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4ª Edição do Festival Caixa Fado: Duetos, partilha cultural e um momento de recordações

4ª Edição do Festival Caixa Fado: Duetos, partilha cultural e um momento de recordações
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Andrade Lino

O Banco Caixa Geral Angola,na quinta-feira passada, reuniu músicos angolanos e portugueses para a 4ª Edição do Festival Caixa Fado, uma iniciativa que teve início em 2015 e ganha mais espaço e atenção em cada ano.

Com o sucesso da primeira investida, o evento ganhou prossecução nos anos seguintes, dividindo-se entre Luanda e Benguela, no ano passado, numa tentativa de expansão, mas reconhecendo que “o país não está a viver um grande momento de crescimento económico”, a organização voltou a fazer da cidade capital o palco principal para o espectáculo, causando com que os fadistas Marco Rodrigues, Paulo de Carvalho, Paulo Bragança, Carminho, e os angolanos Anabela Aya, C4 Pedro e Afrikkanitha levassem o grande público a uma incursão delirante sobre o tradicional estilo português.

Dentro do cartaz que juntou artistas diferentes e que se desafiaram a dar aos presentes um concerto único, Marco Rodrigues é aquele que está em todos os festivais. É uma pessoa que se identificou com o espírito do projecto, para além de ser um excelente artista, e incorporou muito bem o espírito daquilo que o banco quer desenvolver.

Na óptica do conceituado fadista português, a cultura africana está enraizada na cultura portuguesa também, e é impossível descolar as duas. “Quando as duas culturas se encontram, muitos anos depois, e poder Portugal partilhar a sua música com Angola, com artistas da nova geração, é enriquecedor para qualquer uma das partes, ou seja, tanto para os fadistas como para os fazedores da música tradicional africana”, defendeu o artista, para quem o fado já tem atravessado fronteiras, uma vez já ter realizado concertos por todo o mundo, e neste sentido afirma que o fado está de muito boa saúde, há artistas que o fazem de uma forma muito séria e dedicada, e já ganhou espaço na world music.

Para o músico, pisar o palco angolano, fazendo disso uma festa anual, faz com que esse processo de enriquecimento da música seja maior ainda e acredita que os músicos africanos ganham muito com isso.

O também director musical do espectáculo, que formou um dueto com a angolana Afrikkanitha, interpretando o fado tradicional “Estranha forma de vida” e que aprecia cada vez mais o carinho do público, referiu que desde a primeira edição que se queria esse evento ficasse instituído e as pessoas sentissem quase como uma festa anual do fado em Luanda, “não só para os portugueses cá em Angola, que têm saudades da sua cultura e dos seus artistas, mas também para as pessoas que não consomem muito a música”.

Jazzista, e embora não se assuma como fadista, Afrikkanitha considera a sua participação uma experiência excelente e que pode ser o início de alguma coisa, porém acredita que a sua performance poderá ter sido facilitada pelo facto ter aprendido, aos 10 anos, a canção “Mariquinha”, de Amália Rodrigues, que acabou por apresentar na ocasião.

Para a convidada, abre-se agora uma janela para interpretação de outras músicas, mas o seu problema é o tempo, tanto é que o seu próximo álbum ainda não tem data de lançamento, por conta da formação em Música que frequenta actualmente nos Estados Unidos e, quando regressar a Angola, revelou que quer leccionar uma classe infantil de jazzistas.

É também de opinião que o evento é bastante enriquecedor, tanto para os portugueses como para os angolanos, por serem povos de culturas diferentes, mas interligadas pelo passado que têm em comum. “Os portugueses nunca saíram de Angola e nós estamos sempre em Portugal”, disse.

Apesar do receio de que o público angolano não viesse a apreciar a música fado, o encontro, no entanto, acabou sendo não apenas de fado, mas uma mistura com uma música ligeira. Exemplo disso foi o cantor C4 Pedro, que nos seus primeiros instantes em palco avançou que faria de tudo para transformar a música “Calor e Frio” em fado, além de outros temas que apresentou, tendo assumido que “o verdadeiro fado” nunca lhe passou pela cabeça.

Mas nesta aventura, disse ele, a experiência de partilhar o palco com o “mais velho” Paulo de Carvalho, por exemplo, não tem preço e traz uma memória que não mais se apagará.

Eufórico e até certo ponto inquieto por regressar a Angola, Paulo Bragança, com a sua maquilhagem e indumentária singular, afirmou que “feliz” é uma palavra pequenina para expressar o que de facto sente pela sua presença no seio de angolanos e dos artistas que compunham o cartaz do show. Munido de audácia, como ele mesmo revelou, por ser o kimbundu uma língua que não domina, além das outras interpretações que percorreram a sua actuação, recordou “Monami”, dos N´gola Ritmos, num dueto que ganhou vida com Anabela Aya, para quem o festival está sempre a inovar.

