Caneta e Papel
Política

“A construção da democracia deve fazer-se todos os dias…”(V)

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Na análise anterior a esta, metaforicamente, associei a estratégia de João Lourenço, Presidente da República de Angola, à de um Sapador, tendo-me referido especificamente à tarefa da desminagem. Quando, na verdade, “os engenheiros militares que têm por missão actuar em situações de combate são designados Sapadores ou Engenheiros de Combate”, integrados no “sistema MCP (Mobilidade, Contra-mobilidade e Protecção) construindo pontes, campos minados, estradas, etc. encarregando-se da destruição dessas mesmas facilidades do inimigo e aumentando o poder defensivo por meio de construção ou melhoramento de estruturas de defesa”. Em face desse esclarecimento técnico sobre as tarefas dos engenheiros militares, reitero as ideias que assumi no texto IV deste espaço.

Assim sendo, João Lourenço é um verdadeiro Sapador político na medida em que está consciente do “Combate Político” que se vislumbra ao longo dos cinco anos de mandato, cujos adversários (para não serem inimigos) atacá-lo-ão tanto dentro das fileiras do MPLA como fora delas (aqui serão protagonistas os partidos e a coligação de partidos da oposição democrática).

Este não me parece ser o problema crucial na sua empreitada política porque faz parte do jogo político. E nisto, João Lourenço, em cada circunstância, creio, e aqui na senda de Maquiavel em o Príncipe, saberá “ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para aterrorizar os lobos”, dentro e fora do seu Partido. Sendo que, aconselha Maquiavel, “deveis saber, então, que existem dois modos de combate: um com as leis, o outro com a força. O primeiro é próprio do homem, o segundo, dos animais; mas, como o primeiro modo muitas vezes não é suficiente, convém recorrer ao segundo”. Neste ponto não entendo eu a “força” como brutalidade, intolerância, desumanidade, mas sim vigor, determinação para levar avante uma acção política necessária para a persecução do objectivo fundamental da República de Angola: “a construção de uma sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social”, nos termos da Constituição.

É com essa força mental que João Lourenço está a proceder às exonerações e nomeações, que, à primeira vista, parece tratar-se de uma política de “caça às bruxas”, de perseguição a uma determinada família, outrora beneficiária de tudo; mas trata-se de um processo de “desactivação de minas” implantadas na política neoliberal atípica, em que todos os projectos estruturantes da economia foram adjudicados directamente a pessoas ou grupos restritos por conveniência. João Lourenço está empenhado em repor e impor os valores e princípios republicanos.

As lamúrias dos afectados expressas através das redes sociais e da rádio privada católica, cuja extensão do sinal por todo o território nacional é sistematicamente negada, para evitar que muitos angolanos tivessem a oportunidade de ouvir a palavra viva, uma palavra formadora e despertadora de consciências, por ironia de destino, foi o canal utilizado para dizerem o que lhes vai na alma, não nos pode preocupar.

João Lourenço observou ao longo desse tempo vários comportamentos, ouviu e leu várias notícias e comentários sobre a nossa política doméstica. E, dentro das suas pretensões políticas, foi-se preparando. Apesar de estar vinculado ao programa do MPLA, seu partido, ele tem um estilo próprio, uma personalidade. Daí que não está obrigado a replicar o estilo de governar de José Eduardo dos Santos, tal como este não replicou o de António Agostinho Neto, cuja palavra de ordem era “o mais importante é resolver os problemas do povo”. 

A verdade é que, desde a independência nacional, há 42 anos, neste espaço territorial que se chama Angola, cada angolano tem conhecimento e experiência dos resultados da governação. E entre os angolanos que acompanharam de perto o estilo de governar de José Eduardo dos Santos, ao longo dos 38 anos que exerceu o cargo de Presidente da República, é João Lourenço. Dizia Kant que “todos os fenómenos exteriores são determinados a priori no espaço e segundo as relações do espaço, posso igualmente dizer com inteira generalidade, a partir do princípio do sentido interno, que todos os fenómenos em geral, isto é, todos os objectos dos sentidos, estão no tempo e necessariamente sujeitos às relações do tempo”.

João Lourenço observou ao longo desse tempo vários comportamentos, ouviu e leu várias notícias e comentários sobre a nossa política doméstica. E, dentro das suas pretensões políticas, foi-se preparando. Apesar de estar vinculado ao programa do MPLA, seu partido, ele tem um estilo próprio, uma personalidade. Daí que não está obrigado a replicar o estilo de governar de José Eduardo dos Santos, tal como este não replicou o de António Agostinho Neto, cuja palavra de ordem era “o mais importante é resolver os problemas do povo”. O ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, na sua convicção política, nunca deixou de resolver os problemas do povo. É verdade. Porque também não podemos ser injustos a uma pessoa que lutou pela integridade territorial, pela consolidação do estado angolano, que contribuiu para a paz e reconciliação entre os angolanos. O que levou os angolanos à exaustão foi a forma como procurou “resolver os problemas do povo” ao longo dos 38 anos, este é o quesito-chave para todas as análises históricas, políticas e humanistas de JES, cujo desejo é que seja lembrado como Patriota!

