Entrevista
Sílvio Nascimento

“Acredito que com o devido esforço chegarei a algum lado”

“Acredito que com o devido esforço chegarei a algum lado”
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Sílvio Nascimento recebeu do Corpo Diplomático Angolano em Washington o título de “Embaixador da Cultura Jovem Angolana nos Estados Unidos da América”, com o qual ficou "bastante surpreso", mas percebeu que o esforço que faz para a sua promoção não tem sido em vão. Ao ONgoma News, o artista revelou que, além da simpatia dos fãs e de outras pessoas que gostam do seu trabalho, não conta com o apoio estrutural de nenhuma instituição ou agente.

Nos últimos dois anos, tem apostado muito na sua promoção como artista, muitas vezes sem apoio. Onde vai buscar a inspiração?

Eu aprendi com Denzel Washingtom, actor norte-americano de quem sou fã, que a possibilidade de sermos bons em alguma coisa torna-se maior quando a fizermos durante muito tempo. Foi então que percebi que para ser um actor reconhecido a nível internacional e ser apontado como um angolano que trabalha como tal, tenho que lutar e fazê-lo por mim mesmo. E na verdade quem está por trás de tudo isso são as pessoas que gostam do meu trabalho e acabam sempre por divulgar de certa forma o que eu faço. Fora isso, eu não tenho ninguém que trabalhe comigo a nível de estrutura, um patrocinador ou um agente. Eu tenho é muita força de vontade e acredito que com o devido esforço chegarei a algum lado.

Estou prestes a fazer parte de um filme brasileiro, de produção independente, mas falta concordância por parte da produção, e uma vez que filmes do género envolvem muitos custos e o patrocínio não chega a tempo, tem-se adiado bastante a gravação do filme.

Diga-nos como é que foi a sua estadia nos Estados Unidos da América?

Eu fui convidado pela Embaixada de Angola nos Estados Unidos da América, para uma actividade comemorativa dos 13 anos Paz. Foi uma actividade de âmbito cultural, ocorrida no dia 25 de Abril, na qual adaptei para num monólogo o texto “Renúncia Impossível” de Agostinho Neto. Recebi o título de “Embaixador da Cultura Jovem Angolana nos Estados Unidos”, que me foi atribuído pelos membros do Corpo Diplomático em Washingtom, com o qual fiquei bastante surpreso, mas de alguma forma tudo isso demonstra que as pessoas têm acompanhado a minha carreira e que viram a oportunidade de dar mais um avanço à mesma.

O seu envolvimento em projectos de cinema, teatro e televisão serviu de um trampolim para a internacionalização da sua carreira!?

Na verdade este sempre foi um dos meus maiores objectivos. Eu pretendo ser reconhecido internacionalmente mas de Angola para o mundo, até porque, actualmente, já se consegue ter alguma referência minha por causa do filme “Jinga, Rainha de Angola”. A intenção é continuar a trabalhar arduamente para conseguir participações ou contratos a nível internacional. Estou prestes a fazer parte de um filme brasileiro, de produção independente, mas falta concordância por parte da produção, e uma vez que filmes do género envolvem muitos custos e o patrocínio não chega a tempo, tem-se adiado bastante a sua gravação.

Concorda com a opinião de que o teatro é uma arte a que se presta pouca atenção em Angola, comparativamente à música, por exemplo?

Penso que a cultura perdeu o seu valor quando passou a ser negociada. Daí que a música torna-se muito mais abrangente que o teatro, a literatura, entre outros ramos da cultura. Uma peça de teatro atrai, em Angola, um número de 500 pessoas, ao passo que um show de música pode atrair acima de 20 mil pessoas, o que, decerto, tem a ver com a educação cultural das pessoas. Por um lado, isto deve-se à falta de organização por parte dos próprios fazedores da arte. Por outro lado, a falta de espaço tem também dificultado a divulgação de muitos eventos. Algumas das poucas infra-estruturas que temos encontram-se em desuso, outras têm sido reabilitadas há bastante tempo, e existem casos em que a falta de acesso ao teatro tem que ver com o aspecto territorial. Por exemplo, uma peça de teatro marcado para o período nocturno, a ser realizada no município do Cazenga, obviamente terá baixa adesão.  

