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Crónica

É Junho, levanta o punho!

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Inocência poderá ser, entre vários palavras bonitas, com muito poder e significado, a que melhor serve para descrever o que é ser criança. Entre amigos e familiares, quando olhamos para atrás, a rir-nos da vida, das nossas dificuldades, dos nossos fracassos, mas também a celebrar as nossas conquistas – que não são poucas, considerando de onde é que vimos e porque situações de extrema carência passámos -, um ponto em que todos estamos de acordo é de que, sem sombras de dúvidas, éramos felizes e não sabíamos. E éramos felizes, na verdade, porque éramos inocentes, éramos aventureiros, éramos crianças e vivíamos o ano inteiro, felizes e distraídos em tudo que nos divertisse, a aguardar pelos dias 1 e 16 de Junho, e pelo Natal, além no nosso aniversário.

Essas eram datas que tinham um significado muito especial. Por mais humilde que fosse a nossa condição social, a reunião de amigos e familiares para desejar-nos felicidades, encher e rebentar balões, desafiar a resistência dos nossos dentes ao doce e à pipoca, era, sem sombras de dúvidas, mágico, embora não tivéssemos, e continuamos a não ter, um bom país para crianças nascerem e viverem.

Quero reviver cada momento de inocência que só uma criança sabe apreciar e, sem sombras de dúvidas, um deles será o mês de Junho, em que levantei o punho e mexerei o esqueleto, não ao som do Kuduro que invadiu as festas infantis e roubou a magia e pureza da convivência entre crianças

Ainda não tive a graça de ter filhos. Muitos dos meus e amigos e familiares que já a tiveram, quando abordo com eles a questão da segurança das crianças, revelam-se verdadeiros pais e mães “galinhas”, proteccionistas. Não querem, por nada, que os seus filhos passem nem por metade das dificuldades que passaram. E se tiveram uma infância mais ou menos abastada, querem que as crianças tenham o dobro. Para tal, muitas vezes, têm também que trabalhar o dobro, aprender a fazer ginásticas financeiras que os levam ao limite das suas capacidades mentais e físicas para garantir que nada falte aos monandengues. Na verdade, eu sinto que não serei diferente deles. Porém, o que mais quero mesmo é que, com um filho, eu volte a ser criança em vez de matar, por completo, a criança que vem já morrendo em mim, aos poucos, devido às exigências que de ser adulto, de ter contas a pagar, de mostrar que somos homens e que, conforme a declaração divina, devemos viver do nosso suor. Quero reviver cada momento de inocência que só uma criança sabe apreciar e, sem sombras de dúvidas, um deles será o mês de Junho, em que levantei o punho e mexerei o esqueleto, não ao som do Kuduro que invadiu as festas infantis e roubou a magia e pureza da convivência entre crianças, despertou a libido e vontades insaciáveis, mas a cantar alto e em bom-tom canções como a da “Mangonha que faz xixi na cama”, ou da “Wassamba”, meu amor da infância, com que dancei, ao “Bolinha no Pé”, sonhando ser “Arco-Íris” colorido com alegria. É Junho, levanta o punho é “Vamos brincar” à Cabra Cega, ao Bica Bidon e à vida.

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Sebastião Vemba

Fundador e Director Editorial do ONgoma News

Jornalista, apaixonado pela escrita, fotografia e artes visuais. Tem interesses nas novas medias, formação e desenvolvimento comunitário.

Inocência poderá ser, entre vários palavras bonitas, com muito poder e significado, a que melhor serve para descrever o que é ser criança. Entre amigos e familiares, quando olhamos para atrás, a rir-nos da vida, das nossas dificuldades, dos nossos fracassos, mas também a celebrar as nossas conquistas – que não são poucas, considerando de onde é que vimos e porque situações de extrema carência passámos -, um ponto em que todos estamos de acordo é de que, sem sombras de dúvidas, éramos felizes e não sabíamos. E éramos felizes, na verdade, porque éramos inocentes, éramos aventureiros, éramos crianças e vivíamos o ano inteiro, felizes e distraídos em tudo que nos divertisse, a aguardar pelos dias 1 e 16 de Junho, e pelo Natal, além no nosso aniversário.

Essas eram datas que tinham um significado muito especial. Por mais humilde que fosse a nossa condição social, a reunião de amigos e familiares para desejar-nos felicidades, encher e rebentar balões, desafiar a resistência dos nossos dentes ao doce e à pipoca, era, sem sombras de dúvidas, mágico, embora não tivéssemos, e continuamos a não ter, um bom país para crianças nascerem e viverem.

Quero reviver cada momento de inocência que só uma criança sabe apreciar e, sem sombras de dúvidas, um deles será o mês de Junho, em que levantei o punho e mexerei o esqueleto, não ao som do Kuduro que invadiu as festas infantis e roubou a magia e pureza da convivência entre crianças

Ainda não tive a graça de ter filhos. Muitos dos meus e amigos e familiares que já a tiveram, quando abordo com eles a questão da segurança das crianças, revelam-se verdadeiros pais e mães “galinhas”, proteccionistas. Não querem, por nada, que os seus filhos passem nem por metade das dificuldades que passaram. E se tiveram uma infância mais ou menos abastada, querem que as crianças tenham o dobro. Para tal, muitas vezes, têm também que trabalhar o dobro, aprender a fazer ginásticas financeiras que os levam ao limite das suas capacidades mentais e físicas para garantir que nada falte aos monandengues. Na verdade, eu sinto que não serei diferente deles. Porém, o que mais quero mesmo é que, com um filho, eu volte a ser criança em vez de matar, por completo, a criança que vem já morrendo em mim, aos poucos, devido às exigências que de ser adulto, de ter contas a pagar, de mostrar que somos homens e que, conforme a declaração divina, devemos viver do nosso suor. Quero reviver cada momento de inocência que só uma criança sabe apreciar e, sem sombras de dúvidas, um deles será o mês de Junho, em que levantei o punho e mexerei o esqueleto, não ao som do Kuduro que invadiu as festas infantis e roubou a magia e pureza da convivência entre crianças, despertou a libido e vontades insaciáveis, mas a cantar alto e em bom-tom canções como a da “Mangonha que faz xixi na cama”, ou da “Wassamba”, meu amor da infância, com que dancei, ao “Bolinha no Pé”, sonhando ser “Arco-Íris” colorido com alegria. É Junho, levanta o punho é “Vamos brincar” à Cabra Cega, ao Bica Bidon e à vida.

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