O estilo e personalidade é que vão distinguindo José Eduardo dos Santos de João Lourenço (nestes primeiros dois meses na Chefia do Estado). E ao longo dos próximos cinco anos, João Lourenço, pelo seu estilo e personalidade, enquanto “Sapador” poderá ir construindo pontes com todos os sectores da sociedade angolana; ou criar novos campos minados, ou procurar oportunamente desminar os antigos e novos campos; apostar em novas estradas políticas que o levariam ao sucesso ou fracasso; encarregar-se-á da destruição dessas mesmas facilidades dos adversários políticos, aumentando o poder defensivo por meio da Constituição e da Lei, com vista ao melhoramento de estruturas que promovam o bem-estar das populações.

... a oposição deve reinventar-se; tem de apostar em recursos humanos mais qualificados, para poder travar o movimento expansionista do fenómeno JLO, que está a galgar simpatias de todo o lado. Porque neste momento, João Lourenço hipnotizou a política angolana.

Neste particular, o partido definiu-lhe as linhas políticas estruturantes, inscritas no Programa sufragado em 23 de Agosto último, mas o modus operandi para a implementação dessas opções políticas está arraigado na personalidade e estilo de João Lourenço. Isto é que todos os seus adversários políticos, intra e extrapartidários, deviam ter percebido à partida. Aliás, a oposição neste momento ou está em férias ou em estudos criteriosos das áreas em que João Lourenço vai vacilar ou revelar fraquezas expressivas. Ou seja, a oposição deve reinventar-se; tem de apostar em recursos humanos mais qualificados, para poder travar o movimento expansionista do fenómeno JLO, que está a galgar simpatias de todo o lado. Porque neste momento, João Lourenço hipnotizou a política angolana.

Há tempos, conversei com um político da oposição e assegurou-me que este momento é de acompanhar e observar o comportamento político de João Lourenço. Pois, dizia esse político, e fazendo recurso à tradição: “uma criança não se revela hábil à nascença. Os pais têm de aguardar os primeiros três a quatro meses, para compreenderem as suas reacções aos estímulos, e deste modo terão a certeza da vitalidade ou não do novo membro da família”. Eis a razão da quietude dos políticos da oposição.

E julgo que a tradição política internacional alinha com a ideia dos primeiros 100 dias de um governo. E no nosso caso, se bem faço a contagem, João Lourenço completará os 100 dias em 03 de Janeiro de 2018.

Acredito que as notícias, reportagens e opiniões diversas serão animadas a partir da segunda quinzena de Dezembro de 2017. Mantenho o compromisso neste espaço!

 

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António Eduardo

Jurista

Na análise anterior a esta, metaforicamente, associei a estratégia de João Lourenço, Presidente da República de Angola, à de um Sapador, tendo-me referido especificamente à tarefa da desminagem. Quando, na verdade, “os engenheiros militares que têm por missão actuar em situações de combate são designados Sapadores ou Engenheiros de Combate”, integrados no “sistema MCP (Mobilidade, Contra-mobilidade e Protecção) construindo pontes, campos minados, estradas, etc. encarregando-se da destruição dessas mesmas facilidades do inimigo e aumentando o poder defensivo por meio de construção ou melhoramento de estruturas de defesa”. Em face desse esclarecimento técnico sobre as tarefas dos engenheiros militares, reitero as ideias que assumi no texto IV deste espaço.

Assim sendo, João Lourenço é um verdadeiro Sapador político na medida em que está consciente do “Combate Político” que se vislumbra ao longo dos cinco anos de mandato, cujos adversários (para não serem inimigos) atacá-lo-ão tanto dentro das fileiras do MPLA como fora delas (aqui serão protagonistas os partidos e a coligação de partidos da oposição democrática).

Este não me parece ser o problema crucial na sua empreitada política porque faz parte do jogo político. E nisto, João Lourenço, em cada circunstância, creio, e aqui na senda de Maquiavel em o Príncipe, saberá “ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para aterrorizar os lobos”, dentro e fora do seu Partido. Sendo que, aconselha Maquiavel, “deveis saber, então, que existem dois modos de combate: um com as leis, o outro com a força. O primeiro é próprio do homem, o segundo, dos animais; mas, como o primeiro modo muitas vezes não é suficiente, convém recorrer ao segundo”. Neste ponto não entendo eu a “força” como brutalidade, intolerância, desumanidade, mas sim vigor, determinação para levar avante uma acção política necessária para a persecução do objectivo fundamental da República de Angola: “a construção de uma sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social”, nos termos da Constituição.

É com essa força mental que João Lourenço está a proceder às exonerações e nomeações, que, à primeira vista, parece tratar-se de uma política de “caça às bruxas”, de perseguição a uma determinada família, outrora beneficiária de tudo; mas trata-se de um processo de “desactivação de minas” implantadas na política neoliberal atípica, em que todos os projectos estruturantes da economia foram adjudicados directamente a pessoas ou grupos restritos por conveniência. João Lourenço está empenhado em repor e impor os valores e princípios republicanos.

