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Estado da performance em Angola debatido em mesa redonda no Camões

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Andrade Lino

O colectivo de artes Pés Descalços realizou, nesta terça-feira, no Camões - Centro Cultural Português, uma mesa redonda subordinada ao tema “Mapeando a recente performance angolana”, evento que decorreu  “um pouco agarrado” à exposição do artista angolano Thó Simões, “Congolândia”, inaugurada na semana passada.

Segundo Suzana Sousa, membro da organização, como o trabalho de Thó passa pela performance, e aliás, inaugurou a exposição com uma performance, que percorreu a Rua Rainha Ginga até a entrada do Camões e decorreu na sala durante algum tempo, aproveitou-se este momento para juntar artistas que trabalham em performance, nomeadamente a actriz e humorista Renata Torres, a performer brasileira Rose Mara Silva e o capoerista  e activista-cívico Cabuenha Moniz, além do próprio Thó Simões, para discutir o que está a acontecer na performance em Angola.

“Em termos de background, essa ideia surgiu do facto de nos últimos anos termos assistido a vários artistas a fazer performance, alguns a trabalharem apenas nisso mas outros a juntarem à sua linguagem artística, e no fundo nós assumimos o tema “Mapear” como o estágio embrionário dessa prática em Angola, mas embrionário em termos mais de reconhecimento do que de prática, pois é algo que já existe e tem se verificado entre nós há algum tempo, pensando nos últimos 15 anos, como parte da arte contemporânea, e não como ritual, onde podemos encontrar raízes de performatividade”, explicou a também curadora de arte, em entrevista ao ONgoma News.

Para Suzana, o que se está a fazer de performance em Angola está muito perto do que se faz em países como a Namíbia, Zimbabwe, África do Sul, com tradições muito mais próximas às nossas. Em termos de reconhecimento, disse, em Angola, talvez haja menos, mas “deve-se mais à falta de infra-estruturas do que propriamente de reconhecimento do público”.

“A performance que nós discutimos é aquela que é feita em circuitos de arte, e esses circuitos são acolhidos e baseados em infra-estruturas, como museus e centros culturais. Eu diria ainda que a nós faltam essas infra-estruturas. Por exemplo, em relação há um ano e meio, temos mais infra-estruturas, mas não temos ainda tantas que garantam uma visibilidade desse tipo de trabalho”, referiu, e explicou que, comparando a outros tipos de arte e de prática artística, a performance tem uma característica, que é a sua efemeridade.

“Há formas de fazê-la sobreviver, pela fotografia, pelo vídeo, porém essa característica exige um contexto para que possa ser acolhida. Se tivermos galerias e museus, estes poderão absorver os produtos que advêm deste momento. Contudo, estamos a caminhar e acho que de forma muito positiva nesse sentido”, acreditou a porta-voz do grupo Pés Descalços.

Questionado sobre o facto de ser a sua amostra, em parte, o centro das atenções do evento,Thó Simões revelou sentir-se honrado, uma vez que o assunto em debate é pertinente, e porque performance é um dos elementos constituintes da sua exposição.

“A minha arte associa-se à performance em todos os sentidos. Quando estou a trabalhar, já faço performance, porque sendo artista de rua, acabo por ocupar espaços e intervir directamente com o dia-a-dia. E como todas as outras disciplinas artísticas, a performance merece toda a atenção, pois a arte não é algo subdivido. A arte não tem forma. Ela é prática, movimento, sentido, interpretação, representação, por isso qualquer uma das suas modalidades tem exactamente a mesma importância que outra”, defendeu o artista plástico.

“Congolândia – Multiversos em Desencanto” é uma exposição de pintura, instalação e performance, que, segundo o autor, é uma abordagem à desconstrução, um convite a uma viagem futurista, a uma viagem cultural, ancestral, e ao mesmo tempo um convite à actualidade, sendo que, para criar o projecto, inspirou-se em linguagens artísticas, que têm subjacentes uma forte consciência e crítica social como o grafitti, que interfere e ocupa o espaço urbano, generalizado na década de 70 do século XX, mas cuja génese remonta aos primórdios da civilização.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O colectivo de artes Pés Descalços realizou, nesta terça-feira, no Camões - Centro Cultural Português, uma mesa redonda subordinada ao tema “Mapeando a recente performance angolana”, evento que decorreu  “um pouco agarrado” à exposição do artista angolano Thó Simões, “Congolândia”, inaugurada na semana passada.