Pela segunda vez consecutiva, e feliz por ser parte duma iniciativa que considera fantástica, que deve acontecer sempre, pois que uma vez por ano é pouco, Anabela Aya vê no Caixa Fado uma oportunidade de estar em palco com artistas que muito admira.

A cantora, que entende a arte como uma via através da qual se pode aprender muita coisa, defende que “é preciso experimentar tudo e avaliar os resultados.”

Questionada sobre as próximas paragens das suas actuações, contanto que se encontra nomeada para duas categorias do AFRIMA, cuja gala de premiação acontece em Novembro, a cantora explicou que sempre cantou fado e leva-o até nos seus tempos livres, mas não faz uma projecção, apenas vive o momento.

Paulo de Carvalho de foi outra voz nostálgica do festival. Depois de 48 anos, pisar o mesmo palco, “é muito bom estar de volta”, e a possibilidade de ter cantado com a Anabela, como C4 Pedro, terem feito um pequeno show dentro do festival foi muito boa.

Apesar da idade que tem, quer sempre saber quem são os mais novos, o que cantam, o que fazem, e depois há sempre esta possibilidade de juntar-se a eles ou vice-versa e fazer este conjunto de música que para si é o mais importante.

“Se as pessoas não souberem cantar, não souberem fazer boa música, isto não vale nada”, afirmou o fadista, que define o festival como um encontro de gente que representa e canta muito bem.

Acredita que o fado é apreciado por países de expressão portuguesa como Cabo-Verde, Moçambique e, neste sentido, Angola não fica de fora. Apaixonado por poesia, Paulo de Carvalho sublinhou que os músicos precisam citar os autores dos textos que adaptam. Autor de “Lisboa menina e moça”, apresentada na ocasião por Afrikkanitha, o cantor, acompanhado por C4 Pedro, partilhou as suas emoções com o público, levando a boca de todos os “Meninos do Huambo”, escrito por Manuel Rui.

Uma iniciativa que cresce a cada ano

Segundo o Presidente do Conselho Executivo do Caixa Angola, Francisco Santos Silva, que acredita haver já um bom número de angolanos a aderir ao evento, este ano foi claramente o melhor, porque se conseguiu afinar alguns pormenores de organização e afirmou igualmente estar muito feliz com a forma como sucedeu o espectáculo.

Para o responsável, no final, todos os músicos conseguiram introduzir uma dinâmica com os duetos, que retirou o aspecto do fado mais parado e nostálgico, e criou muita alegria, “até porque a participação do público foi fantástica”.

Nesta senda de partilha cultural entre Angola e Portugal, a produção vai descobrindo artistas que podem ser lançados na Europa, e a Anabela Aya é um bom exemplo disso, referiu, que,no ano passado, surge no festival como “desconhecida”, mas este ano teve muito mais exposição em termos de imediatismo.

“No ano, passado fizemos a experiência de ir para uma província. Fizemos em Luanda e fomos para Benguela. Este ano, por questões de prudência e entendendo que o país não está a viver um momento de grande crescimento, queríamos fazer apenas aqui em Luanda, e depois para outros anos vamos ver o que vai acontecer e analisar se é oportuno ou não ir para outras províncias”, revelou, em entrevista ao ONgoma News, lembrando que o festival tem como grande objectivo reforçar a notoriedade da marca do banco.

A marca Caixa Angola é recente, de 2015, as pessoas conhecem o banco mas ainda o associam à marca antiga, daí ser necessária essa acção, para o conhecimento do público, disse, acrescentando então que, no âmbito da responsabilidade social que a empresa tem de promover a cultura e promover esta troca de experiência entre artistas portugueses e angolanos, pensa estar a valorizar os artistas angolanos e contribuir para a valorização dos espectáculos no país.

A aderência é cada vez maior, e a título de exemplo, às 11h da manhã, a organização teve que cancelar a venda de bilhetes por causa do esgotamento de lugares, ficando a sala a albergar um total de presenças estimado em 1400 pessoas.

Por outro lado, a rede comercial do banco passa por também fazer a promoção deste evento junto dos seus clientes. Ou seja, a forma comercial é promover a venda junto de empresas, que compram bilhetes para oferecer aos seus colaboradores e clientes.

Tem sido um sucesso, realçou o PCE, foram encontradas parcerias das quais hoje não se abdicam e porque estas consideram o projecto um meio de agregar mais valor às suas companhias, um processo que se tem vindo gradualmente a desenvolver e a consolidar.

“A parceria com o Cine Atlântico é muito boa, o espaço é elogiado por toda gente, a localização é boa, a própria fisionomia da sala é muito simpática, e o espaço de convívio fora do espectáculo é também muito interessante”, alegra-se o gestor.

