Arte e Cultura
Efeméride

Fotografia em Angola – Um mercado que cresce timidamente

Fotografia em Angola – Um mercado que cresce timidamente
Foto por:
vídeo por:
DR

Hoje é o Dia Mundial da Fotografia, comemoração que acontece anualmente a 19 de Agosto, desde 1839, a propósito dessa profissão que serve para criar recordações e eternizar os momentos.

Entretanto, questiona-se o que os profissionais da área têm feito, a nível nacional, em prol do crescimento e conservação desse mercado, como as galerias e produtores de arte intervêm nesse ramo de actividade e o que representa afinal, para nós, a fotografia.

De acordo com o fotógrafo Ted Yasunari, a  fotografia em Angola cresceu muito e deixou de ser um mercado de expatriados, tanto em qualidade como em quantidade de profissionais.

Mas no seu entender, embora se utilizem as redes sociais para a promoção dos trabalhos, a existência de poucos sites para essa divulgação, às vezes até para empresas antigas e grandes de outros sectores, é um indicador negativo, pois “em Angola há uma grande diversidade de estilos e de áreas para a fotografia”.

Outra limitação, segundo Ted, é a dificuldade para registar um empreendimento. Ou seja, não há incentivos. Logo, a maioria prefere nem ter a capacidade de passar facturas, uma vez que não são muito solicitadas, “mas o crescimento é exponencial e até óbvio, sendo que há cada vez mais fotógrafos e fotógrafos bons. Acabou o monopólio de antes.”

O fotojornalista Jacinto Figueiredo, outro interveniente, partilha da ideia que a fotografia no mercado angolano teve um crescimento grande, isso na última década, com a transição do analógico para o digital, que exigiu mais dos profissionais, tendo a obrigação de fazer mais formações com especialistas de outras realidades do mundo.

Porém, também sente que “ainda que podemos fazer mais, porque são poucos os fotógrafos que vivem apenas da fotografia”.

Em Angola, disse, o mercado ainda precisa crescer mais para que os profissionais da fotografia possam viver do seu trabalho. O número de plantaformas de promoção de fotografia ainda é muito fraco, “precisamos de mais e mais, o que fará com que a fotografia seja mais valorizada no mercado.”

Disse, em entrevista ao ONgoma News, que precisamos de mais jornais, revistas, sites, exposições, empresas como bancos, etc, para ajudar no crescimento do profissional e da fotografia em simultâneo, e sublinhou que os poucos prifissionais que conseguem expor seus trabalhos, muitos não conseguem vender as suas obras, pois não basta apenas expor, importa fazer com que as obras expostas sejam de qualidade e que sejam vendidas para a satisfação do autor.

Adiante, Dominick Tanner, director do Espaço Luanda Arte (ELA), declarou que a galeria que dirige tem feito todo um esforço no sentido de educar o público nacional a conhecer e a gostar mais de fotografia, uma forma de este meio também entrar, cada vez mais, no programa habitual do ELA e outros espaços culturais, não só em Luanda, mas um pouco por toda Angola.

Citou, como exemplo, que “até 2019, o ELA realizou oito edições anuais do ´Vidrul Fotografia´, um projecto de fotografia experimental, único em Angola e que vive graças ao apoio da ´Vidrul - a Vidreira de Angola´, e produção da AM-Arte”.

Nessa iniciativa, são convidados a cada ano 4 fotógrafos angolanos, desde António Ole à Keyezua, a Délio Jasse, passando por Sergio Afonso, Hugo Salvaterra, ainda por Nguxi dos Santos, até Sebastião Vemba, Djelsa Ariana e mesmo Toty Sa´med, para falar em alguns noomes. Ao todo, já participaram neste projecto mais de 30 fotógrafos angolanos, alguns conhecidos e outros mais anónimos.

Havia para o ano de 2020 o desejo de realizar a 9ª edição do ´Vidrul Fotografia´, revelou Dominick, mas teve que se adiar para 2021, pelas razões conhecidas por todos.

Em simultâneo, continuou, toda esta experiência com a Vidrul permitiu criar um projecto paralelo de nome ´Vidrul Convida´, em que nos últimos quatro anos, até 2019, convidou-se um fotógrafo pan-africano por ano a expor a sua arte em Angola.

“Na primeira edição, participou Mário Macilau, de Moçambique, na segunda, o congolês Baudouin Mouanda, na terceira o sul-Africano Sabelo Mlangeni e na quarta o são-tomense René Tavares. Em comum, foram as suas primeiras mostras em Angola. Teria sido em 2020, mas a quinta edição será em 2021”, reforçou.