Como é que surge a paixão pela representação?

Comecei a fazer teatro desde tenra idade, propriamente aos 7 anos, na escola onde frequentei a iniciação. Mas para que um indivíduo seja bom naquilo que faz, não tem que necessariamente começar desde cedo. O teatro envolve técnicas, mas acima de tudo envolve sentimentos e exige muita atitude psicológica.

“Existe um certo ciúme por parte de quem faz teatro quando um actor vai para a televisão”

O que acha da tendência de muitos actores ficarem apenas pelo teatro, mas outros quando saem do teatro para o cinema ou televisão não voltarem mais para o teatro?

Existe um certo ciúme por parte de quem faz teatro quando um actor vai para a televisão. O teatro é tido como uma arte de nível baixo no ponto de vista de quem faz, chegando até a ter conclusões sobre o indivíduo que está na televisão, por ter atingido um maior número de espectadores, por causa das dificuldades que a arte em si apresenta. Há também o caso de pessoas que começaram com o teatro mas depois foram à moda e vice-versa. No meu caso, já na 8ª classe, desviei-me para a moda, onde fiz parte do grupo Galaxy Model. Voltei para o teatro no ano de 2005 e continuo até hoje.

Artes cénicas não podem de maneira alguma ter pudor relativamente às outras culturas porque os actores representam a vida real

Quando é que surge o convite para a Televisão?

Comecei em 2010 a fazer o programa Stop SIDA, fi-lo durante duas temporadas que me serviram de escola em televisão, e de repente tornei-me no rosto do programa. Foram cerca de 45 episódios gravados em dois anos.

Até que ponto as questões culturais e religiosas podem interferir, ajudando ou impedindo o desenvolvimento das artes cénicas?

Artes cénicas não podem de maneira alguma ter pudor relativamente às outras culturas porque os actores representam a vida real, porque é a vida real que influencia as artes cénicas e não o contrário. Raramente as artes cénicas criam uma opinião que não exista ou nem se tenha pensado nela, mas sim copiam da vida real para que as pessoas façam um balanço sobre o que é bom ou mau.

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Andrade Lino e Sebastião Vemba

Sílvio Nascimento recebeu do Corpo Diplomático Angolano em Washington o título de “Embaixador da Cultura Jovem Angolana nos Estados Unidos da América”, com o qual ficou "bastante surpreso", mas percebeu que o esforço que faz para a sua promoção não tem sido em vão. Ao ONgoma News, o artista revelou que, além da simpatia dos fãs e de outras pessoas que gostam do seu trabalho, não conta com o apoio estrutural de nenhuma instituição ou agente.

Nos últimos dois anos, tem apostado muito na sua promoção como artista, muitas vezes sem apoio. Onde vai buscar a inspiração?

Eu aprendi com Denzel Washingtom, actor norte-americano de quem sou fã, que a possibilidade de sermos bons em alguma coisa torna-se maior quando a fizermos durante muito tempo. Foi então que percebi que para ser um actor reconhecido a nível internacional e ser apontado como um angolano que trabalha como tal, tenho que lutar e fazê-lo por mim mesmo. E na verdade quem está por trás de tudo isso são as pessoas que gostam do meu trabalho e acabam sempre por divulgar de certa forma o que eu faço. Fora isso, eu não tenho ninguém que trabalhe comigo a nível de estrutura, um patrocinador ou um agente. Eu tenho é muita força de vontade e acredito que com o devido esforço chegarei a algum lado.

Estou prestes a fazer parte de um filme brasileiro, de produção independente, mas falta concordância por parte da produção, e uma vez que filmes do género envolvem muitos custos e o patrocínio não chega a tempo, tem-se adiado bastante a gravação do filme.

Diga-nos como é que foi a sua estadia nos Estados Unidos da América?

