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Artistas expõem “Para Ela” na Galeria ResiliArt Angola

Artistas expõem “Para Ela” na Galeria ResiliArt Angola
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Andrade Lino

Está patente desde o último sábado, na Galeria ResiliArt Angola, sita no 3º piso do Shopping Fortaleza, a exposição colectiva “Para Ela”, que junta artistas angolanos e norte-americanos e marca o encerramento da campanha “16 Dias de Activismo contra a Violência no Género”, decorrida de 25 de Novembro a 10 de Dezembro.

O projecto é resultado da residência artística do ResiliArt Angola, uma promoção da American Schools of Angola (ASA), que à semelhança da edição anterior visou fundamentalmente disponibilizar estruturas interdisciplinares para a pesquisa e desenvolvimento de criações artísticas, desta vez, permitindo um intercâmbio entre angolanos e americanos, que são eles os artistas plásticos Charles Washington e Andrece Brady, dos EUA, e de Angola Yola Balanga, Débora Sandjai, Oksanna Dias, Fanny Bienga, Don Sebas Cassule, Mestre Van, Evandro Kassandeca, Danick Bumba, Rafa Mal, com uma participação de Nefwani, Giovanny Tady e Marisa Kinjica.

Além desses, é ainda parte do grupo de artistas norte-americanos a cantora JanetZa Miranda, que juntamente com Esperança Mirakiza, de Angola, animou a abertura da exposição, patente até Fevereiro do próximo ano, com uma brilhante actuação musical.

Na ocasião, Marcos Agostinho, director-geral da American Schools of Angola e do ResiliArt Angola, fez saber que o projecto visa desde o início empoderar social e economicamente o artista, e é nesse âmbito que nasce a galeria, que vai servir como plataforma para que, durante os próximos anos, os artistas que sejam seleccionados possam ali expor a sua arte de forma individual, ou ainda colectiva, se preferirem, com o fim de “monetizarem” essas obras e revertem 100% o valor líquido para eles.

Em entrevista ao ONgoma News, o responsável declarou que a mostra junta particularmente artistas angolanos com artistas norte-americanos, que vai dentro daquilo que a organização preconizou, “que é a internacionalização do artista e o propósito dos 16 Dias do Activismo contra a Violência no Género como uma razão para juntá-los e fazer-lhes viver esta experiência, porque lhes permite não só crescer substancialmente no intercâmbio, mas ao mesmo tempo sensibilizá-los e internacionalizá-los”.

A campanha, tal como noutras iniciativas das Nações Unidas, várias outras organizações abraçam o projecto e naturalmente propagam-no. Nesse caso, segundo, Marcos Agostinho, conta com a União Europeia e o Reino dos Países Baixos, além do Governo de Angola, que decidiram se juntar para este activismo, e neste quesito convidaram o ResiliArt para que os artistas pudessem expressar o seu parecer. “Aproveitámos essa oportunidade e criámos todas as condições para que isso fosse uma razão para intercâmbio”, revelou.  

Questionado sobre os motivos que levaram a American Schools of Angola a ter a iniciativa da residência, que já vai na sua segunda edição, o gestor esclareceu que, como instituição de ensino, primeiro, o foco principal é a capacitação humana, e neste âmbito faz parte da sociedade em que está inserida. “Com as Nações Unidas, desde 2019, temos vindo a promover o Dia Internacional do Jazz. Em 2021 abraçámos a Bienal de Luanda, só que olhando de uma forma mais abrangente, e porque ficamos sensibilizados com o que se passava no mundo das artes durante a pandemia, olhámos para os artistas com um foco e um propósito muito específico, que é a capacitação humana. Acabou por ser algo natural, e temos visto as diferenças que temos causado nos jovens que têm feito contacto com o projecto, tanto os músicos como os artistas visuais e de outros géneros”, expressou.

JanetZa Miranda, muito demarcada pelo Jazz, considera a música uma linguagem universal, que “detém o poder de chamar a nossa atenção e nos inspirar; consolando-nos e deixando-nos aprender sobre quem somos como seres humanos”. “Misture isso com arte visual incrível e você terá a receita para as comunidades se unirem por uma causa maior”, declarou a cantora norte-americana, que agradece imensamente ao ResiliArt Angola por lhe ter dado a oportunidade de participar de tão grandiosa residência.

