Arte e Cultura
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As “ambundulações” de Januário Jano. Uma [curta] viagem ao íntimo do artista e do seu povo

As “ambundulações” de Januário Jano. Uma [curta] viagem ao íntimo do artista e do seu povo
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Andrade Lino

O artista plástico angolano Januário Jano vai inaugurar amanhã, quarta-feira, dia 26, pelas 18h30, no Camões-Centro Cultural Português, a sua primeira exposição individual nesse espaço emblemático de Luanda, denominada “Ambundulando”.

Em entrevista ao ONgoma, o artista trouxe à tona alguns aspectos que precedem a materialização do projecto bem como o impacto que pretende causar com essa amostra que resulta de uma viagem pelas suas origens.

“Este projecto é resultante de três anos de pesquisa, um registo diferente do habitual, porque eu, como artista visual, tenho que explorar todas as medias possíveis que existem no meu espaço.  Sendo assim, ‘Ambundulando’ é praticamente um auto-retrato,  porque representa para mim algo no qual sempre quis mexer”, declarou.

“A execução do ‘Ambundulando’  conta com pessoas com valências que eu não possuo", informou.

Januário Jano esclareceu que esse trabalho conta com uma série de elementos muito sensíveis, como a exploração de memórias, um exercício de construção de identidade e outras pesquisas que ambicionam patamares desconhecidos.

Sendo assim, nessa exposição, afirmou que sentiu a necessidade de  falar de si, olhar para o interior, em vez de contar histórias de outrem. “Fiz uma introspecção e tirei coisas que achei necessário estarem aqui, e talvez seja ainda uma criança para abordar com muita profundidade o povo ambundu, grupo étnico do qual faço parte, e é daí que surge o nome da exposição. Porém, nesse momento, o ‘Ambulundulando’ faz todo sentido, porque é essa a viagem que estou a fazer: buscar fragmentos do meu eu e, consequentemente, falar do meu povo”, ressalvou.

Primeira exposição individual no Camões

“Já estive aqui duas vezes em projectos colectivos, mas só agora é que aceitei o desafio da doutora Teresa, directora do centro, para a primeira exposição individual, porque a produção envolve muito esforço”, revelou.

O artista revelou não ter estado ainda preparado para a exibição do projecto, daí a preparação ter levado  o tempo que levou, sendo que ao longo  desses anos foi fazendo pesquisas e tentando enquadrar o trabalho num patamar no qual se sentisse confortável. “O sentimento agora é outro, sinto-me bem mais ciente daquilo que estou a fazer, em relação aos outros trabalhos”, disse.

Dito com mais firmeza, Januário Jano afirmou que é agora que se encontrou e que o registo desse projecto marca uma nova caminhada, pois é o que pretende fazer de agora em diante.  “Daqui para frente é essa que será a minha cara e não vou mudar para uma coisa que não saiba de que se trata”, realçou.

“Já estive aqui duas vezes em projectos colectivos, mas só agora é que aceitei o desafio da doutora Teresa, directora do centro, para a primeira exposição individual, porque a produção envolve muito esforço”, revelou, relativamente ao convite para expor no Camões, tendo então avançado que, a exposição, que está abertará ao público até 19 de Agosto, era suposto estar patente por três meses, mas atendendo à agenda sempre preenchida do espaço e porque também tem escalas trabalho muito apertada, teve que se editar o projecto, sintetizando,  e com o registo de peças estéticas e diferente das obras habituais, seria preciso ocupar pelo menos duas salas.

“Ambundulando” além da estética

 "Como artista visual, tenho que explorar todas as medias possíveis que existem no meu espaço", afirmou Januário Jano

Entretanto, continuou que o “Ambundulando” marca uma evolução do ponto de vista de produção, onde o elemento estético não é muito evidente. “Até as cores que as pessoas estão habituadas a ver estarão quase que invisíveis, e acredito que elas poderão ter choques porque deverão olhar vezes repetidas para depreenderem o produto”, disse, tendo salientado que é deveras difícil ter ideias do que se trata, mas avançou que o “trabalho em si é centrado em fotografia, vídeos e instalações, sons, textos, dentre outras formas, e só não estarão os elementos vivos por causa da falta de espaço”.

“Há obras que foram produzidas numa vertente de rituais e estas peças precisarão de uma activação para as pessoas conseguirem ter contacto com elas, ou então ficam nulas”, disse ainda, e sublinhou que se trata de um registo totalmente fora daquilo que é a pintura linear plástica de telas.

Com a curadoria de Paula Nascimento e Suzana Sousa, Januário Jano afirmou que o projecto é “longo”, pois esteve muita gente envolvida, tanto na produção quanto racional e emocionalmente. “A execução do ‘Ambundulando’  conta com pessoas com valências que eu não possuo, até porque ao usar o meu corpo como objecto central do projecto precisaria de outras mãos. A ser assim, seleccionei as curadoras que achei que fazia sentido ter desde que comecei a falar desse projecto, pessoas que estão perto, foram percebendo a ideia e tiveram interesse em fazer essa viagem comigo”, clareou.

O artista explicou ainda que as dificuldades intensivas surgiram na fase da finalização e na tomada de decisão de amostra, “pois quando se trata de mostrar algo, há que pensar no aparato todo de produção, execução,  selecção de peças e narrativa”.

