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“Angola não cresce nada”, afirma economista Carlos Rosado de Carvalho

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Andrade Lino

O economista Carlos Rosado de Carvalho afirmou que “Angola não cresce nada” e que “não passa de uma mania dos governantes dizer que Angola cresce muito”, tendo acrescentado que o lema “Corrigir o que está Mal e Melhorar o que está Bem” não passa de uma “terrível lavagem cerebral”.

O também director-geral do Jornal Expansão falava por ocasião do lançamento do relatório “Rumo à Democracia para o Desenvolvimento dos Estados na África Subsariana”, decorrido no mês passado, que apresenta um quadro de Angola numa fase de transição económica. O relatório confirma, segundo Carlos Rosado de Carvalho, aquilo que todos sabiam, que Angola experimentou um crescimentoeconómico muito elevado, sobretudo até 2008, pela conjunção de dois factores, sendo um deles o aumento da produção de petróleo, mas, depois desse período, em 2009, houve um pequeno susto, sendo que o crescimento reduziu.

“Os dados adicionais do relatório confirmam aquilo que nós já suspeitávamos. Por exemplo, foram feitos investimentos tremendos em infra-estruturas, nem todas boas, naturalmente, e basta andarmos pelo país para vermos que foram efectivamente feitos. Uma vez fiz a contabilidade entre 2002 e 2015, em números redondos, e percebi que nós tivemos de petróleo 400 mil milhões de dólares, 100 mil milhões de investimento e foi feito algum investimento público em infra-estruturas”, argumentou, e disse ainda que o relatório refere, “e é verdade, que existem algumas políticas a nível da promoção do conteúdo local, nomeadamente na indústria de petróleo e outras de habitação que estão, de alguma maneira, num bom caminho”.

No entanto, prosseguiu, o problema de Angola “é a implementação daquilo que é decidido. Nós tivemos de facto um crescimento económico em Angola, que se traduziu pouco na melhoria do nível de vida das pessoas e este crescimento foi apropriado por uma pequena elite.O que choca mais é que isto foi propositado. Por outro lado, a promoção é tudo uma burguesia, uma acumulação permitida do capital, e, portanto, estes últimos dados, sobretudo depois de 2014, vieram confirmar os receios todos que nós tínhamos”.

“Dependência do petróleo é um sintoma da falta de competitividade”

“Em vez de se fazer o balanço dos 5 anos do Angola Investe, começamos a falar do PROJOVEM. É que nós não conseguimos aprender com os erros. Quer dizer, nós fazemos um programa e depois fazemos outro e esquecemo-nos do anterior". 

O ainda docente da Universidade Católica de Angola continuou que “o nosso problema não é a dependência do petróleo”. “Costumo adar o exemplo de que a febre é um sintoma de uma doença que nós temos, uma infecção qualquer e, por assim dizer, esta coisa de dependência do petróleo é um sintoma da falta de competitividade.Nós temos de produzir bens e serviços a um preço que seja competitivo internacionalmente. Esse é que é o problema de Angola e a forma de resolvê-lo também está identificada nos relatórios do Banco Mundial sobre o ambiente de negócios”, exemplificou, e observou que se precisa continuar a investir nas infra-estruturas, mas investir muito melhor.

Ademais, o analista mencionou o“Angola Investe” como sendo um bom programa, assim também dito no relatório, mas do qual já não se ouve falar da mesma maneira.

“Em vez de se fazer o balanço dos 5 anos do Angola Investe, começamos a falar do PROJOVEM. É que nós não conseguimos aprender com os erros. Quer dizer, nós fazemos um programa e depois fazemos outro e esquecemo-nos do anterior. Só para dar uma ideia, eu elogiei exclusivamente esse programa, pois previa um investimento de 1, 5 mil milhões de dólares anuais, e diziam que os cálculos eram por baixo. Bem, ao fim de 5 anos, por que os empréstimos são a metade do valor que estava previsto anualmente?”, questionou-se.

Carlos Rosado de Carvalho lamentou que, em Angola, “o problema é não querer comprometer-se, não procurar perceber o que não funciona e simplesmente esquecer”.

Adiante, falou da questão da habitação, tendo sublinhado que a programação de 1 milhão de casas pode até ser boa, mas não se aproveita o programa para desenvolver-se empresas locais, baseando-se ainda no relatório.

“Os chineses fizeram tudo, aquilo era segredo de Estado, ninguém poderia sequer aproximar-se de lá. É a mesma coisa com o Aeroporto: ninguém sabe, ninguém foi, ninguém viu, não sabemos de nada, mas aqui nós sabemos que poderia haver empresas angolanas, pequenas e médias, que poderiam beneficiar-se dessas coisas”, lamentou.