 

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O Banco Caixa Geral Angola,na quinta-feira passada, reuniu músicos angolanos e portugueses para a 4ª Edição do Festival Caixa Fado, uma iniciativa que teve início em 2015 e ganha mais espaço e atenção em cada ano.

Com o sucesso da primeira investida, o evento ganhou prossecução nos anos seguintes, dividindo-se entre Luanda e Benguela, no ano passado, numa tentativa de expansão, mas reconhecendo que “o país não está a viver um grande momento de crescimento económico”, a organização voltou a fazer da cidade capital o palco principal para o espectáculo, causando com que os fadistas Marco Rodrigues, Paulo de Carvalho, Paulo Bragança, Carminho, e os angolanos Anabela Aya, C4 Pedro e Afrikkanitha levassem o grande público a uma incursão delirante sobre o tradicional estilo português.

Dentro do cartaz que juntou artistas diferentes e que se desafiaram a dar aos presentes um concerto único, Marco Rodrigues é aquele que está em todos os festivais. É uma pessoa que se identificou com o espírito do projecto, para além de ser um excelente artista, e incorporou muito bem o espírito daquilo que o banco quer desenvolver.

Na óptica do conceituado fadista português, a cultura africana está enraizada na cultura portuguesa também, e é impossível descolar as duas. “Quando as duas culturas se encontram, muitos anos depois, e poder Portugal partilhar a sua música com Angola, com artistas da nova geração, é enriquecedor para qualquer uma das partes, ou seja, tanto para os fadistas como para os fazedores da música tradicional africana”, defendeu o artista, para quem o fado já tem atravessado fronteiras, uma vez já ter realizado concertos por todo o mundo, e neste sentido afirma que o fado está de muito boa saúde, há artistas que o fazem de uma forma muito séria e dedicada, e já ganhou espaço na world music.

Para o músico, pisar o palco angolano, fazendo disso uma festa anual, faz com que esse processo de enriquecimento da música seja maior ainda e acredita que os músicos africanos ganham muito com isso.

O também director musical do espectáculo, que formou um dueto com a angolana Afrikkanitha, interpretando o fado tradicional “Estranha forma de vida” e que aprecia cada vez mais o carinho do público, referiu que desde a primeira edição que se queria esse evento ficasse instituído e as pessoas sentissem quase como uma festa anual do fado em Luanda, “não só para os portugueses cá em Angola, que têm saudades da sua cultura e dos seus artistas, mas também para as pessoas que não consomem muito a música”.

Jazzista, e embora não se assuma como fadista, Afrikkanitha considera a sua participação uma experiência excelente e que pode ser o início de alguma coisa, porém acredita que a sua performance poderá ter sido facilitada pelo facto ter aprendido, aos 10 anos, a canção “Mariquinha”, de Amália Rodrigues, que acabou por apresentar na ocasião.

Para a convidada, abre-se agora uma janela para interpretação de outras músicas, mas o seu problema é o tempo, tanto é que o seu próximo álbum ainda não tem data de lançamento, por conta da formação em Música que frequenta actualmente nos Estados Unidos e, quando regressar a Angola, revelou que quer leccionar uma classe infantil de jazzistas.

É também de opinião que o evento é bastante enriquecedor, tanto para os portugueses como para os angolanos, por serem povos de culturas diferentes, mas interligadas pelo passado que têm em comum. “Os portugueses nunca saíram de Angola e nós estamos sempre em Portugal”, disse.

Apesar do receio de que o público angolano não viesse a apreciar a música fado, o encontro, no entanto, acabou sendo não apenas de fado, mas uma mistura com uma música ligeira. Exemplo disso foi o cantor C4 Pedro, que nos seus primeiros instantes em palco avançou que faria de tudo para transformar a música “Calor e Frio” em fado, além de outros temas que apresentou, tendo assumido que “o verdadeiro fado” nunca lhe passou pela cabeça.

Mas nesta aventura, disse ele, a experiência de partilhar o palco com o “mais velho” Paulo de Carvalho, por exemplo, não tem preço e traz uma memória que não mais se apagará.

Eufórico e até certo ponto inquieto por regressar a Angola, Paulo Bragança, com a sua maquilhagem e indumentária singular, afirmou que “feliz” é uma palavra pequenina para expressar o que de facto sente pela sua presença no seio de angolanos e dos artistas que compunham o cartaz do show. Munido de audácia, como ele mesmo revelou, por ser o kimbundu uma língua que não domina, além das outras interpretações que percorreram a sua actuação, recordou “Monami”, dos N´gola Ritmos, num dueto que ganhou vida com Anabela Aya, para quem o festival está sempre a inovar.

