Entrevista
Pérola

"Já fiquei triste e abalada por causa da maldade e certos comentários das pessoas"

"Já fiquei triste e abalada por causa da maldade e certos comentários das pessoas"
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Os títulos dos seus álbuns um significado pessoal subjacente. Um deles intitula-se “Meus sentimentos” e agora este, “Mais de mim”. Qual é a razão para estas escolhas?

O meu primeiro álbum chama-se “Os meus sentimentos”, o qual eu trato como meu primeiro bebê, meu grande lance de partida, um álbum que no qual trabalhei com muito carinho e muita supervisão por parte do Heavy C. Foi meu produtor na altura e é até hoje. Basicamente foi um trabalho mútuo, mas 70% era mais o Heavy C a tentar buscar em mim aquilo que eu queria cantar, apresentar em termos musicais, e o título do álbum surge não simplesmente no sentido de música, mas também reflectia a vontade que eu tinha de mostrar o meu talento, de cantar sobre Angola porque na altura estávamos na Cidade do Cabo, África do Sul, e queríamos também espelhar no álbum a saudade dos familiares, então, eram sentimentos jogados no CD. Seguiu-se o álbum “Cara e Coroa”, embora o Heavy C tenha posto as mãos neste trabalho por ser o produtor, a partir deste eu já pude ter uma certa independência no que toca a abordagem das músicas. Apoio que as pessoas tenham de transmitir sempre uma mensagem positiva com as suas músicas, procurar trazer uma melhoria à vida das pessoas com aquilo que elas vão ouvir. Neste álbum já havia muito mais de mim, a minha supervisão, os meus gostos, retratei factos da minha essência, faço menção à música “Mboyo”, que é uma das músicas folclóricas que a minha mãe e avó costumavam a cantar. No fundo eu queria mesmo é que as pessoas se identificassem já com a minha música. Já o “Mais de mim” nasceu num período diferente da minha vida, o período pós-mãe. A forma de cantar e a entrega é outra e o tempo que fiquei ausente dos palcos fez com que eu voltasse com muito mais criatividade. E neste álbum o Heavy C deu-me a oportunidade de trabalhar com artistas que muito respeito e admiro, como o Anselmo Ralph, Matias Damásio, Iveth Sangalo e Punidor. Queria ter um pouco deles neste CD e consegui. Editei-o recentemente pela primeira vez em Portugal e inclui algumas músicas antigas, como o “Presta atenção”, músicas que eles já conhecem.

 

Como é que conhece o Heavy C?

Conheci o Heavy C por intermédio de um amigo que nós tínhamos em comum. Infelizmente este já é falecido. Ao aperceber-se do meu gosto pela música e em diferentes estilos musicais, e a minha intensa vontade de querer gravar um CD, sugeriu-me o Heavy C como produtor. Conheci o Heavy C e fui reparando para a maneira como ele compunha as suas músicas e a capacidade de desenvolver qualquer tema. Fiquei convencida de que era ele a pessoa com quem eu queria trabalhar.

Ficou muito conhecida pela música "break it", que é um R&B, mas no “Cara e Coroa” identificou-se mais com a Kizomba. O que gerou esta mudança?

Eu lancei o meu primeiro CD na época em que o Hip-Hop era o estilo predominante. Faço menção de músicos como Marita Vênus, Paulo Pascoal e de grupos como os Kalibrados e a Army Squad. Mas desde que eu me sinta bem, eu canto seja que estilo for. E quando eu lancei o “Cara e Coroa” era a kizomba que estava no auge, mas havia músicas R&B no álbum.

Pérola foi uma das integrantes do Projecto Team de Sonho Vol II

Como é que consegue conciliar agora a mãe e cantora?

Como todas as mães eu também passo pelo processo de ter que acordar cedo e fazer inúmeros sacrifícios. Embora seja difícil, procuro sempre um ponto de equilíbrio que me possibilite continuar com o meu trabalho. Afinal, a vida anda.

Visto que o mundo de showbiz é bastante cansativo, há algum momento que tenha vivido que fez com que pensasse em recuar?

Já fiquei triste e abalada por causa da maldade e certos comentários das pessoas, mas acho que é necessário passarmos por estas situações para que amadureçamos. Saber ignorar tudo isto para que não nos afecte.

Eu até poderia muito bem ter optado em fazer música ao invés de Direito, mas por não termos escolas do gênero na altura não estudei música. E isto é errado porque a música é uma profissão. Quem gosta de música deve acreditar em si e estudar música.

A formação em Direito ajuda a posicionar-se em casos de negócios e contractos?

Ajuda-me bastante, não deixei o meu curso totalmente de lado e lembro-me com muita saudade e carinho dos meus tempos de estudante. Na altura, de forma alguma queria estudar Direito. Sempre tive uma paixão pela medicina.

