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“Angola atravessa, 45 anos depois da sua independência, um período difícil”, afirmou António Costa Silva

“Angola atravessa, 45 anos depois da sua independência, um período difícil”, afirmou António Costa Silva
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O gestor português António Costa Silva afirmou, nesta segunda-feira, que Angola atravessa, 45 anos depois da sua independência, um período difícil, “com seríssimos riscos de instabilidade política e social”, e que, se a liderança se isolar progressivamente, se não construir plataformas colaborativas, se não conseguir agregar vontades, o Executivo angolano “pode rapidamente perder o resto das expectativas e da boa vontade que existe no país”.

Para o também engenheiro, nascido no planalto central angolano, fundador e membro dos comités Amílcar Cabral, que apoiavam o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) e contestavam o regime colonial, o Presidente João Lourenço “é uma pessoa que veio do próprio MPLA, conhece muito bem qual é a situação, e resolveu escolher um caminho”, deu um passo na “luta contra a corrupção, que é essencial, mas é evidente que os desafios são colossais”.

Em declarações à Lusa, a propósito da celebração do 11 de Novembro, assinalado hoje o Dia da Independência Nacional, considerou que o chefe de Estado angolano precisa de “rasgos” em termos de política interna para evitar uma grande instabilidade no país e que é necessária a mudança de um paradigma mental que existe no país, “que é um país rendista, que sempre viveu à conta das rendas do petróleo, sem grande necessidade de fazer sacrifícios para diversificar a economia”.

“A combinação do declínio das receitas petrolíferas, deterioração da situação económica do país, as expectativas que podem não ser preenchidas, ou totalmente preenchidas, na luta contra a corrupção, cria uma combinação tóxica”, explicou o ainda presidente da empresa petrolífera Partex, autor do documento-base para o plano de recuperação da economia portuguesa para 2020-2030.

Trata-se de um contexto no qual o Presidente da República precisa “não só de resiliência e resistência, mas de alguns rasgos em termos da política interna, que se não forem efectuados podem conduzir a uma grande instabilidade social e política”, defendeu António Costa Silva.

Segundo o especialista, esses “rasgos” são “conseguir aglutinar uma plataforma política para se encontrar uma saída para o país, unir os 'players' económicos para encontrar formas de diversificar a economia, falar com os partidos da oposição para congregar vontades, fazer ou ativar a comissão de reconciliação nacional sobre todos os incidentes que o país passou no passado, para ser um acto regenerador e dar um significado diferente à vivência que o país tem como uma comunidade, dar sinais claros de transparência e de prestação de contas”.

“São esses sinais, que vindos da liderança, depois podem mudar a conjuntura do país”, frisou, tendo acrescentado que, nos últimos anos, Luanda apostou em novas descobertas petrolíferas nas águas profundas, na esperança de que a costa angolana fosse semelhante ao litoral brasileiro, o que não sucedeu.

“Em função desse erro, as descobertas não ocorreram e a produção petrolífera começou a declinar. No ano passado, foi à volta de 1,37 milhões de barris por dia, quando em 2015 quase chegou a 1,8 milhões de barris por dia, portanto é um declínio de 24% em quatro a cinco anos”, referiu, clareando que “isto mostra claramente que o futuro de Angola não pode ser o petróleo”.

Por isso, será “muito importante que, quando a economia se reactivar e os preços do petróleo recuperarem, usar essas receitas para diversificar a economia e desenvolver ouros sectores, como o agrícola, absolutamente fundamental para o país”.

“Até porque Angola importa a maior parte dos bens alimentares que consome, o que é um paradoxo em si, porque tem solos que são extremamente ricos”, apontou.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O gestor português António Costa Silva afirmou, nesta segunda-feira, que Angola atravessa, 45 anos depois da sua independência, um período difícil, “com seríssimos riscos de instabilidade política e social”, e que, se a liderança se isolar progressivamente, se não construir plataformas colaborativas, se não conseguir agregar vontades, o Executivo angolano “pode rapidamente perder o resto das expectativas e da boa vontade que existe no país”.

Para o também engenheiro, nascido no planalto central angolano, fundador e membro dos comités Amílcar Cabral, que apoiavam o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) e contestavam o regime colonial, o Presidente João Lourenço “é uma pessoa que veio do próprio MPLA, conhece muito bem qual é a situação, e resolveu escolher um caminho”, deu um passo na “luta contra a corrupção, que é essencial, mas é evidente que os desafios são colossais”.

Em declarações à Lusa, a propósito da celebração do 11 de Novembro, assinalado hoje o Dia da Independência Nacional, considerou que o chefe de Estado angolano precisa de “rasgos” em termos de política interna para evitar uma grande instabilidade no país e que é necessária a mudança de um paradigma mental que existe no país, “que é um país rendista, que sempre viveu à conta das rendas do petróleo, sem grande necessidade de fazer sacrifícios para diversificar a economia”.

“A combinação do declínio das receitas petrolíferas, deterioração da situação económica do país, as expectativas que podem não ser preenchidas, ou totalmente preenchidas, na luta contra a corrupção, cria uma combinação tóxica”, explicou o ainda presidente da empresa petrolífera Partex, autor do documento-base para o plano de recuperação da economia portuguesa para 2020-2030.

Trata-se de um contexto no qual o Presidente da República precisa “não só de resiliência e resistência, mas de alguns rasgos em termos da política interna, que se não forem efectuados podem conduzir a uma grande instabilidade social e política”, defendeu António Costa Silva.

Segundo o especialista, esses “rasgos” são “conseguir aglutinar uma plataforma política para se encontrar uma saída para o país, unir os 'players' económicos para encontrar formas de diversificar a economia, falar com os partidos da oposição para congregar vontades, fazer ou ativar a comissão de reconciliação nacional sobre todos os incidentes que o país passou no passado, para ser um acto regenerador e dar um significado diferente à vivência que o país tem como uma comunidade, dar sinais claros de transparência e de prestação de contas”.

“São esses sinais, que vindos da liderança, depois podem mudar a conjuntura do país”, frisou, tendo acrescentado que, nos últimos anos, Luanda apostou em novas descobertas petrolíferas nas águas profundas, na esperança de que a costa angolana fosse semelhante ao litoral brasileiro, o que não sucedeu.

“Em função desse erro, as descobertas não ocorreram e a produção petrolífera começou a declinar. No ano passado, foi à volta de 1,37 milhões de barris por dia, quando em 2015 quase chegou a 1,8 milhões de barris por dia, portanto é um declínio de 24% em quatro a cinco anos”, referiu, clareando que “isto mostra claramente que o futuro de Angola não pode ser o petróleo”.

Por isso, será “muito importante que, quando a economia se reactivar e os preços do petróleo recuperarem, usar essas receitas para diversificar a economia e desenvolver ouros sectores, como o agrícola, absolutamente fundamental para o país”.

“Até porque Angola importa a maior parte dos bens alimentares que consome, o que é um paradoxo em si, porque tem solos que são extremamente ricos”, apontou.

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