Pela segunda vez consecutiva, e feliz por ser parte duma iniciativa que considera fantástica, que deve acontecer sempre, pois que uma vez por ano é pouco, Anabela Aya vê no Caixa Fado uma oportunidade de estar em palco com artistas que muito admira.

A cantora, que entende a arte como uma via através da qual se pode aprender muita coisa, defende que “é preciso experimentar tudo e avaliar os resultados.”

Questionada sobre as próximas paragens das suas actuações, contanto que se encontra nomeada para duas categorias do AFRIMA, cuja gala de premiação acontece em Novembro, a cantora explicou que sempre cantou fado e leva-o até nos seus tempos livres, mas não faz uma projecção, apenas vive o momento.

Paulo de Carvalho de foi outra voz nostálgica do festival. Depois de 48 anos, pisar o mesmo palco, “é muito bom estar de volta”, e a possibilidade de ter cantado com a Anabela, como C4 Pedro, terem feito um pequeno show dentro do festival foi muito boa.

Apesar da idade que tem, quer sempre saber quem são os mais novos, o que cantam, o que fazem, e depois há sempre esta possibilidade de juntar-se a eles ou vice-versa e fazer este conjunto de música que para si é o mais importante.

“Se as pessoas não souberem cantar, não souberem fazer boa música, isto não vale nada”, afirmou o fadista, que define o festival como um encontro de gente que representa e canta muito bem.

Acredita que o fado é apreciado por países de expressão portuguesa como Cabo-Verde, Moçambique e, neste sentido, Angola não fica de fora. Apaixonado por poesia, Paulo de Carvalho sublinhou que os músicos precisam citar os autores dos textos que adaptam. Autor de “Lisboa menina e moça”, apresentada na ocasião por Afrikkanitha, o cantor, acompanhado por C4 Pedro, partilhou as suas emoções com o público, levando a boca de todos os “Meninos do Huambo”, escrito por Manuel Rui.

Uma iniciativa que cresce a cada ano

Segundo o Presidente do Conselho Executivo do Caixa Angola, Francisco Santos Silva, que acredita haver já um bom número de angolanos a aderir ao evento, este ano foi claramente o melhor, porque se conseguiu afinar alguns pormenores de organização e afirmou igualmente estar muito feliz com a forma como sucedeu o espectáculo.

Para o responsável, no final, todos os músicos conseguiram introduzir uma dinâmica com os duetos, que retirou o aspecto do fado mais parado e nostálgico, e criou muita alegria, “até porque a participação do público foi fantástica”.

Nesta senda de partilha cultural entre Angola e Portugal, a produção vai descobrindo artistas que podem ser lançados na Europa, e a Anabela Aya é um bom exemplo disso, referiu, que,no ano passado, surge no festival como “desconhecida”, mas este ano teve muito mais exposição em termos de imediatismo.

“No ano, passado fizemos a experiência de ir para uma província. Fizemos em Luanda e fomos para Benguela. Este ano, por questões de prudência e entendendo que o país não está a viver um momento de grande crescimento, queríamos fazer apenas aqui em Luanda, e depois para outros anos vamos ver o que vai acontecer e analisar se é oportuno ou não ir para outras províncias”, revelou, em entrevista ao ONgoma News, lembrando que o festival tem como grande objectivo reforçar a notoriedade da marca do banco.

A marca Caixa Angola é recente, de 2015, as pessoas conhecem o banco mas ainda o associam à marca antiga, daí ser necessária essa acção, para o conhecimento do público, disse, acrescentando então que, no âmbito da responsabilidade social que a empresa tem de promover a cultura e promover esta troca de experiência entre artistas portugueses e angolanos, pensa estar a valorizar os artistas angolanos e contribuir para a valorização dos espectáculos no país.

A aderência é cada vez maior, e a título de exemplo, às 11h da manhã, a organização teve que cancelar a venda de bilhetes por causa do esgotamento de lugares, ficando a sala a albergar um total de presenças estimado em 1400 pessoas.

Por outro lado, a rede comercial do banco passa por também fazer a promoção deste evento junto dos seus clientes. Ou seja, a forma comercial é promover a venda junto de empresas, que compram bilhetes para oferecer aos seus colaboradores e clientes.

Tem sido um sucesso, realçou o PCE, foram encontradas parcerias das quais hoje não se abdicam e porque estas consideram o projecto um meio de agregar mais valor às suas companhias, um processo que se tem vindo gradualmente a desenvolver e a consolidar.

“A parceria com o Cine Atlântico é muito boa, o espaço é elogiado por toda gente, a localização é boa, a própria fisionomia da sala é muito simpática, e o espaço de convívio fora do espectáculo é também muito interessante”, alegra-se o gestor.

 

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