Entretanto, para o galerista, “o resultado tem sido motivador porque existem cada vez mais clientes a quererem comprar fotografias por parte de artistas nacionais - o que é positivo”.

Ao mesmo tempo, referiu, se o ensino das artes plásticas fosse obrigatório na escola, se tivéssemos manuais escolares apropriados, só o facto de a população ter cada vez mais acesso a smartphones que tiram fotografias com qualidade e postarem as mesmas nas suas redes sociais poderia ser um factor catalisador para o fomento do consumo da fotografia.

“Mas temos que fazer muito mais, de forma que a fotografia ganhe força nas artes plásticas: expor ainda mais, educar ainda mais, de forma a crescer ainda mais”, frisou.

A Galeria Tamar Golan, da Fundação Arte e Cultura, por seu turno, tem uma agenda de exposição mensalmente. Para este ano, estava agendada uma exposição de fotografia do artista Luís Damião, mas teve que se redefinir devido ao contexto que o país e o mundo vivem, e assim fica adiada para 2021.

O espaço, que está a preparar uma exposição online para o final deste ano, do jovem fotógrafo César Santos, de acordo com Xavier Narciso, director da Área Social da instituição, no passado, recebia muitas solicitações para expor fotografias. Mas de um tempo a esta parte, o número de artistas fotógrafos, principalmente jovens, que procura expor ali as suas obras, é grande.

O maior objectivo da fundação é promover e divulgar as artes em todas as vertentes e a fotografia não está de parte, disse Xavier.

“Desde 19 de Agosto 1839 que a fotografia é um presente “grátis para o mundo. Na verdade foi um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”, expressou, tendo continuado que,  obviamente, a introdução da tecnologia digital tem modificado drasticamente os paradigmas que norteiam o mundo fotográfico.

Segundo o também galerista, a Tamar Golan tem feito esforços para acompanhar o progresso desta como as outras artes em lupa. Contudo, finalizou o responsável, não existem palavras para descrever o que simboliza a experiência de se conservar um momento numa imagem.

Recorde-se que o Dia Mundial da Fotografia tem origem na invenção do daguerreótipo, um processo fotográfico desenvolvido por Louis Daguerre (1787-1851), em 1837.

Mais tarde, em Janeiro de 1839, a Academia Francesa de Ciências anunciou a invenção do daguerreótipo e, a 19 de Agosto do mesmo ano, o Governo francês considerou a invenção de Daguerre como sendo um presente “grátis para o mundo”.

Destaque

No items found.

6galeria

Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

Hoje é o Dia Mundial da Fotografia, comemoração que acontece anualmente a 19 de Agosto, desde 1839, a propósito dessa profissão que serve para criar recordações e eternizar os momentos.

Entretanto, questiona-se o que os profissionais da área têm feito, a nível nacional, em prol do crescimento e conservação desse mercado, como as galerias e produtores de arte intervêm nesse ramo de actividade e o que representa afinal, para nós, a fotografia.

De acordo com o fotógrafo Ted Yasunari, a  fotografia em Angola cresceu muito e deixou de ser um mercado de expatriados, tanto em qualidade como em quantidade de profissionais.

Mas no seu entender, embora se utilizem as redes sociais para a promoção dos trabalhos, a existência de poucos sites para essa divulgação, às vezes até para empresas antigas e grandes de outros sectores, é um indicador negativo, pois “em Angola há uma grande diversidade de estilos e de áreas para a fotografia”.

Outra limitação, segundo Ted, é a dificuldade para registar um empreendimento. Ou seja, não há incentivos. Logo, a maioria prefere nem ter a capacidade de passar facturas, uma vez que não são muito solicitadas, “mas o crescimento é exponencial e até óbvio, sendo que há cada vez mais fotógrafos e fotógrafos bons. Acabou o monopólio de antes.”

O fotojornalista Jacinto Figueiredo, outro interveniente, partilha da ideia que a fotografia no mercado angolano teve um crescimento grande, isso na última década, com a transição do analógico para o digital, que exigiu mais dos profissionais, tendo a obrigação de fazer mais formações com especialistas de outras realidades do mundo.

Porém, também sente que “ainda que podemos fazer mais, porque são poucos os fotógrafos que vivem apenas da fotografia”.

Em Angola, disse, o mercado ainda precisa crescer mais para que os profissionais da fotografia possam viver do seu trabalho. O número de plantaformas de promoção de fotografia ainda é muito fraco, “precisamos de mais e mais, o que fará com que a fotografia seja mais valorizada no mercado.”

