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“A arte faz-se com aprendizado permanente”, defende Kibuku Kiajinje

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Andrade Lino

O escritor angolano Kibuku Kiajinje afirmou nesta quarta-feira que a arte faz-se com aprendizado permanente, tendo observado que apesar de Luanda ser a capital do país, atendendo ao número de habitantes e outros factores, e nesse quesito há muita experiência a ser aproveitada, muitos também precisam aprender, porque os desafios a nível da literatura afectam um todo.

O também poeta, proveniente de Malanje e membro do Movimento Lev´Arte Angola, fazia uma comparação entre o cenário literário luandense e o malanjino, quando afirmou que o facto de Luanda ser a capital “não significa dizer que aqui encontramos os melhores, mas encontramos sim um número elevado de profissionais, diferente das outras províncias, onde há um número mais reduzido, devido ao conjunto habitacional”, uma apreciação que faz reagindo à ideia que existe de que pouco ou nada se produz no interior.

Falando por ocasião da Noite de Poesia, evento promovido na Fundação Arte e Cultura, onde foi convidado especial e homenageado, o autor, de nome próprio António Agostinho José Sebastião, defendeu ainda que a literatura não define geografia, raça nem etnia. “É arte e a arte tem muito a ver com inspiração, a natureza inspira todo e qualquer ser humano, e em qualquer parte do mundo a natureza estará sempre presente, e isso significa que em qualquer espaço podem nascer poetas ou escritores”, declarou.

Em entrevista ao ONgoma News, Kibuku Kiajinje fez saber que o movimento literário na província de Malanje cresce e todos os dias, mas refere que só o crescimento não basta, é preciso qualidade, tudo porque ainda se encontram “muitos jovens que começaram a escrever os seus textos, mas dentro deles falta humildade científica, humildade na escrita, na criatividade, sem respeitarem a propriedade intelectual, porque algumas vezes usam textos alheios e não citam os autores”.

“A nossa preocupação, durante alguns anos, era ter um movimento grande, mas percebemos que com isso muitos iriam entrar para o cenário sem terem qualidade, e isso tem sido o nosso foco, trabalhar com os novos autores por intermédio de palestras, simpósios, fóruns, etc, um conjunto de actividades em volta da formação para podermos moldar os nossos colegas e irmãos da arte”, partilhou o escritor, que frisou entretanto que a questão da formação é uma preocupação nacional, e não provincial.

“Ao falarmos da produção literária, temos que olhar para o país, não para as províncias em particular, porque o país é que vai definir políticas e buscar pessoas com experiência em todo canto de Angola para poderem ajudar os outros. Enquanto activistas culturais, temos sido convidados para ministrar formações em várias localidades, como Huambo, Cuanza-Norte, Benguela, enfim, e não medimos esforços para poder dar esse contributo”, continuou, tendo sublinhado que “os problemas que a província de Malanje vive em relação à literatura, Luanda vive, Angola toda vive”, e existe um compromisso com as agendas de se ajudar uns aos outros, “porque quem ajuda tem um sentimento afectivo que lhe faz olhar para o ser humano num ângulo de amor, fraternidade, igualdade e acima de tudo de empatia”.

Kiajinje, para quem ser homenageado pela Fundação Arte e Cultura foi uma grande honra e maior despertar de responsabilidade, lembra com isso que “aprendemos desde muito cedo que não podemos atacar os problemas pela parte, porque o grande objectivo é resolvê-lo no seu todo”.

Fundador da editora e livraria Musseleje, estando a lutar para colocar uma representante em Luanda, o ainda membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola apresentou, no evento, as suas obras “O interior da luz”, lançado em 2018, um alerta “para olharmos para a verdadeira riqueza que nós temos, que não são casas nem carros, mas é o nosso interior e a paz espiritual, onde devemos cultivar a maior educação e perceber que, para se estar bem na sociedade, precisa-se primeiro estar bem consigo mesmo”, e o livro “Correspondências e versos de amor”, obra que começou a escrever ainda em Capanda, um vila em Malanje onde trabalhou durante algum tempo, sendo que na altura escrevia muitas cartas para mandar para a família.

