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Bancarização: é urgente pensar fora da caixa

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Angola é um país que apresenta uma enorme disparidade de níveis de desenvolvimento, quer económico, quer social. Ao nível tecnológico, o fosso entre a capital do país, Luanda, e as restantes províncias, agudiza-se ainda mais à medida que nos afastamos da faixa litoral. Essa é, por conseguinte, uma realidade que se aplica ao processo de bancarização no país, onde apenas de 30%da população tem acesso a serviços bancários, contra um mínimo de 50% que o Banco Nacional de Angola quer atingir até 2020.

O banco central admite que para atingir a meta a que se propõe será necessário um “intenso trabalho”, pois, como sabemos, a realidade de muitos mercados do interior do país é ainda de “antigamente”, com elevado índice de informalidade, desde o câmbio na rua (uma realidade de todo o país) ao depósito de dinheiro num garrafão ou num cofre fabricado pelo vizinho marceneiro, de modo que o depositante possa ter acesso a ele sempre que precisar, pois, infelizmente, no banco, falta sistema de hora em hora e, quando há sistema, a enchente ou a distância a ser percorrida desmoraliza o utente.

Ou seja, trata-se também de uma questão de confiança do utente que resiste,inofensivamente, ao uso de serviços bancários que lhe são disponibilizados, o que se traduz num desafio para os bancos angolanos, que na verdade não estão atrás em termos de inovação e tecnologia, porém, a questão que se coloca tem que ver com a aplicabilidade de muitos dos serviços que são criados. E é neste aspecto que entendo que devemos melhorar significativamente e pensar mais para além dos quatro cantos de Luanda. Angola tem cidadãos (potenciais clientes) que precisam de soluções bancárias menos complexas e mais práticas para o seu dia-a-dia.

Em Luanda, o fornecimento destes serviços é relativamente regular, e muito bom nas zonas urbanas, porém, a franja dos que conseguem pagá-los com regularidade é ínfima, se considerarmos, por um lado, o nível de desemprego que grassa a população – particularmente os jovens – e o empobrecimento das famílias a que assistimos desde 2014.

Actualmente, apesar dos investimentos em curso em infra-estruturas de telecomunicações, os serviços ainda são caros e muito deficitários no interior do país. Em Luanda, o fornecimento destes serviços é relativamente regular, e muito bom nas zonas urbanas, porém, a franja dos que conseguem pagá-los com regularidade é ínfima, se considerarmos, por um lado, o nível de desemprego que grassa a população – particularmente os jovens – e o empobrecimento das famílias a que assistimos desde 2014. Deste modo, mesmo para o mercado de Luanda, no que diz respeito à bancarização, é necessário pensar fora da caixa, pensar no cliente que usa um telemóvel, porém, não tem acesso com regularidade à internet. É necessário pensar de forma menos elitista – não com base nos grandes depositantes, quando sabemos que uma parte significativa dos nossos clientes não usaria esses serviços. Se assim for, a franja mais significativa continuará a representar custos para o banco, porque continuará a precisar de deslocar-se regularmente a um balcão ou ao Multicaixa, que dificilmente tem dinheiro e, ao fim-de-semana, fica fora de serviço por falta de electricidade ou falta de comunicações.

Penso que, num esforço conjunto entre o Governo e as empresas de Telecom,deve-se olhar para as zonas mais remotas do país e desenvolver-se uma espécie de “socialização tecnológica”, usando soluções práticas e económicas, de modo que, a seguir, mais facilmente se consiga levar para lá os serviços bancários,que não precisariam de ser os tradicionais, mas sim soluções criadas com base na realidade sócio-cultural e económica das comunidades. (Continua num próximo artigo).

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Joel Neto

Especialista de Sistemas e Tecnologias de Informação

Engenheiro informático, apaixonado por programação e com vasta experiência de gestão de sistemas no sector financeiro.

Angola é um país que apresenta uma enorme disparidade de níveis de desenvolvimento, quer económico, quer social. Ao nível tecnológico, o fosso entre a capital do país, Luanda, e as restantes províncias, agudiza-se ainda mais à medida que nos afastamos da faixa litoral. Essa é, por conseguinte, uma realidade que se aplica ao processo de bancarização no país, onde apenas de 30%da população tem acesso a serviços bancários, contra um mínimo de 50% que o Banco Nacional de Angola quer atingir até 2020.

O banco central admite que para atingir a meta a que se propõe será necessário um “intenso trabalho”, pois, como sabemos, a realidade de muitos mercados do interior do país é ainda de “antigamente”, com elevado índice de informalidade, desde o câmbio na rua (uma realidade de todo o país) ao depósito de dinheiro num garrafão ou num cofre fabricado pelo vizinho marceneiro, de modo que o depositante possa ter acesso a ele sempre que precisar, pois, infelizmente, no banco, falta sistema de hora em hora e, quando há sistema, a enchente ou a distância a ser percorrida desmoraliza o utente.

Ou seja, trata-se também de uma questão de confiança do utente que resiste,inofensivamente, ao uso de serviços bancários que lhe são disponibilizados, o que se traduz num desafio para os bancos angolanos, que na verdade não estão atrás em termos de inovação e tecnologia, porém, a questão que se coloca tem que ver com a aplicabilidade de muitos dos serviços que são criados. E é neste aspecto que entendo que devemos melhorar significativamente e pensar mais para além dos quatro cantos de Luanda. Angola tem cidadãos (potenciais clientes) que precisam de soluções bancárias menos complexas e mais práticas para o seu dia-a-dia.

Em Luanda, o fornecimento destes serviços é relativamente regular, e muito bom nas zonas urbanas, porém, a franja dos que conseguem pagá-los com regularidade é ínfima, se considerarmos, por um lado, o nível de desemprego que grassa a população – particularmente os jovens – e o empobrecimento das famílias a que assistimos desde 2014.

Actualmente, apesar dos investimentos em curso em infra-estruturas de telecomunicações, os serviços ainda são caros e muito deficitários no interior do país. Em Luanda, o fornecimento destes serviços é relativamente regular, e muito bom nas zonas urbanas, porém, a franja dos que conseguem pagá-los com regularidade é ínfima, se considerarmos, por um lado, o nível de desemprego que grassa a população – particularmente os jovens – e o empobrecimento das famílias a que assistimos desde 2014. Deste modo, mesmo para o mercado de Luanda, no que diz respeito à bancarização, é necessário pensar fora da caixa, pensar no cliente que usa um telemóvel, porém, não tem acesso com regularidade à internet. É necessário pensar de forma menos elitista – não com base nos grandes depositantes, quando sabemos que uma parte significativa dos nossos clientes não usaria esses serviços. Se assim for, a franja mais significativa continuará a representar custos para o banco, porque continuará a precisar de deslocar-se regularmente a um balcão ou ao Multicaixa, que dificilmente tem dinheiro e, ao fim-de-semana, fica fora de serviço por falta de electricidade ou falta de comunicações.

Penso que, num esforço conjunto entre o Governo e as empresas de Telecom,deve-se olhar para as zonas mais remotas do país e desenvolver-se uma espécie de “socialização tecnológica”, usando soluções práticas e económicas, de modo que, a seguir, mais facilmente se consiga levar para lá os serviços bancários,que não precisariam de ser os tradicionais, mas sim soluções criadas com base na realidade sócio-cultural e económica das comunidades. (Continua num próximo artigo).

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