Disse, em entrevista ao ONgoma News, que precisamos de mais jornais, revistas, sites, exposições, empresas como bancos, etc, para ajudar no crescimento do profissional e da fotografia em simultâneo, e sublinhou que os poucos prifissionais que conseguem expor seus trabalhos, muitos não conseguem vender as suas obras, pois não basta apenas expor, importa fazer com que as obras expostas sejam de qualidade e que sejam vendidas para a satisfação do autor.

Adiante, Dominick Tanner, director do Espaço Luanda Arte (ELA), declarou que a galeria que dirige tem feito todo um esforço no sentido de educar o público nacional a conhecer e a gostar mais de fotografia, uma forma de este meio também entrar, cada vez mais, no programa habitual do ELA e outros espaços culturais, não só em Luanda, mas um pouco por toda Angola.

Citou, como exemplo, que “até 2019, o ELA realizou oito edições anuais do ´Vidrul Fotografia´, um projecto de fotografia experimental, único em Angola e que vive graças ao apoio da ´Vidrul - a Vidreira de Angola´, e produção da AM-Arte”.

Nessa iniciativa, são convidados a cada ano 4 fotógrafos angolanos, desde António Ole à Keyezua, a Délio Jasse, passando por Sergio Afonso, Hugo Salvaterra, ainda por Nguxi dos Santos, até Sebastião Vemba, Djelsa Ariana e mesmo Toty Sa´med, para falar em alguns noomes. Ao todo, já participaram neste projecto mais de 30 fotógrafos angolanos, alguns conhecidos e outros mais anónimos.

Havia para o ano de 2020 o desejo de realizar a 9ª edição do ´Vidrul Fotografia´, revelou Dominick, mas teve que se adiar para 2021, pelas razões conhecidas por todos.

Em simultâneo, continuou, toda esta experiência com a Vidrul permitiu criar um projecto paralelo de nome ´Vidrul Convida´, em que nos últimos quatro anos, até 2019, convidou-se um fotógrafo pan-africano por ano a expor a sua arte em Angola.

“Na primeira edição, participou Mário Macilau, de Moçambique, na segunda, o congolês Baudouin Mouanda, na terceira o sul-Africano Sabelo Mlangeni e na quarta o são-tomense René Tavares. Em comum, foram as suas primeiras mostras em Angola. Teria sido em 2020, mas a quinta edição será em 2021”, reforçou.

Entretanto, para o galerista, “o resultado tem sido motivador porque existem cada vez mais clientes a quererem comprar fotografias por parte de artistas nacionais - o que é positivo”.

Ao mesmo tempo, referiu, se o ensino das artes plásticas fosse obrigatório na escola, se tivéssemos manuais escolares apropriados, só o facto de a população ter cada vez mais acesso a smartphones que tiram fotografias com qualidade e postarem as mesmas nas suas redes sociais poderia ser um factor catalisador para o fomento do consumo da fotografia.

“Mas temos que fazer muito mais, de forma que a fotografia ganhe força nas artes plásticas: expor ainda mais, educar ainda mais, de forma a crescer ainda mais”, frisou.

A Galeria Tamar Golan, da Fundação Arte e Cultura, por seu turno, tem uma agenda de exposição mensalmente. Para este ano, estava agendada uma exposição de fotografia do artista Luís Damião, mas teve que se redefinir devido ao contexto que o país e o mundo vivem, e assim fica adiada para 2021.

O espaço, que está a preparar uma exposição online para o final deste ano, do jovem fotógrafo César Santos, de acordo com Xavier Narciso, director da Área Social da instituição, no passado, recebia muitas solicitações para expor fotografias. Mas de um tempo a esta parte, o número de artistas fotógrafos, principalmente jovens, que procura expor ali as suas obras, é grande.

O maior objectivo da fundação é promover e divulgar as artes em todas as vertentes e a fotografia não está de parte, disse Xavier.

“Desde 19 de Agosto 1839 que a fotografia é um presente “grátis para o mundo. Na verdade foi um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”, expressou, tendo continuado que,  obviamente, a introdução da tecnologia digital tem modificado drasticamente os paradigmas que norteiam o mundo fotográfico.

Segundo o também galerista, a Tamar Golan tem feito esforços para acompanhar o progresso desta como as outras artes em lupa. Contudo, finalizou o responsável, não existem palavras para descrever o que simboliza a experiência de se conservar um momento numa imagem.

Recorde-se que o Dia Mundial da Fotografia tem origem na invenção do daguerreótipo, um processo fotográfico desenvolvido por Louis Daguerre (1787-1851), em 1837.

Mais tarde, em Janeiro de 1839, a Academia Francesa de Ciências anunciou a invenção do daguerreótipo e, a 19 de Agosto do mesmo ano, o Governo francês considerou a invenção de Daguerre como sendo um presente “grátis para o mundo”.

6galeria

Artigos relacionados

Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form