“Mais tarde, já em 2020, fui olhando para essas cartas e vi que tinha muita coisa boa e que precisava partilhar. Outra coisa que encontrámos no livro é a homenagem à figura da mulher, como notas dedicadas à rainha Nzinga Mbande, à profetiza Kimpa Vita, a mulher zungueira e outras que nos inspiram”, concluiu.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O escritor angolano Kibuku Kiajinje afirmou nesta quarta-feira que a arte faz-se com aprendizado permanente, tendo observado que apesar de Luanda ser a capital do país, atendendo ao número de habitantes e outros factores, e nesse quesito há muita experiência a ser aproveitada, muitos também precisam aprender, porque os desafios a nível da literatura afectam um todo.

O também poeta, proveniente de Malanje e membro do Movimento Lev´Arte Angola, fazia uma comparação entre o cenário literário luandense e o malanjino, quando afirmou que o facto de Luanda ser a capital “não significa dizer que aqui encontramos os melhores, mas encontramos sim um número elevado de profissionais, diferente das outras províncias, onde há um número mais reduzido, devido ao conjunto habitacional”, uma apreciação que faz reagindo à ideia que existe de que pouco ou nada se produz no interior.

Falando por ocasião da Noite de Poesia, evento promovido na Fundação Arte e Cultura, onde foi convidado especial e homenageado, o autor, de nome próprio António Agostinho José Sebastião, defendeu ainda que a literatura não define geografia, raça nem etnia. “É arte e a arte tem muito a ver com inspiração, a natureza inspira todo e qualquer ser humano, e em qualquer parte do mundo a natureza estará sempre presente, e isso significa que em qualquer espaço podem nascer poetas ou escritores”, declarou.

Em entrevista ao ONgoma News, Kibuku Kiajinje fez saber que o movimento literário na província de Malanje cresce e todos os dias, mas refere que só o crescimento não basta, é preciso qualidade, tudo porque ainda se encontram “muitos jovens que começaram a escrever os seus textos, mas dentro deles falta humildade científica, humildade na escrita, na criatividade, sem respeitarem a propriedade intelectual, porque algumas vezes usam textos alheios e não citam os autores”.

“A nossa preocupação, durante alguns anos, era ter um movimento grande, mas percebemos que com isso muitos iriam entrar para o cenário sem terem qualidade, e isso tem sido o nosso foco, trabalhar com os novos autores por intermédio de palestras, simpósios, fóruns, etc, um conjunto de actividades em volta da formação para podermos moldar os nossos colegas e irmãos da arte”, partilhou o escritor, que frisou entretanto que a questão da formação é uma preocupação nacional, e não provincial.

“Ao falarmos da produção literária, temos que olhar para o país, não para as províncias em particular, porque o país é que vai definir políticas e buscar pessoas com experiência em todo canto de Angola para poderem ajudar os outros. Enquanto activistas culturais, temos sido convidados para ministrar formações em várias localidades, como Huambo, Cuanza-Norte, Benguela, enfim, e não medimos esforços para poder dar esse contributo”, continuou, tendo sublinhado que “os problemas que a província de Malanje vive em relação à literatura, Luanda vive, Angola toda vive”, e existe um compromisso com as agendas de se ajudar uns aos outros, “porque quem ajuda tem um sentimento afectivo que lhe faz olhar para o ser humano num ângulo de amor, fraternidade, igualdade e acima de tudo de empatia”.

Kiajinje, para quem ser homenageado pela Fundação Arte e Cultura foi uma grande honra e maior despertar de responsabilidade, lembra com isso que “aprendemos desde muito cedo que não podemos atacar os problemas pela parte, porque o grande objectivo é resolvê-lo no seu todo”.

Fundador da editora e livraria Musseleje, estando a lutar para colocar uma representante em Luanda, o ainda membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola apresentou, no evento, as suas obras “O interior da luz”, lançado em 2018, um alerta “para olharmos para a verdadeira riqueza que nós temos, que não são casas nem carros, mas é o nosso interior e a paz espiritual, onde devemos cultivar a maior educação e perceber que, para se estar bem na sociedade, precisa-se primeiro estar bem consigo mesmo”, e o livro “Correspondências e versos de amor”, obra que começou a escrever ainda em Capanda, um vila em Malanje onde trabalhou durante algum tempo, sendo que na altura escrevia muitas cartas para mandar para a família.

“Mais tarde, já em 2020, fui olhando para essas cartas e vi que tinha muita coisa boa e que precisava partilhar. Outra coisa que encontrámos no livro é a homenagem à figura da mulher, como notas dedicadas à rainha Nzinga Mbande, à profetiza Kimpa Vita, a mulher zungueira e outras que nos inspiram”, concluiu.

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