Eu fui convidado pela Embaixada de Angola nos Estados Unidos da América, para uma actividade comemorativa dos 13 anos Paz. Foi uma actividade de âmbito cultural, ocorrida no dia 25 de Abril, na qual adaptei para num monólogo o texto “Renúncia Impossível” de Agostinho Neto. Recebi o título de “Embaixador da Cultura Jovem Angolana nos Estados Unidos”, que me foi atribuído pelos membros do Corpo Diplomático em Washingtom, com o qual fiquei bastante surpreso, mas de alguma forma tudo isso demonstra que as pessoas têm acompanhado a minha carreira e que viram a oportunidade de dar mais um avanço à mesma.

O seu envolvimento em projectos de cinema, teatro e televisão serviu de um trampolim para a internacionalização da sua carreira!?

Na verdade este sempre foi um dos meus maiores objectivos. Eu pretendo ser reconhecido internacionalmente mas de Angola para o mundo, até porque, actualmente, já se consegue ter alguma referência minha por causa do filme “Jinga, Rainha de Angola”. A intenção é continuar a trabalhar arduamente para conseguir participações ou contratos a nível internacional. Estou prestes a fazer parte de um filme brasileiro, de produção independente, mas falta concordância por parte da produção, e uma vez que filmes do género envolvem muitos custos e o patrocínio não chega a tempo, tem-se adiado bastante a sua gravação.

Concorda com a opinião de que o teatro é uma arte a que se presta pouca atenção em Angola, comparativamente à música, por exemplo?

Penso que a cultura perdeu o seu valor quando passou a ser negociada. Daí que a música torna-se muito mais abrangente que o teatro, a literatura, entre outros ramos da cultura. Uma peça de teatro atrai, em Angola, um número de 500 pessoas, ao passo que um show de música pode atrair acima de 20 mil pessoas, o que, decerto, tem a ver com a educação cultural das pessoas. Por um lado, isto deve-se à falta de organização por parte dos próprios fazedores da arte. Por outro lado, a falta de espaço tem também dificultado a divulgação de muitos eventos. Algumas das poucas infra-estruturas que temos encontram-se em desuso, outras têm sido reabilitadas há bastante tempo, e existem casos em que a falta de acesso ao teatro tem que ver com o aspecto territorial. Por exemplo, uma peça de teatro marcado para o período nocturno, a ser realizada no município do Cazenga, obviamente terá baixa adesão.  

Como é que surge a paixão pela representação?

Comecei a fazer teatro desde tenra idade, propriamente aos 7 anos, na escola onde frequentei a iniciação. Mas para que um indivíduo seja bom naquilo que faz, não tem que necessariamente começar desde cedo. O teatro envolve técnicas, mas acima de tudo envolve sentimentos e exige muita atitude psicológica.

“Existe um certo ciúme por parte de quem faz teatro quando um actor vai para a televisão”

O que acha da tendência de muitos actores ficarem apenas pelo teatro, mas outros quando saem do teatro para o cinema ou televisão não voltarem mais para o teatro?

Existe um certo ciúme por parte de quem faz teatro quando um actor vai para a televisão. O teatro é tido como uma arte de nível baixo no ponto de vista de quem faz, chegando até a ter conclusões sobre o indivíduo que está na televisão, por ter atingido um maior número de espectadores, por causa das dificuldades que a arte em si apresenta. Há também o caso de pessoas que começaram com o teatro mas depois foram à moda e vice-versa. No meu caso, já na 8ª classe, desviei-me para a moda, onde fiz parte do grupo Galaxy Model. Voltei para o teatro no ano de 2005 e continuo até hoje.

Artes cénicas não podem de maneira alguma ter pudor relativamente às outras culturas porque os actores representam a vida real

Quando é que surge o convite para a Televisão?

Comecei em 2010 a fazer o programa Stop SIDA, fi-lo durante duas temporadas que me serviram de escola em televisão, e de repente tornei-me no rosto do programa. Foram cerca de 45 episódios gravados em dois anos.

Até que ponto as questões culturais e religiosas podem interferir, ajudando ou impedindo o desenvolvimento das artes cénicas?

Artes cénicas não podem de maneira alguma ter pudor relativamente às outras culturas porque os actores representam a vida real, porque é a vida real que influencia as artes cénicas e não o contrário. Raramente as artes cénicas criam uma opinião que não exista ou nem se tenha pensado nela, mas sim copiam da vida real para que as pessoas façam um balanço sobre o que é bom ou mau.

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