Foi fácil ter estudado Direito em inglês, considerando que o nosso sistema legal é inspirado no de Portugal?

Por mais que haja diferença do Direito entre países, duma forma geral sabemos o que é o Direito. É tratar dos deveres, saber o que é bom, o que é mau e das penalizações. No fundo só ajudou – me é a fazer um upgrade a nível do inglês, até porque a ausência do português não foi muito relevante.

Pelo tempo que tem carreira musical, sente esta preocupação por parte dos novos artistas, não só de formação artística mas também académica como tal?

Isto é muito relativo. Creio que isto parte da fraca formação académica que o nosso país oferece. Eu até poderia muito bem ter optado em fazer música ao invés de Direito, mas por não termos escolas do gênero na altura não estudei música. E isto é errado porque a música é uma profissão. Quem gosta de música deve acreditar em si e estudar música.

Como todas as mães eu também passo pelo processo de ter que acordar cedo e fazer inúmeros sacrifícios. Embora seja difícil, procuro sempre um ponto de equilíbrio que me possibilite continuar com o meu trabalho. Afinal, a vida anda.

Está a apostar na sua internacionalização, e numa recente entrevista a Vivo, revista da TV Cabo, a Pérola diz que a Música Angolana já não cabe apenas em Angola. O que tem a dizer acerca disso?

Digo isto porque o mundo está curioso em saber mais sobre Angola e as pessoas vêem-nos com um certo apreço. Além do nosso povo e da nossa cultura, a música é uma particularidade que deixa as pessoas do mundo afora com uma certa ansiedade em conhecer-nos mais a fundo. Temos artistas como o Kota Bonga que já é conhecido internacionalmente, e o mundo espera mais de Angola. Razão pela qual digo que nós não cabemos apenas aqui.

Os pequenos eventos fazem alguma diferença na receita dos músicos?

Isto ajuda-nos bastantes. Este é o nosso trabalho, nosso ganha-pão e é também uma forma de promovermos-nos, seja em casamentos, aniversários ou festas de empresas. É também uma maneira de mostrarmos a nossa cultura, alegrar as pessoas.

Quais são os seus projectos futuros?

Existem muitos ainda por ser agendados. Mas pretendo espalhar a alegria da música por Angola e acima de tudo é este o meu dever como artista. Tocar o coração das pessoas.

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Sebastião Vemba

Fundador e Director Editorial do ONgoma News

Jornalista, apaixonado pela escrita, fotografia e artes visuais. Tem interesses nas novas medias, formação e desenvolvimento comunitário.

Os títulos dos seus álbuns um significado pessoal subjacente. Um deles intitula-se “Meus sentimentos” e agora este, “Mais de mim”. Qual é a razão para estas escolhas?

O meu primeiro álbum chama-se “Os meus sentimentos”, o qual eu trato como meu primeiro bebê, meu grande lance de partida, um álbum que no qual trabalhei com muito carinho e muita supervisão por parte do Heavy C. Foi meu produtor na altura e é até hoje. Basicamente foi um trabalho mútuo, mas 70% era mais o Heavy C a tentar buscar em mim aquilo que eu queria cantar, apresentar em termos musicais, e o título do álbum surge não simplesmente no sentido de música, mas também reflectia a vontade que eu tinha de mostrar o meu talento, de cantar sobre Angola porque na altura estávamos na Cidade do Cabo, África do Sul, e queríamos também espelhar no álbum a saudade dos familiares, então, eram sentimentos jogados no CD. Seguiu-se o álbum “Cara e Coroa”, embora o Heavy C tenha posto as mãos neste trabalho por ser o produtor, a partir deste eu já pude ter uma certa independência no que toca a abordagem das músicas. Apoio que as pessoas tenham de transmitir sempre uma mensagem positiva com as suas músicas, procurar trazer uma melhoria à vida das pessoas com aquilo que elas vão ouvir. Neste álbum já havia muito mais de mim, a minha supervisão, os meus gostos, retratei factos da minha essência, faço menção à música “Mboyo”, que é uma das músicas folclóricas que a minha mãe e avó costumavam a cantar. No fundo eu queria mesmo é que as pessoas se identificassem já com a minha música. Já o “Mais de mim” nasceu num período diferente da minha vida, o período pós-mãe. A forma de cantar e a entrega é outra e o tempo que fiquei ausente dos palcos fez com que eu voltasse com muito mais criatividade. E neste álbum o Heavy C deu-me a oportunidade de trabalhar com artistas que muito respeito e admiro, como o Anselmo Ralph, Matias Damásio, Iveth Sangalo e Punidor. Queria ter um pouco deles neste CD e consegui. Editei-o recentemente pela primeira vez em Portugal e inclui algumas músicas antigas, como o “Presta atenção”, músicas que eles já conhecem.