Sobre as bolsas da Sonangol, disse que a petrolífera “gasta milhões e milhões de dólares em formação mas não se vêem as pessoas. Onde é que põem esse dinheiro?”, voltou a questionar-se, tendo afirmado, por fim, ser hora “e uma boa oportunidade de fazer-se um balanço, não para apontar os culpados, mas para perceber-se o que se passou no fundo, para se corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O economista Carlos Rosado de Carvalho afirmou que “Angola não cresce nada” e que “não passa de uma mania dos governantes dizer que Angola cresce muito”, tendo acrescentado que o lema “Corrigir o que está Mal e Melhorar o que está Bem” não passa de uma “terrível lavagem cerebral”.

O também director-geral do Jornal Expansão falava por ocasião do lançamento do relatório “Rumo à Democracia para o Desenvolvimento dos Estados na África Subsariana”, decorrido no mês passado, que apresenta um quadro de Angola numa fase de transição económica. O relatório confirma, segundo Carlos Rosado de Carvalho, aquilo que todos sabiam, que Angola experimentou um crescimentoeconómico muito elevado, sobretudo até 2008, pela conjunção de dois factores, sendo um deles o aumento da produção de petróleo, mas, depois desse período, em 2009, houve um pequeno susto, sendo que o crescimento reduziu.

“Os dados adicionais do relatório confirmam aquilo que nós já suspeitávamos. Por exemplo, foram feitos investimentos tremendos em infra-estruturas, nem todas boas, naturalmente, e basta andarmos pelo país para vermos que foram efectivamente feitos. Uma vez fiz a contabilidade entre 2002 e 2015, em números redondos, e percebi que nós tivemos de petróleo 400 mil milhões de dólares, 100 mil milhões de investimento e foi feito algum investimento público em infra-estruturas”, argumentou, e disse ainda que o relatório refere, “e é verdade, que existem algumas políticas a nível da promoção do conteúdo local, nomeadamente na indústria de petróleo e outras de habitação que estão, de alguma maneira, num bom caminho”.

No entanto, prosseguiu, o problema de Angola “é a implementação daquilo que é decidido. Nós tivemos de facto um crescimento económico em Angola, que se traduziu pouco na melhoria do nível de vida das pessoas e este crescimento foi apropriado por uma pequena elite.O que choca mais é que isto foi propositado. Por outro lado, a promoção é tudo uma burguesia, uma acumulação permitida do capital, e, portanto, estes últimos dados, sobretudo depois de 2014, vieram confirmar os receios todos que nós tínhamos”.

“Dependência do petróleo é um sintoma da falta de competitividade”

“Em vez de se fazer o balanço dos 5 anos do Angola Investe, começamos a falar do PROJOVEM. É que nós não conseguimos aprender com os erros. Quer dizer, nós fazemos um programa e depois fazemos outro e esquecemo-nos do anterior". 

O ainda docente da Universidade Católica de Angola continuou que “o nosso problema não é a dependência do petróleo”. “Costumo adar o exemplo de que a febre é um sintoma de uma doença que nós temos, uma infecção qualquer e, por assim dizer, esta coisa de dependência do petróleo é um sintoma da falta de competitividade.Nós temos de produzir bens e serviços a um preço que seja competitivo internacionalmente. Esse é que é o problema de Angola e a forma de resolvê-lo também está identificada nos relatórios do Banco Mundial sobre o ambiente de negócios”, exemplificou, e observou que se precisa continuar a investir nas infra-estruturas, mas investir muito melhor.

Ademais, o analista mencionou o“Angola Investe” como sendo um bom programa, assim também dito no relatório, mas do qual já não se ouve falar da mesma maneira.

“Em vez de se fazer o balanço dos 5 anos do Angola Investe, começamos a falar do PROJOVEM. É que nós não conseguimos aprender com os erros. Quer dizer, nós fazemos um programa e depois fazemos outro e esquecemo-nos do anterior. Só para dar uma ideia, eu elogiei exclusivamente esse programa, pois previa um investimento de 1, 5 mil milhões de dólares anuais, e diziam que os cálculos eram por baixo. Bem, ao fim de 5 anos, por que os empréstimos são a metade do valor que estava previsto anualmente?”, questionou-se.

Carlos Rosado de Carvalho lamentou que, em Angola, “o problema é não querer comprometer-se, não procurar perceber o que não funciona e simplesmente esquecer”.

Adiante, falou da questão da habitação, tendo sublinhado que a programação de 1 milhão de casas pode até ser boa, mas não se aproveita o programa para desenvolver-se empresas locais, baseando-se ainda no relatório.

“Os chineses fizeram tudo, aquilo era segredo de Estado, ninguém poderia sequer aproximar-se de lá. É a mesma coisa com o Aeroporto: ninguém sabe, ninguém foi, ninguém viu, não sabemos de nada, mas aqui nós sabemos que poderia haver empresas angolanas, pequenas e médias, que poderiam beneficiar-se dessas coisas”, lamentou.

Sobre as bolsas da Sonangol, disse que a petrolífera “gasta milhões e milhões de dólares em formação mas não se vêem as pessoas. Onde é que põem esse dinheiro?”, voltou a questionar-se, tendo afirmado, por fim, ser hora “e uma boa oportunidade de fazer-se um balanço, não para apontar os culpados, mas para perceber-se o que se passou no fundo, para se corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”.

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