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Apesar da “qualidade duvidosa”, preço das infra-estruturas em Angola é três mais alto do que a média da SADC

Apesar da “qualidade duvidosa”, preço das infra-estruturas em Angola é três mais alto do que a média da SADC
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Andrade Lino

Um relatório que o Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola fez para a OSISA, Fundação Open Society em Angola, indica que se gastou três vezes mais que a média do preço na região a SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), “por isso ter-se-ia investido, ao invés de 100 mil milhões de USD, 30 mil milhões para as infra-estruturas, sem discutir a qualidade das mesmas", ao passo que 66 mil milhões de USD terão ido "para caminhos ínvios”, de acordo com o investigador Nelson Pestana, que falava aquando do lançamento do relatório “Rumo a Democracia para o Desenvolvimento dos Estados na África Subsariana”, promovido pela OSISA, recentemente.

“Foram feitos 11mil km de estradas, gastaram o dinheiro correspondente, mas não fizeram 11mil km de estradas porque fizeram duas ou três vezes a mesma estrada. Todos nós, que andamos pelo país, sabemos que as estradas não estão lá. Por exemplo, há uma estrada que divide o Bairro Palanca do Golfe que se chama ‘Estrada Nova’. Esta já foi estrada nova três ou quatro vezes para mim, porque passo por lá. É asfaltada, mas passados dois anos está completamente esburacada”, contestou Nelson Pestana.

Ao falar sobre o relatório, o docente argumentou que, o período pós-guerra, Angola registou um crescimento sem grande desenvolvimento económico e humano.

“Está na lógica de todo relatório verificar se a exploração de recursos de diversos países traduzem-se em bem-estar social das populações, mas no caso específico de Angola, no meu ponto de vista, devia ter-se preocupado mais com a economia política do que com o poder em concreto, porque é nisso que aqui tudo se justifica”, afirmou o também cientista político, acrescentando que houve uma política de acumulação primitiva do capital no passado, mas acredita que essa ainda não terminou.

Nelson Pestana, docente da Universidade Católica de Angola

... nessa contrafacção de crescimento económico, diz que o sector não petrolífero cresceu a uma determinada altura, mas é preciso realçar que a factura do crescimento não petrolífero era paga pelo petróleo, porque quem comprava os serviços e construía era o Estado.

“Os últimos actos do anterior inquilino do Palácio da Cidade Alta mostraram perfeitamente que essa política continuava e que havia preocupação de, mesmo não estando no Palácio, preservar pelo menos o que era fundamental. Por isso, não tendo tido esse enfoque sobre a economia em concreto, algumas coisas não ficaram muito bem explicadas. Depois, nessa contrafacção de crescimento económico, diz que o sector não petrolífero cresceu a uma determinada altura, mas é preciso realçar que a factura do crescimento não petrolífero era paga pelo petróleo, porque quem comprava os serviços e construía era o Estado. A ser assim, tudo passava pelo Estado, o processo clientelar e as receitas vinham todas do petróleo e a prova é que quando a torneira do petróleo reduziu a pressão, o sector do movimento não petrolífero minguou, quando deveria ter um outro tipo de comportamento”, explicou.

Nelson Pestana disse ainda que neste confronto entre o crescimento económico e a verificação se esse crescimento económico se traduz ou não em bem-estar social, o relatório só elegeu uma área social que é a habitação. “Eu acho que para se perceber se há ou não bem-estar traduzido pelo crescimento económico, dever-se-ia ter abordado a questão do emprego, por um lado, como o Carlos Rosado de Carvalho falou do programa de grandes obras do Estado nas mãos dos chineses, porque, geralmente, noutros países, as obras são uma forma de criação de emprego”, sugeriu, tendo lamentado que, em Angola, “com mera chave na mão, não se criou emprego, mas mais do que isso, não se criou a possibilidade de desenvolvimento de uma fileira de construção, dos materiais de construção diversificados, consoante a região em que se constrói, porque o emprego seria uma coisa interessante de verificar”.

