apenas um meio para os artistas exibirem o seu estilo de vida ou envolvimento com o crime - não que na verdade o género centrado nas letras e no Boombap tenha deixado de existir de todo, mas o investimento das maiores editoras ficou centrado no Rap mais comercial, concomitantemente menos engajado socialmente.

...não apenas jovens rappers engajados “inundaram” o cenário musical como vários grupos veteranos retornaram aos lançamentos, sendo casos de sucesso comercial em 2016, como são os exemplos de De La Soul e A Tribe Called Quest, ambos retornados de hiatos tão longos que foi uma completa surpresa para a maior parte dos fãs.

Assim foi até mais recentemente, principalmente entre artistas novos, tais como J.Cole, Joey Badass e Kendrick Lamar, o foco na letra começou a invadir o mainstream e mais recentemente, devido à mudança no clima social nos Estados Unidos da América, muitos mais artistas nunca antes conotados como “conscious rappers”, como T.I. YG e Pusha T., desenvolveram uma atenção especial às questões sociais como o racismo, a violência policial, as eleições presidenciais e o movimento “Black Lives Matter”. O engajamento social através da música não sendo nada novo no Rap ganhou um novo fôlego e exposição nos média, sendo hoje incontornável, quer no topo das tabelas de sucesso de rádio, quer em vendas (J. Cole é o melhor exemplo disso, o seu último álbum é um enorme sucesso de vendas, fugindo completamente do modelo mainstream de sucesso, de muitas participações, muitos produtores famosos e músicas centradas no beat e não nas letras).

Entretanto, não apenas jovens rappers engajados “inundaram” o cenário musical como vários grupos veteranos retornaram aos lançamentos, sendo casos de sucesso comercial em 2016, como são os exemplos de De La Soul e A Tribe Called Quest, ambos retornados de hiatos tão longos que foi uma completa surpresa para a maior parte dos fãs. Aliás, A Tribe Called Quest não lançava um álbum há dezoito anos. Pete Rock e C.L. Smooth já anunciaram que voltam enquanto grupo em 2017 e o movimento de valorização do Rap centrado nas letras continua juntando a essa tendência o sucesso comercial em termos de vendas, mas também em termos de exposição nos media não tradicionais e festivais mainstream e outros mais alternativos ou centrados no género.

As causas para essa mudança estão tanto na ascensão da internet rápida, no surgimento de blogs e sites especializados, na popularização do streaming, na sede por alternativas musicais fora do mainstream e na mudança social e política nos Estados Unidos, principalmente nos últimos dois anos, com o surgimento de mais denúncia contra a violência policial, racismo e a possível mudança de cenário na política (saída de cenário do primeiro presidente negro e possível vitória da direita nas eleições, o que se efectivou).

Será uma tendência duradoura que irá juntar novos e antigos ainda mais em 2017? Será que já atingiu o seu pico e agora irá esmorecer? A verdade é que os fãs rejubilam por ter os seus heróis de volta às luzes da ribalta e ainda por cima enviarem mensagens de elevação social e espiritual. Bem haja o bom e velho rap interventivo.

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Keita Mayanda

Na cultura Hip-Hop, música Rap em concreto, a expressão “Golden Era” refere-se à uma época em que este estilo musical afirmou-se principalmente por ser contracultura, mas sobretudo pela irreverência, criatividade e espírito libertador. As letras não apenas espelhavam a intricada criatividade, mas descreviam o tempo e o espaço, os sentimentos, os afetos, a realidade social. Esse foi o tipo de rap que se deu a conhecer ao mundo entre as décadas de 80 e 90, a chamada “Golden Era”.

Como acontece no mundo moderno, expressões culturais antes marginalizadas tornam-se mainstream, populares, quer nos media, quer comercialmente falando e a música Rap entre o final dos anos 90 e início de 2000 tornou-se extremamente popular. Para afinar esse sucesso comercial com tempo de antena em rádio, o estilo também tornou-se mais comercial, mais ajustado ao gosto de uma audiência maior.