Como artista performática, revela, aprendeu ainda mais sobre a conexão entre artes visuais e performáticas. “É fascinante ver os artistas fazerem o seu trabalho com tanta diligência e é uma honra fazer uma serenata para sua arte com músicas das minhas artistas favoritas, como Nina Simone e Lauryn Hill”, acrescentou, mas também aprendeu que é importante ouvir para crescer.

“Aprendi a parar e ouvir as flores crescerem. E também aprendi que a autenticidade é a chave!”, concluiu JanetZa.

Entretanto, Danick Bumba, um dos artistas plásticos que intervêm no projecto, disse sentir-se privilegiado, ser um prazer enorme participar desse projecto, e no seu entender isso mostra que o trabalho dos artistas está a ser realmente apreciado e valorizado. “Quanto ao intercâmbio, foi proveitoso, educativo e produtivo trocar experiências e aprender com os artistas norte-americanos. Por exemplo, pudemos trabalhar com o artista e galerista Charles Washington, um mais velho de 67 anos de idade, que começou a sua jornada nas artes aos 7 anos, experiente nesse mundo. Imagina sentar-se e beber de uma pessoa desse calibre. É como se tivesse um poço disponível para acarretar o máximo de água possível”, partilhou.

O artista, que desenha há 15 anos mas actua profissionalmente há apenas 5, apresenta duas peças. Uma delas está sem título, porque decidiu deixar ao critério do público. A outra, que se chama “O dia em que perdi o meu filho”, óleo sobre tela, trata de uma jovem, grávida, que foi violada e humilhada por meliantes, e “no decurso desse acto maligno acabou perdendo o seu filho”.

Essa concepção, segundo Danick, teve graças a uma visita guiada por Carlos Bumba (especialista em Turismo), quando lhe contava que, na época hostil entre Angola e África do Sul, houve uma jovem grávida que foi estuprada. “Daí fiquei em mente com uma imagem equivalente ao que apresento aqui na exposição. Eu queria que as pessoas vissem o que eu vi no meu imaginário, queria que elas sentissem o que senti. Uma pessoa aqui disse que ficou assustada com a obra, e como artista sou feliz por isso, porque a ideia é provocar uma reflexão para as pessoas, sendo que não tenho poder nenhum de mudá-las. O que posso é fazer com que elas se questionem”, sublinhou.

Para ele, a exposição representa a tentativa de as pessoas caminharem em direcção à humanidade, porque reúne pessoas que se sentem indignadas com o que acontece a nível da violência no género, e este passo dado é sinal, para ele, “de que nos estamos a humanizar”. “Espero que a exposição chegue a mais pessoas, para que mais pessoas se questionem sobre o assunto”, ovacionou.

Como mulher negra americana, considera Andrece Brady, foi especial homenagear as mulheres aqui em Angola. “Em todo o mundo, as mulheres são tratadas com um nível mais baixo de respeito; no entanto, parece que em nações como Angola o tratamento para as mulheres é mais extremo”, observou a artista e co-curadora da exposição, para quem foi importante conhecer as histórias das mulheres, para ter uma perspectiva mais ampla da realidade do nosso país.

Contou-nos que ficou muito emocionada com a força demonstrada pelas mulheres angolanas e com as histórias das zungueiras. “Saber que elas são desrespeitadas e até mesmo feridas fisicamente por aqueles que devem proteger e servir me fez querer honrá-las”, exprimiu, relevando ter sido parte importante do projecto trabalhar com as artistas angolanas da ResiliArt, porque também puderam compartilhar histórias e perspectivas consigo, ajudá-la a encontrar as mulheres certas para conversar.

Para Andrece, é uma honra fazer a curadoria de um projecto e tema tão importantes, “mas o trabalho não pára por aqui, estende-se para além dos 16 dias e a seguir gostaria de ver mais envolvimento com as organizações feministas e de género que realmente fazem o trabalho, como a Ondjango Feminista, Arquivo de Identidade Angola, Associação Íris Angola e muito mais”.