Segundo Suzana Sousa, membro da organização, como o trabalho de Thó passa pela performance, e aliás, inaugurou a exposição com uma performance, que percorreu a Rua Rainha Ginga até a entrada do Camões e decorreu na sala durante algum tempo, aproveitou-se este momento para juntar artistas que trabalham em performance, nomeadamente a actriz e humorista Renata Torres, a performer brasileira Rose Mara Silva e o capoerista  e activista-cívico Cabuenha Moniz, além do próprio Thó Simões, para discutir o que está a acontecer na performance em Angola.

“Em termos de background, essa ideia surgiu do facto de nos últimos anos termos assistido a vários artistas a fazer performance, alguns a trabalharem apenas nisso mas outros a juntarem à sua linguagem artística, e no fundo nós assumimos o tema “Mapear” como o estágio embrionário dessa prática em Angola, mas embrionário em termos mais de reconhecimento do que de prática, pois é algo que já existe e tem se verificado entre nós há algum tempo, pensando nos últimos 15 anos, como parte da arte contemporânea, e não como ritual, onde podemos encontrar raízes de performatividade”, explicou a também curadora de arte, em entrevista ao ONgoma News.

Para Suzana, o que se está a fazer de performance em Angola está muito perto do que se faz em países como a Namíbia, Zimbabwe, África do Sul, com tradições muito mais próximas às nossas. Em termos de reconhecimento, disse, em Angola, talvez haja menos, mas “deve-se mais à falta de infra-estruturas do que propriamente de reconhecimento do público”.

“A performance que nós discutimos é aquela que é feita em circuitos de arte, e esses circuitos são acolhidos e baseados em infra-estruturas, como museus e centros culturais. Eu diria ainda que a nós faltam essas infra-estruturas. Por exemplo, em relação há um ano e meio, temos mais infra-estruturas, mas não temos ainda tantas que garantam uma visibilidade desse tipo de trabalho”, referiu, e explicou que, comparando a outros tipos de arte e de prática artística, a performance tem uma característica, que é a sua efemeridade.

“Há formas de fazê-la sobreviver, pela fotografia, pelo vídeo, porém essa característica exige um contexto para que possa ser acolhida. Se tivermos galerias e museus, estes poderão absorver os produtos que advêm deste momento. Contudo, estamos a caminhar e acho que de forma muito positiva nesse sentido”, acreditou a porta-voz do grupo Pés Descalços.

Questionado sobre o facto de ser a sua amostra, em parte, o centro das atenções do evento,Thó Simões revelou sentir-se honrado, uma vez que o assunto em debate é pertinente, e porque performance é um dos elementos constituintes da sua exposição.

“A minha arte associa-se à performance em todos os sentidos. Quando estou a trabalhar, já faço performance, porque sendo artista de rua, acabo por ocupar espaços e intervir directamente com o dia-a-dia. E como todas as outras disciplinas artísticas, a performance merece toda a atenção, pois a arte não é algo subdivido. A arte não tem forma. Ela é prática, movimento, sentido, interpretação, representação, por isso qualquer uma das suas modalidades tem exactamente a mesma importância que outra”, defendeu o artista plástico.

“Congolândia – Multiversos em Desencanto” é uma exposição de pintura, instalação e performance, que, segundo o autor, é uma abordagem à desconstrução, um convite a uma viagem futurista, a uma viagem cultural, ancestral, e ao mesmo tempo um convite à actualidade, sendo que, para criar o projecto, inspirou-se em linguagens artísticas, que têm subjacentes uma forte consciência e crítica social como o grafitti, que interfere e ocupa o espaço urbano, generalizado na década de 70 do século XX, mas cuja génese remonta aos primórdios da civilização.

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