O também pesquisador refutou, por fim, que, normalmente, os economistas discutem o salário mínimo pelo “luar da economia” ou pelos títulos, tendo relevado que “a lógica do salário mínimo não é a economia, mas a dignidade humana”.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

Um relatório que o Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola fez para a OSISA, Fundação Open Society em Angola, indica que se gastou três vezes mais que a média do preço na região a SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), “por isso ter-se-ia investido, ao invés de 100 mil milhões de USD, 30 mil milhões para as infra-estruturas, sem discutir a qualidade das mesmas", ao passo que 66 mil milhões de USD terão ido "para caminhos ínvios”, de acordo com o investigador Nelson Pestana, que falava aquando do lançamento do relatório “Rumo a Democracia para o Desenvolvimento dos Estados na África Subsariana”, promovido pela OSISA, recentemente.

“Foram feitos 11mil km de estradas, gastaram o dinheiro correspondente, mas não fizeram 11mil km de estradas porque fizeram duas ou três vezes a mesma estrada. Todos nós, que andamos pelo país, sabemos que as estradas não estão lá. Por exemplo, há uma estrada que divide o Bairro Palanca do Golfe que se chama ‘Estrada Nova’. Esta já foi estrada nova três ou quatro vezes para mim, porque passo por lá. É asfaltada, mas passados dois anos está completamente esburacada”, contestou Nelson Pestana.

Ao falar sobre o relatório, o docente argumentou que, o período pós-guerra, Angola registou um crescimento sem grande desenvolvimento económico e humano.

“Está na lógica de todo relatório verificar se a exploração de recursos de diversos países traduzem-se em bem-estar social das populações, mas no caso específico de Angola, no meu ponto de vista, devia ter-se preocupado mais com a economia política do que com o poder em concreto, porque é nisso que aqui tudo se justifica”, afirmou o também cientista político, acrescentando que houve uma política de acumulação primitiva do capital no passado, mas acredita que essa ainda não terminou.

Nelson Pestana, docente da Universidade Católica de Angola

... nessa contrafacção de crescimento económico, diz que o sector não petrolífero cresceu a uma determinada altura, mas é preciso realçar que a factura do crescimento não petrolífero era paga pelo petróleo, porque quem comprava os serviços e construía era o Estado.

“Os últimos actos do anterior inquilino do Palácio da Cidade Alta mostraram perfeitamente que essa política continuava e que havia preocupação de, mesmo não estando no Palácio, preservar pelo menos o que era fundamental. Por isso, não tendo tido esse enfoque sobre a economia em concreto, algumas coisas não ficaram muito bem explicadas. Depois, nessa contrafacção de crescimento económico, diz que o sector não petrolífero cresceu a uma determinada altura, mas é preciso realçar que a factura do crescimento não petrolífero era paga pelo petróleo, porque quem comprava os serviços e construía era o Estado. A ser assim, tudo passava pelo Estado, o processo clientelar e as receitas vinham todas do petróleo e a prova é que quando a torneira do petróleo reduziu a pressão, o sector do movimento não petrolífero minguou, quando deveria ter um outro tipo de comportamento”, explicou.

Nelson Pestana disse ainda que neste confronto entre o crescimento económico e a verificação se esse crescimento económico se traduz ou não em bem-estar social, o relatório só elegeu uma área social que é a habitação. “Eu acho que para se perceber se há ou não bem-estar traduzido pelo crescimento económico, dever-se-ia ter abordado a questão do emprego, por um lado, como o Carlos Rosado de Carvalho falou do programa de grandes obras do Estado nas mãos dos chineses, porque, geralmente, noutros países, as obras são uma forma de criação de emprego”, sugeriu, tendo lamentado que, em Angola, “com mera chave na mão, não se criou emprego, mas mais do que isso, não se criou a possibilidade de desenvolvimento de uma fileira de construção, dos materiais de construção diversificados, consoante a região em que se constrói, porque o emprego seria uma coisa interessante de verificar”.

O também pesquisador refutou, por fim, que, normalmente, os economistas discutem o salário mínimo pelo “luar da economia” ou pelos títulos, tendo relevado que “a lógica do salário mínimo não é a economia, mas a dignidade humana”.

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