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João Lourenço “nunca vai ser um novo José Eduardo dos Santos”, afirma politólogo

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A transição política de Angola esteve, esta terça-feira, em debate, em Paris, e uma das afirmações evocadas foi que o novo Presidente, João Lourenço, “nunca vai ser um novo José Eduardo dos Santos”.

 A declaração foi feita por Ricardo Soares de Oliveira, professor de Ciência Política na Universidade de Oxford, durante o colóquio “Angola 2017: A hegemonia do MPLA à prova das urnas”.  Em declarações à Lusa e RFI, no final da mesa redonda, o especialista defendeu que mesmo que “isto pareça uma transição – antes de mais interna dentro do próprio MPLA, o resultado não deixa de ser revolucionário”.

“Não, ele nunca vai ser um novo José Eduardo dos Santos”, considerou o politólogo, começando por lembrar que o ex-presidente “construiu um poder discricionário muito significativo”, no qual apesar de haver um aparelho de Estado, uma administração pública e um partido no poder, “muitas das decisões estavam concentradas na pessoa do presidente”.

“João Lourenço não vai poder exercer o poder da mesma forma, não só pelas razões que já mencionámos, o poder que se mantém por parte da família dos Santos e dos interesses do Império Dos Santos, mas também isto é um ponto importante de enfatizar por parte dos aliados do próprio João Lourenço que não querem que ele seja o novo José Eduardo dos Santos”, argumentou.

De acordo com Dinheiro Vivo, Ricardo Soares de Oliveira sustentou que os aliados de João Lourenço “querem alguém que substitua José Eduardo dos Santos mas que não exerça o poder da mesma forma”, argumentando que o ex-chefe de Estado teve “uma política relativamente generosa em que foi permitido a muita gente enriquecer”, mas que o poder político estava concentrado na Presidência e não disperso pelo MPLA.

“Estes barões do partido já têm o dinheiro e agora querem ter o poder que não tiveram. Não estou a dizer que o Presidente não vai ter importância. A Constituição angolana é muito presidencialista. O Presidente João Lourenço não é um peso pluma, é uma pessoa com credibilidade dentro do partido, dentro das Forças Armadas e, por conseguinte, vai exercer o poder. Mas, sem dúvida, exercerá o poder de forma diferente e de forma menos discricionária”, considerou.

O professor indicou, também, que há “decisões tomadas à última hora” que “imobilizam ou, de algum modo, limitam o espaço de manobra do presidente”, tanto ao nível de chefias militares, como “ao nível de nomeações para alguns bancos, para algumas posições-chave no aparelho de Estado e na economia angolana”.

Ricardo Soares de Oliveira acrescentou que a companhia petrolífera Sonangol, chefiada pela filha de José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos, “nunca foi um contrapoder, foi sempre uma arma nas mãos do Presidente”, questionando como é que a empresa vai passar a ser vista durante a presidência de João Lourenço. “Do ponto de vista da relação pessoal entre João Lourenço e Isabel dos Santos – especulo – haverá uma química complexa a gerir. Mas, para além disso, aos olhos do público angolano e dos observadores internacionais, arrisca-se a criar a perceção de que existem dois poderes em Angola: a companhia nacional petrolífera e a presidência”, declarou.

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Redacção

A transição política de Angola esteve, esta terça-feira, em debate, em Paris, e uma das afirmações evocadas foi que o novo Presidente, João Lourenço, “nunca vai ser um novo José Eduardo dos Santos”.

 A declaração foi feita por Ricardo Soares de Oliveira, professor de Ciência Política na Universidade de Oxford, durante o colóquio “Angola 2017: A hegemonia do MPLA à prova das urnas”.  Em declarações à Lusa e RFI, no final da mesa redonda, o especialista defendeu que mesmo que “isto pareça uma transição – antes de mais interna dentro do próprio MPLA, o resultado não deixa de ser revolucionário”.

“Não, ele nunca vai ser um novo José Eduardo dos Santos”, considerou o politólogo, começando por lembrar que o ex-presidente “construiu um poder discricionário muito significativo”, no qual apesar de haver um aparelho de Estado, uma administração pública e um partido no poder, “muitas das decisões estavam concentradas na pessoa do presidente”.

“João Lourenço não vai poder exercer o poder da mesma forma, não só pelas razões que já mencionámos, o poder que se mantém por parte da família dos Santos e dos interesses do Império Dos Santos, mas também isto é um ponto importante de enfatizar por parte dos aliados do próprio João Lourenço que não querem que ele seja o novo José Eduardo dos Santos”, argumentou.

De acordo com Dinheiro Vivo, Ricardo Soares de Oliveira sustentou que os aliados de João Lourenço “querem alguém que substitua José Eduardo dos Santos mas que não exerça o poder da mesma forma”, argumentando que o ex-chefe de Estado teve “uma política relativamente generosa em que foi permitido a muita gente enriquecer”, mas que o poder político estava concentrado na Presidência e não disperso pelo MPLA.

“Estes barões do partido já têm o dinheiro e agora querem ter o poder que não tiveram. Não estou a dizer que o Presidente não vai ter importância. A Constituição angolana é muito presidencialista. O Presidente João Lourenço não é um peso pluma, é uma pessoa com credibilidade dentro do partido, dentro das Forças Armadas e, por conseguinte, vai exercer o poder. Mas, sem dúvida, exercerá o poder de forma diferente e de forma menos discricionária”, considerou.

O professor indicou, também, que há “decisões tomadas à última hora” que “imobilizam ou, de algum modo, limitam o espaço de manobra do presidente”, tanto ao nível de chefias militares, como “ao nível de nomeações para alguns bancos, para algumas posições-chave no aparelho de Estado e na economia angolana”.

Ricardo Soares de Oliveira acrescentou que a companhia petrolífera Sonangol, chefiada pela filha de José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos, “nunca foi um contrapoder, foi sempre uma arma nas mãos do Presidente”, questionando como é que a empresa vai passar a ser vista durante a presidência de João Lourenço. “Do ponto de vista da relação pessoal entre João Lourenço e Isabel dos Santos – especulo – haverá uma química complexa a gerir. Mas, para além disso, aos olhos do público angolano e dos observadores internacionais, arrisca-se a criar a perceção de que existem dois poderes em Angola: a companhia nacional petrolífera e a presidência”, declarou.

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