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Conversas da Candonga

Está gato!

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Havia apenas quatro passageiros dos cerca de doze que um candongueiro leva. O destino era o Golfe 2, passando pelo Hospital Sanatório de Luanda. Nas imediações da Unidade Operativa do Comando Provincial de Luanda, onde apanhei o táxi, o cobrador levantou a voz e, gesticulando, apesar do calor intenso, começou a apregoar na esperança de atrair mais clientes. Fê-lo durante meia dúzia de minutos, até arrear os ombros, com a camisola suada, e atirar-se para dentro do carro, onde alguns passageiros impacientes ameaçavam descer do veículo se o motorista não o tirasse daí. 

- Está gato!! - Disse o jovem cobrador ao motorista, já quando estávamos ao meio de um engarrafamento de queimar os discos de embraiagem. O motorista concordou num tom baixinho e desanimado, enquanto fazia manobras para livrar do congestionamento. Concordou com lamentação do seu colaborador abanando a cabeça de cima para baixo de modo pouco expressivo. Acelerou o veículo na primeira oportunidade lhe surgiu e livrou-se do obstáculo causado por um camião cisterna avariado.

talvez aquele sábado não estivesse assim tão "gato" como parecia. Muitas vezes, a solução está além da linha do horizonte. É necessário continuar o percurso, a pé ou de azul e branco...

À beira da estrada, assistia-se ao frenesim dos zungueiros que aproveitavam o engarrafamento para vender mais, principalmente refrigerantes. O sol não perdoa. Um bafo dominou o interior do veículo onde as pessoas transpiravam e respiravam a aflitas. Estendi as mãos para fora do veículo com duas moedas metálicas de 100 kwanzas e pedi uma Coca-Cola. Além de matar a sede, precisava de açúcar. Tinha saído às pressas de casa, sem tomar o café da manhã. Duas outras senhoras seguiram o meu exemplo. Pediram gasosas em garrafas de plástico, as famosas “bebe e me deixa”. Uma delas, desajeitada, apoiou-se sobre a minha perna para receber a bebida e desculpou-se pela falha. Enquanto isso, o cobrador não desistia. A voz audível espalhava-se para fora do veículo, ao aproximar das paragens, onde pessoas aguardavam, ao sol, pelo seu táxi. “Vila de 100, Futungo Benfica!!!”, pronunciava, já depois de ter feito o percurso inicial, da Vila Alice ao Golfe 2, e agora estava decidido a lotar o carro o mais que pudesse para depois partir. 

Finalmente, a menos de dois quilómetros do meu destino, estava o carro completamente lotado. 17 pessoas a bordo, incluindo o passageiro e o motorista. Havia duas mulheres com os filhos no colo. Paguei o que devia. Os quinhentos kwanzas que entreguei, o cobrador descontou apenas 150,00 AKZ em vez de 300. Devolvi-lhe o que lhe era devido. Olhou para mim com ar incrédulo, mas agradeceu. Chegados à minha paragem, pediu ao motorista que parasse devidamente o carro para eu descer. Só depois de eu estar fora do veículo voltou a chamar por outro cliente para ocupar o lugar que acabava de ficar vazio. Assisti-o a partir, satisfeitos, com o carro lotado, mais uma vez, enquanto eu aguardava por uma bondade dos automobilistas para deixar-me fazer a travessia da estrada. E talvez aquele sábado não estivesse assim tão "gato" como parecia. Muitas vezes, a solução está além da linha do horizonte. É necessário continuar o percurso, a pé ou de azul e branco...

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Sebastião Vemba

Fundador e Director Editorial do ONgoma News

Jornalista, apaixonado pela escrita, fotografia e artes visuais. Tem interesses nas novas medias, formação e desenvolvimento comunitário.

Havia apenas quatro passageiros dos cerca de doze que um candongueiro leva. O destino era o Golfe 2, passando pelo Hospital Sanatório de Luanda. Nas imediações da Unidade Operativa do Comando Provincial de Luanda, onde apanhei o táxi, o cobrador levantou a voz e, gesticulando, apesar do calor intenso, começou a apregoar na esperança de atrair mais clientes. Fê-lo durante meia dúzia de minutos, até arrear os ombros, com a camisola suada, e atirar-se para dentro do carro, onde alguns passageiros impacientes ameaçavam descer do veículo se o motorista não o tirasse daí. 

- Está gato!! - Disse o jovem cobrador ao motorista, já quando estávamos ao meio de um engarrafamento de queimar os discos de embraiagem. O motorista concordou num tom baixinho e desanimado, enquanto fazia manobras para livrar do congestionamento. Concordou com lamentação do seu colaborador abanando a cabeça de cima para baixo de modo pouco expressivo. Acelerou o veículo na primeira oportunidade lhe surgiu e livrou-se do obstáculo causado por um camião cisterna avariado.

talvez aquele sábado não estivesse assim tão "gato" como parecia. Muitas vezes, a solução está além da linha do horizonte. É necessário continuar o percurso, a pé ou de azul e branco...

À beira da estrada, assistia-se ao frenesim dos zungueiros que aproveitavam o engarrafamento para vender mais, principalmente refrigerantes. O sol não perdoa. Um bafo dominou o interior do veículo onde as pessoas transpiravam e respiravam a aflitas. Estendi as mãos para fora do veículo com duas moedas metálicas de 100 kwanzas e pedi uma Coca-Cola. Além de matar a sede, precisava de açúcar. Tinha saído às pressas de casa, sem tomar o café da manhã. Duas outras senhoras seguiram o meu exemplo. Pediram gasosas em garrafas de plástico, as famosas “bebe e me deixa”. Uma delas, desajeitada, apoiou-se sobre a minha perna para receber a bebida e desculpou-se pela falha. Enquanto isso, o cobrador não desistia. A voz audível espalhava-se para fora do veículo, ao aproximar das paragens, onde pessoas aguardavam, ao sol, pelo seu táxi. “Vila de 100, Futungo Benfica!!!”, pronunciava, já depois de ter feito o percurso inicial, da Vila Alice ao Golfe 2, e agora estava decidido a lotar o carro o mais que pudesse para depois partir. 

Finalmente, a menos de dois quilómetros do meu destino, estava o carro completamente lotado. 17 pessoas a bordo, incluindo o passageiro e o motorista. Havia duas mulheres com os filhos no colo. Paguei o que devia. Os quinhentos kwanzas que entreguei, o cobrador descontou apenas 150,00 AKZ em vez de 300. Devolvi-lhe o que lhe era devido. Olhou para mim com ar incrédulo, mas agradeceu. Chegados à minha paragem, pediu ao motorista que parasse devidamente o carro para eu descer. Só depois de eu estar fora do veículo voltou a chamar por outro cliente para ocupar o lugar que acabava de ficar vazio. Assisti-o a partir, satisfeitos, com o carro lotado, mais uma vez, enquanto eu aguardava por uma bondade dos automobilistas para deixar-me fazer a travessia da estrada. E talvez aquele sábado não estivesse assim tão "gato" como parecia. Muitas vezes, a solução está além da linha do horizonte. É necessário continuar o percurso, a pé ou de azul e branco...

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