Por fim, a convidada declarou que o que aprendeu sobre os artistas em Angola é que eles são realmente resilientes e usam os seus recursos por todos os meios necessários para criarem e isso é realmente um presente, além de que “o orgulho dos angolanos é algo profundo e patente em toda a sua arte”.

Já Oksanna Dias, que começou a sua jornada como artista de rua, afirma sentir-se renovada, cheia de experiências, tratando-se da sua segunda residência artística do mesmo projecto, “e esta é muito diferente”, pelo possível intercâmbio com os artistas americanos, o que lhe deixa muito feliz.

O tema da exposição é para ela de grande relevância, porque é um assunto que tem abalado a sociedade e destruído famílias. “O incesto, por exemplo, é algo que acontece muito mas fala-se pouco. Pais que violam as filhas, irmãos que têm relações sexuais com as irmãs, mas estas ficam com receio de contar porque pensam que iriam sujar a imagem da família. Muitas mulheres sofrem no seu relacionamento e ficam com medo de contar a alguém. E se agirem, feminicídio”, argumentou a artista, acreditando que o projecto é uma chamada de atenção para a sociedade, para que as mulheres e meninas não escondam os primeiros sinais e procurem ajuda de todas as formas.

Então, a sua obra, denominada “Sem escolha”, mostra como às vezes as crianças se sentem sem escolha diante duma situação que pode não ser do seu agrado. É necessário penalizar com o cuidado de não se atingirem proporções extremas, como cair em violência física, defende. “Muitas crianças são vítimas de violência doméstica e, com o passar do tempo, acabam por achar isso normal, parte da rotina. O trauma vive dentro delas, mas não conseguem exprimir, e vivem boa parte das suas vidas com tristeza”, lamentou.

Por fim, a embaixadora da União Europeia em Angola, Jeannette Seppen, considerou a iniciativa como sendo muito importante, porque fala dos 16 dias de activismo e sobre a importância de se acabar com todas as violências contra o género.

“É uma chamada de atenção a todas as pessoas que são vítimas, para saberem que são vítimas e que não é normal, e é ainda um lembrete para todos nós, no sentido de agirmos em defesa de todas as mulheres e meninas que correm o risco ou são vítimas de violência contra o género”, resumiu a governante, relevando ser, no geral, uma questão de respeito aos direitos humanos.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

Está patente desde o último sábado, na Galeria ResiliArt Angola, sita no 3º piso do Shopping Fortaleza, a exposição colectiva “Para Ela”, que junta artistas angolanos e norte-americanos e marca o encerramento da campanha “16 Dias de Activismo contra a Violência no Género”, decorrida de 25 de Novembro a 10 de Dezembro.

O projecto é resultado da residência artística do ResiliArt Angola, uma promoção da American Schools of Angola (ASA), que à semelhança da edição anterior visou fundamentalmente disponibilizar estruturas interdisciplinares para a pesquisa e desenvolvimento de criações artísticas, desta vez, permitindo um intercâmbio entre angolanos e americanos, que são eles os artistas plásticos Charles Washington e Andrece Brady, dos EUA, e de Angola Yola Balanga, Débora Sandjai, Oksanna Dias, Fanny Bienga, Don Sebas Cassule, Mestre Van, Evandro Kassandeca, Danick Bumba, Rafa Mal, com uma participação de Nefwani, Giovanny Tady e Marisa Kinjica.

Além desses, é ainda parte do grupo de artistas norte-americanos a cantora JanetZa Miranda, que juntamente com Esperança Mirakiza, de Angola, animou a abertura da exposição, patente até Fevereiro do próximo ano, com uma brilhante actuação musical.

Na ocasião, Marcos Agostinho, director-geral da American Schools of Angola e do ResiliArt Angola, fez saber que o projecto visa desde o início empoderar social e economicamente o artista, e é nesse âmbito que nasce a galeria, que vai servir como plataforma para que, durante os próximos anos, os artistas que sejam seleccionados possam ali expor a sua arte de forma individual, ou ainda colectiva, se preferirem, com o fim de “monetizarem” essas obras e revertem 100% o valor líquido para eles.

