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“Há um aspecto de formação geral que, infelizmente, enferma a nossa sociedade”, considera Filipe Zau

“Há um aspecto de formação geral que, infelizmente, enferma a nossa sociedade”, considera Filipe Zau
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Andrade Lino

O académico angolano Filipe Zau afirmou que há um aspecto de formação geral que, infelizmente, enferma a nossa sociedade, que é “estarmos mais preocupados com a certificação e menos com as competências”.

O docente reagiu a uma questão relacionada ao nível académico dos jornalistas, durante a 2ª edição do Exec. Talk, um evento de debates realizado pela Academia BAI, subordinada ao tema “Comunicação, o IV Poder?”, onde foi convidado, tendo apreciado que, ao que parece, a certificação resolve todos os problemas, quando, “na prática, o que se deve fazer não se faz”.

“Pensar num bom jornalista é pensar na sua lógica de saber fazer e saber situar-se, se do ponto de vista epistemológico tem ou não conhecimento da matéria, o saber fazer pragmático, elaborar uma notícia, fazer um comunicado e com ética. O que acontece é que esse conjunto de competências nem sempre joga. Às vezes, a pessoa é influenciada por outros tipos de mecanismos que o desviam da sua rota de profissão”, argumentou Filipe Zau, e acrescentou que há também a questão dos pré-requisitos de formação como elemento causador dessa deficiência profissional, afirmando que o ensino superior vale muito pouco em termos de competências.

“O grande chapéu quase nada diz. Depois vão fazendo mestrados, doutoramentos, várias formações para frente, que o que parece depois é que estão a fugir para frente. O problema está na base: ensino primário difícil, 20 mil alunos podem estar fora do sistema educativo...”, deplorou.

O também poeta, músico e compositor, que defende que um jornalista tem que ser um homem de cultura, observou que, se não há cultura, não como formar porque não há referências nem como analisar nada.

Além disso, disse que o outro aspecto no qual os jornalistas têm pecado é o domínio da língua. “Quem comunica tem que comunicar bem e no contexto, senão distorce a informação. Portanto, a aprendizagem da língua portuguesa é importantíssima, porque muitas das deficiências que temos de formação na comunicação têm a ver com a falta de saber comunicar na língua de escolaridade e na língua oficial, que deveríamos aprender. Quando criamos esse complexo à volta da língua portuguesa, porque no fundo a língua não tem dono, não nos conseguimos comunicar devidamente”, realçou o convidado.

Sobre a neutralidade e ética jornalística, o ainda colaborador do Jornal de Angola e Jornal Cultura entende que o jornalista transmite aquilo que sente, de acordo com a sua vivência e a forma como vê as coisas, porém, “hoje em dia, em tempo de mundialização da economia, onde tudo se mistura e gira à volta do talk show, é necessário que consigamos separar a futilidade da utilidade”.

“Se conseguirmos fazer esse processo de destrinça no consumo de informação, talvez consigamos sobreviver a tudo isso. A minha opinião insere-se num contexto onde tudo tem valor económico. Ou seja, se conseguirmos analisar todo esse conjunto de variantes, do ponto de vista sistémico, e enquadrá-lo na questão da sobrevivência, nos tempos de hoje, vamos ter a necessidade nos educarmos para o consumo, como já o fazemos quanto à comida, mas agora quanto à informação, para não nos intoxicarmos”, finalizou.

O jornalista Gustavo Costa foi o outro convidado do encontro, moderado pelo professor José Octávio Van-Dúnem.

 

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O académico angolano Filipe Zau afirmou que há um aspecto de formação geral que, infelizmente, enferma a nossa sociedade, que é “estarmos mais preocupados com a certificação e menos com as competências”.

O docente reagiu a uma questão relacionada ao nível académico dos jornalistas, durante a 2ª edição do Exec. Talk, um evento de debates realizado pela Academia BAI, subordinada ao tema “Comunicação, o IV Poder?”, onde foi convidado, tendo apreciado que, ao que parece, a certificação resolve todos os problemas, quando, “na prática, o que se deve fazer não se faz”.

“Pensar num bom jornalista é pensar na sua lógica de saber fazer e saber situar-se, se do ponto de vista epistemológico tem ou não conhecimento da matéria, o saber fazer pragmático, elaborar uma notícia, fazer um comunicado e com ética. O que acontece é que esse conjunto de competências nem sempre joga. Às vezes, a pessoa é influenciada por outros tipos de mecanismos que o desviam da sua rota de profissão”, argumentou Filipe Zau, e acrescentou que há também a questão dos pré-requisitos de formação como elemento causador dessa deficiência profissional, afirmando que o ensino superior vale muito pouco em termos de competências.

“O grande chapéu quase nada diz. Depois vão fazendo mestrados, doutoramentos, várias formações para frente, que o que parece depois é que estão a fugir para frente. O problema está na base: ensino primário difícil, 20 mil alunos podem estar fora do sistema educativo...”, deplorou.

O também poeta, músico e compositor, que defende que um jornalista tem que ser um homem de cultura, observou que, se não há cultura, não como formar porque não há referências nem como analisar nada.

Além disso, disse que o outro aspecto no qual os jornalistas têm pecado é o domínio da língua. “Quem comunica tem que comunicar bem e no contexto, senão distorce a informação. Portanto, a aprendizagem da língua portuguesa é importantíssima, porque muitas das deficiências que temos de formação na comunicação têm a ver com a falta de saber comunicar na língua de escolaridade e na língua oficial, que deveríamos aprender. Quando criamos esse complexo à volta da língua portuguesa, porque no fundo a língua não tem dono, não nos conseguimos comunicar devidamente”, realçou o convidado.

Sobre a neutralidade e ética jornalística, o ainda colaborador do Jornal de Angola e Jornal Cultura entende que o jornalista transmite aquilo que sente, de acordo com a sua vivência e a forma como vê as coisas, porém, “hoje em dia, em tempo de mundialização da economia, onde tudo se mistura e gira à volta do talk show, é necessário que consigamos separar a futilidade da utilidade”.

“Se conseguirmos fazer esse processo de destrinça no consumo de informação, talvez consigamos sobreviver a tudo isso. A minha opinião insere-se num contexto onde tudo tem valor económico. Ou seja, se conseguirmos analisar todo esse conjunto de variantes, do ponto de vista sistémico, e enquadrá-lo na questão da sobrevivência, nos tempos de hoje, vamos ter a necessidade nos educarmos para o consumo, como já o fazemos quanto à comida, mas agora quanto à informação, para não nos intoxicarmos”, finalizou.

O jornalista Gustavo Costa foi o outro convidado do encontro, moderado pelo professor José Octávio Van-Dúnem.

 

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