As lamúrias dos afectados expressas através das redes sociais e da rádio privada católica, cuja extensão do sinal por todo o território nacional é sistematicamente negada, para evitar que muitos angolanos tivessem a oportunidade de ouvir a palavra viva, uma palavra formadora e despertadora de consciências, por ironia de destino, foi o canal utilizado para dizerem o que lhes vai na alma, não nos pode preocupar.

João Lourenço observou ao longo desse tempo vários comportamentos, ouviu e leu várias notícias e comentários sobre a nossa política doméstica. E, dentro das suas pretensões políticas, foi-se preparando. Apesar de estar vinculado ao programa do MPLA, seu partido, ele tem um estilo próprio, uma personalidade. Daí que não está obrigado a replicar o estilo de governar de José Eduardo dos Santos, tal como este não replicou o de António Agostinho Neto, cuja palavra de ordem era “o mais importante é resolver os problemas do povo”. 

A verdade é que, desde a independência nacional, há 42 anos, neste espaço territorial que se chama Angola, cada angolano tem conhecimento e experiência dos resultados da governação. E entre os angolanos que acompanharam de perto o estilo de governar de José Eduardo dos Santos, ao longo dos 38 anos que exerceu o cargo de Presidente da República, é João Lourenço. Dizia Kant que “todos os fenómenos exteriores são determinados a priori no espaço e segundo as relações do espaço, posso igualmente dizer com inteira generalidade, a partir do princípio do sentido interno, que todos os fenómenos em geral, isto é, todos os objectos dos sentidos, estão no tempo e necessariamente sujeitos às relações do tempo”.

João Lourenço observou ao longo desse tempo vários comportamentos, ouviu e leu várias notícias e comentários sobre a nossa política doméstica. E, dentro das suas pretensões políticas, foi-se preparando. Apesar de estar vinculado ao programa do MPLA, seu partido, ele tem um estilo próprio, uma personalidade. Daí que não está obrigado a replicar o estilo de governar de José Eduardo dos Santos, tal como este não replicou o de António Agostinho Neto, cuja palavra de ordem era “o mais importante é resolver os problemas do povo”. O ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, na sua convicção política, nunca deixou de resolver os problemas do povo. É verdade. Porque também não podemos ser injustos a uma pessoa que lutou pela integridade territorial, pela consolidação do estado angolano, que contribuiu para a paz e reconciliação entre os angolanos. O que levou os angolanos à exaustão foi a forma como procurou “resolver os problemas do povo” ao longo dos 38 anos, este é o quesito-chave para todas as análises históricas, políticas e humanistas de JES, cujo desejo é que seja lembrado como Patriota!

O estilo e personalidade é que vão distinguindo José Eduardo dos Santos de João Lourenço (nestes primeiros dois meses na Chefia do Estado). E ao longo dos próximos cinco anos, João Lourenço, pelo seu estilo e personalidade, enquanto “Sapador” poderá ir construindo pontes com todos os sectores da sociedade angolana; ou criar novos campos minados, ou procurar oportunamente desminar os antigos e novos campos; apostar em novas estradas políticas que o levariam ao sucesso ou fracasso; encarregar-se-á da destruição dessas mesmas facilidades dos adversários políticos, aumentando o poder defensivo por meio da Constituição e da Lei, com vista ao melhoramento de estruturas que promovam o bem-estar das populações.

... a oposição deve reinventar-se; tem de apostar em recursos humanos mais qualificados, para poder travar o movimento expansionista do fenómeno JLO, que está a galgar simpatias de todo o lado. Porque neste momento, João Lourenço hipnotizou a política angolana.

Neste particular, o partido definiu-lhe as linhas políticas estruturantes, inscritas no Programa sufragado em 23 de Agosto último, mas o modus operandi para a implementação dessas opções políticas está arraigado na personalidade e estilo de João Lourenço. Isto é que todos os seus adversários políticos, intra e extrapartidários, deviam ter percebido à partida. Aliás, a oposição neste momento ou está em férias ou em estudos criteriosos das áreas em que João Lourenço vai vacilar ou revelar fraquezas expressivas. Ou seja, a oposição deve reinventar-se; tem de apostar em recursos humanos mais qualificados, para poder travar o movimento expansionista do fenómeno JLO, que está a galgar simpatias de todo o lado. Porque neste momento, João Lourenço hipnotizou a política angolana.

Há tempos, conversei com um político da oposição e assegurou-me que este momento é de acompanhar e observar o comportamento político de João Lourenço. Pois, dizia esse político, e fazendo recurso à tradição: “uma criança não se revela hábil à nascença. Os pais têm de aguardar os primeiros três a quatro meses, para compreenderem as suas reacções aos estímulos, e deste modo terão a certeza da vitalidade ou não do novo membro da família”. Eis a razão da quietude dos políticos da oposição.

E julgo que a tradição política internacional alinha com a ideia dos primeiros 100 dias de um governo. E no nosso caso, se bem faço a contagem, João Lourenço completará os 100 dias em 03 de Janeiro de 2018.

Acredito que as notícias, reportagens e opiniões diversas serão animadas a partir da segunda quinzena de Dezembro de 2017. Mantenho o compromisso neste espaço!

 

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