Em entrevista ao ONgoma News, o responsável declarou que a mostra junta particularmente artistas angolanos com artistas norte-americanos, que vai dentro daquilo que a organização preconizou, “que é a internacionalização do artista e o propósito dos 16 Dias do Activismo contra a Violência no Género como uma razão para juntá-los e fazer-lhes viver esta experiência, porque lhes permite não só crescer substancialmente no intercâmbio, mas ao mesmo tempo sensibilizá-los e internacionalizá-los”.

A campanha, tal como noutras iniciativas das Nações Unidas, várias outras organizações abraçam o projecto e naturalmente propagam-no. Nesse caso, segundo, Marcos Agostinho, conta com a União Europeia e o Reino dos Países Baixos, além do Governo de Angola, que decidiram se juntar para este activismo, e neste quesito convidaram o ResiliArt para que os artistas pudessem expressar o seu parecer. “Aproveitámos essa oportunidade e criámos todas as condições para que isso fosse uma razão para intercâmbio”, revelou.  

Questionado sobre os motivos que levaram a American Schools of Angola a ter a iniciativa da residência, que já vai na sua segunda edição, o gestor esclareceu que, como instituição de ensino, primeiro, o foco principal é a capacitação humana, e neste âmbito faz parte da sociedade em que está inserida. “Com as Nações Unidas, desde 2019, temos vindo a promover o Dia Internacional do Jazz. Em 2021 abraçámos a Bienal de Luanda, só que olhando de uma forma mais abrangente, e porque ficamos sensibilizados com o que se passava no mundo das artes durante a pandemia, olhámos para os artistas com um foco e um propósito muito específico, que é a capacitação humana. Acabou por ser algo natural, e temos visto as diferenças que temos causado nos jovens que têm feito contacto com o projecto, tanto os músicos como os artistas visuais e de outros géneros”, expressou.

JanetZa Miranda, muito demarcada pelo Jazz, considera a música uma linguagem universal, que “detém o poder de chamar a nossa atenção e nos inspirar; consolando-nos e deixando-nos aprender sobre quem somos como seres humanos”. “Misture isso com arte visual incrível e você terá a receita para as comunidades se unirem por uma causa maior”, declarou a cantora norte-americana, que agradece imensamente ao ResiliArt Angola por lhe ter dado a oportunidade de participar de tão grandiosa residência.

Como artista performática, revela, aprendeu ainda mais sobre a conexão entre artes visuais e performáticas. “É fascinante ver os artistas fazerem o seu trabalho com tanta diligência e é uma honra fazer uma serenata para sua arte com músicas das minhas artistas favoritas, como Nina Simone e Lauryn Hill”, acrescentou, mas também aprendeu que é importante ouvir para crescer.

“Aprendi a parar e ouvir as flores crescerem. E também aprendi que a autenticidade é a chave!”, concluiu JanetZa.

Entretanto, Danick Bumba, um dos artistas plásticos que intervêm no projecto, disse sentir-se privilegiado, ser um prazer enorme participar desse projecto, e no seu entender isso mostra que o trabalho dos artistas está a ser realmente apreciado e valorizado. “Quanto ao intercâmbio, foi proveitoso, educativo e produtivo trocar experiências e aprender com os artistas norte-americanos. Por exemplo, pudemos trabalhar com o artista e galerista Charles Washington, um mais velho de 67 anos de idade, que começou a sua jornada nas artes aos 7 anos, experiente nesse mundo. Imagina sentar-se e beber de uma pessoa desse calibre. É como se tivesse um poço disponível para acarretar o máximo de água possível”, partilhou.

O artista, que desenha há 15 anos mas actua profissionalmente há apenas 5, apresenta duas peças. Uma delas está sem título, porque decidiu deixar ao critério do público. A outra, que se chama “O dia em que perdi o meu filho”, óleo sobre tela, trata de uma jovem, grávida, que foi violada e humilhada por meliantes, e “no decurso desse acto maligno acabou perdendo o seu filho”.

Essa concepção, segundo Danick, teve graças a uma visita guiada por Carlos Bumba (especialista em Turismo), quando lhe contava que, na época hostil entre Angola e África do Sul, houve uma jovem grávida que foi estuprada. “Daí fiquei em mente com uma imagem equivalente ao que apresento aqui na exposição. Eu queria que as pessoas vissem o que eu vi no meu imaginário, queria que elas sentissem o que senti. Uma pessoa aqui disse que ficou assustada com a obra, e como artista sou feliz por isso, porque a ideia é provocar uma reflexão para as pessoas, sendo que não tenho poder nenhum de mudá-las. O que posso é fazer com que elas se questionem”, sublinhou.

