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“A reforma educativa ainda não obedece às regras”, informa quadro do Sinprof Huíla

“A reforma educativa ainda não obedece às regras”, informa quadro do Sinprof Huíla
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Andrade Lino

O Secretário para Educação e Formação do Sindicato de Professores na província da Huíla, Albino Bernardo Daniel, informou que “apesar de se olhar muito para a reforma educativa, a posição das escolas ainda não obedece ao modelo que se encaixa com o período que se vive, pois ainda há muitas instituições sem biblioteca, escolas do primeiro ciclo sem laboratórios, sem ginásios para a prática das aulas de educação física, dentre outras debilidades”, naquela localidade.

Preocupado com a evolução do sector da educação e focado na realização dos problemas deste, Albino Daniel defende o acesso igualitário à educação entre meninas e meninos, o envolvimento das comunidades no processo educativo e mudanças a haver no sistema de ensino, “para adaptar-se a melhorias invisíveis”.

Nesse diapasão, o responsável lamenta que algumas escolas já criadas e nomeadas não tenham ainda orçamentos. “As que têm orçamentos, geralmente, aquilo que conseguem gerir a nível local são questões de pagamentos de salários. Para ter que se manter o lado administrativo em funcionamento, muitas vezes recorremos aos bolsos dos alunos, através encarregados de educação, naquilo que é chamado de comparticipação, mais visível em algumas províncias”, revelou, e destacou que, nessa altura, é com a participação dos alunos que muitas vezes é possível manter aquilo que é o saneamento básico a nível das escolas e, quando a escola não é acolhedora, não possui a higiene necessária para manter os alunos, também acaba por se tornar um dos factores para o abandono escolar das crianças”.

Fez saber que a minoria da qualidade de ensino avalia o nível motivacional do aluno e o seu perfil de saída, atendendo aos currículos programados para tal, de uma forma material e pedagógica. Além da insatisfação salarial dos professores, dos indicadores ligados ao material pedagógico, o grau de confiança no ensino é apenas de 50%, podendo-se assim dizer que “muitos alunos terminam o nível ou ciclo de ensino sem as devidas expectativas”, continuou.

“Quando olhamos para o ensino primário, a avaliação geralmente tem se baseado em se o aluno terminar a sexta classe possui competências como saber ler, escrever, fazer os cálculos básicos da matemática, mas isso está muito aquém daquilo que o real perfil do aluno que termina o ensino primário exige. E quando nos damos por satisfeitos, o primeiro ciclo vai encontrando barreiras maiores, o que implica dizer que continuamos ainda a preparar alunos que reproduzem com pouca eficácia aquilo que o professor passa, em vez de trabalharmos alunos que sejam capazes de serem criativos na resolução de situações”, argumentou o docente, falando por ocasião da Conferência Nacional de Educação, realizada pela Handeka, no final de Março.  

Por dentro dos problemas do professorado

Albino revelou que o nível motivacional dos professores faz com que eles encarem o processo de aprendizagem com pouco compromisso. “Há professores de 15 a 20 anos de trabalho que nunca sofreram nenhuma transformação em termos de categoria salarial. Ele não sabe para onde vai, não sabe como será a sua vida em termos de progressão, os nossos alunos não conseguem reunir competências e, quanto ao objectivo ligado ao reforço do sistema de educação, revelou-se uma fraca formação dos gestores escolares, fala-se em 49%. Além disso, revelou-se uma fraca construção dos resultados do sistema de monitoria educativo, e isso, de alguma forma, acaba afectando de forma drástica a comunicação institucional hierárquica”, lamentou,

Um dos maiores propósitos do Sinprof, de acordo com a fonte, é analisar até que ponto os recursos financeiros motivam ou desmotivam o papel do professor. “Uma atenção completamente especializada e virada para o professor nos ajudaria a ver e resolver  os vários problemas. E se nós olharmos para a reforma educativa desde o diagnóstico até a realidade de hoje, o professor continua a ser arrastado, porque estamos a trabalhar com professores que vêm de uma realidade completamente diferente, despreparados para lidar com certas disciplinas, conteúdos para a quinta e sexta classes. Ou seja, quanto à mono docência, encontramos dificuldades, constrangimentos, sendo que uma boa parte não tem a agregação pedagógica”, contestou, sabendo que “o professor deve passar por uma escola de formação de professores, em torno de uma boa parte dos municípios da província da Huíla, porém faltam magistérios dos municípios a nível interior”.