Os puristas consideram que depois de 95 ou 96 iniciou o declínio do rap centrado nas letras, no conteúdo e no posicionamento crítico em relação à realidade política e social principalmente da comunidade negra nos Estados Unidos da América.

Por um lado, a ascensão do Gangsta Rap, e por outro a ascensão do rap sulista (Crunk) e mais recentemente do Trap, desviaram a música Rap dos seus primórdios intervencionistas, desviaram a atenção das letras para o beat (embora o beat sempre tenha ocupado um lugar de destaque), as letras sempre foram o carro chefe, sendo o Rap um estilo de música em que se fala de forma cadenciada e não exactamente cantada.

Esse deslocamento do foco da letra para o beat banalizou o género e destruiu a sua força transformadora das comunidades, deixando de ser uma influência positiva para ser apenas um meio para os artistas exibirem o seu estilo de vida ou envolvimento com o crime - não que na verdade o género centrado nas letras e no Boombap tenha deixado de existir de todo, mas o investimento das maiores editoras ficou centrado no Rap mais comercial, concomitantemente menos engajado socialmente.

...não apenas jovens rappers engajados “inundaram” o cenário musical como vários grupos veteranos retornaram aos lançamentos, sendo casos de sucesso comercial em 2016, como são os exemplos de De La Soul e A Tribe Called Quest, ambos retornados de hiatos tão longos que foi uma completa surpresa para a maior parte dos fãs.

Assim foi até mais recentemente, principalmente entre artistas novos, tais como J.Cole, Joey Badass e Kendrick Lamar, o foco na letra começou a invadir o mainstream e mais recentemente, devido à mudança no clima social nos Estados Unidos da América, muitos mais artistas nunca antes conotados como “conscious rappers”, como T.I. YG e Pusha T., desenvolveram uma atenção especial às questões sociais como o racismo, a violência policial, as eleições presidenciais e o movimento “Black Lives Matter”. O engajamento social através da música não sendo nada novo no Rap ganhou um novo fôlego e exposição nos média, sendo hoje incontornável, quer no topo das tabelas de sucesso de rádio, quer em vendas (J. Cole é o melhor exemplo disso, o seu último álbum é um enorme sucesso de vendas, fugindo completamente do modelo mainstream de sucesso, de muitas participações, muitos produtores famosos e músicas centradas no beat e não nas letras).

Entretanto, não apenas jovens rappers engajados “inundaram” o cenário musical como vários grupos veteranos retornaram aos lançamentos, sendo casos de sucesso comercial em 2016, como são os exemplos de De La Soul e A Tribe Called Quest, ambos retornados de hiatos tão longos que foi uma completa surpresa para a maior parte dos fãs. Aliás, A Tribe Called Quest não lançava um álbum há dezoito anos. Pete Rock e C.L. Smooth já anunciaram que voltam enquanto grupo em 2017 e o movimento de valorização do Rap centrado nas letras continua juntando a essa tendência o sucesso comercial em termos de vendas, mas também em termos de exposição nos media não tradicionais e festivais mainstream e outros mais alternativos ou centrados no género.

As causas para essa mudança estão tanto na ascensão da internet rápida, no surgimento de blogs e sites especializados, na popularização do streaming, na sede por alternativas musicais fora do mainstream e na mudança social e política nos Estados Unidos, principalmente nos últimos dois anos, com o surgimento de mais denúncia contra a violência policial, racismo e a possível mudança de cenário na política (saída de cenário do primeiro presidente negro e possível vitória da direita nas eleições, o que se efectivou).

Será uma tendência duradoura que irá juntar novos e antigos ainda mais em 2017? Será que já atingiu o seu pico e agora irá esmorecer? A verdade é que os fãs rejubilam por ter os seus heróis de volta às luzes da ribalta e ainda por cima enviarem mensagens de elevação social e espiritual. Bem haja o bom e velho rap interventivo.

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