 

Como é que conhece o Heavy C?

Conheci o Heavy C por intermédio de um amigo que nós tínhamos em comum. Infelizmente este já é falecido. Ao aperceber-se do meu gosto pela música e em diferentes estilos musicais, e a minha intensa vontade de querer gravar um CD, sugeriu-me o Heavy C como produtor. Conheci o Heavy C e fui reparando para a maneira como ele compunha as suas músicas e a capacidade de desenvolver qualquer tema. Fiquei convencida de que era ele a pessoa com quem eu queria trabalhar.

Ficou muito conhecida pela música "break it", que é um R&B, mas no “Cara e Coroa” identificou-se mais com a Kizomba. O que gerou esta mudança?

Eu lancei o meu primeiro CD na época em que o Hip-Hop era o estilo predominante. Faço menção de músicos como Marita Vênus, Paulo Pascoal e de grupos como os Kalibrados e a Army Squad. Mas desde que eu me sinta bem, eu canto seja que estilo for. E quando eu lancei o “Cara e Coroa” era a kizomba que estava no auge, mas havia músicas R&B no álbum.

Pérola foi uma das integrantes do Projecto Team de Sonho Vol II

Como é que consegue conciliar agora a mãe e cantora?

Como todas as mães eu também passo pelo processo de ter que acordar cedo e fazer inúmeros sacrifícios. Embora seja difícil, procuro sempre um ponto de equilíbrio que me possibilite continuar com o meu trabalho. Afinal, a vida anda.

Visto que o mundo de showbiz é bastante cansativo, há algum momento que tenha vivido que fez com que pensasse em recuar?

Já fiquei triste e abalada por causa da maldade e certos comentários das pessoas, mas acho que é necessário passarmos por estas situações para que amadureçamos. Saber ignorar tudo isto para que não nos afecte.

Eu até poderia muito bem ter optado em fazer música ao invés de Direito, mas por não termos escolas do gênero na altura não estudei música. E isto é errado porque a música é uma profissão. Quem gosta de música deve acreditar em si e estudar música.

A formação em Direito ajuda a posicionar-se em casos de negócios e contractos?

Ajuda-me bastante, não deixei o meu curso totalmente de lado e lembro-me com muita saudade e carinho dos meus tempos de estudante. Na altura, de forma alguma queria estudar Direito. Sempre tive uma paixão pela medicina.

Foi fácil ter estudado Direito em inglês, considerando que o nosso sistema legal é inspirado no de Portugal?

Por mais que haja diferença do Direito entre países, duma forma geral sabemos o que é o Direito. É tratar dos deveres, saber o que é bom, o que é mau e das penalizações. No fundo só ajudou – me é a fazer um upgrade a nível do inglês, até porque a ausência do português não foi muito relevante.

Pelo tempo que tem carreira musical, sente esta preocupação por parte dos novos artistas, não só de formação artística mas também académica como tal?

Isto é muito relativo. Creio que isto parte da fraca formação académica que o nosso país oferece. Eu até poderia muito bem ter optado em fazer música ao invés de Direito, mas por não termos escolas do gênero na altura não estudei música. E isto é errado porque a música é uma profissão. Quem gosta de música deve acreditar em si e estudar música.

Como todas as mães eu também passo pelo processo de ter que acordar cedo e fazer inúmeros sacrifícios. Embora seja difícil, procuro sempre um ponto de equilíbrio que me possibilite continuar com o meu trabalho. Afinal, a vida anda.

Está a apostar na sua internacionalização, e numa recente entrevista a Vivo, revista da TV Cabo, a Pérola diz que a Música Angolana já não cabe apenas em Angola. O que tem a dizer acerca disso?

Digo isto porque o mundo está curioso em saber mais sobre Angola e as pessoas vêem-nos com um certo apreço. Além do nosso povo e da nossa cultura, a música é uma particularidade que deixa as pessoas do mundo afora com uma certa ansiedade em conhecer-nos mais a fundo. Temos artistas como o Kota Bonga que já é conhecido internacionalmente, e o mundo espera mais de Angola. Razão pela qual digo que nós não cabemos apenas aqui.

Os pequenos eventos fazem alguma diferença na receita dos músicos?

Isto ajuda-nos bastantes. Este é o nosso trabalho, nosso ganha-pão e é também uma forma de promovermos-nos, seja em casamentos, aniversários ou festas de empresas. É também uma maneira de mostrarmos a nossa cultura, alegrar as pessoas.

Quais são os seus projectos futuros?

Existem muitos ainda por ser agendados. Mas pretendo espalhar a alegria da música por Angola e acima de tudo é este o meu dever como artista. Tocar o coração das pessoas.

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