Por fim, Januário Jano contou que “o projecto como tal não acaba aqui. Essa exposição é apenas parte dele, uma amostra para as pessoas terem contacto com o projecto”.

 

 

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O artista plástico angolano Januário Jano vai inaugurar amanhã, quarta-feira, dia 26, pelas 18h30, no Camões-Centro Cultural Português, a sua primeira exposição individual nesse espaço emblemático de Luanda, denominada “Ambundulando”.

Em entrevista ao ONgoma, o artista trouxe à tona alguns aspectos que precedem a materialização do projecto bem como o impacto que pretende causar com essa amostra que resulta de uma viagem pelas suas origens.

“Este projecto é resultante de três anos de pesquisa, um registo diferente do habitual, porque eu, como artista visual, tenho que explorar todas as medias possíveis que existem no meu espaço.  Sendo assim, ‘Ambundulando’ é praticamente um auto-retrato,  porque representa para mim algo no qual sempre quis mexer”, declarou.

“A execução do ‘Ambundulando’  conta com pessoas com valências que eu não possuo", informou.

Januário Jano esclareceu que esse trabalho conta com uma série de elementos muito sensíveis, como a exploração de memórias, um exercício de construção de identidade e outras pesquisas que ambicionam patamares desconhecidos.

Sendo assim, nessa exposição, afirmou que sentiu a necessidade de  falar de si, olhar para o interior, em vez de contar histórias de outrem. “Fiz uma introspecção e tirei coisas que achei necessário estarem aqui, e talvez seja ainda uma criança para abordar com muita profundidade o povo ambundu, grupo étnico do qual faço parte, e é daí que surge o nome da exposição. Porém, nesse momento, o ‘Ambulundulando’ faz todo sentido, porque é essa a viagem que estou a fazer: buscar fragmentos do meu eu e, consequentemente, falar do meu povo”, ressalvou.

Primeira exposição individual no Camões

“Já estive aqui duas vezes em projectos colectivos, mas só agora é que aceitei o desafio da doutora Teresa, directora do centro, para a primeira exposição individual, porque a produção envolve muito esforço”, revelou.

O artista revelou não ter estado ainda preparado para a exibição do projecto, daí a preparação ter levado  o tempo que levou, sendo que ao longo  desses anos foi fazendo pesquisas e tentando enquadrar o trabalho num patamar no qual se sentisse confortável. “O sentimento agora é outro, sinto-me bem mais ciente daquilo que estou a fazer, em relação aos outros trabalhos”, disse.

Dito com mais firmeza, Januário Jano afirmou que é agora que se encontrou e que o registo desse projecto marca uma nova caminhada, pois é o que pretende fazer de agora em diante.  “Daqui para frente é essa que será a minha cara e não vou mudar para uma coisa que não saiba de que se trata”, realçou.

“Já estive aqui duas vezes em projectos colectivos, mas só agora é que aceitei o desafio da doutora Teresa, directora do centro, para a primeira exposição individual, porque a produção envolve muito esforço”, revelou, relativamente ao convite para expor no Camões, tendo então avançado que, a exposição, que está abertará ao público até 19 de Agosto, era suposto estar patente por três meses, mas atendendo à agenda sempre preenchida do espaço e porque também tem escalas trabalho muito apertada, teve que se editar o projecto, sintetizando,  e com o registo de peças estéticas e diferente das obras habituais, seria preciso ocupar pelo menos duas salas.

“Ambundulando” além da estética

 "Como artista visual, tenho que explorar todas as medias possíveis que existem no meu espaço", afirmou Januário Jano

Entretanto, continuou que o “Ambundulando” marca uma evolução do ponto de vista de produção, onde o elemento estético não é muito evidente. “Até as cores que as pessoas estão habituadas a ver estarão quase que invisíveis, e acredito que elas poderão ter choques porque deverão olhar vezes repetidas para depreenderem o produto”, disse, tendo salientado que é deveras difícil ter ideias do que se trata, mas avançou que o “trabalho em si é centrado em fotografia, vídeos e instalações, sons, textos, dentre outras formas, e só não estarão os elementos vivos por causa da falta de espaço”.

“Há obras que foram produzidas numa vertente de rituais e estas peças precisarão de uma activação para as pessoas conseguirem ter contacto com elas, ou então ficam nulas”, disse ainda, e sublinhou que se trata de um registo totalmente fora daquilo que é a pintura linear plástica de telas.

Com a curadoria de Paula Nascimento e Suzana Sousa, Januário Jano afirmou que o projecto é “longo”, pois esteve muita gente envolvida, tanto na produção quanto racional e emocionalmente. “A execução do ‘Ambundulando’  conta com pessoas com valências que eu não possuo, até porque ao usar o meu corpo como objecto central do projecto precisaria de outras mãos. A ser assim, seleccionei as curadoras que achei que fazia sentido ter desde que comecei a falar desse projecto, pessoas que estão perto, foram percebendo a ideia e tiveram interesse em fazer essa viagem comigo”, clareou.

O artista explicou ainda que as dificuldades intensivas surgiram na fase da finalização e na tomada de decisão de amostra, “pois quando se trata de mostrar algo, há que pensar no aparato todo de produção, execução,  selecção de peças e narrativa”.

Por fim, Januário Jano contou que “o projecto como tal não acaba aqui. Essa exposição é apenas parte dele, uma amostra para as pessoas terem contacto com o projecto”.

 

 

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