O secretário, adiante, criticou o facto de haver pessoas sem curso nenhum. “Ou seja, estamos a preparar indivíduos para a faculdade e são esses que no concurso público acabam por ter uma prioridade de entrar e estar a trabalhar com os alunos do ensino primário, pessoas que não conhecem o que são metodologias de ensino, que não conhecem o que são princípios pedagógicos. Sim, é com esses que estamos a contar e a recontar para tal. Se formos buscar na capital da província, também não conseguiremos cobrir o número de necessidades para aquilo que é a realidade de toda a província. Temos professores que não dominam muito bem os métodos de iniciação de leitura nem escrita, não gostam de matemática porque cresceram olhando para a matemática como um bicho-de-sete-cabeças, estamos a trabalhar com professores que têm de leccionar a cadeira de Educação Musical, mas música ouviram apenas na igreja, nos cânticos corais. Estamos a trabalhar com professores que devem dar perspectiva física aos alunos, mas de Educação Física sabem apenas que envolve algumas correrias de exercícios e eles nunca tiveram tal cultura e hábito, muito menos uma formação para tal. Logo, estamos a falar de professores que têm que ensinar cadeiras um pouco mais complicadas, ligadas às artes, mas são pessoas que têm alguma aversão a isso. Estamos a falar de professores que acabam criando uma espécie da aversão e desamores às crianças por qualquer tipo de arte, estamos a falar do número de disciplinas com que o professor tem de lidar mesmo sem ter as competências necessárias de base”, desabafou.

No entanto, ontem, 1 de Maio, assinalado o Dia Internacional do Trabalhador, membros do Sinprof Huíla acordaram, numa das suas páginas de Facebook, e comemorando a data sob o lema “Por um sindicalismo livre e independente”, que os motivos que deram vida à greve nacional continuam em pé, mas sentem-se sinais positivos por parte do Executivo, através da entidade patronal, em resolver os problemas num curto espaço de tempo.

 

 

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Andrade Lino e Conceição Daniel

Jornalistas

O Secretário para Educação e Formação do Sindicato de Professores na província da Huíla, Albino Bernardo Daniel, informou que “apesar de se olhar muito para a reforma educativa, a posição das escolas ainda não obedece ao modelo que se encaixa com o período que se vive, pois ainda há muitas instituições sem biblioteca, escolas do primeiro ciclo sem laboratórios, sem ginásios para a prática das aulas de educação física, dentre outras debilidades”, naquela localidade.

Preocupado com a evolução do sector da educação e focado na realização dos problemas deste, Albino Daniel defende o acesso igualitário à educação entre meninas e meninos, o envolvimento das comunidades no processo educativo e mudanças a haver no sistema de ensino, “para adaptar-se a melhorias invisíveis”.

Nesse diapasão, o responsável lamenta que algumas escolas já criadas e nomeadas não tenham ainda orçamentos. “As que têm orçamentos, geralmente, aquilo que conseguem gerir a nível local são questões de pagamentos de salários. Para ter que se manter o lado administrativo em funcionamento, muitas vezes recorremos aos bolsos dos alunos, através encarregados de educação, naquilo que é chamado de comparticipação, mais visível em algumas províncias”, revelou, e destacou que, nessa altura, é com a participação dos alunos que muitas vezes é possível manter aquilo que é o saneamento básico a nível das escolas e, quando a escola não é acolhedora, não possui a higiene necessária para manter os alunos, também acaba por se tornar um dos factores para o abandono escolar das crianças”.

Fez saber que a minoria da qualidade de ensino avalia o nível motivacional do aluno e o seu perfil de saída, atendendo aos currículos programados para tal, de uma forma material e pedagógica. Além da insatisfação salarial dos professores, dos indicadores ligados ao material pedagógico, o grau de confiança no ensino é apenas de 50%, podendo-se assim dizer que “muitos alunos terminam o nível ou ciclo de ensino sem as devidas expectativas”, continuou.

