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“Não pode haver fuga à maternidade, porque o filho é mais da mulher do que do homem”, aclara padre Bonifácio Tchimboto

“Não pode haver fuga à maternidade, porque o filho é mais da mulher do que do homem”, aclara padre Bonifácio Tchimboto
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Andrade Lino

O padre Bonifácio Tchimboto comentou que a realidade africana resguarda que o filho é mais da mulher do que do homem, e embora existam registos de casos de fuga à paternidade, não se pode tentar classificar a fuga à maternidade.

“Quem está a aguentar as crianças nos nossos bairros são as mulheres. A mulher é que vale, as crianças não precisam do tal pai”, disse, por ocasião da Conferência Internacional subordinada ao tema “Humanidade Pública: Pensar a Liberdade na Universidade Africana”, organizada pela Universidade Católica de Angola, no mês passado, tendo sustentado que o feminismo em África ainda é um problema sério, e por essa razão, se a mulher não for boa para a família, também não é para ninguém.

“Quando nós encontramos uma mulher africana com um pano à mão, significa que a criança que nasceu vai ser transportada ligada ao corpo da mãe com o pano. No fundo, a gestação da criança africana não é de 9 meses, é de quase três anos ou mais, o que a liga à mãe de tal modo que. Na verdade, não é que o pai e a mãe partilhem os mesmos direitos e as mesmas dignidades, é diferente”, contextualizou o líder católico, e destacou ainda a relevância da natalidade na cultura africana que considera os filhos como a propriedade mais importante de uma família.

Todavia, para ele, o que talvez cause escândalos são actos que tendem a promover a interrupção de gravidez. “O que nos escandaliza é uma tal promoção que diz que é direito da mulher libertar-se dos filhos, pois elas sabem que existem anticonceptivos, mas querem ter filhos. Se nós visitarmos a literatura africana vamos ver provérbios a confirmarem que o significado da família são os filhos.É uma questão de mentalidade e não de depravação sexual, como às vezes nós imaginamos. Nós pensamos, por causa de pensamentos feitos que neste caso se torna preconceituoso, que o filho é uma desgraça para a mulher”, afirmou.

Na sua abordagem, o também pesquisador falou da questão linguística em África, à parte em Angola, num período colonial, exortando que é preciso consciencializar os africanos para saírem das periferias para o centro sem substituir ninguém.

“A África precisa de ser a mesma e não é a alternativa para o Ocidente”, reforçou.

Entretanto, a fonte fez lembrar que, historicamente, em Angola, as línguas estavam interditas, pelo que os indígenas eram coagidos a abandonar a própria cultura para se adaptarem a tudo que fosse português, a fim de não serem hostilizados.

“Mesmo os missionários estavam proibidos de ensinar, a não ser que fosse para que o indígena entendesse alguma mensagem no texto português. Neste caso, ocorreu naturalmente que as pessoas ganharam também um certo gosto por aquilo que fosse luso: vestes, língua, cultura e religião. Eu já fui castigado por ter falado umbundu na escola. Nós tínhamos que fugir de tudo que fosse nosso, para que a única angolanidade, se calhar, fosse a da pigmentação externa da nossa pele, o resto tinha que ser branco, era o sonho do próprio angolano”, lembrou.

Ainda assim, mesmo após a independência, contou Bonifácio, os angolanos silenciaram a própria linguística. Para ele, seria de direito a oficialização regional das línguas nacionais e, por não haver isso, muitos saberes não chegam às universidades.

“Eu penso que os nossos constitucionalistas deveriam ter feito mais sobre a nossa língua. Não custa nada fazer um pouco mais, nós não precisamos determinar todas as línguas nacionais como oficiais. Eu penso que seria justiça se na zona onde só falam kimbundu houvesse português e kimbundu, pelo menos a oficialização regional das línguas, mas deste assunto ninguém se quis ocupar, e com isso se silenciaram muitos saberes que nunca chegam a nenhuma universidade, porque não são promovidos naturalmente”, lamentou.

 

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Pedro Kididi

Jornalista

O padre Bonifácio Tchimboto comentou que a realidade africana resguarda que o filho é mais da mulher do que do homem, e embora existam registos de casos de fuga à paternidade, não se pode tentar classificar a fuga à maternidade.

“Quem está a aguentar as crianças nos nossos bairros são as mulheres. A mulher é que vale, as crianças não precisam do tal pai”, disse, por ocasião da Conferência Internacional subordinada ao tema “Humanidade Pública: Pensar a Liberdade na Universidade Africana”, organizada pela Universidade Católica de Angola, no mês passado, tendo sustentado que o feminismo em África ainda é um problema sério, e por essa razão, se a mulher não for boa para a família, também não é para ninguém.

“Quando nós encontramos uma mulher africana com um pano à mão, significa que a criança que nasceu vai ser transportada ligada ao corpo da mãe com o pano. No fundo, a gestação da criança africana não é de 9 meses, é de quase três anos ou mais, o que a liga à mãe de tal modo que. Na verdade, não é que o pai e a mãe partilhem os mesmos direitos e as mesmas dignidades, é diferente”, contextualizou o líder católico, e destacou ainda a relevância da natalidade na cultura africana que considera os filhos como a propriedade mais importante de uma família.

Todavia, para ele, o que talvez cause escândalos são actos que tendem a promover a interrupção de gravidez. “O que nos escandaliza é uma tal promoção que diz que é direito da mulher libertar-se dos filhos, pois elas sabem que existem anticonceptivos, mas querem ter filhos. Se nós visitarmos a literatura africana vamos ver provérbios a confirmarem que o significado da família são os filhos.É uma questão de mentalidade e não de depravação sexual, como às vezes nós imaginamos. Nós pensamos, por causa de pensamentos feitos que neste caso se torna preconceituoso, que o filho é uma desgraça para a mulher”, afirmou.

Na sua abordagem, o também pesquisador falou da questão linguística em África, à parte em Angola, num período colonial, exortando que é preciso consciencializar os africanos para saírem das periferias para o centro sem substituir ninguém.

“A África precisa de ser a mesma e não é a alternativa para o Ocidente”, reforçou.

Entretanto, a fonte fez lembrar que, historicamente, em Angola, as línguas estavam interditas, pelo que os indígenas eram coagidos a abandonar a própria cultura para se adaptarem a tudo que fosse português, a fim de não serem hostilizados.

“Mesmo os missionários estavam proibidos de ensinar, a não ser que fosse para que o indígena entendesse alguma mensagem no texto português. Neste caso, ocorreu naturalmente que as pessoas ganharam também um certo gosto por aquilo que fosse luso: vestes, língua, cultura e religião. Eu já fui castigado por ter falado umbundu na escola. Nós tínhamos que fugir de tudo que fosse nosso, para que a única angolanidade, se calhar, fosse a da pigmentação externa da nossa pele, o resto tinha que ser branco, era o sonho do próprio angolano”, lembrou.

Ainda assim, mesmo após a independência, contou Bonifácio, os angolanos silenciaram a própria linguística. Para ele, seria de direito a oficialização regional das línguas nacionais e, por não haver isso, muitos saberes não chegam às universidades.

“Eu penso que os nossos constitucionalistas deveriam ter feito mais sobre a nossa língua. Não custa nada fazer um pouco mais, nós não precisamos determinar todas as línguas nacionais como oficiais. Eu penso que seria justiça se na zona onde só falam kimbundu houvesse português e kimbundu, pelo menos a oficialização regional das línguas, mas deste assunto ninguém se quis ocupar, e com isso se silenciaram muitos saberes que nunca chegam a nenhuma universidade, porque não são promovidos naturalmente”, lamentou.

 

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