Para ele, a exposição representa a tentativa de as pessoas caminharem em direcção à humanidade, porque reúne pessoas que se sentem indignadas com o que acontece a nível da violência no género, e este passo dado é sinal, para ele, “de que nos estamos a humanizar”. “Espero que a exposição chegue a mais pessoas, para que mais pessoas se questionem sobre o assunto”, ovacionou.

Como mulher negra americana, considera Andrece Brady, foi especial homenagear as mulheres aqui em Angola. “Em todo o mundo, as mulheres são tratadas com um nível mais baixo de respeito; no entanto, parece que em nações como Angola o tratamento para as mulheres é mais extremo”, observou a artista e co-curadora da exposição, para quem foi importante conhecer as histórias das mulheres, para ter uma perspectiva mais ampla da realidade do nosso país.

Contou-nos que ficou muito emocionada com a força demonstrada pelas mulheres angolanas e com as histórias das zungueiras. “Saber que elas são desrespeitadas e até mesmo feridas fisicamente por aqueles que devem proteger e servir me fez querer honrá-las”, exprimiu, relevando ter sido parte importante do projecto trabalhar com as artistas angolanas da ResiliArt, porque também puderam compartilhar histórias e perspectivas consigo, ajudá-la a encontrar as mulheres certas para conversar.

Para Andrece, é uma honra fazer a curadoria de um projecto e tema tão importantes, “mas o trabalho não pára por aqui, estende-se para além dos 16 dias e a seguir gostaria de ver mais envolvimento com as organizações feministas e de género que realmente fazem o trabalho, como a Ondjango Feminista, Arquivo de Identidade Angola, Associação Íris Angola e muito mais”.

Por fim, a convidada declarou que o que aprendeu sobre os artistas em Angola é que eles são realmente resilientes e usam os seus recursos por todos os meios necessários para criarem e isso é realmente um presente, além de que “o orgulho dos angolanos é algo profundo e patente em toda a sua arte”.

Já Oksanna Dias, que começou a sua jornada como artista de rua, afirma sentir-se renovada, cheia de experiências, tratando-se da sua segunda residência artística do mesmo projecto, “e esta é muito diferente”, pelo possível intercâmbio com os artistas americanos, o que lhe deixa muito feliz.

O tema da exposição é para ela de grande relevância, porque é um assunto que tem abalado a sociedade e destruído famílias. “O incesto, por exemplo, é algo que acontece muito mas fala-se pouco. Pais que violam as filhas, irmãos que têm relações sexuais com as irmãs, mas estas ficam com receio de contar porque pensam que iriam sujar a imagem da família. Muitas mulheres sofrem no seu relacionamento e ficam com medo de contar a alguém. E se agirem, feminicídio”, argumentou a artista, acreditando que o projecto é uma chamada de atenção para a sociedade, para que as mulheres e meninas não escondam os primeiros sinais e procurem ajuda de todas as formas.

Então, a sua obra, denominada “Sem escolha”, mostra como às vezes as crianças se sentem sem escolha diante duma situação que pode não ser do seu agrado. É necessário penalizar com o cuidado de não se atingirem proporções extremas, como cair em violência física, defende. “Muitas crianças são vítimas de violência doméstica e, com o passar do tempo, acabam por achar isso normal, parte da rotina. O trauma vive dentro delas, mas não conseguem exprimir, e vivem boa parte das suas vidas com tristeza”, lamentou.

Por fim, a embaixadora da União Europeia em Angola, Jeannette Seppen, considerou a iniciativa como sendo muito importante, porque fala dos 16 dias de activismo e sobre a importância de se acabar com todas as violências contra o género.

“É uma chamada de atenção a todas as pessoas que são vítimas, para saberem que são vítimas e que não é normal, e é ainda um lembrete para todos nós, no sentido de agirmos em defesa de todas as mulheres e meninas que correm o risco ou são vítimas de violência contra o género”, resumiu a governante, relevando ser, no geral, uma questão de respeito aos direitos humanos.

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