“Quando olhamos para o ensino primário, a avaliação geralmente tem se baseado em se o aluno terminar a sexta classe possui competências como saber ler, escrever, fazer os cálculos básicos da matemática, mas isso está muito aquém daquilo que o real perfil do aluno que termina o ensino primário exige. E quando nos damos por satisfeitos, o primeiro ciclo vai encontrando barreiras maiores, o que implica dizer que continuamos ainda a preparar alunos que reproduzem com pouca eficácia aquilo que o professor passa, em vez de trabalharmos alunos que sejam capazes de serem criativos na resolução de situações”, argumentou o docente, falando por ocasião da Conferência Nacional de Educação, realizada pela Handeka, no final de Março.  

Por dentro dos problemas do professorado

Albino revelou que o nível motivacional dos professores faz com que eles encarem o processo de aprendizagem com pouco compromisso. “Há professores de 15 a 20 anos de trabalho que nunca sofreram nenhuma transformação em termos de categoria salarial. Ele não sabe para onde vai, não sabe como será a sua vida em termos de progressão, os nossos alunos não conseguem reunir competências e, quanto ao objectivo ligado ao reforço do sistema de educação, revelou-se uma fraca formação dos gestores escolares, fala-se em 49%. Além disso, revelou-se uma fraca construção dos resultados do sistema de monitoria educativo, e isso, de alguma forma, acaba afectando de forma drástica a comunicação institucional hierárquica”, lamentou,

Um dos maiores propósitos do Sinprof, de acordo com a fonte, é analisar até que ponto os recursos financeiros motivam ou desmotivam o papel do professor. “Uma atenção completamente especializada e virada para o professor nos ajudaria a ver e resolver  os vários problemas. E se nós olharmos para a reforma educativa desde o diagnóstico até a realidade de hoje, o professor continua a ser arrastado, porque estamos a trabalhar com professores que vêm de uma realidade completamente diferente, despreparados para lidar com certas disciplinas, conteúdos para a quinta e sexta classes. Ou seja, quanto à mono docência, encontramos dificuldades, constrangimentos, sendo que uma boa parte não tem a agregação pedagógica”, contestou, sabendo que “o professor deve passar por uma escola de formação de professores, em torno de uma boa parte dos municípios da província da Huíla, porém faltam magistérios dos municípios a nível interior”.

O secretário, adiante, criticou o facto de haver pessoas sem curso nenhum. “Ou seja, estamos a preparar indivíduos para a faculdade e são esses que no concurso público acabam por ter uma prioridade de entrar e estar a trabalhar com os alunos do ensino primário, pessoas que não conhecem o que são metodologias de ensino, que não conhecem o que são princípios pedagógicos. Sim, é com esses que estamos a contar e a recontar para tal. Se formos buscar na capital da província, também não conseguiremos cobrir o número de necessidades para aquilo que é a realidade de toda a província. Temos professores que não dominam muito bem os métodos de iniciação de leitura nem escrita, não gostam de matemática porque cresceram olhando para a matemática como um bicho-de-sete-cabeças, estamos a trabalhar com professores que têm de leccionar a cadeira de Educação Musical, mas música ouviram apenas na igreja, nos cânticos corais. Estamos a trabalhar com professores que devem dar perspectiva física aos alunos, mas de Educação Física sabem apenas que envolve algumas correrias de exercícios e eles nunca tiveram tal cultura e hábito, muito menos uma formação para tal. Logo, estamos a falar de professores que têm que ensinar cadeiras um pouco mais complicadas, ligadas às artes, mas são pessoas que têm alguma aversão a isso. Estamos a falar de professores que acabam criando uma espécie da aversão e desamores às crianças por qualquer tipo de arte, estamos a falar do número de disciplinas com que o professor tem de lidar mesmo sem ter as competências necessárias de base”, desabafou.

No entanto, ontem, 1 de Maio, assinalado o Dia Internacional do Trabalhador, membros do Sinprof Huíla acordaram, numa das suas páginas de Facebook, e comemorando a data sob o lema “Por um sindicalismo livre e independente”, que os motivos que deram vida à greve nacional continuam em pé, mas sentem-se sinais positivos por parte do Executivo, através da entidade patronal, em resolver os problemas num curto espaço de tempo.

 

 

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